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ma no € ser natural, o que poderia significar, com efeito, dissolver ‘quaisquer vestigios de civilizacdo, abandonar a palavra e retornar & vida animal, Nao é também de ser mais ou menos artificial e aceitar quaisquer simples figuras de linguagem, algum gesto falsamente risti- €0 ow uma cagada em que se usam sacos de dormir, ou um pio de trigo mal amassado como sendo capazes de nos redimir de uma desagrada- Vel sitagio artificial. Nosso problema é desenvolver € elaborar éste Ovo método de evolucdo, éste sistema precioso de invengao e pratica Social aprendida que 0 homem iniciou sem ajuda dos demais séres vivos. Nao necessitamos de pao «mais naturals, feito de um trigo mais semethante ao alimento dos animais selvagens, embora um pouco pior fem funco do cultivo e fertilizagdo por centenas de anos seguidos. Necessitamos de po em que possamos combinar mais «ndo-naturali- dade» ¢ também mais — e no menos — resultados de pesquisa, habi- lidade © aprendizado. Nossa humanidade depende de nossa relativa esterilidade, de longo periodo de gestacdo e dependéncia, possivel ssmente onde hé poucas ‘eriangas que podem ser criadas por longo tempo e afetivamente. De- pende da presenga de respostas humanas calorosas em ambos os sexos, que no estejam ligadas excessivamente ao ciclo fértil da mulher. Mas no sentido de padronizar e disciplinar essa potencialidade para a rela- ho, para equilibrar as criangas a quem aprendemos a querer com aquelas que podemos sustentar, de modo que nenhuma medida abrupta ott incongruente seja necesséria e de modo que nenhum setor da po- puilagio necessite ser educado numa recusa psicoldgica de ter filhos, de modo que nenhuma vida seja comecada sdmente para ser jogada aos pes dos deuses cegos, necessitamos de mais conhecimento e de um padrio mais refinadamente elaborado de relagdes humanas do que os eoncebidos até agora pela humanidade. Parte IV OS DOIS SEXOS NA AMERICA CONTEMPORANEA CAPITULO XII Nossa Complexa Cultura Americana FAZENDO APRECIAGAO DA IMENSA AREA Dos ESTADOS UNIDOS, SUA paisagem complexa e diversificada, as centenas de conjuntos de costu- ‘mes populares que aparecem nos bolsdes das montanhas sulinas ou nos montes despidos da Nova Inglaterra, nas clareiras solitarias das plani- cies, pareceria quase impossivel escrever sobre 0 povo americano como um todo, Nao haveria barreiras instransponiveis entre a mae imigrante que acomoda seu filho gentilmente no berco que ela trouxe do Velho ‘Mundo e a jovem mae americana imbuida de idéias de hordrios e higie- ne € que simplesmente deixa seu bebé chorar a plenos pulmdes porque ainda nao esta na hora da proxima mamadeira ou ainda a mae ultra~ moderna que abandonou hordrios e alimenta seu beb@ segundo suas exigencias? Se é verdade que cada parcela do mundo ambiente é quase sempre absolutamente importante ma preparacdo da vida sexual adulta da crianca, seja uma pena ou uma flor no cabelo de um menino, uum ornamento no nariz feito de contas ou uma faixa colorida na testa de uma menina, ou a pele macia de biifalo novo ou a superficie aspera de uma césta rudemente trangada, ent&o como dizer realmente alguma coisa sobre os bebés americanos ¢ sdbre como éles se tornam homens € mulheres aptos ou ndo a gerar e amar criangas? Mas se entrames na mais simples e mais exotica casa americana, seja 0 abrigo aberto de um trabalhador de parceria com a lenha dos pinheiros ardendo na lareira, seja um abrigo sobre a Agua, tendo como tinicos méveis tapetes do Oriente Préximo, mesmo éstes locais que diferem tanto da casa branca de dois andares com janelas verdes que os jornais chamam de 0 lar americano>, ha possibilidades de encontrar senao um berco mo= derno, pelo menos quadro ou gravura em que éle aparece estampado. Onde os objetos materiais © 0s novos costumes que os acompanham ainda nao penetraram porque os habitos da familia estio fortemente arraigados a uma velha tradieo, ou porque a maneira pela qual a familia ganha seu plo nao deixa o suficiente para que se aproxime do padrio de vida americano, percee-se que a imagem de novos cos~ fumes, dos costumes modernos padronizados j4 penetrou. Vieram no eatélogo de propaganda, pelo radio, pelo cinema, mesmo que sejam vistos 86 duas vézes por ano. A mulher poderd usar ainda to longas falas quanto suas avos, mas suas filhas sam versOes baratas mas auténticas da moda da Quinta Avenida e do Boulevard Hollywood. ‘Ao lado do alimento tradicional que a crianga rural porta em sa lan- cheira, haver4 um pedaco de pao feito em casa, caso contrario a crianca ficard envergonhada e nao levard alimento para escola. Sutil, insistente © continuamente 0 padrao de cultura americana & apresentado a0 rico, 40 pobre, ao recém-chegado e até aos aborigenes, cujos ancestrais vagavam pelas planicies antes que os espanhdis trouxessem o cavalo para 0 novo mundo, Pode-se perfeitamente perguntar: a mera apresentagdo dos cos- tumes suficiente? Certamente a mae que se encosta num portal folhieia indolentemente as paginas de um catalogo que mostra o melhor tipo de espremedor de laranja a fim de fazer sucos para o bebé, mas que ela mesma acredita simplesmente na colherzinha de acicar na béca da ttianga que chora, é certamente um tipo de mae diferente da dona de casa com seu avental encantador que mede exatamente a quantidace de suco de laranja que dard ao bebé. Os efeitos nutritivos sto bem diversos. Uma crianca talvez venha a ter uma séria deficiencia de vita- mina C especialmente se sua mie fica um pouco mais confusa e a proibe de comer vegetais crus tirados da horta. A outra provavelmente ndo terd @ste problema. Mesmo se a crianga mora numa cabana, ela crescera ¢¢ ind para a escola secundaria, o que superficialmente nao’a torna dis- tinguivel da crianca citadina que vive num apartamento limpissimo, mas eontinuaré havendo uma diferenga. Essas duas criangas quando forem miles poderdo seguir a prescrigdo de um mesmo pediatra para seus filhos, mas uma o fara com a certeza de que faz o mesmo que sua propria mae. Outra lamentard a negligéncia que tiveram com seus dentes tentard afastar de seus préprios olhis as recordagées do que sua mae nfo f€z. Nas sombras do consultério médico, as duas terio hist6rias bem diversas de sua infancia para relatar, historias que sio imagens do que foram as relacdes entre pai e mae. Uma se lembrara de vozes ‘ouvidas atrés de uma porta cuidadosamente fechada, talvez interrom- pida por uma chamada telefonica que f€z com que a porta se abrisse, ppermitindo-Ihe perceber rostos tensos e parte de uma frase mal com- preendida. A outra tera recordagdes de discussao dos pais que compar- filhavam @ mesmo quarto ¢ talvez 0 mesmo cobertor desbotado, onde as brigas © reconciliagées estavam presentes aos olhos infantis. A an- igiistia de no ser chamado para a pequena ceia ou de entrar para a associagtio da escola secundaria serdo coisas muito diversas nos seus detalhes, mesmo no mais importante, se a historia afinal & realmente contada, E nem os cbackgrounds de dois meninos que hoje se torna~ ram maridos serao radicalmente diferentes, embora, © isto & significa~ tivo, es possam ser modificados. Porque a menina da eabaila poderd crescer e desposar um rapaz da cidade e 0 contrdrio seré também verdadeiro, Assim num dos lares haveré um pai que se lembrara vaga € difusamente, mas sdmente por um gosto doce-amargo em sua béca, da chupeta de aciicar de sua infancia, do incOmodo das fraldas molhadas que ninguém se preocupou em mudar; mas no outro lar estaré a mae nessas condigGes. E faz diferenca quais pais se recordam de que tipo de vida. pai poder sentir-se mais apartado de seu filho pequeno, tao limpo, elegante e engomado na sua roupa de brincar, talvez um pouco feminil, do que de sua filha. Porque os contornos de sa memé~ ria 0 conduzem mais a um menino do que certamente a uma menina muito diferente. A mae que vive numa cabana sentira os dedos sibita- mente ansiosos a medida que passa o ferro elétrico nos babados do vestido de sua filha e se recorda do palido que sua mie nao encurtava por estar muito cansada ou desanimada. Mas a mae num apartamento urbano, enfrentando um marido que nao pode compreen- der por que o dinheiro deve ser gasto da maneira como ela gasta, apertara seus labios com ressentimento ao recordar-se dos punhos cuidadosamente rendados de sua infancia, tornando seu coracdo indife- rente a0 nao desejo do marido de dar ao filho o que éle tem direito. Cada lar apresentaré um quadro diverso. Na América de hoje, s0- mente nas estradas secundérias, nas montanhas, nas aldeias de onde partem os homens jovens, nas comunidades escondidas de escravos Tibertados e abandonados ou nas pequenas concentragdes de lingua es- panhola que se apegam aos costumes do século XVI, seréo encontrados tipos de relacionamento entre pais ¢ filhos, entre avos e netos como 8 das sociedades primitivas. Em todos os demais lugares dos Estados Unidos, a caracteristica marcante & que cada casal é diferente do outro, que nenhum tem exatamente as mesmas recordacdes do outro, de modo que duas familias no podem ser colocadas lado a lado para afirmar: ; ‘<0 menor pedago de papel escrito achado & devolvido sem se ler»; «nds nunca tivemos permissao de falar de nossas pernas»; «papai diz que csuor» & palavra mais precisa do que «transpiragdo>, mas & preciso cuidado para nfo dizé-la quando se vai A casa de tia Alice>; passou a ser um con- junto de imperativos irrealizaveis para o futuro: das lojas da cidade. O chale que vové ainda amarra na cabeca torna-se um meio- chapéu e & transformado completamente no ano em que os lencos en- tram em moda, A imaginagao oscila para dentro e para fora entre 0 experimentado, com todos os sentidos, ¢ tornado desejavel e 0 que po- deria ser visto com os olhos da mente como completo e perfeito. + Retito. no centro don HUA gnue as ventnias ge transformam em mavens de trsa, empo- brecendo's"dusadnsaprlisat das ‘selon (Ne 'do. 5), De acdrdo com suas constituigdes fisicas especificas e experiéncias de vida, 0 americanos enfrentam estas discrepancias de modos. muito iversos. H4 aquéles que se recusam a negi-las e que expressam sua percepedo fervorosa das discrepancias ou por uma rejeicdo cinica de todos os valores, um companheirismo caloroso dos grupos minoritarios, (ol! nos enérgicos esforgos de melhorar a comunidade e tornar o presente mais préximo do ideal. Estes tltimos so os liberais, 0 nticleo no qual 0 Corpo politico da sociedade americana confia para manter seu sonho ‘em construgao. Sem éles, poderiamos estar perdidos. Contudo, nao nos Sentimos confortaveis com sua presenca. Porque éles obtém sua fOrca partir das discrepancias no proprio coragdo da vida americana. Isto iniio se dé sdmente porque aqui ha de fato nitidas desigualdades sociais, €ontrastes fantasticos entre ricos e pobres, contradicdes inacreditave tentre o ideal e a pratica na nossa sociedade. Outras sociedades t&m tais Contrastes © enfrentaram a mudanca social de modo bem diverso. Mas, sim, porque a estrutura do carater americano est assentada sobre a hnecessidade de reconciliar 0 presente com um futuro irrealizavel. Na vida pessoal, as discrepancias sociais trazem uma irritacio peculiar. Quando so apontadas, incomodam coragdes e consciéncias. Alguns se debatem nervosos no seu sono, contribuem para alguma boa causa, uns Poucos, com menor capacidade de tolerar discrepancias, irritam-se, tor- ham-se defensivos e organizam um contra-ataque. Estudos recentes na Universidade da California exploraram o contraste na estrutura de ca- iter entre aquéles que se mostram partidarios ativos de grupos nao- Privilegiados (trabalhadores, judeus, negros e assim por diante) aquéles que se mostram ativamente antiminorias. * No grupo pré-mi- Roria so encontrados aquéles que mereceriam a classificago de neu- rbticos, isto é aquéles que enfrentaram e incorporaram em seu proprio earitter as diserepancias existentes na cultura. No grupo antiminoria fencontraram-se aquéles cuja necessidade de coeréncia € muito grande, que no toleram ambigitidades, que aplainam sua percepcio da reali- dade, tornando-a uma estrutura coesa e perfeita, que mostram um Aspecto stiave e ultra-ajustado, mas que tém possibilidade de sofrer um choque psivético. * Estes grupos representam trés énfases na vida americana: os Ii berais nao stavizaram sua visto do presente, de modo a viverem mais prOximos do sono, mas em vez disso agucaram sua percepcao e lutam para fazer do sonho realidade ou abandonar a luta em desespéro. Os membros do grande niicleo majoritério desvanecem suas_percepcdes, sacrificam a agudeza de sua experiencia, para viver como se tivessem cido para 0 sonho. E finalmente ha os reaciondrios, que no poden viiacinadas Go natura a rasta da cif americana a Sit "Hikewe ‘Names Benard in emits’) journet of baychoiogy, Not 20 0045), pi 2 do aceitar a discrepancia’ nem lidar com meias medidas, negam-nas € mesmo favorecem agdes que irdo negé-las. Na vida pessoal, éste ultimo grupo se refugia em projecdes, fantasias e reclamagdes do alheio; na vida politica advogam varias formas de reacao que trocariam nossos sonhos politicos tradicionais por uma accitagdo da desigualdade social, do sistema de casta racial, da violencia e feidra da vida social. A pu- blicago do Relat6rio Kinsey expOs 0 contraste entre éstes grupos. Os reformadores reduplicam seus esforgos para tornar a educagdo sexual mais ligada ao que o individuo tera de enfrentar na pratica sexual real; Ales nao diminuem seus objetivos, simplesmente redobram seus esfor- cos. A vasta maioria sente-se desconfortavel por ter que enfrentar dados que sugerem discrepancia, que éles préprios praticam ou negam. Mas ela esta t4o difundida que ¢ dificil ignord-la de fato. Se um homem sabe que sua propria infidelidade conjugal, da qual se sente envergonhiado € culpado, tem de ser codificada num quadro de percentagens dos homens de sua idade e classe, sente ameagado todo o seu sistema de defesa, aquele sistema em térmos do qual pecou e arrependeu-se e que por sua peniténcia tornou possivel que 0 irrealizavel ideal sobrevivesse. O rea- Cionario e 0 cinico fazem causa comum, sugerindo que 0 que existe & certo, e que as leis ¢ ideais deveriam ser recolocados para se reconhe- cerem os devios e discrepancias entre o ideal e a pratica, abandonan- do-se os esforgos de atingir o ideal. Qualquer tentativa de descrever 0 modo pelo qual meninos ¢ me- ninas americanos tornam-se homens ¢ mulheres aprendendo um modo de vida que tanto expressaré quanto definira seus papéis sexuais e éles proprios deve tomar tudo isto em consideragao. Para discutir as regula~ Fidades do modo pelo qual os americanos crescem, quando cada um cresce diferentemente, significa divisar um caminho para avaliar con- tando com tais diferencas. Se eu descrevo a nao sensualidade de uma crianga mundugumor, posso relaciona-la diretamente a falta de contacto cutaneo com a mie ou outros séres humanos, & aspereza de sua cesti- tha, ao modo pelo qual a crianga foi amamentada e carregada. Mas quando se discute a sensualidade sem par das mulheres americanas, nao se est referindo ao fato de elas terem ou nio sido carregadas quando pequenas enroladas em pano de juta ou numa suave coberta de 1a € algodao, acariciadas ou nio — porque alguns americanos tiveram tais experiéncias — mas sim 4 lacuna que enfrentam todos os americanos na medida em que a experiéncia sensual. deve ser ajustada ao ideal abstrato que Ihes é apresentado. Nenhuma sensualidade real se encaixa no sonho. Cada uma delas deve ser negada até certo ponto, apagada ‘ou criticamente abandonada de modo que se possa continuar a viver. A quebra na sensualidade est4 em outro nivel. Nao consiste na mera adaptagio a superficies Asperas, seguida da privagéio de qualquer con- tacto facial, nem na mera nega¢io puritana do corpo ou a mera sufo- cago contra um seio materno por demais insistente. Tudo isto ocorre, e se tornara parte de uma historia de caso detalhado de um psiquiatra ‘ou psicanalista. Mas quando falamos da falta de sensualidade cutanea dos americanos como grupo ou da n&o-sensualidade que os europeus Comentam ou da ndo-sensualidade que faz com que olhares e aparén- ias valham tanto para o amor e sua pritica, a descri¢ao passa da expe- rigncia particular de cada americano para as regularidades que surgem Na experiéncia de praticamente todo 0 povo quando se aproxima de um deal sexual para o qual cada um carece da necesséria conduta ‘antecedente, Hé entéo um segundo modo pelo qual & possivel discutir os papéis Sexuais na América, relacionando-os 4 experiéncia infantil. Desta vez, com experiéncias que a maioria dos americanos viveu. Os séres huma- nos estao aptos a sentir até um certo grau o que deve ter sido os pri- mordios da experiéncia de qualquer situacdo presente. Olhamos para um rosto envelhecido e reconstruimos o sofrimento, 0 choque que fize- fam aquelas rugas; sentimos numa crianca truculenta ¢ amedrontada o fratamento rude que a tornou tio desconfiada; vemos por detrés da lade e relaxamento do corpo da mulher a pratica amorosa que a modificou. Em tdrno das imagens do americano e da americana ideal, formam-se nas mentes de tOdas as mulheres e homens existentes ima- gens de algum tipo de experiéncia da infancia e juventude, que podem fer levado a éste resultado final. Atrés do fisico da menina em idade escolar, por exemplo, pode-se fantasiar muitos tipos de condigées: um rosto de bebé suavemente lavado por uma toallia macia, o ar fresco atra- vessando a janela, um aparelho de vaporizacao que mantinha na atmos- fera do quarto a’ umidade necesséria, cremes . A expectativa de que um filho con- tinue a carreira do pai € insignificante, estando ausente a énfase de outras sociedades sObre a necessidade de um herdeiro da terra ou da tradigéo artesa familiar. A diferenga na vida americana é simplesmente entre ter ou nao ter filhos. E uma rude critica rotulou o filho tinico de familias da classe média de de muitos lares americanos no coméco de suas vidas. O amargor do sentimento «eu ful sé um acidentes, «sou uma crianca indesejada», . Sem diivida € o pai rejeitante que diz a crianga de seu de= sejo nao-satisfeito; mas porque ha alguma rejeicao em algum moriento fem quase todos os pais, mesmo sem que se diga explicitamente, a eriant= ‘¢a pode concluir a partir de uma visao geral da sociedade que a cerca ‘que ela foi um fracasso na expectativa familiar. * Nem toda crianga tem a seguranca de falar como aquela menininha que ouviu a mae afirmar ‘que sempre quis gémeos: «Eu queria ser gemeos, mas como no pudey vim sdzinha>. © sexo da crianga, marcado por um nome, € 0 modo pelo qual fato do nascimento € fixado na mente dos amigos e parentes que nlo a conheceram. Antes do nascimento, as maes esperancosas poderio pl nejar o nome da crianca, mas somente apés 0 parto a crianga passa de impessoal e pessoal recebe um nome, como individuo plenamenie Se= xuado. Em Bali um recém-nascido ndo recebe um nome € serA chamado ide rato out lagarta, sendo que ha pouco interésse no seu sexo, a mo ser naqueles casos em que o nascimento de um menino torna 0 pai socio Togicamente seguro (isto , se éle j4 tem uma filha, um menino ¢ absolut tamente necessario). Mas a ajuda ow perturbacao socioldgica que 0 sexo de um bebé proporciona ao pai esta totalmente dissociada da rianga que oficialmente esta sem sexo, até que haja uma cerimOnia de nominagao depois de 110 dias. Mas a prética americana nao deixa campo para o sexo ser alcangado; a crianga & total e absolutamente nomeada e identificada a partir do nascimento, O aspecto sentimental & Fartane! ns tn a Tod em an ago surreendetes do Inavita da ‘ea, uuerlum naseetmthvress eho Kamen Siserom ge, sepuvesset or Permanente da cor azul para o menino rosa para a menina plasma Aniincios, presentes e decoracio. Enquanto isto, 0 corpo da crianga passa por uma longa série de experiéncias que influiréo na sua propria visto do corpo, do corpo do Sexo oposto € das relagdes entre éles. Um nascimento na América se da idealmente num hospital. De fato, mais ¢ mais freqiientemente isto acontece. Isto significa que, a ndo ser em casos excepcionais, 0 pai est ausente ea mée recebe o cuidado de profissionais, médicos ¢ enfermei- tas. Durante meses, antes do nascimento, ela se preparou para abando- Nar a casa e seu marido, nao pela casa do pai ou do itmao, como nas Sociedades primitivas, mas por um local estranho e segregado, onde ela € varias mulheres desconhecidas deitam-se lado a lado, dando a luz entre estranhos. Nascida a crianca, ela o faz contra a forca da gravi- dade, numa mesa de parto feita nao para permitir que 0 proprio peso dela ajude 0 nascimento, mas para facilitar os movimentos do obstetra. Ao primeiro chdro, a crianca recebe uma vigorosa palmada, a mie, sub- Mersa em anestésicos, ndo escuta seu chdro, embora uma’ pesquisa re- Gente sugira que o chéro tem a funcao de provocar a contragéo ulterina, A crianga é levada para um bercério, com seus labios prontos para Sugar, pressionando um contra o outro sem nenhum atendimento, O ¢hOro nao Ihe vai proporcionar nada. As capacidades corporais. prima- rias, com as quais a crianca entra no mundo, esti sem recompensa inicialmente. Ela pode mamar, mas nenhum seio Ihe € oferecido. Ela Pode pedir ajuda, mas ninguém a segura para alimenté-la. Seu corpo é envolvido em roupa macia e a primeira ligdo & aceitar que a roupa Sempre se interponha entre seu corpo e o alheio. A segunda liao vird quando for levado a mae. Na hora apropriada para a pesagem, serd transportada numa mesa mével e depois colocada de encontro ao corpo inieiramente vestido da mae, com 0 seio cuidadosamente esterilizado Parcialmente exposto e que the persuadem a sugar. Essa persuasio é muuitas vézes algo rapido; porque a enfermeira sabe como agir com 0 ebé, que costuma estar tfo exausto de fome que néo quer mais comer, © seguirando-o em volta do pescogo coloca-o no seio materno. Quer éle Stigue ou ndo, serd tirado dali depois de alguns minutos. A mae & dei- xada algumas vézes com os bicos do seio magoados de suas bochechas famintas ou talvez preocupada e insatisfeita porque o bebé no quis Comer, tendo dificilmente apreciado esta experiéncia rotineira e sepa- rada pela roupa. Durante nove ou dez dias que se seguem pega no bebe vestido e smente em horas regulares. O pai nao o segura jamai A\ alimentagdo no peito € muitas vézes também abandonada quando a Grianga vai para a casa. A me, e quem sabe também o bebé, aprendem ‘que os contactos entre mae e filho sero de uma certa forma. A ausén- tla de Teite, 0 fracasso do bebé em mamar, a pressio do obstetra ou pediatra por uma alimentagao suplementar s40 suficientemente naturais uma sociedade onde o recém-nascido é tratado como se satide e bem- ‘estar dependessem da preciso cronométrica com a qual é alimentado e com qué. A mae passa a ficar impaciente com seu leite, grosso ou ralo demais, excessivo ou escasso, derramando-se por bicos caidos, magoa- dos, e entdo, com certo alivio, cla pode passar a usar mamadeira e formulas, bicos de borracha cujo orificio se pode aumentar, garratas graduadas que t&m a receita certa, com a temperatura correta e onde tudo pode ser medido. Nenhum corpo humano teimoso e desregulado pora em risco 0 aumento de peso do bebé, que é 0 critério principal para sua existéncia sadia. Repentinamente ou cm algumas semanas, a maioria das mies americanas rejeitam seu proprio corpo como fonte de alimento para seu filho e, aceitando a precisiio mecanica de uma garra~ fa, reafirmam a elas proprias e na maneira como cuidam de scus filhos que o bebé estaré melhor quanto mais ela aprenda a usar a mamadeira mecanicamente bela, com preciso, no tempo certo e com as quanti- dades adequadas. Isto quer dizer: tanto mais aceita o ritmo externo abandona seus ritmos peculiares, com os quais chegou ao mundo. Para a primeira experiéncia de aprendizado, que € o protétipo fisico de uma relacdo sexual, a relacao complementar entre 0 corpo da mae e 0 corpo da crianga é substituida pela relacdo entre a crianga e um objeto, que imita 0 seio, mas que nao possui as partes do corpo da mie ou do bebe. Se a mae segura a crianca e Ihe oferece a mamadeira (pratica reco- mendada por dar a crianca mais daquilo que se chama imprecisamente de contacto corporal), ela se torna um implemento na maioria das vézes, uma extensdo de sa’mao que porta alimento, mais do que uma exten- sdo de seu seio, Nao sabemos a idade em que a crianca distingue a dife- renga exata entre uma mamadeira de vidro e um bico de borracha sélto no ar de um seio humano, mas a mae experimenta esta diferenca descle 6 coméco e ela € passada & crianca por suia voz, suas maos, seu proprio ritmo de ser. Ela nao esta se dando a crianga, ela esta fiel e eficiente- mente fornecendo-Ihe a mamadeira, externa a’ ambos, ¢ substituindo a relacao direta pela relaco mediada por um objeto Durante os primeiros meses de vida, a mae se ocupa constante- mente com a satide ¢ crescimento da crianga, fazendo-a comer o que é correto, banhando-a metddicamente, mantendo sua pele livre de assa- Guras, protegendo-a da superexcitacao, dos resfriados, e das infecgdes de qualquer tipo. O banho do bebé é um ritual que poder predominar sobre o dia todo; ele é mais um ritual de carater ansioso do que de prazer. Os bebés americanos recebem provavelmente um cuidado fisico {Go perfeito quanto qualquer crianga no mundo. A taxa de mortalidade de recém-nascidos esta decaindo e as criancas so na sua maioria fortes, mostrando poucos sinais de deficiéncia vitaminica. Esse bebé bem ali- mentado, limpo, empoado e bem vestido permanece num berco, bebendo Ieite pasteurizado de uma mamadeira esterilizada. Depois de chorar, porque ninguém o levara ao colo para mimé-lo, cai num sono regular, um cochilo num lado depois no outro, para manter o formato da cabeca. ‘Ao mesmo tempo, & pesado, observado e atendido. Ele estd dentro das Women in America’, Part 1, Fortune, Suovey (outubro de 1946), p. 10 indienne onde. ona normas, sejam elas as normas Gesell, usadas pelas maes que Item, ou resultantes do cochicho de vizinhanga das analfabetas. Sua bdca, que hunca ou somente algumas vézes procurou o seio materno, merece aten- {Glo em funcao dos primeiros dentes que poderdo surgir antes ou depois a época prevista. Depois surge o problema de chupar 0 dedo. Deve- mos permiti-lo. O pediatra ultramoderno podera recomendar uma chu- peta, a mesma que insiste em sobreviver na farmacia da vizinhanga cheia de gente, situada numa rua secundaria. Mas se éle a recomenda, é para jque a crianga néo chupe o polegar. Ele poderd oferecer a chupeta 20 proprio bebé satisfeito e alimentado pelo seio, porque est convencide ide que satisfazer o reflexo de succao evita chupar 0 dedo. O tabu déste habito € explicado em térmos de satide e boa aparéncia, mas princi palmente de saiide. Ele podera viciar a respiracdo infantil, arruinando f organizacao dos dentes. A boca existe primordialmente para a ali- mentaco e deve ser mantida limpa. Nem brinquedos de borracha do divio, nem o polegar sujo. A crianga dormira sugando um pequeno brin- quedo do qual depende para seu conférto e prazer, objeto que nao é parte do corpo de ninguém, nem do sew nem do de sua ma Nestes primeiros meses, a genitalia € mantida rigorosamente limpa, nao devendo ter irritagdes, porque aumentariam a consciéncia infantil sobre sua existéncia, podendo levar 4 masturbacao. * Enquanto isto, a rianga & ativamente encorajada a crescer, a aprender a mover-se, a usar as maos e os pés, seguir objetos com seus olhos e responder a sons. A despeito de scu sexo, particularmente relevante porque existe tal exo Sulilmente especifico entre o corpo da mae e o do bebe, a crianca & en- corajada a ser ativa e vigorosa. Quando banha seu filho, a mae poe de Jado as diferencas evidentes de sexo. A conduta média da maioria dos adultos nao leva a distingdes abertas no tratamento de meninos e me- nninas, mas isto est4 provavelmente presente porque mesmo crianga ‘muito pequenas mostram diferencas no tratamento de membros de seu priprio sexo e do sexo oposto. Mas t6das estas distingdes permanecem afastadas desde que a crianga & um pequeno ser nas mos de sua mi No ritual do zeloso amor materno, ndo ha lugar para um uso diferencial de zombaria e 2 provocacdo. Tudo esté rotulado negativamente como ‘ ‘Tanto o menino quanto a menina aprendem que sas bocas, tanto quanto as mAos, so algo que tém como partes ativas do corpo para contacto com o mundo exterior com propésitos especiticos. A boca nao um modo de estar com alguém, mas um meio de compartilhar um ambiente interpessoal. A mde esté sempre l4 para colocar coisas dentro dela, como mamadeiras, colheres, biscoitos, borrachinhas para morder. No quadro inarticulado e profundo das relagdes entre homens ¢ mu- coin de, nals siacatco bre og, exorgn, don eapelaitan em. critges pare acaba 1 duvidonoairmar qual metodo ‘ah cig pata ‘com Sew proprio Iheres, esta a imagem de sua satisfagao original, por colocarem objetos em sua boca, Mais tarde, quando os soldados americanos vao para fora, confundem os estrangeiros que especulam sdbre a moral americana, ten- tando descobrir se € suco de laranja, coca-cola ou qualquer produto familiar alimentar ou bebida que é basicamente importante. Pois a re- lao complementar da crianga no sefo é substituido por um padrao que pode facilmente tornar-se alternativo: ? j6go «eu Ihe dou algo se vocé me da também» nao & necessariamente intersexual quando mais baseado em mamadeiras e torradas do que numa experigncia profundamente pessoal com o seio materno, No segundo ano de vida vem a nova parte do aprendizado, pois a crianga aprende a controlar a eliminagao. Aqui as diferencas de es- ‘rutura entre o menino e a menina penetram mais agudamente na atencao materna, cE’ mais dificil fazer os meninos aprenderem>, atri- buindo a éles algo que seria teimosamente masculino. Ou entdo, «¢ mais facil levar um menino & tarde ao parque, porque éle simplesmente faz atras de uma Arvores. O que ecoa mais tarde no comentirio da meni- zna que vé seu irmao urinando: «isto seria bom para a gente Jevar para lum piqueniques. © coméco de uma valorizagao egoista do Srgio mas- culino comegd aqui, com algo que ndo tem contrapartida no corpo fe- minino e € capaz de fazer coisas prOprias, fornecendo uma base para a inveja da menina que sera freqiiente mais tarde. Essa inveja € igual Aquela que ela tem da bicicleta ou patins de uma outra crianga, € mais a inveja de busca ativa de alguma coisa do que uma trauma profunda- mente narcisista, como se descreve nos casos classics de neurose euro- peus. Mais tarde, expressar-se-4 mais intensamente na insisténcia da mulher em dirigir seu proprio carro ou na forma de um culto de seus proprios seios © pernas, por um lado, enfatizando a atividade e o poder , por outro, as partes do corpo a serem valorizadas e admiradas. Na vida adulta, a mulher americana tipica andara como alguém que & per- feitamente dotada, nem acompanhando seu marido mais atrés com passos apropriados a uma criatura 140 diferente, nem usando passadas que induzam algum homem a completa-la. A muther americana podera cret que necesita de uma coisa chamada satisfagao sexual, que qualquer pessoa sadia precisa tanto quanto de por mies tensas zelosas, aprendem outras coisas além das diferengas na sua estrutura corporal. Aprendem que defecar no lugar certo, na hora certa € bom, fenguanto 0§ produtos da climinagio serao tio ruins que, se mantidos O Corpo por mais tempo que o apropriado, causardo uma série de pro- blemas. Aprender a avisar a mae em tempo itil € algo de vital im portincia. para a crianca, principalmente o menino, em quem o contrdle da bexiga & mais complexo. Previsio mais do que impulso, organiza- ip ansiosa prevendo situacdes inesperadas tais como passeios de au- tomével, bonde, cinema, idas a casa da vov6, tudo isto foi planejado € encaradio, Um esquecimento € punido com a auséncia do amor ma- ferno, um amor que a crianga ja aprendeu que estd condicionado por Seti desempenho. . Assim, @ crianga percebe o quio importante é eliminar e pensar muito sobre isso de miedo que nao haja incidentes. As ruas americanas contrastam om as da Franca ou Italia, mais indulgentes: para com os impulsos mediatos do homem, mas insistentes ma exigencia de que os impulsos da muller se restrinjam a casa. As latrinas piblicas dos Estados Un los existem para a emergéncia, para aquéle que nao conseguiu planejar © foi detido num problema de trafego, e nao para o alivio indiscriminado do imputso. A associagio da eliminaco com a conduta virtuosa sadia & con gruente com o carter peculiar do banheiro americano, no qual os uten- Silios para limpeza, banhos, eliminagdo, estio agrupados e sio usados concomitantemente, Outras culturas ficaram téo obcecadas por um re- piidio aos produtos da eliminagio, por dissabores e pelas atitudes de falta de timpeza, que puseram 0 banheiro longe da casa. Mas a incluso la eliminagao no ritual da satide significou a troca da latrina timidae inestética por uma privada eficiente e agradavel, que leva para longe @sses produtos agora apropriadamente climinados, deixando a pessoa satisfeita © em condicées para um dia de trabalho, A ehorme importancia que a mae concede & toillete da crianga torna ‘este periodo um momento em que ela clabora um tipo de arquétipo do que Se corpo pode fazer. No estagio anterior, ela aprendeu a reter, Hioje aprende a expelir © ndo guardar nada impréprio ou danoso. A arquitetura moderna nao poupa esforgos em transformar 0 proceso sanitirio num todo atraente e livre de desconforto. O branco e limpo restaurante bem como o banheiro branco e asseado sao partes do ritual, além da vor da me que em segundo plano afirma que cumpridas «tOdas ‘as regras de sade, pode-se gozar a vida>. Mas enquanto a mae evita mostrar qualquer favoritismo entre 0 menino © a menina e através da mediagdo titil dos objetos esta apta a tratd-los quase que exatamente do mesmo modo, com um desagrado ‘ocasional com a maior rebeldia do menino, a stia menor sensibilidade ao padréo, o pai diferencia de fato a sua conduta, na medida em que Acompanha 0 garotinho nas suas brincadeiras violentas, ao mesmo tempo que faz uma suave cérte A menina escolhendo jogos mais ame- nos. Os meninos mais velhos acentuam 0 reconhecimento do pai, da di- ferenga de sexo, gracejando e provocando-a, importunando-a e desa- fiando-a pela truculéncia e pela vinganga, ignorando as meninas como no sendo parte do jdgo. Com enormes diferencas de classe € 1egiao, ha ainda uma tendéncia de os meninos aprenderem sobre a masculi- nidade com jogos violentos, com seus pais e irmaos mais velhos, que € caminho depois para uma aprovagao dessas brincadeiras, pelos insu! tos ir6nicos © zombarias sem fim dos grupos masculinos. De sua mie aprendew que a recompensa vem sob a forma de carinho e reconheci- mento quando éle cresce, permanece sadio, realiza-se, aprende a inde- pendéncia, controla seu corpo e habilita-se no manejo das coisas. Se cumpre 0 que ela quer, ela o recompensard. Mais tarde, como marido, sita recompensa vird através do saldrio que the traz uma vida melhor, © cinema aos sdbados e a mulher com quem se diverte vendo um filme. Sem aprovacio maternal éle sente-se miseravel, preocupado, temeroso da perda do amor. Mas de seu pai aprende que as relagées com os ho- mens exigem que mostre sua forca, aceite piadas com bom humor, recebendo e devolvendo, mesmo sendo pequeno, & que isto é agradavel. Tanto o pai quanto a mae exigem que éle aja de acdrdo e até um pouco além de sua fOrea de fato; e a crianga sempre tem um pouco de médo de que a forca exigida nao esteja presente. Tanto o pai como a inde esperam que nao fique bebé ou maricas, que tenhia bom aproveita- mente na escola, nos esportes ¢ depois no seu trabalho, Essas esperangas. Possuem a nota subjacente do temor ao fracasso Enquanto isso, a menina aprende sObre seu sexo de dois modos diversos. Também nao devera ser um bebé chordo, uma porcelana, mas nunca deverd agir como um menino. Ela aprende de seu pai o nico j0g0 que Gle sabe jogar com uma mulher: aquéle em que éle pede insis- tentemente, enquanto ela recusa também com insisténcia. E’ significa- tivo que para as meninas americanas o homem mais velho seja caracte- risticamente a vitima, 0 pai acucarado e nao-explorador. Os pais S40 meigos com as meninas, deixando-as dormir mais tarde e comprando- Thes mais algumas balas. As maes est4o permanentemente atentas para que suas filhas no se tornem mimadas. A menina de pouca idade aprende que deve manejar seu pai, a despeito do que faz a outra mu- Ther (a mie). E’ um conflito jogado suavemente, mas que da lugar a uma forma mais aguda na adolescéncia quando as meninas sentem uma interferéncia materna no seu relacionamento com 0 outro sexo. A proibigaio de ser uma bonequinha fornece a menina um quadro perturbador. Ela no pode agir como menino, nem ser moleque. Esse conselho, tio presente duas geragdes atris, embora aborrecesse a me- nina ativa ¢ especialmente dotada, era pelo menos claro e simples. Ser masculina significava correr desordenadamente, subir em arvores, roubar magis em pomares, brigar, jogar jogos masculinos em vez de ficar em casa com as trancas corretamente arrumadas brincando de bonecas e casinha, sentando-se docemente com as pernas cruzadas ou rompendo ent lagrimas nas ocasides apropriadas. Em contrapartida, era bastante simples para os meninos compreender que nao deviam brincar com bonecas ou preocupar-se com roupas limpas ¢ elegantes ou fugir de encontros com companheiros. Na medida em que cada sexo era so- licitado a evitar o padrdo bem definido do outro sexo, alguns membros de um sexo especifico sofriam profundamente as vézes, transforman- do-se_em invertidos, desajustados, misantropos e solitérios. Mas a maioria tinha condicdes de se ajustar ao padrao. As mulheres choravam € desmaiavam; os homens praguejavam e batiam com os pés, mas nao choravam. Os homens se sentavam em qualquer posigdo, as mulheres eruzavam os tornozelos modestamente. Os homens tinham trabalho, faziam dinheiro, tomavam a si as tarefas duras e perigosas e que pode- riam denegrir as mulheres, vendo-se como o sexo melhor dotado para lidar com toda a miséria, exceto a poeira embaixo da cama e 0 encar- dido das orelhas dos filhos. Hoje em dia, os grupos de meninos e meninas no jardim de infan- cia enfrentam-se num mesmo nivel, com o mesmo brilho nos olhos, a mesma prontidao em lutar e evitar lutas. A ambos os sexos proibe-se essa pratica, embora os meninos sejam fiscalizados muito ansiosamente € as meninas quase tanto, para ver se mostram sinais de estarem aco- vardados ou sem condigées de aceitar a briga, Nesta idade, a menina parece ter, por sua educacao, maiores recursos que seu irmao. Seu re- lacionamento com o pai € menos matemético e mais imediatamente compensador do que as relacdes dos irmaos com a mae. Sabemos de otras culturas em que a mae que abaixa a cabega 4 masculinidade senhorial de seu filhinho de quatro anos encoraja sua seguranca como homem, © na medida em que ela serve de modélo para sua filhinha, instila nela atitudes negativas para com seu papel feminino. Mas na América, a menina € pajeada e mimada por um pai indulgente e nao disciplinador, crescendo muito segura de si mesma. O seu papel de mae sera o de solicitac4o para com seu marido e filhos. Os irmaos devem ser ¢simpaticos com as irmas» e ela nunca tem que polir suas botas € ‘esperar por éles como se fossem modelos de futuro senhor € mestre. A trama que Wolfenstein e Leites identificaram no cinema ameri- ano na década dos 40 surge aqui com clareza. Os meninos esperam ‘que 08 pais estejam do seu lado ou se sentirao perversos e poderio arruinar-se sem culpa mais tarde na vida. As meninas esperam que 0 pai e mais tarde seu marido exijam muita persuaséo. Nenhuma vit6ria € final e deve ser retomada no dia seguinte. Os meninos vem suas maes mais tarde suas mulheres como pessoas com quem se encontra segu- Fanga, se ¢les so bons. Essas certezas so to necessirias quanto o alimento tomado numa cozinha em tarde fria de inverno. Mas so com- pradas a certo prego, prego que renunicia a todo o prazer da irrespon- sabilidade, da informalidade de uma conduta libidinosa mal dirigida, que em outras palavras poderiam significar a rentincia de jogar futebol na rua na hora em que bem entendesse. Entretanto no grupo dos seis a doze anos ainda sobrevivem algumas velhas hostilidades entre os sexos. Os meninos percebem que o tinico modo de se diferenciarem das meri nas, cujos gostos ¢ conduta sao virtualmente idénticos, € nada fazer junto com elas. As turmas de meninos nas cidades americanas no coméco do século tinham a contrapartida das meninas que nada tinham de interessante a fazer, a nao ser alguns jogos tolos. Esses grupos de ‘meninos da década ‘de 1940 sio uma medida defensiva, desesperada para nao serem maricas, 0 que interpretado simplesmente significa néo serem como as meninas. Mas as meninas também esto preocupadas em 1ndo serem maricas na medida em que saem para patinar, velejar, esquiar, exercitar as pernas que ndo mais permanecem pudicamente cruzadas. E para elas a melhor maneira de ndo serem maricas, isto & ndo compor- tar-se como menino, comportando-se como menina, & evidentemente a associa¢do com 0 sexo oposto. Ha uma geracio atras, as meninas tinham suas mesas de ché cuidadosamente arrumadas, que as protegiam dos estabaniados que poderiam quebrar suas bonecas e seus aparelhinhos de brinquedo. E as maes, ainda educadas numa época tradicional, davam éstes brinquedos as filhas, sugerindo que seria melhor haver festas de aniversdrio sem a presenca dos garotos. Mas 4 medida que 0 modélo de sexo se filtra na diregao das criangas mais novas pela conduta dos adolescentes, pelo mimero crescente de maes que ndo foram criadas ‘com excessos de feminilidade, ha menos aceitacdo por parte dessas meninas das festas de boneca ¢ cha nas quais os meninos, como intrusos estabanados que eram, davam-Ihes exemplos praticos de uma conduta que um dia seria chamada de . AS hostilidades hd muito institucionalizadas, de bonecas quebradas © ca- belos puxados, lagrimas de meninas e empurrées de meninos, estao sendo Substituidas por um ndvo padrdo de encontros na puberdade, nao se Sabe se com menos hostilidade, mas pelo menos com a hostilidade asst- mindo formas proprias. Nosso material comparativo sugere que os me- ninos de uma idade em que tém poucas condigées para a atividade Sexual em que devem tomar a iniciativa estéo sendo colocados em ex- perigncias que imitam as atividades sexuais de um periodo posterior da adolescéncia. CAPITULO XIV A Conduta do Naméro e as Exigéncias Sexuais do Adulto [A CONDUTA DO «DATING® NOS ADOLESCENTES AMERICANOS, APRESENTADA no cinema, no radio, nos aniincios que incluem as receitas de boas ma- neiras no «Seus modos & vista», é evidentemente de classe média, Os meninos da esquina, aquéles que abandonam a escola na sétima série com catorze anos, os adolescentes rurais que deixam a escola para tra- balhar na fazenda, ainda tendem a se agrupar entre si antes de estarem aptos a uma atividade sexual completa. Eles continuam a encarar a mulher primordialmente para a gratificagao fisica antes e fora do cas mento, para criar a prole e cozinhar ¢ dormir junto apés as mipcias Seus habitos ¢ os das meninas, que mais tarde irdo buscar ¢ possivel- mente desposar, si0 bem mostrado na arte popular. Mas tanto quanto as roupas estao se tornando estilizadas, assim também os precos, e a operdria pobre pode ter um vestido de feitio ou até de modista como o da menina mais rica, 0 que divulga os estilos ditados pela classe média. Eles incentivam os deva~ neios e funcionalizam o descontentamento dos grupos que néo se in- eluem nela, Ha menos imigrantes de primeira geracdo entre 0s grupos econdmicos mais baixos que continuam insistindo na * de suas filhas até o casamento. Ha hotéis mais baratos em que ha bailes que copiam elaborados costumes dos grupos que esto nas colu- nas sociais. A mecaniza¢ao continuada de atividades tais como no grupo de meninos ¢ me- hinas ginasianos * as velhas batalhas por favores e aprovacées pater- has e maternas e a velha necessidade de seguranca dio frutos outra vez, Sto necessidades que foram afastadas nos primeiros anos quando 5 pais se preocupavam se scus filhos chegariam a tornar-se alguma coisa. Em muitas sociedades que j4 descrevi neste livro, & permitido as riangas um longo abandono da competicao sexual, enquanto vivem fem grupos infantis de um s6 sexo em que amadurecem lentamente. E’ {alvez muito significativo que possa ser encontrada uma divisio muito visivel entre grupos de meninos e meninas pequenos naquelas socieda- des em que 0 relacionamento final entre homem e mulher & mais especi- ficamente sexual e menos voltado para a concordancia, agressao, rivali- dade e assim por diante. Tal é 0 caso de Samoa e Bali. O amor paterno © sua doagio nao foram organizados em tdrno do desenvolvimento na Grianga do assentimento e agressividade, mas, ao contrdrio, foram har- inonizados com seus corpos, vistos como os corpos de meninos e me- hiinas que mais tarde serdo adultos, sexualizados como homem e mulher. A partir desta solicitacdo de sua sexualidade, no caso dos meninos ampla demais para ser praticada e no caso das meninas prematura demais para ser socialmente segura, espera-se que as criangas se tor- hem suficientemente grandes para retornar a éste quadro, encontrando seus pares afetivos a partir do modélo do que aprenderam de seus pais Mas nj pais americanos nao estdo primordialmente preocupados com as relagdes com seus filhos como membros de um sexo ou de outro, como pequenas criaturas cujos corpos estao respondendo ao toque das infos de seus pais ou ao brilho de seus olhos. Bles estao primordial niente preacupados com seus filhos como pessoas, como pequenos 1 Para uy ovineias andises Jo atin” ver MUAn, Mavgace, “WAL Ip a Datei Trag. talane Vora Tia inp ate save, Weetleye Phe Amal ‘hebptee Norton, ras i9'8y Cap, Rl y a Ms cleos potenciais de considerdvel realizagao, a quem se-deve dar a me- Ihor chance, a melhor educagao, 0 melhor treinamento para o sucesso na vida. A vida € uma competi¢io que meninos e meninas devem participar com olhos abertos, alimentacdo adequada, higiene praticada, com as quatro operagdes bem guardadas na cabeca e pés que atingem precisa~ mente 0 ponto desejado. E’ uma competicao na qual se deve entrar 0 mais cedo possivel, telefonando, emprestando dinheiro, exercitando-se € exibindo habilidade em padroes maduros. Em outtras sociedades, 0 desenvolvimento tem algo de apavorante para a crianga, que pensa como se tivesse de assumir corporalmente © papel do adulto. E? 0 caso do menino que deve tornar-se amante de uma mulher adulta e pai de seus filhos, € 0 caso da menina que se torna parceira sexual e mae. No momento em que esta menina inspeciona seu corpo diminuto, € 0 menino, sua genitalia ainda embrionéria, sabem que devem esperar, abandonar os jogos em que sao 0 menino da mamae ua menina do papai, que nunca poderdo ser mais do que jogos par- Ciais ¢ insatisfatorios, e esperar dez anos ou mais até que estejam sufi cientemente aptos para tais coisas. Em geral, quanto mais especifica- mente sexual se tornar a relacdo do adulto, que podera incluir eviden- temente um fipo de casamento que insiste numa grande abstinéncia sexual sem substitui-la por nenhuma outra compensacao, tanto mais as criangas assim educadas vero a maturidade em térmos de tal sexual dade especitica, que parece necessitar de um periodo em que sao apartadas para crescer em paz sem serem perturbadas por exigéncias que nao se podem cumprir. E” provavelmente correto discutir a latén periodo entre a sexualidade infantil focada no pai e a consciéncia agitada do sexo no adolescente, como fendmeno especifico de amadurecimento sexual, passivel de ser modificado ou aumentado, em funcao de ajusta- mentos.sociais. ‘Mas na América, com a maior énfase dos pais nas personalidades em formacao, levemente diferenciadas na conduta © com uma expec tativa de estrutura de cardter para cada sexo, também levemente anco- tada no modélo do pai do mesmo sexo, ha menos laténcia, menor espaco para ela. Crescer ndo significa para o menino americano tomar para si as responsabilidades, as tentativas de uma conduta sexual plena. Crescer significa usar calga comprida como seu irmao mais velho, dir gir, ganhar dinheiro, ser seu proprio patrao e levar uma jovem ao cine- ma, Um certo acariciamento € claro, ou muito acariciamento talvez, com © tipo de mdga com quem nao se sairia por nenhuma outra razao. Mas inguém espera que as imitagdes da conduta adulta que aqui aparecem déem resultados, seja por uma unido duradoura, seja resultando numa gravidez. Ao invés disto, trata-se sdmente de parte do jogo competitive No qual mOcas e rapazes demonstram sua popularidade, sendo vistos com jentes do sexo oposto. * O sucesso com as jovens, na 4p, *dntiog™ americano no. inicio da be ay dns Head's oat Ueto he abservagoes nk pa

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