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Arvore genealégiea: refletindo procedéncia e descendéncia do cidadio idoso fssia Poliana Principe Nunes! Luanna Cavaleanti de Oli Ja Camila Dinie de Carvalho Souza! ia Nogueira de Barro Marcelo de Maio Nascimento? RESUMO. A arvor agio esquemétiea dos ancestrais d soa, Suas informagées ilustram as conexdes entre sujeitos da familia paterna e materna, im a histéria particular de cada individuo. O presente estudo teve como fin genealdgic uma pes- trazendo as: refletir a procedéncia e descendéncia a frvore genea- Iogiea com 14 ahmos da Universidade Aberta & Terceira Idade (UNATI) ¢ do Programa Vida Ativa (PVA), uma agio do curso de Educagio Fisica da Universidade Federal do Yale do Sio Francisco (UNIVASF). Os resultados demonstraram q) wvolvida com seis diferentes fases, motivou os idasos a buscar em suas reminiseéncias ¢ com seus familiares. Ohservou-se nos depoimentos que a aio incentivou a busea do contato com familiares, eervindo como estratégia A toca de sabe- res entre faixas etdrias, contribuindo também & manutengio e ampliagio do equilibrio pricossocial do idose, agi des informagdes sobre seus ancestrais Palavras-chn Gorontologia, Intergeracionalidade; Idoso; Universidade Aberta i Terceira Idade; Family tree: a reflection about origin and descent of the elderly citizen ABSTRACT The fai tion illustrate the © subjects of the pat thus bringing the particular history of each individual. This study had the purpose to reflect the origin and descent from the construction and discussion of genealogy with Lf students of the Open University of the Third Age (UNATI) and Active Life Program (PVA), an action the course of Physical Education of the University Federal Sio Fran- cisco Valley (UNIVASF). The results showed that the action developed in six different tree is the schematic representation of a person’s ancestors, Their informa tions betw nal and maternal faanily, phases, motivated the elderly to seek information about their ancestors in their re nts that the action encouraged nis and their families, It was noted in the state the search of contact with fan ly serving as a strategy for th among age groups, also contributing to the maintenance and expansion of the psychoso- cial balance of the elderly. xchange of knowledg Discente Pricologia da Universidade Federal do Vale do Sao Francis- cofUNIVASE Dizcont Pricologia da Universidade Federal do V lo Sao Fra cofUNIVASE E-mail: Inanns ginail-com. Discente de Pricologia da Universidade Federal do V do Sao Fra cof) NIVASE E-mail: julia.no. gmail.com, Discente d Pricol Universida Federal do Vale lo Sao Francis- UNIVASH Prof Colegi Educa a Universidade Federal do Vale 0 Sio Francis ‘cof NIVASE Doutor em Cién- cias do Movie mento Humano, E-mail edu br EXTRAMUROS - Revista de Volume 4, nsimero 1 | Edi fixtensio da UNIVASF ‘o Especial Gerontologia 9 Arvore genealigica: relletindo procedéncia... senerational; Elderly; Open University for the Third Age; Gerontology. INTRODUCGAO. Em meados dos anos 1980, Veras, Ramos ¢ Kalache (1987) discutiram aspe wento da populagio idosa, dentre eles as consequéncias f caso para o desenvolvimento da sociedade, politiea © economia brasileira. Segundo os autores, tal fato determinaria transformagies no processo de wrbanizagao, apresentaria como caracteristica a feminizagao da populagao idosa, traria mudangas na dinamica das relagies de trabalho, além da necessidade de (re)planejar a aposentadoria, Diante d s0, observar-se 19 no custo social da sade. Os autores previram, ainda, as alteragies na estrutura familiar. Nessa perspectiva, surge o interesse em compreender a 1 das relagbes intorgeracionais clos suras do quest © termo intergeracional passou a ser aplicado ao final da déeada de 1960 para explicar a diferenciagao entre o papel de grupos etarios, bem como ilustrar as caracteris+ ticas da As transformagies sociais (JENNING; NTEMT, 1968). Com isso, evidenciou-se a importdncia que cada estrato geracional assume no desenvolvimento da estrutura sociocultural, politica e econdmica de uma nagio, De acordo com Borges € Magalhies (2011), diferencas intergeracionais incidem em algo comum & contemporanei dade, inerentes & estrutura social. J4 para Lins (1987), cada geragio aprezenta particu laridades, sendo detentoras de earacteristicas distintas dos antepassados. Isso signifies dizer que cada periodo 6 responsavel por um padrao comportamental ¢ de valores, algo determinante ao surgimento de conflitos entre individuos elou geragdes. soa idosa fren Conforme Borges e Magalhdes (2011), relacionamentos intergeracionais se afi ghram como estratégia A manutengio e ampliagio do equilibrio psicossocial da pessoa . por meio do contato eovial entre individuos de © incentivo a troca de saberes. No caso da pessoa idosa, isso pode The conduzir ao apr dizado, por exemplo, para lidar com tecnologias atuais, muitas dessas até entdo desco- nhecidas, Essa experiéneia 6 importante, visto que reduz diferengas, contribuinde para sua adaptagio e integragio no contexto em que vive, De acordo com Carvalho (2007), 0 convivio intergeracional permite ao idoso 0 estabeles nidades com objeto: ¢ comportamentos distintos ao seu, algo esseneial para o acordo com as geragies mais jovens. idosa. As iferentes faixas etirias, ha mento de al Segundo Pais (1998), entre as geragées, hii modos dispares para entender e atingir uum mesmo objetivo. 0 antor cita como exemplo o individualismo e a solidariedade como valores temporais, os quais so percebidos por jovens e idosos de maneira antagéniea, No caso dor mais novos, por exemplo, o individualismo conduz ao expressionismo, enquanto que os idosos so impelidos ao materialismo. Ja no Ambito da solidariedade, os jovens so conviviais, enquanto os idosos tendem & moral Diferentes estudos e projetos tém sido desenvolvidos no Ambito intergeracional (CARVALHO, 2007; BRAGA CUBA et al, 2015; VILLAS-BOAS et al., 2015) com a in usio de promover a qualidade do amanhi pe nA xo incide no pressuposto de que a pessoa idosa 6 parte integrante consubstancial & formagio da sociedade contemporanea. De tal modo, agdes moldadas no fortalecimento do vinculo intergeracional propiem que a questo central nao 6 processada na unio dos base na ia do ont EXTRAMUROS - Revista de Volume 4, niimero 1 | Edi fixtensio da UNIVASF ‘o Especial Gerontologia 100 opostos, mas na busea ¢ espelhamento entre partes aparentemente distintas. Assim, encontra-se, por um lado, 0 jovem que arquiteta na figura do idoso a imagem do sen “eu-futuro”. Por outro lado, 0 suchoje” & frente relato de experiéncia que apresenta os proce- iminares de um Projeto Voluntirio de Tuiviagio fica (PIVICYUNIVASF 2015-2016. A agio foi donominada como Arvore G: logica (AG), incidindo na primeira atividade do projeto intitulado como “Programa In- tergeracional: Um estudo sobre os impactos das atividades da Universidade Aberta A ‘Terceira Idade-UNATIUNIVASF junto & comunidade de Petrolina-PE ¢ Juazeiro-BA”. exccusi ‘ob a responsabilidade de quatro alunas do Colegiado de Psicologia o/UNIVASE, rsidade Federal do Vale do Sio Francis METODOLOGIA, Participantes As atividades do projeto AG foram realizadas entre os meses de agosto de 2015 © janeiro de 2016. Participaram desta ago seis (6) individuos (67,645,8 anos), einco do sexo fominino e um do masculino, integrantes do Programa de Extensio Universitaria Vida Ativa, realizado pelo Colegiado de Educagio Fisica/UNIVASF e da Universidade UNATHUNIVASE, em Petrolina-PE, Os resultados também joimentos das responsaveis pela execucio deste projeto, quatro alunas do Cole. giado de Psicologia da UNIVASR, com idade entre 21-26 anos, eursando 0 2°. ¢ 6°. sem tres, Como eritério de incluso dos idosos foi adotado a idade 260 anos, estar oficialmente matriculado nas atividades do PVA e ter assinado 0 Termo de Gonsentimento Livre © Esclarecido, Os individuos excluidos foram aqueles que nao atenderam aos eritérios de inclusio ou que no completaram todas as etapas deste estudo, 0 qual foi aprovado pelo Comité de Etica em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal do Vale do Sao Francisco/UNIVASF (CAE 44108715.1.0000.5196) Aberta & Teroeira Idad dj traze Procedimentos © perourso vo deste trabalho foi dividido em sete fases (Figura 1). As atividades discutidas neste relato de experiéneia compreendem os pri sultados parciais de uma pesquisa que ainda se encontra em andamento. As informagies aqui detalhadas se referem Az Fases I-VI, e foram assim divididas: Fase I - Perfodo de reflexio ¢ embasamento tedrico; Fase II - Planejamenta e Construgio do questiondrio; Fase III - Piloto e aplicagio do questionério: Fase IV + Realizagio das entrevistas; Fase alrevietas; Fase VI - Construgio da érvore genealdgica; Fase VII - Ava- liagio: Apresentagio ¢ reflexio da arvore com os idosos. A soguir serio apresentados os procedimentos de cada etapa do projeta AG: odoligi nentos © re- V- Anilise das Fase I (agosto/2015): foi dedicada ao planejamento das ages. De tal modo, duat vezes por semana, a equipe se reuniu para dda agio: a intorgoracionalidade, Desse modo, surgin a ideia de trabalhar a arvore genealégica como recurso para intro- duzir 0 tema intergoracionalidade com os participantes do tral EXTRAMUROS - Revista de Volume 4, niimero 1 | Edi fixtensio da UNIVASF ‘o Especial Gerontologia Tor Arvore genealigica: relletindo procedéncia... Programa Vida Ativa (PVA): Fase IL (setembro/2015): compreenden a construgao do questionario intitulado “Através das geragdes: conhecendo minhas origens”. Este instrumento foi dividido em duas die inquirindo até duas geracies anteriores a sua, ou seja, pais, tios e avés maternos e paternos; e, i) descendentes: indagan- do, easo houvesse, sobre os filhos, netos ¢ bisnetos, além do eonjuge: Fase TIT (setembro/2015): incidiu_na exeeugio do piloto/ questionério, A intengio da ago foi sanar possiveis falhas no instrumento. Apés a verificagao e (re)ajustes necessérios, © questionério foi executado com 14 idosos. Salienta-se que somente seis pessoas foram inchafdas neste estudo, Durante © piloto, observousse que a melhor forma para desenvolver a atividade seria: i) inicial preencher 0 questionério sob a forma de entrevista; em seguida, ii) questies que nio podiam ser respondidas no momento eram levadas para se ‘rem preenchidas em casa, com o auxilio dos familiares. Desse modo, em até sete dias, 0 questionirio retornava completo. Além disso, nessa etapa era oportunizada a troca de infor- ares, concedendo i aco u Fase LV (outubro/2015): consistiu na realizagao de: i) entre vistas com seis idosos do PVA, a partir de um roteiro semics- truturado, em local reservado, registradas com wm gravador preendendo de 15 a 20 minutos. Os questiona- mentos buscaram estimular os entrevistados a refletirem so- bre seus ancestrais © descendentes; e, ii) entrevistas com az proprias responsaveis pelo projeto AG, conduzidas pelo pro- fessor orientador, Esta medida servin tanto para avaliagio dos procedimentos adotados pela equipe, como a reflexiio do aproveitamonto durante os pri Gienti Fase V (outubro-novembro/2015): abrangew as transerigdes & nilise das 10 as p seguido da elabora- Pontesido (BAR- trevistas, Foram realizadas as le o aprofundan gio das categorias por meio da Andlise de DIN, 2004); Fase VI (dezembro 2015-janeiro 2016): envolveu a i) Confec- gi das arvores genealdgicas: o procedimento se originow a partir de uma pesquisa na internet, seguido por eussfio sobre um modelo de érvore adequado. Por fim, optou: se por um modelo que no s6 comportasse as informagées desta acio, mas que também pudesse ser utilizado futura- EXTRAMUROS - Revista de Volume 4, niimero 1 | Edi fixtensio da UNIVASF ‘o Especial Gerontologia 102 mente com os alunos da UNATHUNTVASF e seus familiares; oi) organizagio ¢ escrita dos relatos de experiéneit a ~| vk ness ‘conreceso pa ARVORE ezaMRo —-—>| ceneauocicne esentaco 05) RELATO DE EXPERENGIA saving 206 RESULTADOS E DISCUSSAO Inicialmente 6 ap sntada, como exemplo, uma versio da frvore genealigica. As informagies exibidas se referem ao questionario de um integrante do grupo de ginas- tica geral do PVA, do sexo masculino, com 69 anos de idade (Figura 2): Figura 1. FI xograma dos procedimentos uctodoligi Figure 2, Modelo da arvore genes. igien EXTRAMUROS - Revista de Extensio da UNIVASF, Volume 4, niimero I | Edigio Especial Gerontologia 108 Arvore genealgica: relletindo procedéncia... A proxima sogao tem por fim apresentar e discutir as entrevistas realizada: 08 seis integrantes do PVA, bem como com as quatro discentes de Psicologia responsiiveis pelo projeto AG. A Figura 3 destaca as eategorias obtidas para ambos os grupos entrevis- tados, os depoimentos foram organizados e interpretados, segundo categorias (BARDIN, 2004): |_careconias | res | { frrgaemmee | (naconoagoes | Entrevistas: [dosos Categoria 1 - Influéncias Intergeracionais Esta categoria aborda 0 modo como os idosos percebem, sobre 0 atual contexto familiar, os indicios de 1-2 goragies anteriores a eles. Por meio de resgates na meméria lor fatos da sua vida difria. Nesse dos entrevistados foi possivel reconstruir e compre contexto, foram consideradas duas espécies de influéncia: i) quando o entrevistado afir- ‘mou existir a manutencio do padrio de pensamentos, comportamentos ¢ agies de seus n a vivéncia obtida j) quando 0 entrevistado mencionou insatislagio e nos relatos a com seus ancestrais, assumindo assim uma postura distinta. De incia de dois temas de influéncia intergeracional: a) escolha profissional; b) mo- predom dlelo de criagio dos filhos. Em sua fala, P4 particulariza a manutengio do padrio profissional ao longo das geragie Minha avé era parteira, eu tenho uma filha que trabalhou de enfermagem muitos anos [...|- Minha v6 era costureira, mie trabalhou muito em costura e eu, a minha vida toda, de fe eondigies de com turado, trabalhado muito uma certa idade para eé, quando eu t praruma maquina, ew tenho em castura. (PA, 68 anos, of nino) Figura 3, Flaxogr EXTRAMUROS - Revista de Volume 4, niimero 1 | Edi fixtensio da UNIVASF ‘o Especial Gerontologia Tot Com a narrativa de P2, se observa a tendéne de opsio pela continuidade profis- sional dos familiares. De acordo com Soares-Luchiari (1996), a eseolha profissional pelos jovens, em muitos casos, € guiada pelo modelo familiar. Tal fato ganha evidéncia nesta fala: sies, Até eu que no cheguei a me profissionalizar, assim... A maioria delas que é costureira, mas ew também, ainda hoje eu tento aprender, eu tento fazer roupa para as minhas filhas, en busco aula de corte para ver.. Mas porque era a profissio da minha mie, as mais velhas aprenderam com ela. Entio, rds slo costure as. Nés quatro fomos professoras, porque & mais velha foi, 0 mais velho foi, ¢ assim os mais novos foram soguindo, (P2, 63 anos, sexo fominino) P2 apresenta outra questiio eategdrica A escolha profissional: a influéneia de membros de uma mesma geragio. Sendo assim, os padi dde uma geracio para outra, visto que a tradigio familiar pro pelo sucesso financeiro de um familiar no perpassam, necessaria © segundo tipo de influéneia intergeracional detectado nos relatos diz respeito 20 modelo adotado na eriagio dos filhos. Sendo assim, poder quanto is atitudes passadas e atuais. De forma geral, o s antepassados: ser identificadas discordancias revistados manifestaram de- Ah é diferente, Pense na forma como meu pai criow nds; se chegasse uma pessoa mais velha que ele ou mais velha que eu, podia ser solteiro, podia ser easado, ele botava para to- mar ‘benga’ (..) mew pai nio batia, mas meu pai nio batia, s6 bastava meu pai olhar para gente, que a gente ja sabia o que era que tava pensan- do, Ai desviava por ali, Mas hoje... 08 netos e fillhas, é dife- rente demais. A diferenca & demais mesmo. (P3, 68 anos, sexo masculino) Ah é diferente. Pe pai eriow nés; se ch -ssoa mais velha que ¢ mais velha que on, podia ser solteiro, podia ser casado, ele botava para tomar *henga’ (..) meu pai nfo era de hater minha mie batia, mas meu pai nio batia, s6 bastava meu pai olhar para ge a gente ja sabia o que era que tava ando. Ai desviava por ali. Mas hoj diforente demais, A diferenga 6 demais mesmo, (P3, 68 anos, sexo maseulino) de bater, minha mie se na forma como meu os netos ¢ filhas, ‘Em suas palavras, P3 enaltece a forma de criagdo adotada por seus pais, salien+ tando, em especial, o respeito entre as partes. Essa atitude, no seu ponto de vista, ja nlio nos dias de hoje, prineipal Jas geragdes mais novas em relago aos idosos. c ate, Além disso, o tema “hater nos filhos” também foi comum entre os entrevistades: P30 P5: EXTRAMUROS - Revista de Volume 4, niimero 1 | Edi fixtensio da UNIVASF ‘o Especial Gerontologia 105 Arvore genealigica: relletindo procedéncia... A forma de eriar os fillhos também... minha mie eriou, minha v6, bisavé... minha mie eriou os filhos ¢ naqu no hatia nos filhos nao sabia criar, Ela eriou batendo, eu no apanhei muito nfo, apanhei pouco porgue dizem que eu era bem comportada, Mas naquela época batia mesmo e ew criei meus quatro filhos, nunca trisquei um dedo em nenlum cles so maravilhosos (risos). (PS, 62 anos, sexo feminino) A busea de P5 por um novo modelo educacional para seus fillos, distinto dos avis, é discutida por Ribeiro (2012), A autora comenta sobre a palmada, uma atitude an- toritaria muito aplicada antigamente pelos pais. Ela afirma que esse recurso educacional 6 aplicado até hoje, ineidindo em atitude herdada «que seja essa pratica, ela se cristalizon em algumas familias sob a forma de um hébito adequado. Categoria 2— Empoderamento biografico A categoria traz informagies sobre as reporeussses do projeto AG na construgio dda propria histéria de vida dos participantes. 0 caso foi intitulade como “empoderamen- to hiografico”, pois de acordo com Labonte (1994), o termo “empoderar”, o qual advém de “empowerment” corresponde a fortalecimento. Sendo assim, ao serem confrontados com 0 quantitative de conhecimentos sobre seus antepassados, of idozos puderam, por suprir esta demanda, ganhando autoconfianga e senso de governabilidade sobre 0 eas. fae para Nas seis entrevistas foram observadas tanto a satisfagio, como a frustragio dos idosos por reconhecerem ou nio a histéria de seus antepassados, No caso de P6, quando bre a repercussio da dindimica, ela diz sentir remorso por jamais ter bus- cado informagies sobre seus ancestrais Foi no aspecto de... de eu nia ter me ligado hi mais t para pegar todas as informagées referentes aos meus a Pois 6, isso passou assim... batido, sabe? Despereebido. quando a gente tentou ver isso ji e1 maior parte do pessoal jé havia falecido, Principaln has tias que eram quem poderiam dar essas informagies, ento eu me senti mal, e nfio 26 eu como o pessoal i de casa, ra tio tarde, porque a sentiu-se assim, com certo remorso por nao ter se ligado nis- so, sabe? Procurado saber... sobre os nossos antecedentes, (P6, 67 anos, sexo feminino) Corroborando isso, P2 assume que necessitou buscar informagées com familiares mais idosos. A partir desta reflexiio, observa-se que a dindmica da AG estimulou os par- ticipantes a contatar familiares, fato que vem frisar um dos papéis sociais atribuides a0 idoso, que 60 de ser a meméria coletiva de seu grupo social (CORREA; JUSTO, 2010): A reflexio que on fago 6 que foi muito vélido ¢ alegre para ‘mim porque eu voltei a saber informagées que até o momen- to eata » 1d no eaquecimento. E eu nem sabia de alguns EXTRAMUROS - Revista de Volume 4, niimero 1 | Edi fixtensio da UNIVASF ‘o Especial Gerontologia 106 dados, tive que rocorrer is minhas irmas mais velhas, m por telefone ou pelos lugares que elas moram. Entao isso me levou a crer que a gente nunca deve perder o contato com a origem da gente, dos nossos antepassados, Porque a hist6ria nko 6 feita do hoje, a histéria ja vem de atrés, do passado, (P2, 68 anos, sexo feminino) PL também admite ter observado, por meio da atividade, a necessidade de apro- fundar seus conhecimentos sobre os antepassados: 1 & procurar saber, lembrat, suntar a alguém da minha familia, Mas assim, ew acho muito dificil, porque os irmaos de mame ja morreram, conheci nenhum parente de papai. Nenhum, nenhum, ne- nhum mesmo, entenden? E af quem sabe um dia se a gente algun fam sei dizer que papai dizia para Je que £6 tinha um irmio. O pai d nae dele jé tinha morrido ¢ ele s6 tinha um irmao. E eles se 4 tinha morrido, a separaram ¢ ele nie soube noticia dele, Pronto, ai nio sabe nacla sobre a familia de papai, Agora de mamie nfo, a gente conhece todo mundo, (P1, 64 anos, sexo feminino) Ao analisar os discursos dessa categoria foi posst que o projeto AG es- ‘immulow os idosos a refletirem sobre 0 valor expresso pelos lagos familiares, Nessa perspec tiva, esta agio possibilitou o despertar de uma ferramenta impreseindivel & perpetuagio dda histéria geracional dos idozos Categoria 3 - Recordagies Esta categoria desereve a importancia que a ago teve para a rememoragio de acontocimentos prazerosos ou nio da vida dos entrevistados. As lembrangas detalharam periodos remotos da infaincia, P2, por e: cionado com a mi cmplo, relata a histéria da boneca Coneeigao; algo intin jé falocida ha 45 anos. & perceptivel que, ainda hoje, el mente tocada quando recorda o dia em que suas filhas quebraram a boneca de porcelana e rasgaram o vestido feito & mao pela pripria mae: Voots acreditam que, minha mie morren jé anos ¢ ainda hoje cada uma de nds tem uma bonequinha dela? Imagina quantos anos, costurada na mio, 0 vestido, A minha bonequinha é a mais nova delas, da calunga de louga.. No tempo dela eram as bonequinhas de louga, Até eu briguei com iminhas meninas, ja quebraram perna, j& perderam a eabega e tinha um nom ho desse tamaninho que minha mie fer ua mio (risos uma tem uma, eram oite filhas ¢ cada uma ficou com uma », a minha 6 Conceigio, O vest cada bonequinha. (P2, 63 anos, sexo feminino) EXTRAMUROS - Revista de Volume 4, niimero 1 | Edi fixtensio da UNIVASF ‘o Especial Gerontologia 107 Arvore genealigica: relletindo procedéncia... Em sua narrativa, PS reflete um momento importante da vida: sua primeira ex- orada, sua atitude nessa época periéneia com o radio, comparando, de forma bem h com as habilidades tecnoligicas exihidas hoje pelas criangas: Eu conheei um ridio eu ji era grandinka... morava li no af tio, num sabia nem o que era. Depois de grandinka que ew inho, ja to enfian- conheci um radio © hoje as eriancas, bebe: do-o dedinho a so tantas mudangas (risos). (P5, 62 anos, sexo feminino) no celular e fazendo alguma coisa. Entio abra a rotina e dificuldades que teve para estudar no e rapidamente se alfabetizou. Ele P3, por conseguinte, rel lugar onde morava. Apesar disso, nao se dei também relata a forma como a palmatéria era apis iis recordagse: cow aba La; algo que nao the trax Cansei de acordar trés, quatro horas da manhi, acendia aque- im aprendi o ABG ‘ligerim’.. waprendi Ia candecirinha e ia ler. Tama em um ano ou passei pelos trée anos, num instante taprendi foi no couro. Oh. da palmatéria. A profescora per- guuntava na salads vezes oito’, Se a gente nfo dissesse ‘vin- tee quatro’, era bolo! Tudo coisa de aluno, afbotava eu para questionar um outro aluno, se ele nfo respondesse certo, en dava bolo nele. Botava outro alamo para perguntar, ee née , ento bolo! Eu sei que a gente aprendia ligeiro. Era hom, eu gostei (risos). (P3, 68 anos, sexo masculino) A narrativa de P5 ilustra 0 choque entre geragées. Ela recorda @ modo como foi criada, assumindo ter dificuldades para se adaptar aos padres atuais de educagio dos filhos. A partir desse relato, 6 possivel demonstrar a importincia do acompanhamento psicoldgico para o idoso, seja d 1m as modifieagdes nos pada lecimento de relagies saudveis ¢ para o hem-estar desse sujeito: modo individual ou grupal, pois « habilidade para lidar sociais consiste em um fator significativo para o estal Uma familia que sempre foi maravilhosa, mas que houve Je mudanga e o. A diferenga dos meus pais, meus avés, prineipalmente meus pais e en que to uma g eu fiqu mais préxima, A diferenga como eu fui criada para como en erio meus filhos foi enorme e nio é facil ficar fazendo essa mudanga, Ser criada de um jeito bem antigo e, de repente, ta nesse modernisino e ter que acompanhar, Nio é féeil, mas ew us filhos © acom- fago 0 possivel para ficar numa boa com panhar, na medida do possivel. (P5, 62 anos, sexo feminino) Nesta eategoria foi possivel observar que 0 tempo empregado pelos idosos para colherem as informagdes sobre seus antepassados foi moldado por momentos de alegria e revelagio da propria identidade. Nessa perspectiva, Pires e Lima (2007) destacam que a tura popular, pois assegura a con- do assim, entio no momento em mnsiste em um importante simbolo da c tinuidade das memérias da prole © goragies, S que a pessoa divide suas histérias de vida, ela concobe ao outro, neste caso os mais jovens, possibilidades & materializagao de pontos de ligagdo com seus antepassados, substrato 3 nti EXTRAMUROS - Revista de Volume 4, niimero 1 | Edi fixtensio da UNIVASF ‘o Especial Gerontologia Tos construgio de identidades. Por outro lado, pode-se dizer que o discurso compartilhado também funciona como recurso ao exercicio eritico. Entrevistas: Executoras do projeto AG Categoria 1 - Contribuigées para a Formagio Académica A categoria apresenta as percepedes das quatro académicas de Psicologia, exeeu- toras do projeto AG, sobre o modo como a ago contribuin para a formagiio académiea, Al destaca a oportunidade prética para aproximar o aluno de Psicologia nio 86 do aprimoramer interdisciplinar de Extensio: 10 de habilidades no ambito da Pesquisa, mas também de um programa Aplicar os questiondrios foi algo muito interessante. Porque durante o curso a gente escreve um projeto de inieiagio cien- tifiea, onde a coisas sio is na prética, 86 que ciplina, algo mais compacto. J4 aqui no PIVIC, trabalhando com as idosas do programa de Extensa: eu percebi que 0 tipo de relagéo pessoal que a gente comega a ter com elas ajuda a manejar methor uma conversa, Além de aprender as tGenicas de como construir, aplicar e, principalmente, como utilizar os dados do questionario, (A1, perfodo) Segundo Moreira, Bedran ¢ Carellos (2009), a atividade extensionista pode ser compreendida coma um processo educativo, cultural e cientifico que articula o ensino © a pesquisa de forma indissocidvel, a qual possibilita uma relagio transformadora entre a universidade e a sociedade, Nessa perspectiva, a interface Pesquisa/Extensio 2e apre= mo ferramenta & eapacitagao do Psicdlogo, aproximando o académico tanto das pessoas como do ambient que vivem, J4 Ad enfatiza a relagio da ago AG com o Ensino, on seja, a ampliagio dos eo- nhecimentos obtidos em sala de aula: Na Peicologis de Investigagio Cie cursamios una diseiplina que é Procedi sa, Durante o se ‘um projeto e, no semestre seguinte, ele deve ser exeentado. Entio, eu ja tina uma ideia dos procedimentos, até a cons- ‘trugio de um artigo, Mas como foi um trabalho de diseiplina, os contetidos passaram sem que eu pudesse assimilar total- J aqui, foi possfvel ampliar as vi aula, Sinto que consegui ter w neias da sala de naior entrosamento com os contotidos, sabe? E:isso acontecen tanto com os idosos, como com as minhas trés colegas. Apesar de terem existido algu- mas dificuldades. (A, 6". periodo) Corroborando as ideias de AG, sobre os bene ios da Iniciagio Cientilica para a formagio profissional, A3 salienta: EXTRAMUROS - Revista de Volume 4, niimero 1 | Edi fixtensio da UNIVASF ‘o Especial Gerontologia 109 Arvore genealigica: relletindo procedéncia...

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