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\\ Carlos Alberto Faraco Ana Maria Zilles PARA PA CRC Nema Lien Mas, repita-se, nio s6 eles devem estar envolvidos nessa tarefa por- que a normatizagao é também ¢ primordialmente uma questio politica € sociocultural (envolve valores ¢ atitudes sociais), além de linguistica. esse sentido, para definir a “norma normativa” nfo basta atender aos re~ {quisitos téenicos da descrigAo lingu‘stica; é preciso também aleangar um relativo consenso politico ¢ sociocultural. —_—_——_ Podemos dizer que, se a descrigio ¢ a anilise das “nor- ‘mas normais” se esgotam nos limites da ciéncia, trabalho de construgdo da “norma normativa” vai além da cincia, em- bora no possa (e no deva) desconsiderar seus resultados. ‘Afinal, como ja dissemos antes, no se pode normatizar de ‘modo adequado sem dispor de descrigSes detalhadas da reali- dade sociolinguistica. Ou — como ¢ costume asseverar como prinefpio geral e em tese ~a gramatica normativa depende da gramatica deseritiva. —— ‘Apesar disso, é bom que se diga desde ja que uma das fragilidades dos instrumentos normativos tradicionais é justamente no estarem cles devi- damente sustentados em estudos empiricos preliminares ¢ sistematicos. Na historia normativa, tem sido costume dar mais peso & opinido ¢ a0 gosto dos gramaticos do que aos fatos. Para deixar mais claro esse nosso argumento sobre a distingao entre 6 linguista-cientista e 0 linguista que eventualmente se transmuda em gra~ matico normativo, vamos revisitar, na prOxima seg, as diferengas entre trés estudiosos da linguagem verbal: 0 filélogo, 0 gramatico eo linguista, 2, FILOLOGOS, GRAMATICOS E LINGUISTAS ‘A origem historica de cada um desses profissionais & distinta © as caracteristicas de seu trabalho também, muito embora as trés atividades possam ser exercidas pela mesma pessoa. Nesse caso, cla terd de seguir parmetros, objetivos e métodos diferentes dependendo do tipo de trabalho que vai desenvolver, © primeiro desses estudiosos da linguagem verbal a surgir foi 0 fildlogo. Sua emergéncia histérica esté diretamente vinculada & impor- 84 tin tex soe text ‘urs dic con filol para cia a cons aoa: ecg eras tincia ¢ ao prestigio que a escrita e 0s textos escritos ~ em especial os textos candnicos (religiosos ou artisticos) ~ foram adquirindo na vida das sociedades humanas. cuidado em garantir o registro e a transmissdo sem alteragdes do texto religioso (como na cultura hindu) ou do texto literdrio (como na cul- tura grega) redundou no desenvolvimento de ramos do conhecimento de- dicados especificamente ao estudo do texto escrito e da linguagem verbal como um todo. Dentre esses estudos, esti a filologia criada pelos eruditos agregndos a biblioteca de Alexandria, a maior biblioteca do mundo antigo, fundada no século tI aC. Nela se reuniu uma grande cole;do de manuscritos gregos antigos com textos de poetas, dramaturgos, filésofos ¢ historiadores. Seu corpo de estudiosos se dedicou no s6 a catalogar todo esse precioso acervo, mas principalmente a estabelecer, a partir do estudo criterioso dos fragmen- tos disponiveis, o texto que se poderia considerar como definitivo da obra de cada um dos autores gregos classicos. Por serem considerados gran- des monumentos da cultura grega, os poemas épicos de Homero (Miada ¢ Odisseia), escritos provavelmente no século Vil a.C., receberam particular atengio dos estudiosos alexandrinos. Esse criterioso trabalho se fazia necessério porque 0s manuscritos do ‘mesmo texto variavam entre si ou estavam danificados e rasurados; tinham la- ‘cunas,trechos obscuros, acréscimos ou cortes indevidos. Dedicando-se a fixar uma forma aceitivel dos textos clissicos, os sabios alexandrinos preservaram ‘enos legaram todo um conjunto de obras fundamentais da cultura humana. Para realizar esse trabalho inestimdvel, esses sibios tiveram de criar étodos que, mesmo aperfeigoados posteriormente, constituem ainda hoje a base de qualquer atividade de edigdo critica dos textos reconhecidos como classicos da cultura — textos literérios, filoséficos, religiosos. 5 livros da Biblia, por exemplo, tém sido objeto de intenso trabalho filolégico desde 0 século XVI, periodo em que se iniciaram suas tradugdes para as linguas modernas. Foi preciso, entdo, fixar bons textos de referén- cia a partir dos manuscritos antigos, trabalho que se estende até hoje como consequéncia da eventual descoberta de novos manuscritos. FARK CON EOE Nama Uren Em resumo, podemos dizer que 0 objeto de estudo do fil6logo sto ‘manifestages escritas culturalmente importantes e seu objetivo ¢ fixar es- s textos numa forma que possa ser considerada confiavel, isto é, a mais Cprixima possivel do original sParaiss0, ‘0 fildlogo tem de comparar dife- rentes Manuscritos ou (depois da invengdo da imprensa) diferentes edigdes ‘de um mesmo texto, buscando livri-lo de defeitos decorrentes do processo de sua transmissiio, O produto de seu trabalho é uma edigio critica do texto (cf, para um exemplo contemporaineo, o trabalho de Ive Castro com os textos poéticos de Fernando Pessoa — Casto, 2013 Como parte desse trabalho envolve um estudo pormenorizado das pa- lavras e de seus sentidos nos textos, os filélogos se dedicam também ao estudo aesinotosa (sto 6, a investigngao da origem e da histria semin- tica das palavras) e se envolvem diretamente com a feitura de Assim & que 0s organizadores dos dois mais importantes dicionérios bras leiros contemporiineos da lingua portuguesa ~ Aurétio Buarque de Holan- dda Ferreira e Anténio Houaiss — se consideravam filélogos. produto do trabalho do fildlogo € visivel nos dicio- nérios. Se voe8 consultar © Diciondrio Houaiss da Lingua Portuguesa, por exemplo, vai perceber que em boa parte dos verbetes existe uma informagio etimolégica, ou seja, uma in- formagio sobre a origem da palavra. Assim, na entrada com- panhia esta dito que a palavra vem de companhaia. Indo a0 verbete companha, voe® fica sabendo que: (i) sua primeira ocorréneia na eserita foi registrada no século Xi! (j4 no periodo medieval, portanto); (ii) & hoje palavra fora de uso (é um arcaismo); e (ii) ¢ uma palavra originada do la- tim vulgar *compania, formado de cum ‘com’ + panis “pio”, paralelo ao latim gaulés companio (0 asterisco indica que & palavra de que nao se tem um registro, mas cuja existéncia se pode prever em decorréncia dos processos que se deram na longa histéria da passagem do latim ao portugues). Companhia, portanto, ou seja, 0 estar-junto, 0 convivio, se associa, na sua origem, & partilha do pio Se, na sequéncia, vocé quiser ter acesso a textos medie- vais que documentam a ocorréncia de companha ou compa- oO crever € tografia nomes, simples denagao a indiy o 4o conk alexand matica sua ob seja al seguia ¢ modelo, ara: ose reso ‘hia, poder, mais uma ver, se valet do trabalho dos filblogos. ‘No Focabulirio histérico-cronolégico do portugués medieval, organizado por pesquisadores da Fundagdo Casa de Rui Bar- bosa (Rio de Janeiro) e publicado, em edigdo revista, em 2014, ‘voce encontra uma ampla documentagdo textual das ocorrén- cias e fica também sabendo que ambas as palavras ocorriam em. diferentes formas grificas: companha, companna, conpanna, conpaha, conpanha, copaha, cdpanka; @ companhia, com- pahia, companhiia, companhjas, compankya, compannia, ‘conpanhia, conpanhya, conpannia, cdpanhia, cdpankya. Todo esse conjunto de informagdes advém do trabalho filolégico com os textos. —— ae © estudo critetioso dos textos levou os fildlogos alexandrinos a des- crever e comentar a lingua que ali encontravam: aspectos de métrica, or- tografia e promincia; a distribuigao das palavras por classes (nomes, pro- nomes, verbos, advérbios, conjungdes ete.); a estrutura sintatica da oragio simples (sujeito, predicado, complementos, adjuntos) ¢ dos periodos (coor- ‘denagdo ¢ subordinagio); 0 uso das figuras de linguagem, as caracteristicas da individualizacao estilistica, ¢ assim por diante. ‘Com o tempo, esses estudos passaram a constituir um ramo auténomo do conhecimento: a gramadtica. Costuma-se atribuir a um desses fildlogos alexandrinos, Dionisio Tracio, do século 1 a.C., a autoria da primeira gra- mitica conhecida. Ao consolidar descrigdes de aspectos da lingua grega, ‘sua obra foi tomada como modelo dos estudos gramaticais posteriores. Dionisio Tracio conceituava a Gramética como “o conhecimento empi- rico do comumente dito nas obras dos poetas e prosadores” (cf. Chapanski, 2003), ou seja, 0 estudo da lingua conforme usada comumente pelos eserito- res em seus textos. Enquanto a Filologia estudava ¢ comentava os textos dos grandes escritores (fixando-Ihes a methor forma), a Gramtica se concentra ‘va no estudo das caracteristicas da lingua correntes na sua escrita, 0 objeto do gramitico era, portanto, a lingua escrita exemplar, ou seja, a lingua dos escritores culturalmente prestigiados. E 0 gramatico per- seguia dois objetivos: descrever essa lingua ¢, a0 fazé-lo, estabelecer um ‘modelo, um padrio a ser seguido por todos os que se dedicassem a esere- 87 Dea CONE Nara Ung jo teve um carter normativo ¢ se tornou ver. Por isso, a gramética jé de i matéria da escola — instituigdo que, em principio, teria como uma de suas tarefas ensinar as pessoas a escrever bem. ‘AFilologia e a Gramatica so, portanto, ramos do conhecimento eria- dos pela cultura helenistica nos trés iltimos séculos anteriores & nossa era Jaa Linguistica, 0 terceiro ramo do conhecimento dedicado ao estudo sis- tematico da linguagem verbal, se constituiu no contexto da ciéncia moder- na, a partir do século XVI. Dos trés especialistas, o mais conhecido do pibblico em geral é 0 gra- mitico. E isso certamente porque, bem ou mal, todos nds estudamos um pouco de gramatica na escola. Essa antiga ligagdo entre gramética e ensino da lingua contribui para familiarizar 0 piblico com o trabalho do gramatico.. ‘14 dos outros dois especialistas o piblico sabe muito pouco. A razio disso talvez seja 0 fato de que suas respectivas atividades se realizam ba- icamente no contexto da pesquisa universitiria, que é, em geral, menos visivel para 0 piblico pelo seu grau maior de especializagao. Dos trés, 0 gramatico é 0 especialista que tem uma preocupagao niti- damente normativa, isto €, ele se ocupa em estabelecer, a partir daquilo que Ecorrente nos escritores (embora nem sempre isso ocorra — como veremos adiante), as normas do chamado “bom uso” para a escrita, isto é os mo- delos de lingua consagrados pelas tradigdes discursivas para as principais praticas sociais da escrita. (0 gramitico é também o especialista que mais recebe criticas. E @ razaio prineipal para isso é 0 fato de que muitos deles nao pesquisam cri- teriosamente o uso corrente entre os escritores (como defendia Dionisio ‘Tricio). Contentam-se em reproduzir, talvez por inércia, usos que jé nao so comuns (a lingua é um fendmeno que muda continuamente) ¢ conde- ‘nam, sem muito fundamento, novas formas de expresso jé amplamente disseminadas entre os que escrevem. Com isso, a gramatica vai perdendo sua funcionalidade como instrumen- to de referéncia normativa. Em consequéncia, a escola e quem escreve ficam sem um manual confidvel. Alguns dos nossos gramaticos, talvez por terem sélida formagdo filolégica e linguistica, produziram gramiticas um pouco mais arejadas (mas ainda muito timidas na renovago efetiva da norma-padrio 88 oma: se ro brasileira). E 0 caso de Celso Cunha (cuja gramatica foi escrita em coautoria com o filélogo portugues Lindley Cintra), Evanildo Bechara ¢ José Carlos de ‘Azeredo. Hii ainda um longo caminho a ser percorrido até alcangarmos, no Brasil, uma boa gramética normativa de referencia, ito é,atualizada e realist, —_—— Nao nos faltam, para isso, bons materiais resultantes de pesquisas empiricas sistematicas. Vale aqui mencionar a Gramética do portugues culto falado no Brasil (coordenada por Ataliba de Castilho), a Gramética de usos do portugués (organizada por Maria Helena Moura Neves), 0 Diciondrio de usos do portugués do Brasil (oreanizado por Francisco da Silva Borba), as gramaticas de Ataliba de Castilho (2010), Marcos Bagno (2011) e Mario Perini (2016), além dos muitos ‘estudos de Sociolinguistica € Dialetologia da realidade lin- guistica brasileira (para mais informagao, ef. entre outros, Martins e Abragado, 2015). —— S$ Por outro lado, € preciso ter claro que 0 modelo de descrigo grama- tical criado pelos gregos ¢ insuficiente para deserever toda a complexidade de uma lingua ou para dar conta da enorme diversidade gramatical das linguas do mundo. Nao obstante, é um modelo ainda util (a classificagao das palavras, por exemplo, & a que se usa na organizagdo dos dicionarios) € pode ser um bom ponto de partida para a descrig2o linguistica. Contudo, desde 0 século XIX, no contexto da cigncia moderna, tem havido sucessivos esforgos no sentido de encontrar modelos mais adequa- dos para a tarefa de descrever uma lingua ¢ de dar conta da diversidade estrutural das linguas do mundo. A tarefa é herciilea e esta longe de ser alcangada. $6 para se ter uma ideia da complexidade dos fendmenos linguisticos, basta lembrar que ne- nhuma lingua do mundo foi ainda satisfatoriamente deserita. Quer dizer: embora a(s) lingua(s) seja(m) tio banal(is) na nossa vida, niio conseguimos ainda dar a ela(s) uma representagdo cientifica abrangente. E aqui entra em cena a Linguistica, que ¢ a disciplina cientifica moderna que tem como objeto a linguagem verbal ¢ as linguas em si mesmas consideradas. Noma Uniti (0 que distingue, entio, o linguista dos outros especialistas? Sto mui- tas as diferengas, mas podemos resumi-las as seguintes: ‘2, o linguista se interessa por todo e qualquer fendmeno linguistico. Nesse sentido, segue ipsis litteris a diretriz epistemologica de Fer- dinand de Saussure (1857-1913), um dos grandes sistematizadores \, da Linguistica modems, que dria que a ‘matéria da Linguistica constituida por fodas as manifestagdes da linguagem humana. O fil6logo sé se interessa por uma parte das manifestagdes linguis- ticas, ou seja, pelos textos escritos candnicos; ¢ o gramético $6 se interessa, no fundo, pela “norma normativa’’s b. enquanto o fildlogo e o gramatico dirigem seu foco de atengio para a lingua escrita, o linguista dé prioridade aos fendmenos da lingua falada, Iss0 porque a fala é a modalidade de expressio uni- versal: todas as linguas tém uma face oral, mas apenas algumas tém também uma face escrita. Apesar dessa primazia, o linguista, ina medida em que se interessa por todo e qualquer fenémeno lin- guistico, se volta também para a lingua escrita (a chamada Lin- ‘guistica Textual, por exemplo, tem trazido muitas contribuigdes para uma compreensio mais refinada da pratica da eserita). Nesse caso, o linguista ndo se limita 4 escrita de prestigio, mas estuda toda e qualquer manifestagdo eserita; cc. por fim, enquanto o gramitico ¢ essencialmente normativo, o li guista nao o é. Em termos simples, o linguista diz como a lingua é 6 gramatico diz como certos comportamentos linguisticos devem ser em determinados contextos. Esse diltimo ponto tem gerado varios equivocos. Alguns graméticos e, por consequéncia, pessoas da midia € mesmo professores tém dito que os .guistas so contra a “norma normativa” e seu ensino porque, segundo eles, para os linguistas “tudo vale”. Embora algumas vezes a falagiio contra os linguistas chegue a ser sanguinea € raivosa, tudo nfo passa de um tigre de papel. Claro que para os linguistas tudo vale: como bons cientistas, eles querem descre- ver e compreender todo ¢ qualquer fendmeno linguistico, inclusive a “norma normativa™. 90 Ne cere reso Essa atitude (como ja argumentamos anteriormente) nao implica, porém, ‘negar validade a essa norma (seria um contrassenso, jé que ela é um fato de linguagem) ¢ a seu ensino (as fungdes socioculturais da “norma normativa”, ‘80 bem descritas pelos sociolinguistas, justficam plenamente seu ensino) Os linguistas brasileiros tém sido criticos das insufi- cineias das gramatieas normativas produzidas no Brasil e do anacronismo e irrealismo da norma-padrio estipulada nelas. Mostram os efeitos negativos dessa situagio para 0 ensino € uso da lingua e defendem uma redefinigio da nossa norma- padro, fundando-a em boas bases descritivas. Nada disso significa — vamos repetir — que, ao nao aceitarem 0 atual per- fil da norma-padrao brasileira, os linguistas estejam negando validade ao ente “norma-padrio” ¢ a seu ensino. E preciso também que se diga que os linguistas brasileiros, ao escre~ verem seus textos académicos, 0 fazem no registro culto (seguindo mais (ou menos estritamente a norma-padrio atual). Curiosamente, isso tem sido apontado como uma espécie de cinismo dos linguistas: seriam, pretensa- ‘mente, contra a norma-padrao e seu ensino, mas, ao escreverem, a seguem. ‘Ora, essa ertica nao procede. Como temos argumentado & exausto, os linguistas no so contra a norma-padrdo e seu ensino: sio sim, no caso do Brasil, criticos do anacronismo e irrealismo da atual norma-padrio brasileira. Por outro lado, ao usarem em seus textos o registro culto, seguindo mais ou menos estritamente a norma-padro atual, o fazem porque tém ple- na clareza das fungdes desse registro nas tradigdes discursivas da cincia ¢ do dizer académico em geral. E a experiéncia com o fazer cientifico e a pritica com os procedi- mentos do pensar cientifico que garantem aos linguistas a possibilidade de circularem sem problema entre a atengdo que dao a todo e qualquer fato de linguagem, & andlise da normatividade (incluindo a critica, no caso brasileiro, ao anacronismo ¢ irrealismo da atual norma-padrio) e 0 uso nos seus textos do registro culto, seguindo ou nao mais estritamente a norma- padrao atual. Nao hd, portanto, nesse conjunto de comportamentos nem contradigdo nem cinismo. Na proxima seg2o, vamos expandir a afirmacao que fizemos aqui so- bre os linguistas ndo serem antinormativos. 3. OS LINGUISTAS E A “NORMA NORMATIVA” A diferenga entre descritivo © normativo costuma ser muito mal-en- tendida pelo senso comum. E isso porque neste & corrente a crenga (forte) de que no universo linguistico hd formas que so boas, corretas (e devem, por isso, ser usadas) e outras que sdo ruins, erradas (e devem, por isso, ser condenadas € evitadas). Assim, para 0 senso comum, a Unica atitude que faz sentido é a normativa. Ha nele uma expectativa de que assergdes sobre fatos linguisticos se pautem por essa crenga e a reforcem. Desse modo, ao se dar conta de que as assergdes cientificas sobre os fatos linguisticos tém cariter descritivo e nao se restringem aos fendmenos prestigiados, o senso comum deduz que a Linguistica nega 0 normativo. Dai serem frequentes afirmagdes de que os linguistas descartam as gramé- ticas normativas e sto contra o ensino da “boa linguagem”, da “linguagem correta”. Assim, aos olhos do senso comum, os linguistas se, muitas ve- es, tachados de relativistas e, por isso, de “perigosos inimigos” da cultura. Nada disso é verdade, como ja pudemos mostrar anteriormente. E vamos continuar argumentando neste livro para deixar ainda mais clara esta questo, 92

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