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Comentarios sobre 0 atendimento de Carl Rogers a cliente Gldria Walter Andrade Parreira ‘Plcoterapeats prof da CH - FUMEC, membeo do GRUMPSIH, Minhas intervengdes nessa mesa redonda que debateré o filme “Gloria” referir-se-do a trés picos 1. atitudes do terapeuta - a empatia e a congruéncia - e 0 processo vivido pela cliente; 2. um breve comentario sobre a relagdo entre a empatia, a Abordagem Centrada na Pessoa € 0 ‘Humanismo, 05 resultados da sessto 1. As atitudes do terapeuta e 0 processo da cliente © que se destaca mais, a meu ver, nessa sesso de Psicoterapia, por parte do Dr. Carl Rogers, é 0 seu alto nivel de empatia e de congruéncia - registrando-se a presenga, também, da aceitagdo, veiculada pela empatia, A empatia Empatia pode ser definida como, num primeiro momento, a capacidade de uma pessoa apreender o que uma outra vé, entende e apreende do que sente, experiéncia e vivencia e, em um nivel mais alto, como a capacidade de compreender, também, aquilo que essa pessoa sente ou experiéncia e que ainda no compreende ou apreende simbolicamente. Num segundo movimento, ‘ou num segundo momento, 2 empatia implica em que 2 primeira pessoa comunique & outra essa apreenséo ou compreensio. Empatia vem de “en” e “pathos”, 0 que significa “por dentro do sentimento”. E essa empatia, ¢ esse estar “por dentro” do sentimento da cliente Gloria, por parte do terapeuta, 0 que mais me chama, de imediato, a atenco nessa sesso terapéutica, Essa capacidade de imersio no mundo do outro, que deve ser instrumentalizada de tal maneira cuidadosa ¢ respeitosa que esse outro possa receber a presenga do terapeuta no mais fntimo de si, sem sentir-se incomodado, invadido, constrangido ou ameagado, Carl Rogers a revela em grande estilo nesse filme. Corrijo-me: grande estilo no é a maneira correta de referir- me 20 modo de trabalhar e ser de Carl Rogers. Isso nao era préprio dele. Na verdade, quero crer que, para um atendimento como o que assistimos, seja necesséria, além de outros tantos € reconhecidos requisitos, como seguranga emocional, maturidade, etc., uma boa dose de simplicidade e humildade. Sabemos que essa capacidade de ver 0 mundo através dos olhos de outra pessoa depende de uma capacidade do terapeuta de deixar de lado, naquele momento em que interage com ela, a sua propria visio de mundo, as suas crengas, 05 seus valores, para tentar abarcar a visio do cliente a respeito de si, do outro, dos seus sentimentos, etc. E esse deixar-se de lado ¢, sem divvida, uma expressio de humildade, de despojamento, de abrir m&o de uma pretensio de saber do outro mais do que ele sabe de si. ‘Como é a empatia - a meu ver a maior contribuicZo de Rogers para a Psicoterapia ¢ a base essencial da forma de se trabalhar em Psicologia que ele construiu - um dos pontos que destaco na sus atuagdo nesse atendimento, vou permitir-me apresentar mais algumas tentativas de defini- la 1. Conceituagao extraida do capitulo “Procedimentos terapéuticos no contato com esquizofiénicos”, autoria de Eugene T. Gendlin, do livro “The therapeutic relationship and its impact - a study with schizophrenics”: “o terapeuta no repete 0 que 0 cliente diz ou sente claramente, mas sim reflete a experiéncia emocional ndo-formulada ¢> cliente. (..) © terapeuta 99 FISTPCTPSOSCHSTO CH HIES3OOHHHD Procura o significado experiencial nao formulado ainda, sentido diretamente pelo cliente (...). O objeto das palavras do terapeuta ¢ experiéncia concreta sentida do cliente - ele dirigira suas Tespostas aos significados concretamente sentidos: o experienciar pré-conceptual e pré-verbal. O objetivo do terapeuta ¢ que o cliente atente diretamente para a experiéncia sentida concretamente no momento imediato.” 2. Definigdo do Prof. José Paulo Giovanetti, numa expressdo muito feliz: “empatia é a minha compreensio da compreensio que o outro tem de si" (apresentada em palestta no Ill Encontro Mineira de Psicologia Humanista, PUC-MG, out. 1994). Permito-me ampliar a definigao do brilhante colega’ “empatia ¢ a apreensio da minha compreensao da compreensio que o outro tem de si num dado momento, e-ou daquilo que ele esti a experienciar e que ele proprio ainde 1ndo compreendeu, formulou ou simbolizou adequada, clara, nitida ou inteiramente”. E importante observar que, numa formulacao empirista da empatia, entende-se que o terapeuta apreende @ experiéncia do outro, enquanto numa perspectiva fenomenoldgica, 0 que o terapeuta apreende ¢ a ‘Sua apreensio da apreensio que o outro faz de si - 0 terapeuta no capta, nko apreende, portanto, 2 experiéncia do outro, uma vez que nao possivel, fenomenologicamente, uma pessoa apropriar~ se da experiéncia de outra. 3. Algumas definigdes extraidas de trabalhos académicos de alunos do Curso de Psicologia da Faculdade de Ciéncias Humanas da FUMEC, que, de forma rica e criativa, enriquecem a nossa elaboragdo sobre a empatia ~ “No trabalho da empatia a pessoa vai se desvelando dos seus véus e das suas camadas sem munca chegar a um fim - trata-se de um jogo continuo de velar-se e revelar-se” (Eveline Juncal Victoria, 1995). Essa definigao ilustra bem 0 processo de diferenciagdo de significados sentidos a que se refere Gendlin. “Observa-se uma descoisificagio do cliente no processo empético, uma vez que o terapeuta desloca-se da sua posicio de saber, narcisica, para acompanhar 0 “eu-real” do outro que vai se construindo © observa-se, também, a auto-construgéo do terapeuta, pois o ser- terapeuta vai se construindo ao desconstruir 0s “cus-inauténticos” do cliente e, porque ndio, os seus proprios-eus” (Jodo Roberto L. Delvivo, 1993). Essa definigao é interessante, também, por abordar o processo que vive o terapeuta numa relago em que ele trabalha com a empatia, Ainda: “E preciso que o terapeuta seja capaz de se colocar no lugar do cliente, viver a experiéncia que vive o cliente como se fosse ele que a vivesse, ¢ sair novamente para colocar para © cliente o que ele, terapeuta, apreendeu, mas uma colocagdo que nao seja “contaminada” por sua Propria vivéncia pessoal, para que o cliente no seja conduzido ou induzido em seu processos pessoais” (Lilian Ribeiro Bonfim,1993), Finalmente ~ Empatia ¢ um olhar além de mim e aquém do outro” (Livia Orsine, 1990). Sem divida, uma beleza de descrigdo e muito interessante por referir-se a0 movimento de deslocamento (de uma posigao narcisica, auto-centrada, como referido acima) do terapeuta em dirego ao outro. E, a mesmo tempo, por destacar a contingéncia da impossibilidade de se aprender 0 outro (ou mesmo a apreensio que ele faz de si) inteiramente, completamente Voltando ao filme, é fragrante, em muitos momentos, no rosto e nos gestos da cliente, a expresséo de alivio, de relaxamento, uma pausa, um suspirar, uma expresso “cheia”, “rica”, “plena’, manifestagdes das consequéncias de uma resposta empitica de alto nivel e que revelam o bem estar que experimenta uma pessoa quando se sente compreendida, Outra consequéncia dessa ‘empatia, para a cliente, é a oportunidade que essa atitude do terapeuta Ihe enseja de dirigir 0 seu olhar para o interior de si mesma, para a intimidade dos seus sentimentos e vivéncias, buscendo encontrar significagdes mais profundas e ainda obscuras, ainda nfo simbolizadas. Uma intervengao empatica de alto nivel “langa” a cliente para dentro de si mesma, levando-e a um contato muito intimo consigo mesma. Esse alto nivel de empatia, associado a um alto nivel de congruéncia, é responsavel pela crescente capacidade de entrega da cliente Gléria a si mesma, a0 100 Processo terapéutico ¢ ao relacionamento com o terapeuta, de tal forma que, com cerca de oito minutos de sessio, erceptivel sua nitida expressio de relaxamento, sem midis qualquer resquicio da tensio que ela sentia ¢ a qual se referiu no inicio. Ela, com apenas ofto minutos de atendimento, ja se “esquecia” das cameras, jé olvidava que estava sendo filmada, E um altissimo nivel de entrega ao processo e a si mesma, alcangados tio rapidamente gragas a qualidade des respostas do terapeuta. A congruéncia Revejamos, inicialmente, a caracterizagio dessa atitude: congruéncia significa a condigéo que deve ter o terapeuta de uma simbolizacdo correta das suas experiéncias, daquilo que ele esti a experienciar ou vivenciar e 4 sua capacidade de expressar ou agir de acordd com esse simbolizagdo. Em outras palavras, aquilo que o terapeuta sente, experiéncia, vivéncia no relacionamento com 0 cliente deve estar disponivel & sua compreensio, a sua simbolizagao (e 3 sua expressio, que deveré ocorrer se e quando ele avaliar que ¢ adequado) A partir de determinado momento no seu percurso como terapeuta e como expoente maximo da ACP, como seu criador e constante revitalizador, Carl Rogers passou a destacar como @atitude mais importante, das trés que suas Pesquisas e trabalhos revelaram como as necessarias suficientes para o processo terapéutico, a congruéncia, Sem divida, o desafio da pesquisa com ou possiblidade de se “aleangar” 0 paciente, de se “tocar” nele. O espago para a auto- expressividade do terapeuta surgia ali - o siléncio inerte daqueles pacientes era a demanda e ccasifo para que @ pessoa do terapeuta ou a sua experiéncia na relagdo com eles emergisse, aparecesse, se fizesse mais presente. Na sesso com Gloria pudemos assist essa expressividade de Carl Rogers, 0 manejo da congruéncia. Digo manejo, sim, porque auto-expressividade ¢ congruéncia, autenticidade ou genuinidade no significam autorizagao para o terapeuta dizer “o que sentir”, muito menos “tudo 0 que sentir” na relaco com o cliente. A autenticidade do terapeuta deve estar, assim como as demais atitudes, a servigo do cliente e em momento algum pode ele confundir auro. expressividade com auio-referéncia, em momento algum pode ele perder o controle sobre os limites da sua expressividade. Como foi dito, congruéncia tem dois momentos: o simbolizar correta, nitids ¢ adequadamente a experiéncia que se esta a viver ¢ a liberdade, a condi¢ao de Poder expressar essa experiéncia se e quando adequado. SE E QUANDO adequado, repito - isso significa que o terapeuta deverd sempre avaliar se € pertinente ou nao a explicitagio daquilo que parte do seu referencia. Rogers tinha uma pista a guié-lo nas situagdes ou ocasides de impasse ou de davida entre 0 expressar ou no: se o sentimento ou a impresséo persistisse, se mantivesse, ele 2 manifestava. Isso significa que ele nao expressava, claro, afoitamente, apressadamente, o que the ocorresse. Ele tinka um cuidado, um euidado que todos 6s terapeutas devemnos ter com aquilo que vem do nosso interior, com aquilo que parte do nosso referencial quando estamos no > relacionamento com o cliente, Aqui nessa sesso temos a oportunidade de ver um sem mimero de vezes essa auto-expressividade de Rogers, essa expresso clara da sua congruéncia. Mas Observemos como ela esta contida por esse cuidado, por esse respeito pela cliente. Nzo hé, em momento algum, auto-referéncia. Sempre a auto-expressividade € referenciada 4 experiéncia do cliente. E isso é uma li¢do. Rogers valoriza a congruéncia, diz que, das trés atitudes, é a mais importante, mas ele pode dizer isso porque ele sabe usé-la, porque ele sabe manejé-la. E também 101 0088 OHSHSEEHEHSESESDE Tr r Tr rT woe PTT PTT TOTTOLSOOCSE Porque ele entende que @ congruéncia € a expresso da empatia consigo mesmo: apenas se eu compreendo a mim mesmo serei, de verdade, capaz da congruéncia. Esta nio € so a expressdo da minha experiéneia mas, antes, primeiro, primordialmente, @ escula ¢ apreensdo correta ¢, na medida do possivel, nitida, transparente, cristalina, dessa minha experiéncia - a0 valorizar tanto @ congruéncia Rogers esta, na verdade, valorizando, também e implicitamente, a empatia Pego licenga para destacar, na sessio que ora discutimos, algumas intervengdes do terapeuta que revelam ou exemplificam essa auto-expressividade e essa congruéncia; 1. A quinta intervengao do terapeuta ja nos revela sua alta capacidade de congruéncia’ como resposta a um pedido da cliente para que ele dissesse se seria um mal ou no, para a filha, dizer- Ihe a verdade, responde Rogers: “Ew gostaria realmente de the dar a resposta que vocé poderia dar a ela..." Observa-se uma mudanga na expresso da cliente, um relaxamento, um sorriso e um movimento com as mos ¢ com as pemnas que revelam a consequéncia bem-vinda da expressio genuina do terapeuta. 2. Cliente: “Sinto que o senhor vai ficar ai sentado e deixar-me cozinhar nesse caldo e eu preciso mais. Quero que o senhor me livre dos meus sentimentos de culpa. Se eu puder me livrar dos ‘meus sentimentos de culpa por mentit ou por ir para a cama com um homem solteiro, um ou ‘outro, tanto faz, vou me sentir mais aliviada” Terapeuta: “E eu penso que gostaria de dizer: ‘Nao, nio quero que vocé fique cozinhando em seus sentimentos’, mas, por outro lado, também sinto que isso é uma coisa pessoal que eu no Poderia responder por vocé. Mas lhe asseguro que farei tudo para ajudi-la a encontrar uma esposta, NEo sei se faz sentido para vocé, mas € isso que quero dizer” Cliente: “Bem, gostei de ouvi-lo dizer isso. O senhor parece dizer 0 que esta pensando ...” Aqui, inclusive, realiza-se ou cumpre-se nitidamente uma das condigées para o sucesso do Processo terapéutico: que as atitudes do terapeuta sejam perceptiveis ou apreensiveis pelo cliente Ela acaba de manifestar essa percepgéo da condigdo de congruéncia ou de autenticidade do terapeuta. 3. Um outro momento de auto-expressividade do terapeuta (125): “Surpreendeu-me bastante quando vocé disse ...” 4 E, a seguir, uma expressio de altissimo nivel de empatia do terapeuta, acompanhada de uma expressio de alto nivel de congruéncia: Cliente; “Quero fazer 0 que puder para aceitar-me a mim mesma, Quero me sentir bem ‘Mas quando as coisas parecem erradas para mim, sinto 0 impulso de fazé-las ... como posso actitar isso? (7.27): “O que voce gostaria de fazer € sentir-se mais receptiva com relagdo a vocé mesma quando faz coisas que acha que so erradas. Estou certo ? Cliente: “Sim” (7.28): (sortindo) “Parece meio dificil conseguir isso...” 5. Qutro momento da congruéncia do terapeuta, outra expressio do que lhe ocorria interiormente, e que foi absolutamente pertinente Cliente: “... na verdade eu sei que 0 senhor no pode responder por mim, mas quero que 0 senhor me guie ou me mostre por onde comegar ...” Terapeuta:“ Pergunto-lhe uma coisa, 0 que vocé queria que eu dissesse Nio se trata de uma “técnica” psicoterdpica essa pergunta do terapeuta, mas, na verdade, tio somente a expresso de uma intuigdo e que se revela uma expressio perfeitamente adequada, pois que langa a cliente ao encontro das suas proprias respostas 102 6. Mais um momento da auto-expressividade do terapeuta: (7.33). Vocé nio parece tao insegura Aqui a revelagao de uma perceppdo do terapeuta a respeito da cliente e que faz com que ela venha a se perceber melhor, a entrar mais em contato com a realidade dos sentimentos que vivia naquele momento. 7. Um outro belo momento de congruéncia e de empatia: Gloria: “Mencionei essa palavra muitas vezes na terapia e muitos terapeutas riram-se de mim, sorriram complacentemente ou tiveram outra reago quando eu dizia “utopia”, mas quando realmente sigo um sentimento e sinto essa sensagiio boa dentro de mim, isso é uma espécie de utopia. E isso que quero dizer. E assim que gosto de sentir-me, quer seja uma coisa ruim ou boa Mas sinto que estou certa (7.53): “Simto que, nesses momentos utdpicos, vocé se sente uma pessoa realmente completa. Vocé se sente inteira” ‘Como consequéncia dessa intervengo a cliente se emociona, chora. A resposta do terapeuta foi ‘muito feliz, ele a compreendeu muito além do que ela se compreendia e propiciou-lhe aleangar um nivel ainda mais alto de auto-revelagao - isso em menos de meia de hora de sesséo. 8. Outro momento de auto-expressividade: (7.55): “Vocé me parece filha minha, muito amavel. Mas vocé sente falta realmente é do fato de nio ter conseguido ser franca com seu proprio pai” 9.E finalmente: (7.65): “Tudo 0 que sei é 0 que estou sentindo, e sinto-me muito proximo de vocé nesse momento...” 2. Breve comentério a respeito da relagdo entre empatia, Abordagem Centrada na Pessoa ¢ a visdo ou concepedo de homem que sustenta essa abordagem. A empatia é, 2 meu ver, a ferramenta mais importante do Psicoterapeuta que trabalha com a Abordagem Centrada e é a alavanca do processo terapéutico, Aquele que escolhe essa ferramenta de trabalho nao 0 faz por acaso - ele esté denotando, na realidade, a identificag2o com uma visio ‘ou concepeao de homem muito definida e muitissimo distinta de outras concepgées que, por sua vez, fundamentam outras abordagens psicoterapicas. Quem adota a compreenséo empatica como seu instrumento de trabalho esta dizendo que comunga com a visio humanista do ser humano, Por que? Esta inscrita no uso da empatia um pressuposto basico do Humanismo: a confianga no auto-deservolvimento e na auto-realizaco do homem. Se fala aufo-realizagio que se pretende dizer que 0 homem ¢ quem realiza a si proprio - “auto” significa “o que lhe € proprio”: auto- realizago significa, portanto, a pessoa alcancar ou tomar-se aquilo que ¢ préprio dela. Um conhecido ditado da sabedoria chinesa, formulagao do criador do Tao-Te-King, Lao-Tsé, ha cerca de 2.600 anos, exprime muito bem essa concepgo de homem do Humanism “Se eu deixar de interferir nas pessoas, elas encarrregar-se-Go de si mesmas, Se eu deixar de comandar as pessoas, elas se comportardo por si mesmas, Se eu deixar de pregar as pessoas, elas aperfeigoar-se-o por si mesmas, Se eu deixar de me impor s pessoas, elas tomar-se-do elas mesmas.” 103 ~ ee err ew wows © trabalho com a empatia & a propria expressdo ou aplicagio dessa sabedoria, pois ele implica em uma necessaria confianga de que ¢ 0 outro, o cliente, quem sabe de si, que nao ¢ 6 terapeute 0 que detém o saber a respeito do mesmo. Se o terapeuta nio detém esse saber, nlo ¢ cle, portanto, que tem a tarefa de revelar ou desvelar a experiéncia do cliente - este é quem realiza tal trabalho, ele € quem se desvela ou quem se revela para si mesmo. F essa perspectiva nao comporta qualquer conotago abandénica do terapeuta, uma vez que ele esta ali, junto com o cliente, a sustentar o seu proceso de auto-exploragdo, de busca de si mesmo. O terapeuta é um Jacilitador desse proceso, ele apenas oferece as condigdes que ensejam ao cliente ser 0 sujeito ativo do seu au‘o-conhecimento ou auto-revelago. Nao é correto dizer sequer que o terapeuta é © parteiro desse novo nascimento que vive aquele que o procura: o cliente é o seu proprio Parteiro, ele quem da a luz a sua propria luz, 2 luz que reside dentro de si e que toma-se-ihe acessivel em funcdo do seu processo ativo nesse parto. O cliente € 0 artifice ¢ 0 responsivel pelo Seu processo. O tetapeuta, portanto, nfo faz pelo cliente - o cliente é 0 condutor e 0 agente desse fazer. E isso diferencia radicalmente a Abordagem Centrada de outras perspectivas em Psicoterapia. O trabalho da empatia ¢, pois, podemos dizé-lo, uma verdadeira ligio de Humanismo, uma ‘vez que significe, por parte do terapeuta, um atestado de confianga integral nas potencialidades do outro - confianga que faz parte, inclusive, da atitude de aceitago incondicional ou espeito. Por isso empatia ¢ um retomar o cliente para si mesmo - quando o terapeuta “espelha”, “reflete” para o cliente o que o mesmo diz, ele std, na realidade, como que lhe dizendo: “olhe um Pouco mais no fundo de si mesmo, vocé esta me dizendo que VOCE sabe de si”. Tanto que o terapeuta Centrado no usa de interpretagdes, orientagdes, sugestées, etc. A ACP ja foi conhecida como Psicoterapia Nao-Diretiva e, se 0 seu nome mudou, a filosofia de trabalho do terapeuta que, hoje, com ela se identifica, nfo mudou: ele continua centrado no referencial do cliemte ¢ € esse referencial que ele busca ressaltar, destacar O tabalhar com a empatia é, Portanto, um abrarar o Humanismo, desde que ela, a empatia, € a propria expressio desse maxima humanista que é a confianga na capacidade de AUTO-realizago do homem. A tendéncia inerente a atualizagdo, de que fala Rogers, ¢ 0 correspondente teérico, na Abordagem Centrada, desse preceito do Humanismo da capacidade de auto-realizacao - e a aceitagao incondicional é a expresso desse preceito. Vemos em Carl Rogers, nessa sesso de Psicoterapia, a materializacao dessa confianea, confianga que é uma das marcas fundamentais do Humanismo, 3. Os resultados da sessdo Em relagdo as possibilidades de mudangas que Rogers coloca em suas comentirios antes do inicio da sesso, entendo ‘que se concretizaram, pelo menos mais nitidamente, trés: * € notavel a expresso mais espontinea e direta dos sentimentos da cliente, vividos no momento em que ela os experimenta; * €visivel uma auto-exploragao dos seus sentimentos a um nivel mais profundo; * € nitida € marcante uma entrega enorme da cliente ao relacionamento com 0 terapeuta Aliés, a qualidade do relacionamento que o terapeuta consegue estabelecer com ela € fantastica, igualmente notavel. Tanto assim que ela mantém o relacionamento com Rogers (¢ nio com os outros dois terapeutas que também a atenderam, como participantes do Projeto do filme) por muitos anos através de carts. Em muitos momentos a sesso apresentou-nos belos exemplos da relagdo eu-tu, conforme a descreve Martin Buber De outro lado, observa-se que a cliente ndo resolve a questio que leva para a terapia. Ha que considerarmos, no entanto, que so apenas 30 minutos de um primeiro e tnico contato e. tambem, que a ACP nio é uma abordagem centrada na solucio de problemas, Percebe-se, ainda, que a cliente no avanga no que se refere a uma questo central trabalhada na sessio. “eu nao Posso mentir”, o que pode ser considerado um construto pessoal - tendo em vista o contexto da situago e da sua relagao com a filha - extremamente rigido 104 Ne a ar Se a a Fa are srt wc fn ad ce wl So esses 05 meus comentérios neste curto espago de tempo destinado aos debatedores Muito obrigado. 105

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