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MEDITACOES NO EVANGELHO DE MATEUS J.C. RYLE EDITORA FIEL da MISSAO EVANGELICA LITERARIA MEDITACOES NO EVANGELHO DE MATEUS Traduzido do Original em Inglés: Expository Thoughts on the Gospels MATTHEW Copyright © (Typesetting) Editora Fiel 1991 Segunda edic¢do em portugués - 2002 Todos os direitos reservados. E proibida a reprodugio deste livro, no todo ou em parte, sem a permissao escritas dos Editores. Editora Fiel da Missao Evangélica Literaria Caixa Postal 81 12201-970 Sao José dos Campos - SP Prefacio As Meditagées no Evangelho de Mateus, de J.C.Ryle, tém sido amadas e compartilhadas por varias geragées de crentes, desde sua primeira edigo em 1879, Elas contém uma simplicidade e uma espi- Titualidade que tém feito delas o comentério devocional cléssico sobre os evangelhos, na opiniao de grande mimero de leitores. Procurando pér a disposigao do leitor moderno uma forma mais popular dessa obra, foram removidos os textos bfblicos (antes impres- sos na fntegra), embora 0 leitor seja encorajado a ler cada passagem selecionada do comego ao fim, antes de iniciar a leitura das préprias meditagdes de Ryle. Também omitimos as notas de rodapé, nas quais Ryle tratara a respeito de questées textuais de uma maneira mais critica, embora sem qualquer conexo direta com a exposig&o propriamente dita, O texto usado é 0 da Edicdo Revista e Atualizada no Brasil, da Socie- dade Bfblica do Brasil. Os publicadores confiam que esta nova edigio das meditagdes devocionais de Ryle alcangaré os mesmos alvos e propésitos aos quais © autor se aplicou pessoalmente, a fim de que, ‘‘com uma ora¢ao fervorosa, possa promover a religiaio pura e sem mécula, ampliar 0 co- nhecimento de muitos sobre a pessoa de Jesus Cristo, e ser um humilde instrumento na gloriosa tarefa de converter e de edificar almas imortais’’. Os Publicadores A Genealogia de Cristo Leia Mateus 1.1-17 E com estes versfculos que tem infcio 0 Novo Testamento. Cumpre-nos 1é-los sempre com sérios e solenes sentimentos. O livro A nossa frente nao contém a palavra de homens, e, sim, a propria Pa- lavra de Deus. Cada versfculo foi escrito sob a inspiragéo do Espfrito Santo. Agradecamos diariamente a Deus por haver-nos presenteado as Sagradas Escrituras. O mais pobre brasileiro, que compreenda a sua Biblia, sabe mais sobre assuntos religiosos do que os mais sdbios fil6- sofos da Grécia ou de Roma. Nao nos esquecamos da nossa grande responsabilidade. Seremos todos julgados, no ultimo dia, de acordo com a luz que tivermos re- cebido, Daquele a quem muito foi dado, também muito ser4 requerido. Leiamos nossas Biblias com reveréncia e diligéncia, com a honesta re- solugio de dar crédito e de pér em prética tudo aquilo que delas aprendermos. Nao é coisa de somenos importéncia a maneira como es- tivermos usando esse livro, A vida ou a morte eterna dependem da atitude com que nos utilizarmos dele. Acima de tudo oremos, com toda a hu- mildade, rogando pela iluminagao que nos é dada pelo Espfrito Santo. Somente Ele € capaz de aplicar a verdade aos nossos coracées, permitindo-nos tirar proveito daquilo que ali tivermos lido. O Novo Testamento comega narrando a vida, a morte e a res- surreigio de nosso Senhor Jesus Cristo. Nenhuma outra porcao da Biblia € tio importante quanto essa, e nenhuma outra parte dela é tao plena e completa. Quatro evangelhos distintos contam a histéria dos feitos de Jesus Cristo e da sua morte. Por quatro vezes em seguida lemos as preciosas narrativas de suas realizacGes e de suas palavras. Quo agra- decidos nos deverfamos mostrar por causa disso! Conhecer a Cristo é ter a vida eterna. Confiar em Cristo é desfrutar de paz com Deus. Se- guir os passos de Cristo é ser um crente verdadeiro. Estar com Cristo ser o proprio céu. Ninguém pode ouvir falar demais sobre Jesus Cristo. O evangelho de Mateus principia com uma longa lista de nomes. 6 Mateus 1.1-17 Dezesseis versfculos ocupam-se com a genealogia desde Abraio até Davi, e desde Davi até a famflia na qual nasceu o Senhor Jesus. Que ninguém imagine que estes versfculos s&o imiteis. Em toda a criaciio de Deus, coisa alguma é imttil. Tanto 0 musgo mais insignificante quanto os mMenores insetos servem a alguma boa finalidade. Por igual modo, coisa alguma é initil na Biblia Sagrada. Cada palavra dela foi outorgada por inspiragéo divina. Os capitulos e versiculos que, & primeira vista, pa- recem destitufdos de proveito, foram todos dados com algum bom propésito, Examine novamente aqueles dezesseis versiculos e encontraré neles muitas ligdes tteis e instrutivas. Com base nesta lista de nomes, aprenda o fato que Deus sempre cumpre a sua Palavra, Deus havia prometido que na descendéncia de Abrafio todas as famflias da terra seriam abencoadas. Deus havia pro- metido levantar um Salvador, dentre os descendentes de Davi (Gn 12.3; Is 11.1). Estes dezesseis versfculos, por conseguinte, provam que Jesus era o filho de Davi e 0 filho de Abrafio, e que aquela promessa de Deus teve o seu devido cumprimento. Pessoas {mpias, que ndo meditam nas coisas, deveriam relembrar essa ligéo, e temer. Sem importar 0 que elas pensem, Deus haveré de cumprir a sua Palavra. Se nao se arre- penderem, certamente perecerfio. Aqueles que sao crentes auténticos deveriam relembrar essa lig&o, consolando-se nela. Seu Pai celestial mostrar-se-4 fiel a todos os seus compromissos. Ele asseverou que sal- vardé a todos os que confiarem em Cristo. Ora, se Ele afirmou isso, entéo certamente cumprirdé a sua Palavra. ‘‘Deus nfo é homem, para que minta’’ (Nm 23.19). ‘‘Ele permanece fiel, pois de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo’’ (2 Tm 2.13). Em seguida, com base nesta mesma lista de nomes, podemos aprender muito sobre a pecaminosidade e a corrup¢do da natureza hu- mana, Observemos quantos pais piedosos, nesta lista de nomes, tiveram filhos fmpios e infquos. Os nomes de Robodo e Jorio, de Amom e Je- conias, deveriam ensinar-nos ligdes humilhantes. Esses quatro tiveram pais piedosos. No entanto, eles mesmos foram homens malignos. A graca de Deus nfo é hereditdria. E preciso algo mais do que apenas bom exemplo e bons conselhos, para que alguém se torne filho de Deus. Aqueles que nascem do alto nfo nascem nem ‘‘do sangue, nem da von- tade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus’’ (Jo 1.13). Os pais dedicados a oraco deveriam orar, dia e noite, para que os seus filhos nasgam do Espirito. Aprenda, finalmente, com base nesta lista de nomes, qudo grande éa misericérdia e a compaixdo de nosso Senhor Jesus Cristo. Medite sobre quaéo contaminada e impura é a nossa natureza; e ent@o pense sobre a condescendéncia de Cristo, por haver nascido de mulher e ter- Mateus 1.1-17 7 ~se feito ‘em semelhanga de homens’’ (Fp 2.7). Alguns dos nomes so- bre os quais lemos nesta lista fazem-nos lembrar histérias tristes ¢ vergonhosas. Alguns so de pessoas nunca mencionadas em qualquer outra porgao das Escrituras. Porém, no fim da lista toda figura o nome do Senhor Jesus Cristo. Embora Ele seja 0 Deus eterno, humilhou-se ao tornar-se um ser humano, com a finalidade de prover a salvagio aos pecadores. Jesus Cristo ‘‘sendo rico, se fez pobre por amor de vés’’ (2 Co 8.9). Deverfamos ler esta relaco de nomes com um sentimento de gra- tidfio. Vemos ali que nenhum daqueles que compartilham da natureza humana pode estar fora do alcance da simpatia e da compaixiio de Cristo. Os nossos pecados talvez tenham sido tao negros e graves como os pe- cados de algumas pessoas mencionadas pelo apéstolo Mateus. Entretanto, tais pecados nao podem fechar o céu para nés, se nos arrependermos e confiarmos no evangelho. Se Jesus nfo se envergonhou por nascer de uma mulher cuja arvore genealégica continha nomes como de alguns daqueles sobre quem pudemos ler hoje, entéo certamente nao devemos pensar que Ele haveria de envergonhar-se por chamar-nos irmaos e conferir-nos a vida eterna. A Encarnagio e 0 Nome de Cristo Leta Mateus 1.18-25 Estes versfculos comecam revelando-nos duas grandes verdades. Eles nos informam como o Senhor Jesus Cristo assumiu a nossa natu- Teza ao tornar-se homem. Também nos informam que o nascimento dEle foi miraculoso. Sua mae, Maria, era virgem. Esses so assuntos extremamente misteriosos. Sdo profundezas para as quais nado h4 sondagem que as possam medir. Sao verdades que nenhuma mente humana é abrangente o bastante para as entender. Nao procuremos explicar coisas que esto acima da nossa débil razao. Contentemo-nos em crer com reveréncia, sem especular sobre quest6es que nao somos capazes de entender. Para nés, crentes, é suficiente sa- ber que para Aquele que criou o mundo nada é impossfvel. Antes, devemo-nos satisfazer com a declarag&o constante no credo dos apés- tolos: ‘Jesus Cristo foi concebido pelo Espfrito Santo e nasceu da virgem Maria’’, Observemos a conduta de José, descrita nestes versfculos. Trata- -se de um belo exemplo de piedosa sabedoria e de terna consideracao pelo préximo. Ele viu ‘‘a aparéncia de mal’’ naquela que estava com- 8 Mateus 1.18-25 prometida a casar-se com ele. Entretanto, José nada fez de precipitado. Esperou pacientemente até perceber como lhe convinha agir, de acordo com seu dever. Com toda a probabilidade, ele deixou a questio aos cuidados de Deus, em oragao. ‘‘Aquele que crer, nao foge’’ (Is 28.16). A paciéncia de José foi graciosamente recompensada. Ele rece- beu uma mensagem direta, da parte de Deus, sobre a razio da sua ansiedade e, de uma vez para sempre, foi aliviado de todos os seus te- mores. Quao bom é esperar em Deus! Quem, de todo 0 coragao, deixou Os seus temores aos cuidados do Senhor em oracfo, para entio vé-lo falhar? ‘‘Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitaré as tuas veredas’”’ (Pv 3.6). Notemos os dois nomes conferidos a nosso Senhor, nestes ver- sfculos. Um deles é Jesus, 0 outro é Emanuel. O primeiro desses nomes descreve o seu oficio, o segundo, a sua natureza. Ambos sido profun- damente interessantes. O nome Jesus significa ‘‘Salvador’’. Trata-se do mesmo nome Josué, que aparece no Antigo Testamento. Foi dado a nosso Senhor porque ‘“‘ele salvard o seu povo dos pecados deles’’. Esse € 0 oficio especial do Senhor Jesus. Ble nos salva da nossa culpa do pecado, lavando-nos a alma em Seu préprio sangue expiatério. Ele nos salva do dominio do pecado ao conferir-nos, no préprio coragao, o Espirito santificador. Ele nos salva da presenga do pecado quando nos tira deste mundo, para irmos descansar com Ele. E, finalmente, Ele nos salva das conseqiléncias do pecado ao nos proporcionar um glorioso corpo ressurreto, no tiltimo dia. O povo de Cristo € bendito e santo! Eles nao sao salvos das tristezas, da cruz e dos conflitos. Porém, sdo salvos do pecado, para todo o sempre. Sao purificados da culpa, mediante o san- gue de Cristo. Sao habilitados para o céu mediante o Espirito de Cristo. Nisso consiste a salvacao. Mas, aquele que se apega ao pecado, ainda nio € salvo. Jesus €é um nome que infunde muita coragem aos que vivem so- brecarregados de pecados. Aquele que € 0 Rei dos reis e o Senhor dos senhores, poderia ter-se feito conhecido, com toda a legitimidade, por algum titulo mais pomposo. Contudo, nao quis fazé-lo. Os dirigentes deste mundo com freqiiéncia se tem chamado por tftulos como ‘‘grande’’, “‘conquistador’’, ‘‘herdi’’, ‘‘magn{ffico’’ e outros semelhantes. Mas o Filho de Deus contentou-se em chamar-se de ‘‘Salvador’’. As almas que desejarem a salvacdo podem achegar-se ao Pai, com ousadia, tendo acesso por meio de Jesus Cristo, com toda a confianga. Esse € 0 seu oficio, e nisso Ele se deleita — mostrar-se misericordioso. ‘‘Porquanto Deus enviou 0 seu Filho ao mundo, nao para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele’’ (Jo 3.17). Mateus 1.18-25 9 Jesus 6 um nome peculiarmente doce e precioso para aqueles que sao crentes. Com freqiiéncia, esse nome os tem beneficiado, quando © favor de reis e de principes teria sido ouvido por eles com pouco in- teresse. Esse nome tem-lhes dado a paz interior que o dinheiro no pode comprar, Esse nome lhes tem aliviado as consciéncias pesadas, confe- rindo descanso a seus coragGes entristecidos. O livro de Cantares de Salomio refere-se & experiéncia de muitos crentes, ao asseverar: ‘‘como ungiiento derramado é o teu nome’’ (Ct 1.3). Feliz € a pessoa que con- fia nfo meramente em vagas nogées a respeito da misericérdia e da bondade de Deus, mas no préprio ‘‘Jesus’’. O outro nome, que aparece nestes versiculos, de maneira alguma € menos interessante do que aquele que j4 destacamos. Esse é 0 nome conferido a nosso Senhor em vista da sua natureza, como ‘‘Deus que se manifestou em carne’’. Ele é chamado de Emanuel, ou seja, ‘‘Deus conosco’’, Devemos cuidar para que sejam bem claras as nogdes que formamos sobre @ natureza e a pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo. Esse é um ponto que se reveste da mais capital importincia. Deverfamos ter bem claro, em nossas mentes, que nosso Senhor é perfeito Deus tanto quanto perfeito homem. Se chegamos a perder de vista esse fun- damento da verdade, poderemos cair vitimas de temiveis heresias. O nome ‘‘Emanuel’’, pois, € que se reveste de todo o mistério que o cir- cunda. Jesus é 0 ‘‘Deus conosco”’. Ele assumiu a natureza humana igual & nossa, em todas as coisas, excetuando somente a tendéncia para o pecado, Mas, embora Jesus estivesse ‘‘conosco’’ em carne e sangue humanos, ao mesmo tempo Ele nunca deixou de ser 0 verdadeiro Deus, Quando lemos os evangelhos, por muitas vezes descobrimos que nosso Senhor era capaz de ficar cansado, de padecer fome e sede, como também podia chorar, gemer e sentir dor como qualquer um de nds. Em tudo isso podemos ver ‘‘o homem”’ Jesus Cristo. Percebemos a natureza humana que Ele tomou para Si mesmo ao nascer da virgem Maria, Entretanto, nesses mesmos quatro evangelhos, descobriremos que nosso Salvador conhecia os coracdes e os pensamentos dos homens, exercia autoridade sobre os deménios, podia fazer os mais espantosos milagres apenas com uma palavra, era servido pelos anjos, permitiu que um dos seus discfpulos O chamasse de ‘‘Deus meu’’ e, igualmente, disse: ‘‘Antes que Abraao existisse, eu sou’’ (Jo 8.58). E também: ‘‘Eu € 0 Pai somos um’’ (Jo 10.30). Em tudo isso, vemos ‘‘o Deus eterno’’. Vemos aquele que ‘‘é sobre todos, Deus bendito para todo o sempre. Amém’’ (Rm 9.5), Vocé deseja dispor de um seguro fundamento para a sua fé e es- peranga? Nesse caso, jamais perca de vista a divindade do seu Salvador. 10 Mateus 1,18-25 Aquele em cujo sangue vocé foi ensinado a confiar € 0 Deus todo- -poderoso. Toda a autoridade foi dada a Jesus Cristo, no céu e na terra. Ninguém poder4 arrancar vocé da mao dEle. Se vocé é um verdadeiro crente em Jesus, nao permita que 0 seu coragdo se perturbe e atemorize. Vocé deseja contar com um doce consolo nas ocasides de sofri- mento e¢ tribulagéo? Nesse caso, nunca perca de vista a humanidade do seu Salvador. Ele € 0 ser humano Jesus Cristo, que se deitou nos bragos da virgem Maria quando era um pequenino infante, e que co- nhece os coragdes humanos. Ele deixa-se sensibilizar pelo senso das nossas fraquezas. Ele experimentou, pessoalmente, as tentagdes langa- das por Satands. Ele precisou enfrentar a fome. Ele derramou l4grimas. Ele sentiu dor. Confie nEle 0 tempo todo, em todas as suas aflicdes. Ele nunca haveré de desprez4-lo. Derrame diante dEle, em oragio, tudo quanto estiver em seu ser, e nada Lhe oculte. Ele é capaz de simpatizar profundamente com 0 seu povo. Que estes pensamentos se aprofundem em nossas mentes. Ben- digamos a Deus pelas encorajadoras verdades contidas no primeiro capitulo do Novo Testamento, Esse capitulo nos fala de Alguém que salva ‘‘o seu povo dos pecados deles’’. Porém, isso ainda nao é tudo. Esse capitulo revela-nos que o Salvador é 0 ‘‘Emanuel’’, o préprio Deus conosco; Deus manifesto em carne humana, idéntica 4 nossa. Essas sio boas novas. Sao auténticas boas novas. Alimentemos os nossos coragdes com essas verdades, por meio da fé, juntamente com agGes de gracas. Os Sébios do Oriente Leia Mateus 2, 1-12 Ninguém sabe dizer quem foram esses ‘‘magos’’. Os seus nomes eo seu pafs de origem nos foram ocultados. Somos informados somente que eles vieram ‘‘do oriente’’. N§o sabemos dizer se eles eram caldeus ou drabes. Também nao sabemos dizer se eles aprenderam a esperar o Cristo, informados por pessoas das dez tribos de Israel que foram para o cativeiro assfrio, ou por causa das profecias de Daniel. Todavia, pouco importa saber quem foram eles. A quest&o que nos interessa mais sao as riquissimas instrugdes que recebemos através do relato biblico sobre eles. Estes versfculos demonstram que pode haver verdadeiros servos de Deus nos lugares onde menos esperamos encontrd-los. O Senhor Jesus conta com muitos servos ‘‘secretos’’, como aqueles sdbios anti- gos, A histéria deles sobre a terra talvez seja tao pouco conhecida como Mateus 2.1-12 11 a histéria de Melquisedeque, de Jetro ou de J6. Nao obstante, os seus nomes esto inscritos no livro da vida, e eles seréo encontrados na com- panhia de Jesus Cristo, por ocasiao de seu glorioso retorno. Farfamos bem em nao esquecer isso. N&éo devemos olhar ao redor da terra, para ent&o dizermos, precipitadamente: ‘‘Tudo é esterilidade’’. A graga di- vina nao se limita a lugares e a familias. O Espirito Santo pode conduzir almas aos pés de Cristo, sem a ajuda de muitos meios externos. Os ho- mens podem nascer em lugares distantes, como sucedeu aqueles sdbios; e, no entanto, eles podem tornar-se ‘‘sdbios para a salvagéo’’. Neste exato instante, hé alguns que estio na jornada para o céu, e a respeito dos quais a igreja e o mundo nada sabem. Eles vicejam em lugares se- cretos, como os lfrios que crescem entre os espinhos e ‘‘desperdigam a sua fragrancia no ar do deserto’’. Porém, Cristo ama-os, e eles amam a Cristo. Estes versiculos também nos ensinam que nem sempre sdo aque- les que desfrutam dos maiores privilégios religiosos que mais honram a Cristo. Poderfamos mesmo pensar que os escribas e os fariseus es- tariam entre os primeiros que se apressariam a ir a Belém, assim que se espalhou o rumor do nascimento do Salvador. Porém, nao foi isso que sucedeu. Alguns poucos estrangeiros, vindos de alguma terra longin- qua, foram os primeiros, se nfo quisermos mencionar os pastores referidos por Lucas, a se regozijarem ante 0 nascimento do menino Je- sus. ‘*Veio para 0 que era seu, € oS seus ndo o receberam’’ (Jo 1.11). Quo lamentével retrato da natureza humana temos af! Com quanta fre- qiiéncia essa mesma atitude pode ser vista entre n6s mesmos! Com quanta freqiiéncia as préprias pessoas que vivem mais perto dos meios da graca divina sao justamente aquelas que mais os negligenciam! Hé uma pro- funda verdade, contida naquele antigo provérbio, que afirma: ‘Quanto mais perto da igreja, tanto mais longe de Deus!’ A familiaridade com as realidades sagradas reveste-se de uma horrfvel tendéncia que leva os homens a desprezarem-nas. Existem muitas pessoas que, por razdes de residéncia e de conveniéncia, deveriam ser as primeiras e as mais empenhadas na adoracdo ao Senhor Deus. E, no entanto, séo sempre os tltimos a fazé-lo. Por outro lado, ha aqueles que esperarfamos que fossem os tiltimos, mas que séo sempre os primeiros. Estes versiculos ensinam-nos que pode haver um conhecimento meramente intelectual das Escrituras, sem o acompanhamento da graga divina no coragao. Observe como o rei Herodes indagou dos sacerdotes dos anciaios dos judeus acerca de ‘‘onde o Cristo deveria nascer’’, Note também com que prontidio eles Ihe deram a resposta, mostrando que estavam perfeitamente familiarizados com o teor das Sagradas Es- crituras, Entretanto, eles mesmos nunca foram a Belém, em busca do 12 Mateus 2. 1-12 Salvador que estava para nascer. Também nao quiseram acreditar nEle, quando Ele comecou a ministrar entre o povo. Portanto, seus coragdes nao estavam téo despertos quanto a sua inteligéncia, Cuidemos para nunca nos satisfazermos somente com um conhecimento mental. Esse conhecimento é excelente, quando usado de forma correta. Nao obstante, uma pessoa pode ser possuidora de um profundo conhecimento intelec- tual e, no entanto, perecer para sempre. Qual é o estado dos nossos coragdes? Essa é a questo que realmente importa. Um pouco de graca € melhor do que muitos dotes, que por si s6 nfo salvam a ninguém. Mas, a graca divina nos conduz a gléria. A conduta dos magos, descrita neste capitulo, serve-nos de es- pléndido exemplo de diligéncia espiritual. Quantas inconveniéncias e canseiras devem ter-Ihes custado a viagem, desde a sua patria distante até a casa onde o menino Jesus foi encontrado por eles! Quantos qui- l6metros cansativos devem ter percorrido! As fadigas das viagens, no antigo Oriente, eram muito maiores do que nés, da moderna civilizagao, podemos compreender. O tempo que se perdia em uma viagem sem diivida era muito mais dilatado do que acontece em nossos dias. Os perigos encontrados nao eram poucos e nem pequenos. Nenhuma des- sas coisas, entretanto, fez os magos desistirem. Eles resolveram, em seus coracdes, que veriam aquele que nascera para ser 0 ‘‘Rei dos ju- deus”. E nao descansaram senfo quando O acharam. Assim, demonstraram que aquele ad4gio popular encerra uma grande verdade: “Sempre que houver boa vontade, seré descoberto o caminho’’. Quem dera que todos os crentes professos estivessem mais dis- postos a seguir o bom exemplo dos magos. Onde est4 a nossa abnegacao? De que maneira nos temos preocupado com as nossas préprias almas? Quanta diligéncia temos mostrado em seguirmos a Cristo? O que nos tem custado a nossa religiio? Essas so indagagdes serissimas que me- recem a nossa mais séria consideracao. Em tltimo lugar, embora nao menos importante, a conduta dos magos serviu de um notdvel exemplo de fé. Eles confiaram em Cristo, ainda que nunca O tivessem visto. Mas, isso nao foi tudo. Creram nEle mesmo depois que os escribas e os fariseus demonstraram a sua incre- dulidade, Porém, nem mesmo isso foi tudo. Confiaram nEle quando O viram como um pequeno menino, nos joelhos de Maria; e adoraram- -No como a um rei. Esse foi o ponto culminante da sua fé. Nao contemplaram a qualquer milagre que pudesse convencé-los. Nao ou- viram a qualquer ensino que tentasse persuadi-los. Nao foram testemunhas de algum sinal de divindade ou de grandiosidade que os deixasse atOnitos. A ninguém mais viram sendo a um menino ainda pe- queno, fraco e impotente, necessitado dos cuidados maternos como Mateus 2, 1-12 13 qualquer um de nés. A despeito disso, quando viram aquele Menino, creram estar diante do divino Salvador do mundo. E, ‘‘prostrando-se, 0 adoraram’’. Em todas as Escrituras, nfo encontramos fé mais robusta do que a dos magos. A sua fé merece ser considerada no mesmo nfvel de fé do ladrao penitente. Este viu a morte de alguém que fora crucificado como se fosse um malfeitor; mas, a despeito disso, dirigiu-lhe o seu apelo, chamando-O de ‘‘Senhor’’. Os magos viram um menino ainda pequeno, no colo de uma mulher pobre; mas, n&o obstante, O adora- ram, confessando ser Ele o Cristo, Verdadeiramente bem-aventurados so aqueles que podem confiar dessa maneira! Lembremo-nos de que essa € a espécie de fé que Deus deleita-se em honrar. Podemos encontrar provas disso todos os dias. Onde quer que a Bfblia Sagrada seja lida, a conduta daqueles magos torna-se co- nhecida, sendo relatada em meméria deles. Sigamos as suas pegadas de fé. N&o nos envergonhemos de confiar em Jesus e de confessar-nos seus seguidores, mesmo que todas as pessoas ao nosso redor perma- negam na indiferenca e na incredulidade. Nao dispomos nés de mil evidéncias mais do que os magos dispuseram, para que creiamos que Jesus € o Cristo? Nao h4 divida que temos. No entanto, onde est4 a nossa f€é? A Fuga Para o Egito e a Residéncia em Nazaré Leia Mateus 2.13-23 Observe, nesta passagem da Biblia, quao verdadeiro € 0 fato que os governantes deste mundo raramente mostram-se amigdveis para com a causa de Deus. O Senhor Jesus desceu do céu a fim de salvar os pe- cadores e, logo em seguida, conforme somos informados, o rei Herodes pés-se a ‘‘procurar o menino para o matar’’. A grandeza pessoal e as riquezas materiais servem de perigosa possesso para a alma. Aqueles que as buscam nao sabem o que estdo procurando. Essas coisas precipitam os homens em muitas tentagdes. Elas so favordveis para encher o cora¢ao humano de orgulho, agrilho- ando as afeigdes dos homens as coisas terrenas. ‘‘Nao foram chamados muitos sdbios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento”’ (1 Co 1.26). ‘‘Quao dificilmente entrarao no reino de Deus os que tém riquezas’’ (Le 18.24). Vocé tem invejado aos ricos ¢ aos importantes? Vocé tem dito 14 Mateus 2.13-23 em seu coracio: ‘“‘Oxald eu estivesse no lugar deles, com a posicao e as riquezas que eles possuem?’’ Cuidado para no ceder diante desse tipo de sentimento. As préprias riquezas materiais que vocé tanto ad- mira podem estar fazendo afundar no inferno, gradualmente, aos seus possuidores. Um pouco mais de dinheiro poderia decretar a sua rufna. Vocé poderia acabar caindo em todo excesso de crueldade e de iniqiii- dades, & semelhanca de Herodes. Por isso, ‘‘tende cuidado e guardai-vos de toda e qualquer avareza’’ (Lc 12.15). ‘‘Contentai-vos com as cousas que tendes’”’ (Hb 13.5). Pensa vocé, por acaso, que a causa de Cristo depende do poder e do patrocinio dos principes? Vocé est4 enganado. Eles raramente tém feito qualquer coisa que realmente contribua para o avanco do cristia- nismo. Com muito maior freqiiéncia, eles tém-se mostrado inimigos da verdade. ‘‘Nao confieis em principes, nem nos filhos dos homens, em quem nao h4 salvacio’’ (SI 146.3). Muitas pessoas existem cujas atitudes parecem-se com as de Herodes. Sio poucos como o rei Josias, ou como Eduardo VI da Inglaterra, os quais procuraram fomentar a causa da religiio. Observemos como o Senhor Jesus fol um ‘“‘homem de dores’’, desde a mais tenra infancia. As tribulagdes vinham ao seu encontro, desde que Ele entrou neste mundo. Sua vida correu perigo, devido ao medo e & ira de Herodes. José e a mae de Jesus tiveram de levé-Lo para bem longe, a noite. Foi assim que eles fugiram ‘‘para o Egito’’. Porém, isso serviu somente de tipo e figura simbdlica de toda a expe- riéncia de Jesus neste mundo. As ondas da humilhagio comegaram a bater contra Ele, desde que ainda era um nené que se amamentava. O Senhor Jesus é precisamente o Salvador de que necessitam aque- les que padecem e vivem na tristeza. Ele sabe muito bem 0 que queremos dizer, quando Lhe contamos, em oraco, as nossas tribulagdes. Ele € perfeitamente capaz de simpatizar conosco quando, sofrendo debaixo de alguma cruel perseguicéo, clamamos a Ele. Nao devemos esconder dEle coisa alguma. Devemos fazer dEle um amigo intimo. Derrame- mos diante de Jesus os gemidos de nossos coracées. Ele tem grande experiéncia pessoal com as afligdes. Observemos como a morte pode remover deste mundo os reis, como a quaisquer outros homens. Quando soa a hora de sua partida, os dirigentes de milhdes de criaturas humanas nfo s&o capazes de per- manecer em vida. O assassino de criancgas impotentes precisa enfrentar a morte. Portanto, José e Maria acabaram recebendo a noticia de que Herodes ja havia falecido. Imediatamente regressaram com toda a se- guranga para a sua terra natal. Os crentes verdadeiros nunca deveriam deixar-se perturbar em Mateus 2. 13-23 15 demasia, diante das perseguicdes que Ihes movem os homens. Os cren- tes podem ser fracos, e seus inimigos poderosos; mas, apesar disso, no deveriam mostrar-se medrosos. Antes, deveriam relembrar 0 fato que ‘‘o jtibilo dos perversos é breve, ¢ a alegria dos fmpios momentanea”’ (J6 20.5). Que sucedeu aos Faraés, aos Neros e aos Dioclecianos que em sua época perseguiram ferozmente aos servos de Deus? Onde esto alguns perseguidores mais recentes, como a sanguindria Maria da In- glaterra ou como Carlos IX da Franca? Esses fizeram o m4ximo ao seu alcance para lancar a divina verdade por terra. Mas a verdade tornou a brotar, e continua vivendo; enquanto que os perseguidores esto mor- tos € os seus corpos j4 se dissolveram no solo. Por conseguinte, que nao desmaie nenhum cora¢io crente. A morte é uma poderosa nivela- dora de todos os homens, podendo retirar qualquer montanha do caminho da igreja de Cristo. ‘‘O Senhor vive para sempre.’’ Os seus inimigos sio meros homens. A verdade sempre haverd de prevalecer. Notemos, em ultimo lugar, qudo grande ligdo de humildade nos é ensinada por meio do lugar onde residiu o Filho de Deus, quando Ele esteve neste mundo. Ele vivia com sua me e com José, em uma cidade chamada ‘‘Nazaré’’. Nazaré era uma pequena aldeia da Galiléia. Uma localidade obscura e remota, que nfo é mencionada no Antigo Testamento nem por uma tnica vez. Hebrom, Silo, Gibeom e Betel eram cidades muito mais importantes. Nao obstante, o Senhor Jesus preteriu a todas elas, preferindo viver em Nazaré. Ele fez isso por hu- mildade. Em Nazaré, 0 Senhor Jesus habitou pelo espago de trinta anos. Foi ali que passou da infancia para a meninice, da meninice para a adoles- céncia, até atingir a idade adulta. Pouco sabemos acerca de como Jesus passou aqueles trinta anos. Somos expressamente informados, entretanto, de que Jesus, ao descer para Nazaré em companhia de Maria e de José, “‘era-lhes submisso’’. Que Ele trabalhava em companhia de José, na carpintaria, também € algo altamente provavel. Tao somente podemos adiantar que cerca de cinco-sextos dos anus que nosso Salvador esteve na terra foram passados entre os pobres deste mundo, em um retiro quase absoluto. Na verdade, isso Ele fez por pura humildade. Aprendamos a ser sébios, por intermédio do exemplo deixado por nosso Salvador. Sempre nos mostramos por demais inclinados a buscar coisas grandiosas neste mundo. Descontinuemos essa pratica. Obter uma boa posi¢ao profissional, um tftulo e uma elevada posicao social n&o s&o coisas tao importantes como pensa a maioria das pessoas. De fato, constitui um grave pecado ser cobicoso, mundano, orgulhoso e dotado de mentalidade carnal. Todavia, nao é pecado ser pobre. Nao importa tanto onde residimos, e, sim, 0 que somos aos olhos do Se- 16 Mateus 2, 13-23 nhor, Para onde estaremos indo, quando morrermos? Viveremos para sempre nos céus? Essas sfio as coisas dotadas de peso real, as quais deverfamos dar atencio. Acima de tudo, porém, esforcemo-nos por imitar a humildade demonstrada por nosso Salvador. O orgulho é 0 mais antigo e o mais disseminado dos pecados. A humildade é a mais rara e bela de todas as virtudes. Esforcemo-nos por ser humildes. O nosso conhecimento pode ser insuficiente. A nossa f€ pode ser fraca. As nossas forcas po- dem ser pequenas. Entretanto, se formos bons discfpulos dAquele que veio residir em Nazaré, entio, seja como for, seremos humildes. O Ministério de Joao Batista Leia Mateus 3.1-12 Estes doze versiculos descrevem 0 ministério de Joao Batista, © precursor de nosso Senhor Jesus Cristo. Este é um ministério que merece a nossa Cuidadosa atencao. Poucos pregadores tém obtido tao notdveis resultados quanto ele. ‘‘Safam a ter com ele Jerusalém, toda a Judéia e toda a circunvizinhanga do Jordio’’, conforme lemos em Ma- teus 3.5, Nenhum outro pregador jamais recebeu tao grandes elogios da parte do Cabeca da igreja. Jesus chamou Jojo Batista de ‘‘a lampada que ardia e alumiava”’ (Jo 5.35). O grande Supervisor das nossas almas declarou pessoalmente: ‘‘Entre os nascidos de mulher, ninguém apa- receu maior do que Joao Batista’ (Mt 11.11). Por conseguinte, estudemos as principais caracterfsticas do ministério dele. Joao Batista falava com clareza a respeito do pecado. Ensinava a absoluta necessidade de ‘‘arrependimento”’, antes que alguém possa ser salvo. Ele anunciava que o arrependimento precisa ser comprovado através dos seus ‘‘frutos’’. Advertia aos homens que nunca dependes- sem de meros privilégios externos ou da uniao externa com alguma igreja ou religiao. precisamente esse o ensinamento de que todos carecemos, Es- tamos naturalmente mortos, somos cegos e dormimos no tocante as realidades espirituais. Contentamo-nos com uma religiio meramente formal, lisonjeando-nos a nés mesmos com a idéia de que, se freqiien- tarmos alguma igreja seremos salvos. £ mister que alguém nos diga que, a menos que nos arrependamos e nos convertamos, todos perece- remos. Joao Batista também falou com clareza a respeito de nosso Se- nhor Jesus Cristo. Ele ensinou ao povo que Alguém ‘‘mais poderoso’’ Mateus 3.1-12 17 do que ele apareceria em breve, entre eles. Joo Batista nfo passava de um servo; mas Aquele que viria era o préprio Rei. Joao Batista sé podia batizar ‘em 4gua’’; porém, Aquele que viria apés Jodo batizaria “‘no Espirito Santo ¢ no fogo’’, além disso tiraria pecados e, algum dia, haveria de voltar para julgar ao mundo. Novamente, esse € um ensinamento do qual a natureza humana tanto precisa. Precisamos ser enviados diretamente a Jesus Cristo. No entanto, estamos sempre inclinados a parar muito aquém desse alvo. Queremos descansar nos vinculos com as nossas igrejas locais, gozando regularmente os beneficios do ministério oficial. No entanto, deverfa- mos entender a absoluta necessidade de estarmos unidos ao préprio Cristo, mediante a fé. Ele ¢ a fonte designada por Deus, onde encon- tramos a misericérdia, a graga, a vida e a paz. Cada um de nés precisa estabelecer um relacionamento pessoal com Ele a respeito de nossa alma. O que sabemos acerca do Senhor Jesus? O que ja obtivemos da parte dEle? E de questdes dessa ordem que depende a nossa salvacdo eterna. Jo&o Batista manifestou-se claramente a respeito do Esptrito Santo. Ele pregou, asseverando que existe tal coisa como o batismo no Espfrito Santo. E ensinou que o officio especial do Senhor Jesus é conferir o Espirito aos homens. Uma vez mais, esse € um ensinamento de que muito precisamos. Devemos compreender que 0 perdao dos pecados nfo € a tinica coisa necessdria a salvagaéo da alma. Ainda hd uma outra coisa, a saber, 0 batismo de nossos coragées por parte do Espirito Santo, Nao somente precisa haver a operagdo de Cristo em nosso favor, mes também deve haver a atuacdo do Espfrito Santo em nds. Nao somente devemos ter 0 direito de entrar no céu, mediante o sangue vertido por Cristo, mas também devemos ser preparados para o céu, por intermédio da atuagéo do Espirito de Cristo. Jamais devemos descansar, enquanto nao tiver- mos experimentado algo da experiéncia do batismo no Espirito Santo. O batismo em Agua é um grande privilégio nosso, Contudo, também devemos procurar desfrutar do batismo no Espirito Santo. Joao Batista falou claramente sobre o tremendo perigo que cor- rem os impenitentes e os incréduios. Advertiu aos que 0 ouviam que todos deveriam aguardar a ‘‘ira vindoura’’. Pregou sobre um ‘‘fogo inextingufvel’’, onde a palha, algum dia, ficard queimando eternamente. Novamente, esse é um ensino biblico tremendamente importante. Todos precisamos ser claramente advertidos de que essa néo é uma quest&o deStituida de importancia, como se nos pudéssemos arrepender ou nado, Pelo contrario, precisamos relembrar que existem tanto o in- ferno quanto o céu, e que a punig&o eterna espera pelos impios, da mesma maneira que a vida eterna destina-se aos piedosos. Somos incrivelmente 18 Mateus 3.1-12 inclinados a nos esquecer disso. Falamos sobre o amor e sobre a mi- sericérdia de Deus, mas nao destacamos de maneira suficiente a sua justica e a sua santidade. Devemos usar de grande cautela quanto a esse particular. Nao constitui gentileza auténtica disfargar, diante das outras pessoas, os terrores do Senhor. & bom que todos nés saibamos que & possivel as pessoas perderem-se eternamente, e que todos os que nao querem converter-se esto a beira do abismo. Em ultimo lugar, Joao Batista referiu-se claramente 4 seguranca de que desfrutam os crentes auténticos. Ele ensinou que existe um ce- leiro onde serao recolhidos todos aqueles que pertencem a Jesus Cristo, como 0 seu trigo, e que esses serao reunidos ali, quando o Senhor Jesus vier pela segunda vez. De novo, esse é um ensino de que a natureza humana precisa desesperadamente. Os melhores crentes carecem de muito encoraja- mento. Eles continuam vivendo em seu corpo, Vivem em um mundo caracterizado pela impiedade. Com freqiiéncia, so tentados pelo diabo. De vez em quando, é mister que a meméria deles seja despertada para © fato que Jesus nunca os deixaré e nem os abandonard. Ele havera de conduzi-los, com toda a seguranga, nesta vida, e, finalmente, haver4 de encaminhé-los a gloria eterna. Eles sero protegidos no dia da ira do Senhor. Estarfo tao seguros quanto Noé esteve na arca. Que todas essas verdades lancem profundas rafzes em nossos coragdes. Vivemos em uma época em que os falsos ensinos vém & tona por todos os lados. Nunca nos deverfamos esquecer das principais ca- racterfsticas de um ministério evangélico fiel. Quao grande seria a felicidade da igreja de Cristo se todos os seus ministros se parecessem mais com Joao Batista! O Batismo de Cristo Leia Mateus 3.13-17 Temos aqui a narrativa do batismo de nosso Senhor Jesus Cristo. Esse foi o primeiro passo, dado por Jesus, quando deu inicio ao seu ministério terreno. Quando um sacerdote judeu comecava a oficiar nessa capacidade, com a idade de trinta anos, lavava-se com 4gua. Quando © nosso grande Sumo Sacerdote iniciou a grandiosa obra que veio re- alizar neste mundo, foi publicamente batizado. Nestes versiculos, aprendamos a considerar com reveréncia a ordenanca crista do batismo. Uma ordenanga da qual 0 préprio Senhor Jesus participou nao pode ser tida como algo de somenos importancia. Mateus 3.13-17 19 Uma ordenanga a qual o grande Cabega da igreja se submeteu, sempre deveria ser honor4vel aos olhos dos verdadeiros crentes. Poucos pormenores da religiao crista tém sido alvo de tantas in- terpretagdes distorcidas quanto o batismo. Poucos desses detalhes tem requerido tanta defesa e esclarecimento. Armemo-nos, portanto, com duas precaugdes de natureza geral. Por uma parte, tenhamos 0 cuidado de ndo atribuir a dgua do batismo qualquer valor supersticioso. Nao podemos supor que a 4gua do batismo opere como se fora um encantamento. Nao podemos espe- rar que todas as pessoas que sao batizadas recebam automaticamente a graca de Deus, no momento do seu batismo. Afirmar que todos quan- tos recebem o batismo obtém um beneficio idéntico e do mesmo nivel, nao importando nem um pouco se recebem a ceriménia com fé e oragdo, ou no mais completo desinteresse — sim, afirmar tais coisas é contra- dizer as mais evidentes ligdes das Escrituras. Por outra parte, devemos ter 0 cuidado de ndo desonrar a or- denanga do batismo. O batismo cristéo € desonrado quando o tiramos de cena, nao permitindo que se evidencie na congregacao local. Uma ordenanga que foi determinada pelo préprio Cristo nao pode ser tratada dessa maneira. A admissio de todos os novos membros a igreja visivel, quer jovens quer adultos, é um acontecimento que deveria suscitar um vivido interesse em qualquer assembléia evangélica. Esse é um evento que deveria invocar as mais fervorosas oragGes da parte de todos os crentes dedicados 4 orago. Quanto mais profundamente convictos fi- carmos de que 0 batismo e a graca divina nao esto sempre ligados um ao outro, tanto mais nos sentiremos impulsionados a orar coletivamente em favor de todos aqueles que forem batizados. O ato do batismo de nosso Senhor Jesus Cristo foi acompanhado por circunstancias que se revestiram de uma solenidade toda peculiar. Um batismo como o dEle jamais ocorrer4 novamente, por mais que dure este mundo. Lemos nas Escrituras acerca da presenca de todas as trés Pes- soas da bendita Trindade. Deus Filho, tendo-se manifestado em carne humana, foi batizado. Deus Espirito Santo desceu sobre a cena sob a forma corpérea de uma pomba, adejando sobre Jesus. E Deus Pai falou do céu, com voz audivel. Em suma, encontramos ali a manifestagio ou presenga do Pai, do Filho e do Espirito Santo. Sem diivida, deve- rfamos considerar esse fato como um antncio piiblico de que a obra de Jesus Cristo era o resultado do conselho eterno de todas as trés Pes- soas divinas. Foram essas trés Pessoas que, no comego da criagdo, disseram: ‘‘Fagamos 0 homem a nossa imagem, conforme a nossa se- melhanca’’ (Gn 1.26). Novamente, foi a Trindade inteira que, quando 20 Mateus 3:13-17 do infcio do evangelho, pareceu dizer: ‘‘Salvemos ao homem’’. Lemos que se fez ouvir ‘‘uma voz dos céus’’, por ocasido do ba- tismo de nosso Senhor. Essa foi uma circunstdncia que se revestiu de singular solenidade, Nenhuma outra voz do céu jamais se fizera ouvir antes disso, exceto por ocasiao da transmissao da lei mosaica, no monte Sinai, Ambas essas ocasides foram marcadas por uma importancia {mpar. Por conseguinte, pareceu conveniente, para o nosso Pai celestial, as- sinalar ambas essas oportunidades com uma honra toda peculiar. Tanto na introdugéo da lei quanto do evangelho o préprio Deus Pai falou. Quao not4veis e profundamente instrutivas so as palavras de Deus Pai! ‘‘Este € 0 meu Filho amado, em quem me comprazo’’. Por meio dessas palavras, Ele declarou que Jesus é o divino Salvador, selado e nomeado para isso desde toda a eternidade, a fim de realizar a obra da redengfio. Ele proclamou que aceitava a Jesus como 0 unico Media- dor entre Deus e os homens. O Pai parecia estar publicando ao mundo que estava satisfeito com Cristo como a propiciagao pelos nossos pe- cados, como a nosso Substituto, como Aquele que pagaria o prego do resgate pela famflia condenada de Adio, e como 0 Cabega de um povo remido. Em Cristo, Deus Pai via a sua santa lei magnificada e honrada. Através dEle Deus pode ser ‘‘justo e 0 justificador daquele que tem f6 em Jesus’’ (Rm 3.26). Convém que ponderemos cuidadosamente essas palavras! Elas nos podem enriquecer extraordinariamente os pensamentos. Sao pala- vras que transbordam de paz, de alegria, de consolo e de encorajamento para todos aqueles que se refugiam no Senhor Jesus Cristo, entregando- -Lhe as suas almas para serem salvos. Esses podem regozijar-se no pensamento que, embora continuem pecadores em si mesmos, contudo, aos olhos de Deus, sao considerados justos. Deus Pai considera todos eles membros de seu Filho amado. Nao percebe neles qualquer mécula, , por causa de seu Filho, fica satisfeito (2 Pe 1.17). A Tentacao Leia Mateus 4.1-11 Apés 0 batismo de Jesus, o primeiro acontecimento a ser regis- trado pelo apéstolo Mateus, na vida do Senhor, foi a tentacdo. Trata-se de um assunto profundo e circundado de mistérios. HA muita coisa, no relato biblico a esse respeito, que no sabemos esclarecer. No en- tanto, a superficie da narrativa h4 ligdes praticas perfeitamente claras, que farfamos bem em dar atencio. Mateus 4,1-11 21 Em primeiro lugar aprendamos que temos, no diabo, um inimigo real e poderoso. Ele nao temeu desfechar os seus ataques nem mesmo contra o préprio Senhor Jesus. Por trés vezes em seguida, ele tentou ao préprio Filho de Deus. Nosso Salvador foi conduzido ao deserto com 0 propésito de ser ‘‘tentado pelo diabo’’. Foi por intermédio do diabo que o pecado entrou no mundo, no comego da histéria da humanidade. Foi 0 diabo que oprimiu J6, enga- nou Davi e fez Pedro cair em perigoso pecado. A Bfblia intitula o diabo de ‘‘homicida’’, ‘‘mentiroso”’ e ‘‘ledo que ruge’’. Aquele que é 0 ad- versério das nossas almas, nunca dorme e nem cochila. 6 ele que, por cerca de seis mil anos, vem realizando uma tnica obra nefanda — ar- ruinar a homens e mulheres, atirando-os no inferno. Ele é um ser cuja sutileza e asticia ultrapassam a toda a compreensao humana, de tal ma- neira que, com freqiiéncia, ele parece ser um ‘‘anjo de luz”’ (2 Co 11.14). Cumpre-nos vigiar ¢ orar diariamente, acerca dos perversos es- tratagemas do diabo. Nao existe inimigo pior do que aquele que nunca pode ser visto e que nunca morre; que est4 sempre perto de nés, onde quer que nos encontremos, e que vai conosco onde quer que formos. Também nao € coisa de somenos a maneira leviana e até humorfstica com que os homens se referem ao diabo, de uma maneira tio genera- lizada. Lembremo-nos a cada dia que, se quisermos ser salvos, nao somente teremos de crucificar a carne e vencer o mundo, mas também teremos de fazer conforme as Escrituras nos recomendam: ‘“‘resisti ao diabo’’ (Tg 4.7). Em seguida, devemos aprender que todos nés ndo devemos en- frentar a tentagdo como se fosse uma colsa estranha. ‘‘Nao é 0 servo maior do que seu senhor’’ (Jo 15.20). Se Satands atacou ao préprio Jesus Cristo, entéo, sem diivida algama, também atacaré aos crentes. Como seria bom, para todos os crentes, se eles se lembrassem dessa realidade. No entanto, tendemos muito por esquecer tal coisa. Com freqiiéncia, os crentes detectam maus pensamentos em suas men- tes que eles poderiam afirmar que odeiam. Diividas, indagagdes e uma pecaminosa imaginacao sao coisas que lhes sao sugeridas, contra o que se revolta todo o seu homem interior. Nao devem permitir, no entanto, ge essas coisas destruam a sua paz e os furtem de suas consolagées. necessério lembrar que o diabo existe, e ndo deveriam surpreender-se ao descobrir que ele est4 sempre bem perto deles. Ser vftima das ten- tagdes ainda nfo é incorrer em pecado. Pecamos somente quando cedemos diante das tentagdes, dando lugar ao pecado em nossos coracées, algo que muito deverfamos temer. Convém que aprendamos, em seguida, que a principal arma que devemos usar para resistir a Satands é a Biblia, Por nada menos de 22 Mateus 4.1-11 trés vezes o grande adversério das nossas almas apresentou tentacdes diante de nosso Senhor. Por trés vezes o oferecimento diabélico foi re- pelido, sempre mediante 0 emprego de algum texto biblico como motivagao: ‘‘Esté escrito’’. Essa € apenas uma, dentre muitas razGes, pelas quais devemos ser leitores diligentes das Sagradas Escrituras. A Palavra de Deus é a espada do Espfrito (Ef 6.17). Jamais estaremos combatendo, como convém ao crente, enquanto nao estivermos usando a Biblia como a nossa principal arma de ataque e defesa. A Palavra de Deus também € lampada para os nossos pés. Jamais nos conservaremos no elevado caminho do Rei, que leva ao céu, se nao estivermos jornadeando ilu- minados por essa luz. Com toda a razio podemos temer que, entre os crentes, a Biblia nao é lida de maneira suficiente. Nao basta possuirmos as Escrituras. E necessdrio Ié-las e orar a respeito de nds mesmos, A Bfblia nio nos faré nenhum bem se, téo-somente, ficar guardada em nossos lares. Antes, precisamos estar familiarizados com o contetido das Escrituras, com o seu texto armazenado em nossa mente e em nossa meméria. O conhecimento bfblico nunca pode ser adquirido por mera intui¢éo. Tal conhecimento sé pode ser adquirido mediante a leitura regular, trabalhosa, didria, atenta e desperta. Queixamo-nos do tempo e do trabalho que isso nos custa? Se assim estivermos fazendo, entaio isso sera sinal de que ainda nao estamos aptos para o reino de Deus. Em ultimo lugar, devemos aprender 0 quanto nosso Senhor Je- sus Cristo € um Salvador que simpatiza conosco. ‘‘Pois naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, 6 poderoso para socorrer os que sao tentados’’ (Hb 2.18). A simpatia de Jesus por nds é uma verdade que deveria ser par- ticularmente valorizada por todos os crentes. Eles poderiio descobrir que essa é uma verdade que serve de mina de poderosas consolagées. Nunca deveriam esquecer-se de que eles contam com um poderoso Amigo nos céus, o qual simpatiza com eles em todas as tentagdes e provacdes por que tiverem de passar. Ele sente, juntamente com eles, as suas an- siedades espirituais. Sdo os crentes tentados, por Satan4s, a desconfiarem da bondade e dos cuidados de Deus por eles? Jesus também foi tentado desse modo. Sao eles tentados a presuncao, em relacdo & misericérdia divina, arriscando-se desnecessariamente e sem garantias? Assim tam- bém Jesus foi tentado. Eles sao tentados a cometer algum grande pecado particular, como se isso lhes oferecesse alguma vantagem? Essa tam- bém foi uma das tentagdes que assaltou a Jesus Cristo. Sao eles tentados a fazer alguma errénea aplicacao das Escrituras, como justificativa para a pratica do mal? Outro tanto sucedeu a Jesus. Ele é exatamente o Sal- vador de que precisam aqueles que so tentados. Por conseguinte, que Mateus 4.1-11 23 os crentes se refugiem no Senhor, pedindo-Lhe ajuda e expondo diante dEle todas as suas dificuldades. E ent&o havero de descobrir que Ele est4 sempre preparado a simpatizar com eles. Jesus pode entender todas as suas tristezas. Oxalé todos nds reconhecéssemos, em nossa prépria experiéncia didria, o quanto vale um Salvador cheio de simpatia! Nao h4 nada que se lhe possa comparar, neste nosso mundo frio e enganador. Aqueles que buscam encontrar a felicidade neste mundo e desprezam a religiio revelada nas Escrituras, nao fazem a mfnima idéia do verdadeiro con- Solo que estio perdendo. Comego do Ministério de Cristo e a Chamada dos Primeiros Discipulos Leia Mateus 4.12-25 Nestes versiculos encontramos 0 comego do ministério de nosso Senhor entre os homens. Ele dé inicio aos seus labores entre uma po- pulacao ignorante e obscurecida. Ele escolhe os homens que serfo seus companheiros e discfpulos e confirma o seu ministério através de mi- lagres, os quais chamam a atengo de ‘‘toda a Siria’’ e atraem grandes multidées para ouvi-lo. Observemos a maneira pela qual nosso Senhor deu intcio a sua Poderosa realizacao: ‘‘passou Jesus a pregar’’. Nao existe outra ati- vidade tao honrada como a de um pregador. Nao hd trabalho humano tio importante para as almas dos homens. Esse é um offcio do qual 0 préprio Filho de Deus nao se envergonhou. Através desse officio Ele selecionou os seus doze apéstolos. Foi um oficio que 0 apéstolo Paulo, jé idoso, recomendou de maneira especial a Timéteo, quase que em seu Ultimo alento: ‘‘prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer nao’’ (2 Tm 4.2), Acima de qualquer outro, esse é o instrumento que Deus se agrada em usar na conversio e edificagdo das almas humanas. Os dias mais resplandecentes da igreja de Cristo sempre foram aqueles em que a pregacio do evangelho foi mais honrada. Enquanto que os dias mais negros da igreja sempre tém sido aqueles em que a prédica foi desvalorizada. Honremos as ordenangas e as oragdes piiblicas, nas igrejas locais, e utilizemo-nos reverentemente desses meios da graga divina. Porém, cuidemos em nunca permitir que essas praticas venham a tomar o lugar que pertence a pregacao do evangelho. Prestemos atengao @ primeira doutrina que o Senhor Jesus pro- clamou ao mundo. Ele comegou, afirmando: ‘‘Arrependei-vos’’. A 24 Mateus 4.12-25 necessidade de arrependimento é um dos grandes fundamentos que esto & base do cristianismo. & mister pregarmos que toda a humanidade, sem exce¢ao, se arrependa. Importantes ou nao, ricos ou pobres, todos os homens tém cafdo no pecado e so culpados diante de Deus. Todos precisam arrepender-se e converter-se, se porventura quiserem ser sal- vos. O verdadeiro arrependimento nao é alguma questdo superficial. Antes, envolve uma completa mudanga do coragao no que concerne ao pecado, uma transforma¢&o que se demonstra mediante uma santa contrigao e humilhagao, com uma sincera confissio dos pecados, diante do trono da graga, e uma quebra total de habitos pecaminosos, bem como um édio permanente a todo pecado. Tal arrependimento é 0 acom- panhante insepardvel da fé salvadora em Jesus Cristo. Devemos valorizar grandemente essa doutrina. Ela se reveste da maior importancia. Ne- nhum ensino cristéo pode ser considerado sadio se nado puser sempre em evidéncia ‘‘o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Se- nhor Jesus Cristo’ (At 20.21). Observemos também a classe de homens a quem o Senhor Jesus escolheu para serem seus discfpulos. Eles pertenciam as camadas mais pobres e humildes da sociedade. Pedro, André, Tiago e Joio eram to- dos ‘‘pescadores’’. A religiéo de nosso Senhor Jesus Cristo nao visava somente aos ricos e cultos; destinava-se ao mundo todo, e a maior parte da humanidade sempre ser4 pobre. A pobreza e a ignorancia literéria exclufam milhares de pessoas da atengdo dos orgulhosos filésofos do mundo pagio. Mas isso nao impede a ninguém de ocupar mesmo os mais altos escalées do ministério cristéo. Um certo homem é humilde? Ele sente o peso dos seus pecados? Ele est4 disposto a ouvir a voz de Cristo e a segui-Lo? Nesse caso, ele pode ser o mais pobre dos pobres, mas, no reino dos céus haverd de ocupar uma posi¢ao tao importante quanto qualquer outra pessoa. O intelecto e o dinheiro de nada valem, sem a graca de Deus. A religido de Cristo deve ter tido a sua origem no céu. Do con- trdrio, nunca teria prosperado e se propagado por toda a terra, conforme tem sucedido. E iniitil aos incrédulos tentarem dar resposta a esse ar- gumento. Ele nao pode ser retorquido. Uma religido que nao lisonjeia aos ricos, aos grandes e aos bem instrufdos, uma religiéo que nao d4 margem as inclinagdes carnais do coracio humano, uma religiao cujos primeiros mestres foram pobres pescadores, destitufdos de riquezas ma- teriais, posigio social ou poder, uma religidéo como essa jamais teria transtornado 0 mundo, se nao procedesse de Deus. Por um lado, con- templamos os imperadores romanos e os sacerdotes do paganismo, com os seus espléndidos santudrios! Por outro lado, vemos alguns poucos trabalhadores bragais, cristéos, sem grande instrucdo formal, mas anun- Mateus 4.12-25 25 ciando o evangelho! Acaso, j4 houve outros dois grupos tio diferentes um do outro? Os que eram fracos mostraram-se fortes; e os que eram fortes mostraram-se fracos. O paganismo ruiu, e 0 cristianismo tomou o seu lugar. Portanto, o cristianismo deve proceder de Deus, Em tiltimo lugar, observemos o cardter geral dos milagres por meio dos quais nosso Senhor confirmou a sua missdo. Nesta passagem bfblica, esses milagres so vistos em geral. Porém, um pouco mais adiante, haveremos de vé-los descritos em particular. Mas, qual é 0 carater desses milagres? Eles foram alicercados sobre a misericérdia e a bondade. Nosso Senhor ‘‘percorria... toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doengas e enfermidades entre 0 povo’’. Esses milagres tiveram por propésito ensinar-nos quéo poderoso € nosso Senhor. Aquele que era capaz de curar enfermos com um sim- ples toque de mao e expelir deménios com uma palavra, também é poderoso para ‘‘salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus’’ (Hb 7.25). Sim, Ele € 0 Todo-poderoso, Esses milagres tém, igualmente, a finalidade de servir de simbolos ou emblemas da habilidade de nosso Senhor como médico espiritual. Aquele, diante de quem nenhuma enfermidade fisica mostrou ser in- curdvel, é poderoso para curar cada um dos males que afligem as nossas almas. Nao hd coragio partido que Ele nao saiba sarar. Nao hé ferida de consciéncia que Ele nao possa fazer cicatrizar. Todos nés somos individuos cafdos, esmagados, despedacados e atingidos por alguma praga, por causa do pecado. Mas Jesus, por meio de scu sangue e Es- pfrito, pode curar-nos inteiramente. Téo-somente devemos ir até Ele. Esses milagres tém também o propésito de mostrar-nos 0 coracao de Jesus — o Salvador extremamente compassivo. Ele nfo rejeitava aninguém que viesse até Ele. Ele nunca rejeitou a quem quer que fosse, por mais enfermo ou repugnante que estivesse. Os seus ouvidos esta- vam dispostos a dar atencfo a todos, ¢ Ele estava sempre pronto a ajudar a todos com um coragio terno para com todos. Nao existe bondade que se possa comparar a sua. A compaixao de Jesus jamais falhard. Nunca nos deverfamos esquecer de que Jesus Cristo ‘‘ontem e hoje é o mesmo, ¢ o ser4 para sempre’’ (Hb 13.8)! Exaltado nos céus, & mio direita de Deus Pai, em coisa alguma Ele se modificou. Ele con- tinua perfeitamente capaz de salvar, igualmente disposto a acolher-nos, eda mesma maneira preparado para ajudar-nos, tal e qual fazia h4 quase vinte séculos passados. Terfamos nés colocado diante dEle as nossas peticdes naqueles dias? Fagamos a mesma coisa hoje. Ele pode curar “‘toda sorte de doengas e enfermidades’’. 26 Mateus 5.1-12 As Bem-aventurancas Leia Mateus 5.1-12 Os trés capftulos que tém infcio com estes versfculos merecem atengao especial da parte de todos os estudiosos da Biblia. Esses ca- pitulos contém o que usualmente se chama de ‘‘Sermio da Montanha’’. Cada palavra do Senhor Jesus deveria ser reputada como preciosa pelos que se dizem crentes. 6 a voz do nosso supremo Pastor, a palavra do grande Superintendente e Cabeca da igreja, & o Senhor quem est4 falando. E a palavra dAquele que falava como ninguém jamais falou, a voz dAquele por meio de quem seremos julgados no ultimo dia. Gostarfamos de saber que tipo de pessoa deveria ser o crente? Gostarfamos de saber que cardter cristo deveria ser 0 nosso alvo? Gos- tarfamos de saber qual a conduta e os hdbitos mentais que deverfamos cultivar como seguidores de Jesus? Nesse caso, estudemos com freqiiéncia o Serméo da Montanha. Meditemos constantemente sobre as sentengas de Cristo, e submetamo-nos a prova de acordo com elas. Nao devemos deixar de considerar a quem o Senhor Jesus chamou de “‘bem-aventurados”’ no come¢o do sermao. Aqueles que sio abenco- ados pelo nosso Sumo Sacerdote séo verdadeitamente benditos. Jesus chamou de bem-aventurados aos humildes de esptrito. Referia-se aos humildes, modestos quanto a seu auto-conceito, auto- -tebaixados. Apontava para os que estdo profundamente convictos de sua prépria pecaminosidade diante de Deus. Aqueles que nao ‘‘sao sé- bios aos seus préprios olhos, ¢ prudentes em seu préprio conceito”’ (Is 5.21), Esses nao se consideram ‘‘ricos e abastados’’ (Ap 3.17); nao ficam fantasiando de que nada precisam. Antes, consideram-se infeli- zes, miseraveis, pobres, cegos e nus. Todos esses sio bem-aventurados! No alfabeto do cristianismo, a humildade é a primeira letra. Devemos comegar bem por baixo, se quisermos atingir grandes alturas espirituais. O Senhor Jesus também chamou de bem-aventurados aqueles que choram. Com isso Ele quis dar a entender aqueles que se entristecem por causa do pecado, e que também se lamentam diariamente por causa das suas préprias falhas. Sao esses os que se preocupam mais por causa do pecado do que por qualquer outra coisa na face da terra. A meméria dessas coisas deixa-os profundamente tristes. Tal carga lhes parece in- tolerfvel. Bem-aventurados sao todos os tais. ‘‘Sacrificios agraddveis a Deus sao 0 espirito quebrantado; coraco compungido e contrito nao o desprezarés, 6 Deus’’ (SI 51.17). Algum dia, eles nao mais derra- marao l4grimas, ‘‘porque serdo consolados’’. Mateus 5.1-12 27 O Senhor Jesus também chama de bem-aventurados aos mansos. Ele tinha em mente aqueles cujo espfrito é paciente e satisfeito. Os que se dispdem a serem com pouca honra neste mundo, capazes de sofrer injusticas sem guardar ressentimentos. Os que dificilmente se deixam irritar. Como Lézaro na parabola, eles esto contentes em esperar pelas boas coisas que Deus tem para dar. Bem-aventurados sao todos esses! A longo prazo, eles nunca sao os perdedores. Chegard o dia quando eles ‘‘reinardo sobre a terra’ (Ap 5.10). O Senhor Jesus chama de bem-aventurados os que tém fome e sede de justica, os que desejam acima de tudo ajustar-se 4 mente do Senhor. Eles anelam no tanto por se tornarem ricos ou poderosos ou eruditos, mas por serem santos. Bem-aventurados sfo todos os tais! Um dia terfo o suficiente do que desejam. Um dia acordario revestidos & semelhanga de Deus e serio satisfeitos (SI 17.15). Jesus chama de bem-aventurados aos misericordiosos, os que se mostram Compassivos para com os seus semelhantes. Eles tem com- paixio de todos quantos sofrem, seja por causa do pecado ou de adversidades, e desejam ternamente suavizar tais sofrimentos. Praticam boas obras e esforgam-se por fazer o bem, Bem-aventurados s4o todos os tais! Tanto nesta vida quanto na vindoura, terfo uma rica colheita. O Senhor Jesus também considerou bem-aventurados os que sio limpos de coragdo. Ao assim dizer, Ele pensava naqueles que nao al- mejam apenas uma conduta externa correta, e, sim, a santidade interior. Esses tais nfo se satisfazem com uma mera exibigdo externa de reli- giosidade. Antes, esforgam-se por manter 0 coragdo e a consciéncia isentos de ofensa, desejando servir a Deus com 0 espirito e com o ho- mem interior, Bem-aventurados sao todos esses! O coragao € 0 préprio homem. ‘‘O homem vé o exterior, porém o Senhor, 0 coragéo”’ (I Sm 16.7). Quanto mais a mente estiver voltada para as coisas espirituais, maior comunhio ter4 o homem com Deus. O Senhor Jesus chama de bem-aventurados aos pacificadores, isto é, os que exercem a sua influéncia pessoal a fim de promoverem @ paz e o amor; tanto em particular como em piblico, em casa ou no estrangeiro. Sao os que se esforcam para que todos os homens se amem mutuamente, ensinando aquele evangelho que diz: ‘‘o cumprimento da lei €0 amor’ (Rm 13.10). Bem-aventurados so todos esses, pois, esto realizando a mesma obra que o Filho de Deus iniciou, quando veio a terra pela primeira vez, e que Ele terminar4é ém sua segunda vinda. Por fim, o Senhor Jesus chama de bem-aventurados os persegui- dos por Causa da justiga, os que sio alvos de zombarias e risos, os desprezados e que sofrem abusos somente porque se esforgam por viver como verdadeiros crentes. Bem-aventurados so todos os tais! Esses 28 Mateus 5.1-12 bebem do mesmo célice de que o Mestre bebeu. Eles O esto confes- sando perante os homens, e Ele, por sua vez, haver4 de confess4-los perante Deus Pai e os anjos no ultimo dia. ‘‘B grande o vosso galardao nos céus.’”” Estas so as oito pedras fundamentais que o Senhor Jesus langou, logo no comego do seu Serm&o da Montanha. Oito grandes verdades, ito grandes testes foram colocados diante de nés. Marquemos bem cada uma delas, e assim aprenderemos a sabedoria! Aprendamos quao inteiramente contrdrios aos princtpios deste mundo sao os princtpios ensinados por Cristo. & invtil tentar negar esse fato. So princfpios diametralmente opostos entre si. O mundo menos- preza as préprias virtudes que nosso Senhor Jesus exaltou. Orgulho, falta de consideracao, espfrito de exaltago, mundanismo, formalismo, egofsmo e falta de amor, que proliferam neste mundo por toda a parte, so coisas que o Senhor Jesus condenou. Aprendamos, da mesma forma, quio ¢ristemente diferentes da vida pratica de muitos professos ‘‘cristdos’’ sdo os ensinos de Jesus Cristo. Onde encontraremos, entre os que freqiientam os cultos nas igre- jas locais, homens e mulheres que se esforgam por viver segundo os padrdes acerca dos quais acabamos de ler? Infelizmente, h4 muitas razes para temer que um grande niimero de pessoas batizadas sao totalmente ignorantes acerca do que 0 Novo Testamento contém! Acima de tudo, aprendamos quio santos e espirituais todos os crentes deveriam ser. Jamais deveriam ter como alvo qualquer padrao inferior ao do Sermo da Montanha. O cristianismo é eminentemente uma religiio pratica. A sa doutrina 6 a sua raiz e fundamento, mas 0 seu fluxo deveria sempre ser uma vida santa. E, se quisermos saber o que é uma vida santa, consideremos ent&o, com freqiiéncia, quem s&o aqueles a quem Jesus chamou de ‘‘bem-aventurados”’. O Carater dos Verdadeiros Crentes O Ensino de Cristo e o Antigo Testamento Leta Mateus 5, 13-20 Nestes versiculos, o Senhor Jesus trata de dois assuntos. Um de- les € 0 cardter que os verdadeiros crentes precisam defender ¢ manter neste mundo. O outro € a relagdo entre as doutrinas que Ele ensinava € os ensinos do Antigo Testamento. E muito importante termos uma visio bem clara sobre ambos os assuntos. Os verdadeiros cristtos devem ser neste mundo como o sai. Ora, Mateus 5.13-20 29 © sal tem um sabor todo peculiar, diferente de qualquer outra coisa. Quando misturado com outras substfncias, preserva da corrupgio. O sal transmite um pouco do seu sabor a tudo com o que é misturado. S6 6 titil enquanto preserva o sabor, do contrério para nada mais presta. Somos crentes verdadeiros? Atentemos para a nossa posi¢aio e nossos deveres neste mundo! Os verdadeiros crentes devem viver como luzes neste mundo. A propriedade da luz é ser totalmente diferente das trevas. A menor cen- telha em uma sala escura pode ser vista prontamente. Dentre todas as coisas criadas, a luz é a mais ttil. A luz fertiliza o solo. A luz guia. A luz reanima. A luz foi a primeira coisa que Deus trouxe & existéncia. Sem a luz, este mundo seria um vazio obscuro. Somos crentes verda- deiros? Nesse caso, consideremos novamente a nossa posic&o e as nossas responsabilidades! Se estas palavras tém algum significado, entéo, certamente, Je- sus intenciona nos ensinar, com estas duas figuras, sal e luz, que precisa haver algo notério, distintivo e peculiar a respeito do nosso caréter, se somos verdadeiros cristéos. Se desejamos ser reconhecidos como pertencentes a Cristo, como 0 povo de Deus, jamais poderemos passar a vida desocupados, pensando e vivendo como fazem as demais pessoas neste mundo. Temos a graga divina? Entio ela precisa ser vista. Temos © Esp{rito Santo? Entio deve haver o fruto. Temos uma religitio sal- vadora? Ent&o deve haver uma diferenca de habitos e preferéncias e também uma mentalidade diferente entre nds e aqueles que pensam se- gundo o mundo. & perfeitamente claro que o cristianismo verdadeiro envolve algo mais do que ser batizado ¢ ir a igreja. ‘‘Sal’’ ¢ “‘luz’’, evidentemente, implicam numa peculiaridade, tanto no coragao quanto na vida diéria, tanto na fé quanto na prdtica. Se nos consideramos sal- vos, devemos ousar ser singulares e diferentes da humanidade em geral. A relac&o entre 0 ensino de nosso Senhor e 0 ensino do Velho Testamento foi esclarecida por Jesus mediante uma sentenca incisiva: “‘N&o penseis que vim revogar a lei ou os profetas; nao vim para re- vogar, vim para cumprir’’, Estas sao palavras dignas de nota. Elas foram profundamente importantes quando proferidas, porquanto davam res- posta a ansiedade natural dos judeus quanto a este assunto, Sao palavras que continuardo sendo tremendamente importantes, enquanto este mundo continuar, como um testemunho de que a religiaio do Antigo e Novo Testamento forma um todo harménico. O Senhor Jesus veio a este mundo a fim de cumprir as predicgdes dos profetas, os quais desde os tempos antigos haviam profetizado que, um dia, viria ao mundo um Salvador. E Ele veio para cumprir a lei cerimonial, tornando-se o grande sacrificio pelo pecado, para o qual 30 Mateus 5.13-20 todas as oferendas da lei mosaica tinham sempre apontado. Ele veio para cumprir a lei moral, prestando-the obediéncia perfeita, o que nés mesmos jamais poderfamos ter feito. Ele também cumpriu a lei pagando com © seu sangue reconciliador a penalidade pela nossa quebra da lei, uma penalidade que nés jamais poderfamos ter pago. De todas essas maneiras, Ele exaltou a lei de Deus, e fez a sua importancia ainda mais evidente. Em suma, Ele engrandeceu a lei e a fez gloriosa (Is 42.21). H4 profundas ligdes de sabedoria a serem aprendidas por meio destas palavras de nosso Senhor. Portanto, meditemos cuidadosamente sobre elas, entesourando-as em nosso coracio. Tomemos cuidado para nao desprezar o Antigo Testamento, sob nenhum pretexto. Nunca demos ouvidos aqueles que recomendam pér de lado o Antigo Testamento, como se fosse um livro antiquado, ob- soleto e initil. A religiio do Antigo Testamento é embriao do cristianismo. O Antigo Testamento é o evangelho em botio; 0 Novo Testamento é evangelho aberto em flor. O Antigo Testamento é 0 evan- gelho brotando; o Novo Testamento é o evangelho j4 em espiga formada. Os santos do Antigo Testamento enxergaram muitas coisas como que por um espelho, obscuramente. Porém, todos contemplavam pela fé o mesmo Salvador, e foram guiados pelo mesmo Espfrito Santo que hoje nos guia. Estas nfo sio questées de pouca importancia. O igno- rante desprezo pelo Antigo Testamento dé origem a muita infidelidade. Também devemos acautelar-nos em no desprezar a lei dos dez mandamentos. Nem por um momento suponhamos que essa lei tenha sido posta de lado pelo evangelho, ou que os crentes néo tém nada a ver com ela. A vinda de Cristo em nada alterou a posigdo dos dez man- damentos, nem mesmo a largura de um fio de cabelo, O que ela fez foi exaltar e destacar a sua autoridade (Rm 3.31). A lei dos dez man- damentos é a medida eterna de Deus para 0 que é certo e 0 que é errado. Através da lei € que vem o pleno conhecimento do pecado, Pela lei € que o Espfrito mostra aos homens a sua necessidade de Cristo e os leva a Ele. Cristo deixou ao seu povo a lei dos dez mandamentos como norma e guia para uma vida santa. Em seu devido lugar, a lei dos dez mandamentos € téo importante quanto o ‘‘glorioso evangelho’’. A lei nao pode nos salvar. Nao podemos ser justificados por ela. Porém, nunca jamais a desprezemos. O menosprezo pela lei dos dez mandamentos € um sintoma de ignorAncia e insanidade em nossa religido. O verda- deiro crente auténtico tem ‘‘prazer na lei de Deus’’ (Rm 7.22). Em tiltimo lugar, cuidemos em ndo supor que o evangelho tenha rebaixado o padrao de santidade pessoal, ou que 0 cristéo nao deva ser tio estrito e cuidadoso em sua conduta diéria quanto o eram os ju- deus. Este é um terrfvel engano, mas que, infelizmente, 6 muito comum. Mateus 5.13-20 31 Bem ao contrério, os santos do Novo Testamento deveriam exceder em santidade aos santos dos tempos antigos, pois estes sé tinham o Velho Testamento para lhes servir de orientacio. Quanto mais luz temos, maior © nosso amor a Deus. Quanto mais claramente enxergamos nosso pleno perdao em Cristo, tanto mais devemos trabalhar de coracao para a sua gléria. Sabemos 0 quanto custou a nossa redencaio, melhor do que os santos do Antigo Testamento souberam. J& lemos 0 que aconteceu no Getsémani e no Calvério, mas eles s6 viram estas coisas indistinta e obscuramente, como algo que ainda estava por acontecer. Que jamais nos esquecamos das nossas obrigagdes! O crente que se satisfaz com um baixo padrao de santidade pessoal ainda tem muito a aprender. A Espiritualidade da Lei Comprovada por Trés Exemplos Leia Mateus 5.21-37 Estes versfculos merecem a mais cuidadosa atencao por parte de todos os leitores da Biblia. Um correto entendimento das doutrinas que eles contém é fundamental ao cristianismo. O Senhor Jesus aqui explica mais completamente o significado das suas palavras, ‘‘ndo vim para revogar a lei, vim para cumprir’’. Ele nos ensina que o evangelho mag- nifica a lei e exalta a sua autoridade. Ele nos mostra que a lei, conforme Ele a tinha apresentado, era uma regra muito mais espiritual e capaz de perscrutar 0 cora¢ao do que a maioria dos judeus imaginava. E isto Ele comprovava selecionando trés dos dez mandamentos, como exem- plos para o que queria dizer. Jesus exp6s 0 sexto mandamento. Muitos israelitas pensavam es- tar cumprindo esta parte da lei de Deus, simplesmente por nao cometerem homicfdio na prdtica. O Senhor Jesus, entretanto, mostra que as exi- géncias desse mandamento vao muito além. Tal mandamento condena até mesmo a linguagem iracunda e repleta de rancor, especialmente quando utilizada sem motivo justificado. Salientemos bem esse ponto. Podemos ser perfeitamente inocentes no que tange a tirar a vida de ou- trem e, no entanto, podemos tornar-nos culpados de transgredir 0 sexto mandamento, Jesus apresenta o sétimo mandamento. Muitos supunham estar cumprindo esta parte da lei de Deus, apenas por nao praticarem adultério. Mas, o Senhor Jesus nos ensina que podemos quebrar esse mandamento €m nossos pensamentos, em nosso coracaio e em nossa imaginacao, 32 Mateus 5.21-37 mesmo quando a nossa conduta exterior 6 moral e correta. O Deus com quem tratamos vé muito além de nossas ag6es. Para ele, até mesmo um r4pido langar de olhos pode ser pecado. Jesus, apresenta 0 tercelro mandamento. Muitos se iludiam pen- sando estar cumprindo esta parte da lei de Deus, contanto que nao jurassem falsamente e cumprissem os seus votos. Mas o Senhor Jesus profbe toda e qualquer espécie de juramento vao. Todo o juramento em nome de coisas criadas, mesmo quando o nome de Deus niio est4 envolvido — todo juramento que tome a Deus como testemunha, exceto nas ocasides mais solenes, €é um grande pecado. Tudo isso é muito instrutivo. Este ensinamento deveria fazer-nos refletir com grande seriedade. Ele nos diz em alta voz, que sondemos cuidadosamente os nossos coragdes. Mas, 0 que nos ensina? Ele nos ensina a tremenda santidade de Deus, Deus é um Ser purissimo e perfeitissimo, que percebe falhas e imperfeicdes onde os homens nao véem coisa alguma. Deus 1é os motivos dos nossos coracées. Ele observa nao somente os nossos atos, mas também as nossas pala- vras € OS nossos pensamentos. ‘‘Eis que te comprazes na verdade no fntimo’’ (SI 51.6). Oxalé os homens considerassem esse aspecto do ca- réter de Deus muito mais do que costumam fazer! Entdo nao haveria lugar para o orgulho, para a justiga-prépria e para a indiferenca, se ao menos os homens vissem a Deus ‘‘conforme Ele é’’. Ele nos ensina a excessiva ignordncia dos homens quanto ds re- alidades espirituais. Existem milhares e milhares de professos cristaos, como € de temer, que nao sabem mais a respeito dos requisitos da lei de Deus do que os mais ignorantes judeus. Conhecem a letra dos dez mandamentos suficientemente bem. Mas, a semelhanga do jovem rico, julgam-se guardadores da lei: ‘‘tudo isso tenho observado, desde a mi- nha juventude”’ (Mc 10.20). Para eles € inconcebfvel que se possa quebrar © sexto e sétimo mandamentos mesmo sem praticar qualquer ato exte- rior ou pecado explicito. E assim vao vivendo, satisfeitos consigo mesmos © plenamente contentes com a sua mini religiio. Felizes mesmo sio os que realmente compreendem a lei de Deus. O sexto mandamento nos ensina a enorme necessidade do sangue expiatorio de Jesus Cristo para nos salvar. Qual o homem ou mulher neste mundo que poderia apresentar-se diante de Deus e declarar-se ‘‘ino- cente’’? Ha alguém que tenha atingido a idade da razio sem haver quebrado os mandamentos milhares de vezes? ‘‘Nao hd justo, nem se- quer um’’ (Rm 3.10). Sem um Mediador poderoso, todos nés serfamos condenados no dia do jufzo. A ignorancia do real significado da lei € uma razio evidente por que tantas pessoas nfo dio valor ao evangelho, contentando-se em viver um cristianismo mesquinho e formal. Eles nao Mateus 5.21-37 33 percebem 0 rigor e a santidade dos dez mandamentos da lei de Deus. Se percebessem esse fato, nfo descansariam enquanto no estivessem seguras em Jesus Cristo. Em tltimo lugar, esta passagem nos ensina a enorme importancia de se evitar tudo que possa dar ocasiao ao pecado. Se nés realmente desejamos ser santos, diremos como o salmista: ‘‘Guardarei os meus caminhos, para nado pecar com a Ifngua’’ (S1 39.1). Precisamos estar prontos a resolver querelas ¢ desacordos, para que tais coisas néo nos conduzam a pecados ainda mais graves: ‘‘Como o abrir-se da represa assim € 0 comeco da contenda; desiste, pois, antes que haja rixas”” (Pv 17.14). Precisamos nos empenhar em crucificar a nossa carne e mor- tificar os nossos membros. Devemos estar dispostos a fazer qualquer sacrificio, e até mesmo trazer sobre 0 corpo a incomodidade fisica, an- tes do que dar lugar ao pecado. Devemos guardar os nossos labios, como que por um freio, e exercitar uma constante vigilancia sobre nossas pa- lavras. Que os homens nos chamem de ‘‘muito restritos ’’, se assim desejarem. Que eles digam que somos ‘‘por demais meticulosos’’, se isso Ihes agrada. Nao nos deixemos abalar com isso. Estamos apenas fazendo aquilo que nosso Senhor Jesus Cristo nos manda, e, sendo as- sim, nao temos de que nos envergonhar, A Lei Crista do Amor Leia Mateus 5. 38-48 Encontramos neste trecho as normas de nosso Senhor Jesus Cristo quanto a nossa conduta de uns para com outros. Os que desejarem saber como deveriam agir e sentir, no tocante ao préximo, devem estudar com freqiiéncia estes versfculos. Eles merecem ser escritos em letras de ouro. Estes versiculos tém sido elogiados até mesmo pelos adver- sdrios do cristianismo, Observemos atentamente o que eles contém. O Senhor Jesus profbe qualquer coisa parecida com um esptrito vingativo, que nao esteja disposto a perdoar. A inclinagao por ressentir- -Se diante das ofensas, a prontidao em ficar ofendido, uma disposi contenciosa e briguenta, a insisténcia em reinvidicar nossos direitos — tudo isto é contrério 4 mente de Cristo. O mundo pode nao perceber nada de errado nestes hdbitos da mente. Tais coisas, porém, nao fazem parte do cardéter do verdadeiro cristéo. Nosso Mestre disse: ‘‘Nao re- sistais ao perverso”’. O Senhor Jesus nos manda cultivar um esptrito de amor e be- nevoléncia para com todos os homens. Devemos por de lado toda malicia. 34 Mateus 5.38-48 Devemos pagar o mal com o bem € a maldig&o com béngaos. Jesus nos disse: ‘tamai os vossos inimigos’’. Outrossim, nao devemos amar so- mente de palavra, mas em verdade e de fato. Devemos negar a ndés mesmos e€ nos esforgar por sermos gentis e corteses. “‘Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas.’’ Compete-nos tolerar muita coisa, suportar muita coisa, ao invés de ofendermos ou prejudi- carmos a outras pessoas. Em todas as coisas, devemos nos mostrar altrufstas. Nosso pensamento nunca deveria ser: ‘Como é que as ou- tras pessoas se comportam para comigo?”* Pelo conttério, deveria ser: “O que Cristo gostaria que eu fizesse?”’. Um padrao de conduta como esse poderia & primeira vista pa- recer demasiadamente alto, Porém, nunca nos deverfamos contentar com um padrao inferior. Precisamos observar os dois fortes argumentos com que nosso Senhor reforca esta parte de seu ensino. Estes argumentos merecem séria atencaio. Primeiramente porque, se nao tivermos por alvo o espirito e a atitude aqui recomendados, entéo nao somos ainda filhos de Deus. O nosso ‘‘Pai que est4 nos céus’’ é bom para com todos. Ele envia chuvas sobre bons ¢ maus, igualmente. Ele faz o sol brilhar sobre todos os homens, sem distingdo. Ora, um filho deve ser como seu pai. Porém, em que somos semelhantes a nosso Pai celeste, se nao somos capazes de demonstrar misericérdia e bondade para com todos? Onde estaio as evidéncias de que somos novas criaturas, se ndo temos amor? Estao todas em falta. Isto é um sinal de que ainda precisamos ‘‘nascer de novo’’ Go 3.7). Se n&o almejamos ter o espfrito e a atitude aqui recomendados, entao, manifestamente ainda somos do mundo. Até mesmo os que no tém nenhuma religiio podem ‘‘amar aos que os amam’’. Eles podem fazer o bem e mostrar gentileza, quando seus afetos e interesses 0s mo- vem a tanto, Porém, o crente deveria ser dirigido por princfpios mais altos do que o interesse préprio. Estamos procurando evitar esse teste? Achamos impossivel praticar o bem em favor dos nossos inimigos? Se esse € 0 caso, entéo podemos ter a certeza de que ainda nao nos con- vertemos, Enquanto isso prevalecer, ainda nao teremos recebido ‘‘o Espfrito que vem de Deus” (I Co 2.12), Em tudo o que j4 vimos, hd muitas coisas que clamam em alta voz pela nossa solene reflexdo. H4 poucas passagens nas Escrituras que tZo bem se prestam para despertar em nossas mentes tais pensamentos de contrigéo. Temos aqui um amor4vel quadro do cristao, tal como ele deveria ser. Observando-o, nado podemos deixar de sentir alguma dor. Todos devemos admitir que esse quadro difere largamente daquilo que © crente geralmente é. Podemos depreender dai duas ligdes gerais.

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