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ESTILOS COGNITIVO-AFETIVOS Eloisa Quadros Fagali (texto: Anita Lilian Zuppo Abed, 2005; revisado em 2008) © termo “estilos cognitivo-afetivos” é proposto pela prof. Dra, Eloisa Quadros Fagali, psicopedagoga brasileira, A autora ancora-se nos pressupostos da pés-modemidade, que pense B ser humano como multifacetado, bio-psico-social, constituido nas suas relagdes com o meio, meio também constituido pelas suas acdes, e 0 conhecimento como complexo, historico, cultural, em constante processo de construgio/desconstrucao/reconstrugao Esta concepedo ressalta 0 fato do ser humano no aprender de uma Unica forma, ha rmiltiplas faces do aprender. A abordagem psicopedagégica inspirada na tipologia proposta por Carl Tung vem buscando identificar diferentes estilos de aprendizagem. Esta autora vai além: propée que, mais do que modalidades de aprendizagem, desenvolvemos estilos cognitive” efetivos de set/estar no mundo, de aprender ¢ aprender a realidade, de nos constituirmos em nossas relagdes. ~ Os canais de contato com 0 mundo propostos por Jung s&o: os racionais, pelos quais avaliamos os dados — pensamento (otica da razio) & sentimento (otica do “corago”) — ¢ os inacionais, pelos quais captamos os dados - percepedo (a concretude) ¢ intuigdo (0 ir além), fem dels movimentos, introvertido (mais ligado 20 que se passa dentro de si) ¢ extrovertido (mais ligado ao que se passa fora de si). Todos nés temos todas estas fungdes, mas segundo o sutor uma delas é “superior” (facilitador), o seu par é “inferior” (dificuldades) © as duas funcdes do outro eixo so as “auxiliares”. Para Jung, iniciamos a vida pela forga dos canais superior ¢ auxiliar forte, mas durante @ vida buscamos equilibré-los. (proceso de individuagao). Para Fagali, o problema de aprendizagem pode ser visto como um blogucio ou enrijecimento em um ou mais canais de contato, muitas vezes ligado a uma inadequagio do sstilo de ensino, que no contempla algumas potencialidades. Na nossa cultura, as pessoas com a fungo sentimento ou com a funedo intuigo como superiores acabam muitas vezes Por hao encontrar caminhos para a aprendizagem em um tipo de escola que valoriza apenas pensamento e a percepsio. Seguem, em linhas gerais, as caracteristicas de funcionamento das quatro fungées de contato em relagdo a aprendizagem, Vale lembrar que ndo estamos falando em tipos estanques ou imutaveis, mas de diferentes faces do ser humano, Esta pequena apresentagdo tem como Sbjetivo um primeiro comtato com esta abordagem © com 0 apoio que esta teoria nos dé em avaliago de demandas. Bibliografia: FAGALL Eloisa (org.). Miiltiplas faces do aprender: novos paradigmas da pos-modemidade, Sao Paulo: Ed. Unidas, 2001 FAGALL Eloisa & VALE, Zélia, Psicopedagogia Institucional Aplicada. Petropolis, RJ: Vozes, ~—1593, COMO OS SUJEITOS ENVOLVIDOS COM A FUNCAO SENTIMENTO MANIFESTAM-SE NA APRENDIZAGEM para aprender, o Angulo da subjetividade tem que estar presente: so importantes os exemplos vivenciais, cotidianos, que tragam uma dimensdo dramatica ou divertida, recheada de emogGes e personagens: © objeto do saber tende a ser avaliado pela dtica do bom-mau, feio-bonito, prazeroso- desprazeroso, itil-inutil, ¢ a aprendizagem € significativa em fungio desses valores; identificam-se mais com temas associados as relagGes afetives tém afinidade e identidade com 0 universo da ago, da existéncia, do vivido na sua particularidade; © espago € vivido como contexto de relagdes vineulares e de conflitos, onde se projetam sentimentos; o tempo ¢ marcado pelas emogSes vivides (tendéncia & nostalgia) ¢ pela perspectiva de realizagdo de desejos e de possibilidades de relagSes vinculares, 0 desenho € carregado de expressividade, de projeges emocionais que expressam valoragdes subjetivas positivas ou negativas a respeito dos conteiidos (expressionismo), os processos de seriagdo sdo mais aplicados para desenvolver tramas e conflitos das historias contadas ou criadas, trazendo sempre a tona os motives psicolégicos; a0 interpretar ou criar textos, @ subjetividade é um fator predominanie, no sentido de expressar e captar sob 0 angulo das emogées, na escrita, emergem significados relacionados aos sentimentos humanos. A narrativa predomina e os temas mais envolventes sdo os conflitos de personagens; ra leitura, predominam o juizo de valor e o posicionamento subjetivo frente ao texto, associados a ética e ao prazer e desprazer. a a a 8 a COMO OS SUJEITOS ENVOLVIDOS COM A FUNCAO PENSAMENTO MANIFESTAM-SE NA APRENDIZAGEM para aprender, 0 Angulo da objetividade tem que estar presente; so importantes as explicagées lagicas, as cadeias explicativas, as reflexdes tedricas em busca de leis, regras e principios ou as aplicagées destes principios; © objeto do saber tende a ser avaliado pela otica da representagao de significados, em resposta as perguntas: © qué? Por qué? Para qué?; identificam-se mais com temas associados as explicagdes abstratas com intengdes definidoras; tém necessidade do planejamento, da explicitagtio dos objetivos ¢ dos porqués antecipados em relagdo as atividades e 20 vivencial; © espaco € vivido como contexto que concorre para as explicagdes dos eventos; © tempo ¢ valorizado nas dimensbes do antes e depois, na busca de relardes causais; 6 desenho € utilizado como expresso de significados (conceituais, esquematicos. explicativos) com objetivo de definir coisas; nos processos classificatérios, predominam os critérios mais abstratos, por categorias logicas; 08 processos de seriagio so mais aplicados para a busca de regularidades ¢ de leis implicitas; ao interpretar ou criar textos, é importante 0 aspecto semintico, a extrapolagao no jogo do raciocinio dedutivo e indutivo; na esctita, emergem significados relacionados a extrapolacdes dedutivas indutivas Predomina a dissertacéo, em busca de teses, argumentagGes contra-argumentagdes, na leitura, predomina a compreensdo por meio de encadeamentos ¢ desafios légicos. na busca da abstragdo e extrapolagio teérica. COMO OS SUJEITOS ENVOLVIDOS COM A FUNCAO PERCEPTIVA MANIFESTAM-SE NA APRENDIZAGEM para aprender, 0 angulo da coneretude tem que estar presente: é importante a observacdo, 0 contato com as propriedades sensoriais do objeto, buscando uma descrigao objetiva: © objeto do saber tende a ser descrito pela dtica das propriedades sensoriais do objeto e/ou das sensagdes internas, corporais, provocadas pelos objetos, identificam-se mais com temas associados as descrigdes, aos detalhes, aos pormenores; tém afinidade e preocupagao pelo estético e pela boa forma. Tém interesse por estudos de experimentago e manipulagdo concreta, buscando 0 empirico, as formulas coneretas, praticas e econdmicas, sem necessidade de muitas elaboragdes € explicagdes tedricas, o espace é vivide como coneretude, HA facilidade para lidar com questdes relacionadas & orientagdo espacial; a énfase temporal esta no presente, no imediato, no pragmatico; no desenho predominam elementos de formas, cores, luminosidade, espacialidade. com caracteristicas impressionistas; nos processos classificatérios, predominam os critérios funcionais ¢ perceptivos; 08 processos de seriagao sto mais descritivos, sem explicagdes ¢ articulagdes logicas; a0 interpretar ou criar textos, as reflexdes silo mais pragmaticas e imediatistas, com poucas associagses; na escrita, as frases apresentam-se geralmente de forma direta, com periodos curtos ¢ com poucas articulagdes de subordinacao. Predomina a descri¢do, trazendo atributos sensoriais ou prendendo-se as acdes das personagens e descrigdes do ambiente, esparo ¢ cenério; na leitura, predomina uma compreensio mais literal e direta, sem muitas extrapolagses € interferéncias, COMO OS SUJEITOS ENVOLVIDOS COM A FUNCAO INTUITIVA MANIFESTAM-SE NA APRENDIZAGEM para aprender, o Angulo do imaginario tem que estar presente, é importante 0 jogo do possivel e da fantasia, que transcende o aqui e agora; tendem a entrar em contato com o objeto do saber pela dtica das totalidades © generalidades (insights), buscando a criaedo e a modificagao no ambiente (aplicagao transformadora) ou a transformagao interna (auto-descobertas);, identificam-se com a busca de miltiplas possibilidades, do que ainda nao existe, com 0 oculto, 0 mistico, ou ainda com o absurdo e enigmatico; tém afinidade com o uso de diferentes linguagens, principalmente 0 nao verbal, a metifora e as artes. Gostam de ficgio, do estudo das origens ou de aplicabilidades futuras, especialmente quando envolvem novas possibilidades ainda nao presentes. ha dificuldade para lidar com questdes relacionadas a orientagéio espacial; na questéo temporal, tém dificuldades com questées relacionadas & organizacao temporal atual, esto voltados para o futuro e para as origens misteriosas ¢ hipotéticas; no desenho, envolvem-se e expressam-se com simbolos oniricos, surrealistas e faturistas, carregados de fantasias e ficcdes, expressando novas formas, nfo reconhecidas no presente; nos processos classificatorios, predominam os critérios associados a origem © transformaciio, tendendo mais a olhar 0 movimento relacional dinémico do que a considerar classificagdes fechadas; 0s processos de seriagdo so mais ligados a associacdes de imagens e nao a articulagbes de comeco, meio e fim. Tém mais facilidade em pensar em rede, ao interpretar ou criar textos, tendem ao jogo de associagSes, de viagens imaginarias, mas as construgdes parecem muitas vezes vagas, soltas, pouco precisas. A linguagem poética é bastante presente; na escrita, as estruturas lingilisticas apresentam-se de forma indireta, com muitas metaforas e com uma ordem toda propria que foge @ linearidade. Os periodos s vezes tendem a ser longos, com justaposigSes de mensagens e poucas articulagées explicitas, na leitura, as reflexes sio transcendentes e extrapolativas, com miltiplas associagdes, muitas vezes tendo dificuldade em manter-se no texto Que a forga do medo que tenho ndo me impeca de ver 0 que anseio. Porque metade de mim é 0 que eu grito, mas a outra metade é siléncio. Amor é estado de graga e com amor néo se paga. .. €jé nao sou sem ti sendo apenas teu sonho. Eu nao tenho filosofia, tenho sentidos. Mas por que tanto sofrimento se o meu pensamento é livre na noite? Porque sito tantas coisas azuis e hd téo grandes promessas de luz Tanto amor pra amar de que a gente nem sabe... Eles passardo, ett passarinho... SENTIMENTO | PERCEPCAO PENSAMI Memoria evocativa; Memoriza detalhes com |Memoriza por Jembra através da facilidade; especialmente |associagdes ¢ (buscando um todo), experiéneia afetiva com recursos visuais, | organizagdes ligicas, de | esséncia), memoriza de auditivose mecinicos; significado, memoriza | vaga, global, sem det subjetividade (em memoriza fazendo. classificando ¢ seriando. | por metaforas, por imagens, por especial quando ha simbolos INTUICAO zack MEMORIA | eontites) oe oe fee ee _ Analitica, particularizada; | Por mapeamento, ponto a a, pega o | Descentrada, nfo foc: da, descentrada articulada; | ponto; centrada, sentido genérico, exploratoria relacional (dejei v1), analise enriquecedora; —|detalhista, descritiva, [buscando compreender, _|sintética, pegando o "todo" e as desdobramento projetivo. | focal, parte por parte, _Jexplicar, abstrair, e ento | mensagens subliminares; rapido detalhando. complementa com a movimento inclusivo, levando a ndlise explicativa ampliagdes; captagio de sentido, _ ed — fundamentada, __|sem elaboragao. MOTIVACAO | Gosta de historias Gosta da rolina, do fazer, |Gosta da Gosta do novo, do impensado, do carregadas de sentido _| da tarefa,; interessa-se por | problematizagio, do mistério, do inexplicavel, do tivo, de certo e errado; —[atividades que envolvem |desafio do raciocinio, de |absurdo; gosta de associagdes gosta de particularizagbes | manipulagao sensorial, — jenigmas; gosta de poder | livres ¢ da criagiio de novas (escutar e contar casos); | ages cuidadosas & explicar, tem prazer em | possibilidades; nao gosta de alividades onde ha espago [refinadas, que exigem | saber 0 porqué das coisas; | rotina, tem sempre que estar para a troca de historias; | paciéneia, e brineadeiras | prazer no saber pelo variando as propostas jogo dramatico, corporais: proprio saber dinamicas de papel, trabalhando com os neulos. | SENTIMENTO [PERCEPCAO___|PENSAMENTO_____ INTUICAO RACIOCINIO| Indutivo, sempre saindo | Indutivo, do particular para Em bloco ou em rede, por da particularidade, o geral, partindo da ios ¢ leis gerais;, miltiplas conexées (néio através de muitos coneretude, da raciocinio lagico e teérico, | linear); as vezes dificil de exemplos; inteligéncia | manipulagao, da por abstrages, que pode | organizar na linguagem verbal, emocional, discriminagao |experimentagao; uma coisa | ser aplicado no caso por metaforas (sabedoria dos das emogdes; precisa —_| por vez, metddico, de particular, na pratica (mas _ | sonhos); pensamento pos- particularizar ateoria, {modo mais linear. sem precisar dela); formal, lidando com 0 sentio nfio faz. sen capacidade de articular (nao pode fiear s6 no fatos, buscar eonexses & genérico); a relagiies, descentrando, aprendizagem é marcada comparando etc pela relagiio com o outro, inconscientemente ixpressionista, questiona | Figurativa (retrato), Reaiista, preocupagao com | Por simbolos ¢ me a ptoporgio légica da__| detalhando o deser ‘0s temas trabalhados, relacionando coisas, abrindo XPRESSAO forma; ressalta, através [desenho focando formas, | discutindo, explicando, —_interpretagdes ¢ nao das cores e deformagées, | cores, luzes, texturas, com |refletindo, criticando, coneluindo, Poesias a emogao projelada, a |preocupagio estética em | denunciando, Estudo de /metaloricas, nao assertivar subjetividade. Na relagiio aos recursos musculos, movimentos | onde permanece o suposto, feratura, textos que _|sensoriais e nfo ao assunto corporais, proporgdes. Na _|bricolagem, sem detalhes mas trabathamamoral,a__[ou conceitos relacionados. literatura, dissertagbes, | esséncias, nem sempre com ética, as questes Na miisica, tentativa de | exercitando recursos antes e depois, parecendo humanas, de valores, 0 |retratar 0 percebido através | argumentativos, discutindo |desartieulado, abrinde mundo psicologico dos {de sons; sons da natureza, | pos e contras, exemplos & personagens, o“contar exploragdo de timbres, _| contra-exemplos: casos”, 0 texto narrative, |batidas, sons sintetizados, | romances policiais, com que mexe no coragiio; as. |ete. Na literatura, tramas légicas, com pistas fabulas que projetam | exploragiio da descrigdo de | para a dedugao de enigmas valores humanos, mesmo lugares, personagens, Na miisica, previsibilidade; através de metaforas ages, caleados na 0 dedutivel, estudo da coneretude. sonoridade seqiiencial. | (apoio na intuigao). RELAGAO AFETIVA DEFESAS (TIMENTO Relagao centrada na elaboragiio do eu, com necessidade de ser escutado, de azer seus desejos, de ser valorizado em sua singularidade, pedindo 20 outro que mergulhe em sua mpre no esforgo de inar ¢ processar a subjetividade ea particularidade. O trabalho com a qualidade da maternagem e da patemagem, senso de responsabilidade pela particularidade. No conflito, afastamento com projegao do negativo no outro (desvalorizando-o). Uso do poder de empatia e sedugdio Coloca-se como “vitima”, fixagdo em algumas justificativas (vivendo o pasado, regredindo). Bode expiatorio familiar, sensivel, as vezes carrega cargas emocionais de outros componentes da familia, precisando discriminar ____PERCEPCAQ Relagao afetiva com apego A presenga, a referéncia, de do corpo presente, do aqui e agora, _|da demonstragaio concreta Sentimento de posse, sofrimento intenso com a auséncia, com a perda Busca de modelos de identificagao Diante do conflito, tenta assumir © controle da organizagao das referéncias do ambiente. Posse, controle do outro, Necessita da garantia da presenga vidade mediada pela compreensiio, busca do ificado do que esté ido para poder dar com a emogao. Contribui para a relagdo na companheiro, Nao sente necessidade de falar de seu sentimentos ou de ouvir 0 outro _ Diante da tensiio e do conilito, mecanismo de defleegiio (tomada de distdineia para a melhor). ionalizag6es. Cisio entre afeto e idéia, Diante de situagdes de panico ou de grande emogao, tomna-se um atticulador, organizador Relacionamento com 0 ‘outro apoiado recursos ima; diretamente), 0 outro vivido através de mi fantasias, das minhas expectativas, do meu naginario, captando algo que “esta escondido”, através dos so mil possibilidades ¢ mil chances. Tem tolerdnci: tem espera. ,eriando , mundos paralelos, descone se do que est dando medo, Fanta construgaio de novas lades, podendo chegar a esquizofrenia Utilizagdo do recurso nario para lidar com amigo imaginario

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