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116 Do abuso de direito Até porque —é a segunda mota que aqui queremos deixar —nas sociedades de capitais, muito especialmente nas sociedades andnimas (hodiemamente dominantes), a chamada maioria reduz-se quase sempre, de facto, a uma inoria. Com efeito, uma minoria organizada de accio- lar de uma fracedo de capital inferior (as vezes bastante inferior) a metade do capital social, pode tor- narse—dada a enorme pulverizacéo das accées por sécios que, por diversos motivos, ndo comparecem as assembleias gerais—numa estavel maioria deliberante e controladora da sociedade. «A concentragao da riqueza levou assim & concentracao do poder econémico: ele ¢ um poder concentrado, sempre mais, nas maos de pou- cos; € €, por efeito do absentismo dos accionistas, um poder nao mais proporcional em relacdo & riqueza pos- suida, A medida do poder proprio nao é dada sé pela propria riqueza: ela é dada também pela riqueza, fre- quentemente superior & prépria, formada pela massa dos inumerdveis accionistas ausentes»-*). Pode pois con- cluirse que a democracia, inerente, para alguns, ao prin- edesemboca no triunfo duma pequena as. Esta democracia acaba em pluto- minoria de racias @). () GALGANO, ob. cit, Bp. Antes (pp. 102-103), 0 A. jo entre maioria e minotia mica—de origem marxiana—sublinha isso mesmo falando de capital de comando» ou «de controlo» ou «dirigente», contraposto 20 «capital de poupanga> ou «moneliitio». Allés, a propria litera- idica também fala hoje em «grupos de controlo» ou «domi- (0) RIPERT, ob. cit,, pp. 9798. Diz também SOLA CART- ZARES, ob. cit,, p. 26: «é uma curlosa adaptagio da democracia politica defender que hide ter mais votos quem tenba mais Ginheiro», (A prapésito das sociedades de capitais, esorevia BOURCART, De Yorganisation et des pouvoirs des assemblées générales d'actionaires dans les sociétés par actions, Paris, 1905, nn? 35—cit, em Noélle LESOURD, L'annulation pour abus de droit Interesse social 47 Por ultimo, € a propria lei que, nalgumas hipéteses, no confia as maiorias simples a avaliacdo do interesse social. Como se sabe, em regra, as deliberagdes sociais qualificadas. Assim, ia que represente a0 —quando seja impos- sivel ‘a unanimidade—para deliberar a prorrogagio do das sociedades); 131°, § 1° (nomeacéo dos liqui- ‘quartas partes do capital social) (*). Assim também, na LSQ, 0 art. 41° («toda a deliberagio sobre alteragio do pacto social deve obter trés quartas partes dos votos correspondentes ao capital da sociedade») (*). 2.2.2. Jé dissemos que o interesse da soci lade (ou social) € um interesse dos sécios enquanto tais. Mas é inegavel que os associados so portadores de interesses contradit6rios, tanto na génese da sociedade (por exemplo, quanto & avaliacéo das entradas que néo sejam de dinheiro, & participagao de cada um nos érgfios sociais, ao critério de reparticao dos lucros e das perdas), como no deourso da sua (¢ ai esto a lei © 0s estatutos ir os conflitos de interesses que se (ociedades em nome col -§ 2° (sociedades anénimas), ambos do C. Comer les em comandita) § 2, celativo as sociedades em nome colec- tivo, exige unanimidade de votos nas situacdes 14 previstas. 5) V. ainda, para a fusio ¢ cisio das sociedades anénimas, . 62, m2 2, € 20° do D. L. n7 598/73, de 8 de Novembro, que exigem maiorias qualificadas e quorum constitutive especial.

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