You are on page 1of 9
MIGUEL REALE JUNIOR Professor Titular da Faculdade de Direito da Universidade de Sao Paulo. Scanned with CamScanner ero VI LEI PENAL NO TEMPO vida, pois nasce, atua sobre a vida de relago e mor- itudes do tempo. Nasce ao findar 0 prazo de vacatio Scanned with CamScanner i Miguel Reale Jinioy 8.137, em dezembro de 1990, trazendo no seu bojo normas incriminadoray relativas, também, As relagdes de consumo. A lei posterior, ou seja, 0 Cog. gode Defesa do Consumidor, pois sua vigéncia se deu depois, emmargo gg 1991, revogou os dispositivos da Lei n° 8.137, por tratar inteiramente dy mesma matéria, aplicando-se na espécie 0 disposto no art. 2° da Lei de Introdugao ao Codigo Civil. Parcela da Jurisprudéncia entende que houve apenas revogacio par. cial relativamente aos dispositivos da Lei n® 8.137/90 incompativeis como ‘Codigo de Defesa do Consumidor, ‘0 que nao me parece cabivel, pois o tra. tico da matéria no Cédigo de Defesa do Consumidor temo sado de a absorver por inteiro, revogando-se inteiramente o capitulo de consumo da Lei 8.137/90. rca dos crimes contra as relages nfo ultra-atividade sia da lei vier a ser editada uma nova lei sobrea indagar se hd hipétese em que a Tei velha pode agir bem como se ha casos em que a lei nova retroage, ¢ ‘antes de sua vigéncia. er se opera-se a ultra-atividade da lei velha ia Iei nova. A questo s6 pode ser respondida em face o com a lei velha eventualmente exis: -virtude de principios de or |incriminadora, que ¢"# corolario do principi® nte ao Estado,' néo st Scanned with CamScanner Instituigdes de Direito Penal sai E, na verdade, se a norma penal incriminadora reveste-se de cunho imperativo ¢ valorativo, ¢ facil verificar que sob os dois aspectos é impos- sivel logicamente reconhecer-se a retroatividade. Nao é admissivel que se puna alguém por desrespeitar um comando que nao existia.” Sob o aspecto valorativo também ¢ inaceitével que o ato antes praticado, lesivo de um bem ou valor nao tutelado juridicamente, venha a se considerar depois me- recedor de pena para reafirmar este valor que, quando a ago foi praticada, nao merecia protegao penal. A ultra-atividade de norma incriminadora revogada sob ambos os as- pectos também nio se justifica, pois uma vez abolido o comando nao existe qualquer desrespeito. E é injustificavel que se pretenda punir para reafir- mar um valor no mais considerado digno de tutela penal. 6.3. Hipdteses de retroatividade e de ultra-atividade Mas como ja disse ha hipéteses em que a retroatividade ¢ a ul- tra-atividade tém cabenga: quando a norma nova ou a revogada é mais be- nigna. E quais so estas hipéteses? A primeira hipotese ocorre quando a lei nova revoga uma Scanned with CamScanner Miguel Reale Jini surgiram em face da Lei n® 9.09/95, que instituiu a ta aspensdo do processo © a modificaedo do exercicio da _ penal nos crimes de lesio corporal leve ou lesio corporal culposa, que pas. ‘sou a depender de representagio. : oino esclarece HELENO FRAGOSO,’ 0 cardter privado, pibligg . 9 ou piiblico da ago penal é matéria penal e processual pena, ve a possibilidade da decadéncia ou da perempeio que extn, b e. Se a ado penal relativa ao crime € privada ¢ a nova esta no retroage, pois mais prejudicial, impedindg g mplo da perempgiio ou do perdao. Se a acao é publica lei nova retroage, devendo prop6-la a vitima. Se ja ofe. cumpre ao particular ofendido assumir o direito de acu. acontar da publicagao da lei nova. ese da Lei n° 9.09/95, com relagao a crimes de agio leve ou de les&o culposa, cabe saber se a ago ainda or, a vitima deve em seis meses da publicagio da de promover a ago penal. Se a agao ja foi itularidade do Ministério Publico. referente a transagao penal ¢ a suspensio do ¢ iniciado o processo,’ pois consti- possibilidade de nao se instaurar a ifestar-se se entende aplicé- a, a transacao ou a suspen- a da Lei n° 9.099, nao da lei no tempo se efetive, geral. L da lei velha, que é mais fazer prevalecer a lei Scanned with CamScanner Instituigdes de Direito Penal its 6.4, Leis excepcionais e tempordrias A aplicagao da lei no tempo encontra circunstincias proprias frente as Jeis excepcionais, temporarias ¢ as leis penais em branco. Quanto as leis excepcionais ¢ temporarias o art. 3° do Cédigo Penal estatui que “embora decorrido o periodo de sua duragio ou cessadas as circunstancias que a determinaram”, aplicam-se estas leis aos fatos praticados durante a sua vi- géncia. E nfo poderia ser diferente, sob pena de se esvaziar de contetido a norma excepcional ou temporaria, que protegem valores a serem protegi- dos naquele periodo, e que deixariam de sé-lo se o agente viesse a contar com a retroacao da lei penal comum, a ser restabelecida passado 0 periodo de vigéncia excepcional ou tempordria da lei incriminadora. ‘A finalidade de reafirmagao do valor importante de ser protegido na- quele instante, bem como o fim de prevengao geral desapareceriam em face da retroatividade da lei penal comum, diante da qual o fato nao é incriminado. 6.5. Lei penal em branco A lei penal em branco consiste na norma incompleta cuja tipificago vem a ser completada por legislagdo editada posteriormente pelo poder Executivo ou pelo proprio Legislativo. A conduta, em seus dados essenciais, vem definida na lei penal, mas a especificagao sobre quais objetos recai a ago € que é deferida a outra legislagao, em geral de plano inferior, como regulamentos ou portarias do Executivo. LE ee ema e Scanned with CamScanner Miguel Reale Jinioy 1 e continuado . Crime permanente, habitual crimes permanentes ehabituais cabe a aplica 10 da lei posterior se editada enquanto os delitos esto in fieri, ou s¢ja, nao se r ainda ndo ocorreu. Sem analisar mais dota. «formas do delito, neste passo, basta dizer que o crime per. le no qual a ago de constrangimento ao bem juridico no no crime de seqiiestro, com a permanente limita. ‘vindo o crime apenas a s¢ consumar no momen. to cessa. No crime habitual a tipicidade s6 se ia da ago delituosa no seqiiestro ou entre os srcicio ilegal da medicina sobrevém lei penal estes delitos que se iniciaram sob a égide de ‘a sua consumagiio se da no império da lei ante, nao constitui uma unida- modulagao da pena em virtu- 1 discordo da maioria dos nao pode retroagir. as de seguranga ¢s- todavia que cle da em lei, apenas inador. De pou- 0 principio da legali- Scanned with CamScanner Instituigdes de Direito Penal i Dessa forma, se na formulagio original, 0 Codigo Penal de 1940 esta- tuia no art. 75 que “as medidas de seguranca regem-se pela lei vigente ao tempo da sentenca prevalecendo, entretanto, se diversa, a lei vigente ao tempo da execucdo”, tal dispositivo, todavia, foi excluido do cddigo pela reforma de 1984, Lei n° 7.209/84. Entendendo que a medida de seguranca constitui uma sangfio, e que o disposto no antigo art. 75 do Cédigo Penal de 1940 foi eliminado, concluo queamedida de seguranga por forca do principio da legalidade que rege to- das as sangGes penais aplica-se, também, 4 medida de seguranga, como também 0 seu corolirio obrigatério ¢ logicamente inafastvel, o principio da anterioridade. Assim, deve se aplicar a disciplina relativa 4 medida de seguranga vigente ao tempo do fato, e a lei nova retroage se mais benéfica ao agente. 6.8. 0 tempo do crime Oart. 4° do Cédigo Penal dispde que tem-se o crime por praticado no momento da acdio ou omissio, ainda que outro seja o momento do resulta- do, Esta conceituagdo introduzida pela Reforma de 1984 tem sua razio de ass Scanned with CamScanner Miguel Reale Jing mais favoravel. Entendo que nao, pois a revogaciy mais favoravel entrariam em vigor imediatamente, in. ese nao vier a ser aprovada cria-se uma situa. io de uma lei proviséria, que nao foi acolhids Scanned with CamScanner

You might also like