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‘cima, mulheres colhendo e cortando atimento para animais. Etiépia, 2015. A direita, mulher em plantagao de uvas. Champagne, Franca, 2012. Tecnologi palavea de origem ‘grega com significado abrangente. Dependendo do contexto, 3 ‘tecnologia pode significa: miquinas e/ ou ferramentas; um rétodo de producso; a aplicagao de eterminados recursos pata se resolver umn Aesafio; 0 estigio de conhecimento de uma determinada cultura e : : 2 SovRctong insta Ao longo de milénios os seres humanos foram desenvolvendo técnicas e tecnologias com as quais foram vencendo desafios e se multiplicando. Uma de suas primeiras conquistas importantes foi a técnica de fazer 0 fogo, o que thes permitiu iluminar cavernas, cozinhar alimentos, proteger- -se do frio e manter os animais afastados. Tempos depois, desenvolveram a técnica da agricultura (cultivo intencional de alimentos). 0 dominio do fogo e o advento da agricultura se deram durante o pe- iodo conhecido como Pré-Historia, que vai do aparecimento dos primeiros seres humanos sobre a Terra, por volta de 2 milhdes a.C., até a invencao da escrita, em cerca de 3000 a.C. 10 UNIDADE 4 | TECNICAS, TECNOLOGIAS E VIDA SOCIAL rotessor: com o dominio do fog eda acuta —inovagbes ocoridas na canada “Pré-Hsa- os sees humanas aumentaram seu dino sobre saluera, gnhara era para stevie er abentes spas ese esplharam pol ano. Ainlemol ea lela col, ecrolgiae deems n> Muito tempo depois... £m meados do século XX os seres humanos descobriram a internet, que, inicialmente, era usa- da somente para fins militares. No inicio dos anos de 1970, os seres humanos desenvolveram a tecnologia da telefonia celular, fato que impactou fortemente a vida social. i i : 3 i séeul X, or sua ver, também knpactaranfrtametea a soll, Ebara caret eas condgbes em que esa naagies ram potuldas tena sido . idade e religiao, goza dos direitos fundamentais inerentes pessoa humana, sendo-Ihe asseguradas as oportunidades facilidades para viver sem violéncia, preservar sua satide fisi- cae mental e seu aperfeigoamento moral, intelectual e social. | Fonte historica BRASIL. Lei n* 11.340, de 7 de agosto de 2006. Diario Oficial [da] Republica Federativa escrita: trecho do ras, Brasilia, 7 ago. 2006. Disponivel em: , cesso em: 21 bt. 2018. | Penha, CAPITULO 1 | HISTORIA, CULTURA, PATRIMNONIO E TEMPO 13 segundo o historiador Pedro Paulo Funari ‘A memoria, por definigéo, & uma recriagao constante ro presente, do passado enquanto representacio, enquanto imagem mpressa na mente’ (FUNARL, Pedro Paulo Abreu. Antiguidede clsica: a Historia ea cultura a partir dos documentos. S40 Paulo: Editora da Unicamp, 2003. p. 16.) Abaixo, arquedlogos mergulhadores coletam artefatos (objetos da cultura material) encontrados em um navio naufragado no século XI, na Turquia, 1977. Abaixo e a direita, arquedlogos trabalhando para obter objetos da cultura material no sitio arqueolégico do Boqueirao da Pedra Furada, Sao Raimundo Nonato (PI), 2010. ‘o.com we Fla oxo ogee » imagéticas: reproducées de pinturas, fotos antigas ou atuais, caricaturas, desenhos, reproducées de cenas de filmes, de hist6rias em quadrinhos. Fonte historica imagética: fotografia de uma famflia brasileira reunida para ‘ouvir programacao de radio, 1942. orais: depoimentos de pes- soas sobre os mais diferen- tes aspectos da vida. Esses depoimentos, colhidos mui- tas vezes a partir de entre- vistas feitas pelo proprio historiador, colaboram para registrar a meméria pes- soal e coletiva. Observacai a entrevista com um adulto ou um idoso de sua familia pode ser uma importante fonte para o conhecimento Fonte historica oral: estudante ada Sa orouita WEST gravando uma entrevista. Séo Caetano Prep Z do Sul (SP), 2013. cultura material: restos de moradias, de sepulturas, de moveis, de artefatos domésticos (pane- las, colheres, pratos), de instrumentos de trabalho (enxada, foice, pa), de instrumentos de guerra (langas, espadas, facas) e de caca (pontas de langas, flechas etc.).. Cultura Em rodas de bate-papo, a palavra cultura é usada geralmente como sindnimo de grande conhecimento. £ comum ouvirmos dizer “fulano de tal tem cultura” para significar que ele possui um grande conhecimento. Mas 0 sentido da palavra cultura que queremos que vocé conheca aqui é outro. 0 texto a seguir foi retirado do livro do antropélogo Darcy Ribeiro, ilustrado por Ziraldo Alves Pinto. Leia-o com atencao. Chama-se cultura tudo o que é feito pelos homens, ou resulta do trabalho deles e de seus pensamentes. [...] Uma casa qualquer, ainda que material, é claramente um pro- duto cultural, porque ¢ feita pelos homens. A mesma coisa pode-se dizer de um prato de sopa, de um picolé ou de um didrio. Mas estas so coisas de cultura material, que se pode ver, medir, pesar. [...] A fala, por exemplo, que se revela quando a gente conversa, e que existe independentemente de qualquer boca falante, é criacao cultural. Aliés, a mais importante. Sem a fala, os homens [...] nao poderiam se entender uns com os outros, para acumular conheci- mentos e mudar 0 mundo como temos mudado. [...] Além da fala, temos as crencas, as artes, que so criagées cultu- rais, porque inventadas pelos homens e transmitidas uns aos outros através de geracdes. Elas se tornam visiveis, se manifestam, através de criacées artisticas, ou de ritos e praticas [...], em que a gente vé os conceitos e as ideias religiosas ou artisticas se realizarem. CI] RIBEIRO, Darcy. Nogdes de coisas. S20 Paulo: FID, 1995. p. 34 Patrim6nio cultural Usamos a palavra patriménio com frequéncia para nos referirmos aos bens que temos (um carro, por exemplo) e que devemos declarar no impos- to de renda. Mas 0 sentido da palavra patrimonio sobre o qual queremos que vocé reflita é outro; queremos que pense em patriménio como sinéni- mo daquilo que tem especial valor, embora nem sempre tenha prego. 0 conceito de patriménio XY 0 antropologo Darcy Ribeiro. we Y oO chargista escrtor Zraldo Alves Pinto. Ql Dica! Video sobreo conceito de cultura. [Duracao: 3 minutos}. Acesse: . Pois bem, reconhecendo a importancia de certos bens para nds, brasileiros, 0 governo de Getilio Vargas baixou um decreto, em 30 de novembro de 1937, que definia patrim6nio como: [...] 0 conjunto de bens méveis e iméveis existentes no Pais e cuja conservacao é de interesse publico, quer por sua vinculagao a fatos memoréveis da histéria do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueol6gico [...], bibliografico ou artistico. BRASIL, Artigo 1 RASIL. Decreto-Lei nt 25, de 30 de novembro de 1937. DOU, Brasilia, DF, 6 dez. 1937. Dispontvel em: , ‘Acesso em: 31 mato 2016. CAPITULO 1 | HISTORIA, CULTURA, PATRIMONIO E TEMPO 15 Como se pode ver, essa definicao priorizava o patrimd- nio edificado, como, por exemplo, um museu, e associado a “fatos memoraveis” da historia do Brasil, como, por exemplo, a Proclamacao da Repdblica. Esse conceito de patriménio orientou a politica de preservacao da época, que valorizava apenas os bens culturais de “pedra e cal” e ligados a his- t6ria oficial, como, por exemplo, o Museu Paulista, em Sao Paulo, o Museu da Replica, no Rio de Janeiro, e o Museu do Estado de Pernambuco, em Recife. Para essa politica de preservacao, os outros bens cultu- Y Fachada do Museu do Estado de ais no mereciam ser conservados e, por isso, durante muito Sa eect al de memoria. tempo, foram esquecidos, o que levou muitos deles a deterio- ragao ou ao desaparecimento. Nos anos de 1980, durante o processo de redemocratiza¢ao do Brasil, o conceito de patrimonio foi reformulado e ampliado. Grupos organizados da sociedade civil conseguiram convencer os constituin- tes a introduzir o tema patriménio nos debates que resultariam na Constituicao brasileira de 1988, Durante esses debates, percebeu-se que era necessério diferenciar os bens de natureza material dos de natureza imaterial; e chegou-se a seguinte definicao: bens de natureza material sao bens palpaveis, como edificagdes (casas, sepulturas etc.), instrumentos de trabalho e de guerra, conjuntos urbanos, sitios de valor historico paisagistico, artistico, arqueologico, entre outros; ja os bens de natureza material so bens nao palpaveis, como, por exemplo, uma danca, uma festa, 0 modo de fazer uma comida ou um ritual, as criaces cientificas, artisticas e tecnolégicas, entre outros. A seguir apresentamos um exemplo de bem de natureza material e outro de natureza imaterial. ' . i i : bj A cidade de Goias, conhecida A cajuina 6 uma bebida nao alcodtica produzida a partir do suco também como Goiés Velho, & um de caju. 0 modo de fazé-a e as préticas socioculturais associadas a importante bem de natureza material__ela constituem um bem cultural imaterial que tem suas ratzes nos e testemunho da colonizacao da rituais de hospitalidade dos produtores piauienses. Geralmente, as regigo nos séculos XVII e XIX. garrafas de cajuina eram dadas de presente ou servidas as visitas, e Fotografia de 2007. também oferecidas em casamentos e aniverséros. 0s étulos acima nao representam marcas registradas. 16 UNIDADE 4 | TECNICAS, TECNOLOGIAS E VIDA SOCIAL Ao final dos debates da Constituinte foi aprovada, em outubro de 1988, uma nova Constituico para o Brasil, que em seu Artigo 216 afirma: Constituem patriménio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial [...) portadores de referéncia a identidade, & acao, A meméria dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira [.. BRASIL, Artigo 216. In: BRASIL. Consttuicdo Federal de 1988, de 5 de outubro de 1988. DOU, Brats, DF, 5 out. 1988. Disponivel em: , Acesso em: 31 maio 2016. Essa nova definigo de patriménio, introduzida pela Constituigao, apresentou duas inovacdes significativas: uma foi contemplar todos os grupos formadores da sociedade brasileira (indigenas, africanos e outros); outra foi incluir bens de natureza imaterial, que dizem respeito a saberes, mo- dos de fazer e oficios, a exemplo do exercido pelas artesis de Goiabeiras, no Espirito Santo. Para refletir $ 0 texto a seguir foi escrito por dois historiadores, Sandra C. A. Pelegrini e Pedro Paulo Funari. Leia-o com atengao: Oficio das Paneleiras de Goiabeiras As panelas sao tomadas como suportes imprescin- diveis ao cozimento da moqueca capixaba, reconhe- cida como um prato tipico ou como sistema culina- rio caracteristico da populacao do Espirito Santo. Elas possuem varios tamanhos ¢ formatos: caldeirées, panelas de fundo, de pirdo, de moqueca, de caldo e travessa para servir. Nesse contexto, o plano de sal- vaguarda desse oficio envolve nao sé acoes atinentes & organizagao e a capacitagdo das paneleiras, mas, principalmente, medidas que visam & sustentabilida- de ambiental desse oficio. Por meio da educagao patri- monial e ambiental, as artesas sao conscientizadas de que a continuidade desse oficio depende da preserva- ao dos insumos provenientes do meio ambiente, ou seja, do barro extraido do Vale do Mulemba e do tani- 4 panelas de barre no, extrafdo do manguezal, e empregado na colorac3o na associagao das das panelas de barro. [...] Paneleiras de Goiabeiras, Os dados fornecidos pela Associagao das Panelei- Vitoria (ES), 2011. ras de Goiabeiras (APG) revelam que, na atualidade, os artefatos sao comercializados no Brasil (Sao Paulo, Rio de Janeiro, Pard, Rio Grande do Sul, Rondénia,en- | MsUme tre outros) e no exterior (Australia, Estados Unidos e | ou no desenvolvimento de Franca) e possuem um selo de controle de qualidade. | um produto. i ; 4 Produgéo artesanal CAPITULO 1 | HISTORIA, CULTURA, PATRINONIO E TEMPO 17 21 ado deta a nog cast, pat tied pono eo neo Sano Professor: comer que, Steeneners sa mame tala 8 ions cepa oa act ded, 10 plano de saguarea rv cs conus de ges: um votado rena & capa das anes ut & conser ca res ‘ie sobre oc den paced dos os tsa obo Uo Va Jo Memb ea, ab clays Gs panes ‘Como podemos observar, a APG atua como uma espécie de cooperativa e as- siste juridicamente as paneleiras de modo a otimizar os negécios e orientar a comercializagao dos produtos artesanais. PELEGRINI, Sandra C.A.; FUNARI, Pedro Paul. 0 que é patriménio cultural materia ‘So Paulo: rasliense, 2013. p. 76-78. (Colecdo Primeirs Passos). a) 0 Oficio das Paneleiras de Goiabeiras - patrimOnio imaterial - esta associado a salvaguarda de um outro bem imaterial (intangivel). Qual é? b) 0 que se pode concluir sobre o plano de salvaguarda do Oficio das Paneleiras e 4 explici 29 Esse trabalho possou uma comercial em malo excla (mercado it & que esta explicito no texto? Sime mas arava dn arsalos produto peas otis de Gaaberas ¢) Que indicios ha no texto de que o trabalho de salvaguarda do oficio teve um efeito positivo para as paneleiras e suas familias? d) A responsabilidade pela salvaguarda desse patriménio imaterial é do Iphan, das proprias artesas ou de todos nés? Justifique. (ye ae Prats co ‘este de outs patindrios imatavisgusmente importantes O of das aes de Guberas aja a manterdezsas de ania ‘ninidas na fetira de panes. modo oe fazer as panels ol aprencdo com os indgenas © ver passando de me para fa hi cerinas de anos A valorizacao das matrizes africana e indigena Durante muito tempo, zelou-se apenas pelos bens culturais associados aos descendentes de europeus e 8 histéria oficial, como, por exemplo, o prédio do Museu Imperial, localizado na cida- de de Petrépolis (RJ), que guarda mobiliario, textos, obras de arte e objetos da familia imperial portuguesa. Mas, com a Constituicao de 1988, a politica de preservacao passou a zelar, também, pelos bens culturais associados a outros grupos humanos, como os indigenas e os africanos, jigualmente importantes na formacao da sociedade brasileira. Entre os exemplos de bem cultural de raiz africana estao as Matrizes do Samba no Rio de Janeiro: partido alto, samba de terreiro e samba-enredo; e entre os exemplos de bem cultural de matriz indigena esta a Arte Kusiwa praticada pelos indigenas Wajapi. Abaixo, a Arte Kusiwa, sistema de representacdo grafica proprio dos povos indigenas Wajgpi, do Amap8, que sintetiza seu modo particular de ‘conhecer, conceber e agir sobre o Universo. A Arte Kusiwa foi inscrita no Livro de Registro das Formas de Expresso, do Iphan, em 2002. No ano seguinte, recebeu da Unesco o titulo de Patriménio Cultural Imaterial da Humanidade. Ao lado, o prédio do Museu do Samba Carioca, em Mangueira (RJ), 2015. 0 samba de partido alto, o samba de terreiro 0 samba-enredo integram as Matrizes do Samba no Rio de Janeiro, Patriménio Cultural Imaterial desde 2007. Essas modalidades de samba cexpressam a riqueza do legado de matriz africana no Brasil. a on. Lyra A protecio e valorizacao das expresses afro-brasileiras e indigenas [5] contribuem para o fortalecimento da autoestima, da identidade e da au- donee toconfianga desses grupos e garantem a eles o direito & memoria. C12 frnrcnccncom abordandoo samba Cuidando do nosso patriménio cultural nena Em 1937, com o objetivo de cuidar, valorizar e divulgar nosso patrima- evedss. [rats rio cultural, 0 governo brasileiro fundou o Iphan (Instituto do Patrimonio . Vista aérea da Tgreja Sa0 Francisco de Assis, também conhecida como Teja da Pamputha, em Belo Horizonte (MG). Obra do arquiteto Oscar Niemeyer, foi ‘naugurada em 1943 tombada em 1997 pelo Instituto de Patrimonio Histrico « Artistico Nacional (Ipran). Fotografia DP de 2015. Quando um bem de reconhecido valor cultural se encontra ameacado, | Tombamento: por exemplo, os técnicos do Iphan sao chamados para protegé-lo, e 0 fa- | 3to realizado pelo r : Poder Pablico, zem de diversas formas; uma delas @ 0 tombamento. A partir da data do | tosineis federal, tombamento, 0 bem estaré sob os cuidados do referido 6rgao, que deve | state ov minal ‘impedir a sua destruicao ou descaracterizacao. ‘oe inate Tempo Uma das primeiras coisas que fazemos ao levantar da cama é consultar © rel6gio para sabermos que horas so; isso quando nao somos acordados pelo despertador do celular. Mas nem sempre foi assim. Ao longo do tempo, os seres humanos criaram diferentes instrumentos de medi¢ao do tempo. Acredita-se que o mais antigo deles tenha sido o relagio de sol, inventado pelos egipcios ha mais de 4 mil anos. Mais tarde foram desenvolvidos ou- tros instrumentos, como a clepsidra, a ampulheta, o relégio mecanico e 0 rel6gio digital. CAPITULO 1 | HISTORIA, CULTURA, PATRINONIO E TEMPO 19

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