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Revista Forum de Direito Trsbutdrio: REDY, Belo Horizonte, v. 13, n. 73, p. 47-82, jan./fev, 2015 A nao cumulatividade no IVA europeu e nos tributos brasileiros nado cumulativos Christiano Mendes Wolney Valente Procurador da Fazenda Nacional. Pés-graduado pela Escola Superior de Advocacia da OAB-OF € pela Escola Superior do Ministério PUblico do Distrito Federal e Terrtéries. Especialista em Direito Tributrio pelo Instituto de Cooperaedo e Assisténcia Técnica (ICAT) da Associagao de Ensino Unificado do Distrito Federal (AEUDF). Mestrando em Direlto da Universidade Catélica de Brasilia (UCB), Email Resume: © artigo realiza uma andlise comparativa entre a aplicagdo da técnica da nao cumulatvidade dentvo dos trbutos brasilelros que a adotam (Imposto sobre Produtos Incustializados — IPI, Imposto ‘s00re a Circulagio de Mercadarias ¢ prestagdo de Servigos de transporte interestacual e intermunicipal e telecomunicagSes ~ ICMS, contriuigdes ao PIS/COFINS nao cumulativas) e o IVA europeu como praticado ‘em Portugal, a fim de apresentar os pontos de contato e de distanciamento entre 0s referidos tributos, contribuinde, assim, para 6 estudo de uma possivel harmonizagao e unificagao entre os Impostos Gerais de Consumo praticados no Brasil e agueles praticados por seus parceiros comerciais, tendo como norte WA europeu ‘Sumario: 4 Introsugo - 2 A técnica da no cumulatvidade - 3 Nimero de operagées gravadas - 4 Ativo imoblizado ~ § Insumos ~ 6 Quadro comparativo ~ 7 Conclusées ~ Referéncias, 1 Introdugao A globalizaco, compreendida esta como a transnacionalizagao dos mercados de insumo, produgao, finangas e consumo que se acentuou em velocidade € mecanismos a partir de 1980,’ implica o surgimento de novas instituigSes de carater F Referimo-nos apenas a uma das faces do fenémeno globalzaci. Segundo José Edvardo Faria: “..] Elobalizagio no é um conceitounivace, Pelo contri, 6 um canceiteplufvoce, comumente associado a énfase ‘dada pela Iteratura angle-saxénica dos anos 80 a uma nova economia politica das relagdes internaciona's Desde a Ultima década, esse conceito tem sido amplamente ullizado para expressar, tradurir e descrever um vasto © complexe conjunto de processes interigades. Entre os precessos mais importantes destacam- ‘se, por exemplo, 2 crescente autonom'a adguirida pela economia em relac3o & poica; a emergéncia de novas estruturas decisrias operando em tempo real e com aleance planetaro; as alteragées em andamento, nas condigaes de compitvidade de empresas, setores, regioes, paises e continentes; a transtormagao do adrBo de comerco intemacional, deixando de ser basicamenteinter-setorial e entefimas e passando a ser ‘eminentemente intre-setorale ina frmas;a‘desnacionalizagao' dos direltos, a desterrtorializage das formas insttucionais @ a descentralizagdo das formas polticas do capitalism; a unitermizagae © a padonizagao das praticas comerciais no plano mundial, a desregulamentagdo dos rercados de capitals, a interconexo dos sistemas financeiro e securtrio em escala global, a realocagdo geogrética dos irvestimentos produtos e a Volatiidade dos investimentos especulathos; a unificago dos espagos de reproduce socal, a proliforag dos movimentos imiratsrios e as mucangas radicals ocotidas na dlvisdo Intemacional do vabalho:; e, por fim, © aparecimente de uma estrutura palticrecanémica multipolar incorporando novas fontes de cooperacao © Confit tante ne mavimente de capital quanto no desenvohimento do sistema mundial” (FARIA, 2000, p59). R. Frum de Oy, Tiburio —RFDT | Belo Horizont, ano 43, 73, p. 47-82, jan /tev. 2035, 47 REDIF MOLOinds «7 osmazo1s 112025 (CHRISTIANG MENDES WOLNEY VALENTE regional e diferentes dos EstadosNagao,? como forma de viabilizar a obtengao de melhores condigdes de participagao no intercémbio mundial, maximizar 0 aumento das economias de escala, minimizar os custos sociais e econémicos da prépria globalizago © propiciar uma defesa minimamente eficaz contra a especulagao financeira e os fluxos de capitais ndo produtivos (FARIA, 2000, passim). Nesse contexto, papel impar é desempenhado pelo Imposto sobre o Valor Adicionado - IVA ("Taxe sur le valeur ajoutée — TVA") como maneira de se uniformizar ¢ harmonizar a legislagao dos diversos paises integrantes desses grupos referente ao chamado Imposto Geral de Consumo ou Imposto Geral de Vendas.® Nao por acaso, relatério fornecido pela Organizagao para a Cooperagaio e Desenvolvimento Econémico (OCDE)* Informa que tal espécie de tributo (IVA) est presente em trinta e trés dos seus trinta € quatro paises membros (OECD, 2012, p. 23). A importancia do IVA como espécie uniformizada ou harmonizada de Imposto Geral de Consumo ou Vendas aumenta sobremaneira quando se verifica a participagaio crescente desses impostos, juntamente com os impostos sobre a renda assalariada, na composicao da receita tributéria dos Estados em todo o mundo em detrimento da tributagdo sobre a renda globalizada e dos Excise taxes (impostos especiais sobre ‘© consumo, v.g. impostos especifices sobre a aquisigéo de bens de luxo, alcool, tabaco etc.). No ano de 2010, dentro dos paises da OCDE, os Impostos Gerais sobre 0 Consumo produziram 20% (vinte por cento) do total das receitas fiscais, em ‘comparagaio com apenas 12% (doze por cento) em meados dos anos de 1960. Tal crescimento foi acompanhado pelo decréscimo da participagao das receitas fiscais provenientes dos Impostos Especificos de Consumo (Excise taxes) de 24% (vinte € quatro por cento) em 1965 para 11% (onze por cento) em 2010 (OECD, 2012, p. 24), 7 como exemplos dessas novas insttuigSes temas a Unido Curope'a, 0 NAFTA (Acordo de Livre Comércio da ‘América do Norte}, a APEC (Asia Paci"c Economie Cooperation), a ASEAN (Association of South East Asian Natons),e Mercosul (Mercado Comum de Cone Sul), tedas no camino de supranacionalisme, abrindo camino bara a ctlagdo de grupos de interesse transracionais, dotados de uma burocracia propria e espectca © Segundo Maurin Almeida Faledo (2043): “| a narmonizagao da TVA é um des pontes de partida para toca iniiativa de integragdo por set um simbole das liberdades Ineispensévels a aboligae das fronteras no interior do mercado" + organizacao para a Cooperacio © Desenvolvimento Econémico ~ OCDE (Organisation de coopération et de ‘développement écanemiques) & uma erganizagdo internacional sediada em Paris, Franga, surglda durante ‘2 guerraffia, no contexto do Plano Marshal, composta por 34 paises membros que aceltam os prncipios {da cemocracia representativa e da economia de livre mercado, sendo a malaria paises com altos PIB. per capita e Indice de Desenvolvimento Humana, © pracuzem mais da metade de toda a rgueza do globo. Tal ‘organizacao procura fomecer uma plataforma para comparar polficas econdmicas, solucionar problemas ccamuns e coordenar poticas domésticas e interacionais. © Para Maurin Almeida Faledo (2013); “|. © ineremento da globalizaglo, por melo da expansio das empresas transnacionais e dos investimentos, estaria na ongem a adogao de um novo perf das sistemas tibutaios. A ctiagdo de mecanismes de tragio de investimentos estrangeireslevaria ac deslocamento da tibutagao sobre 4 renda proveniente des ganhes de capital para a trbutagao sobre o consumo e sobre a rend assalaviada Assim, estavam langacos 0s mecanismos que constrangeriam os sistemas tibutérios a um movimento de convergéncia denro de um ambiente submetde & globalizacso, ao mulilateralismo e & itegragdo econémica 6, ainda, & contestagao do Estade-previdéncia 48 Frum de Di, Inbutino— RADI 1Gela Honzant, ano 43, n. 7, p. 47-82, n/t, 2018 REDIF MOLOinds 48 osnazo1s 112028 |ANKO CUMULATIVIDRDE NO INA EUROPEU E NOS TRIBUTOS BRASILEIROS NAO CUMULATIVOS Do mesmo modo, nos paises da América Latina a participacao dos Impostos Gerais sobre 0 Consumo aumentou de 24% (vinte e quatro por cento) em 1990 para 35%. (trinta e cinco por cento) em 2009, Jé a parcela dos Excise taxes caiu de 28% (vinte € ito por cento) para 15% (quinze por cento) no mesmo periodo (OECD, 2012, p. 40). A nota caracteristica essencial do IVA é a sua incidéncia nao cumulativa, ou seja, a aplicagao da técnica da nao cumulatividade, Essa técnica 6 0 que permite sejam colhidos os bons frutos dessa tributagao, criando uma fiscalizagao cruzada® entre os préprios contribuintes, atingindo a neutralidade fiscal’ e a organizacao horizontal dos agentes econdmicos,* com facilidade para desonerar as operagdes de exportacao.’ Todos esses frutos beneficiam a livre circulagdo dos bens, pois a deso- neram e estimulam, 0 que essencial para uma maior integrago econémica entre 08 paises e regides © presente trabalho tem por escopo realizar uma anélise comparativa entre a aplicagao da técnica da nao cumulatividade dentro dos tributes brasileiros que a adotam (Imposto sobre Produtos Industrializados ~ IPI, Imposto sobre a Circulagao de Mercadorias e prestagao de Servigos de transporte interestadual e intermunicipal ¢ telecomunicagdes — ICMS, contribuigSes ao PIS/COFINS no cumulativas) € 0 IVA ‘europeu como praticado em Portugal a fim de apresentar os pontos de contato € de distanciamento entre os referidos tributos, contribuindo assim para o estudo de uma possivel harmonizagao e unificagao entre os Impostos Gerais de Consumo praticados no Brasil e aqueles praticados por seus parceiros comerciais, tendo como norte o IVA europeu. © estudo desenvolver-se-4 dentro de uma analise comparativa horizontal jé que © instituto investigado pertence ao sistema do Civil Law (Romano-Germanico), nao havendo a necessidade de fazer maiores incursdes sobre a sua formacao, limitando- ‘se apenas a revelar a forma como a nao cumulatividade é atualmente aplicada nos tributos selecionados, sob uma perspectiva normativa, pragmatica e descritiva no nivel das regras aplicéveis."° Cada contiouinte, por estar interessado no seu préprio creditamento pelo imposto que jé foi pago,fiscaliza 0 contrbuinte anterior na cadeia a fim de garantir 0 seu crédito, 7 Oconccito de neutraidade fiscal estd igado a establidade do Gnus tibutdio, ou soja, © nus de determinado contrbuinte dentro da cadela independe do nimero de operagdes anteriormente trbutadas, © Em uma trbutagdo cumulativa 08 agentes econémicos tendem a se vertcalizar a fim de reduzir a carga ‘ubutria com a diminuigdo da crculagde des bens © services, © que gera a inoficléncia decorrente da fata de especializagao ° Na ‘ributacao cumulatva os tributes so Inevtavelmente “exportads", ou sela, a carga tributéria é toortcamente supertada pelo importador, pois a desoneragdo se tora complexa dada 8 impossibildade do se idertifiear © quantum que inciclu ra cadela, Na prtica, quem acaba suportando a carga € 0 exoortador, j8 ave reduz 0 prego de sua mercacora a fim de toma competitva no mercado internacional * Segundo Mare Ancel (1980, 0.45 ef seq. € 115 et seq), existem és tendéncias metodoldgicas para o estudo do direlto comparado: 0 estudo do diet positio em sua evolugdo e realdade efetva (istia comparativa do direto, Pistia universal do direto, ete) - perspectva evolutiva; 0 drete comparado normative (eontrantacao de conceites entre diversos sistemas juréicos) ~ perspectiva normativa, a busca pragmtica por um sistema A. nan de Dr. Tuto RFDT Bel Horont, ano 43, n 78, p. 7-82 jn fev. 2085 49 REDIF MOLOinds 48 osnazo1s 112028 (CHRISTIANG MENDES WOLNEY VALENTE 2 Atécnica da nao cumulatividade Iniciaimente, € de observar que nao pertence aos objetivos deste trabalho a investigagao da natureza principiolégica da nao cumulatividade, na medida em que o Instituto serd analisado consoante a forma e os métodos com que se dao as dedugdes (diteito a0 creditamento) existentes nos ordenamentos juridicos apresentados. Desse modo, 0 que nos interessa aqui é 0 seu cardter técnico e pragmatico em cada tributo investigado, descurando-se de sua natureza axiolégica. Quando se fala em “nao cumulatividade” tributaria a expressao pode ter trés conotagdes usualmente aceitas. A primeira é a negativa da exigéncia de dois ou mais tributos sobre um mesmo fato gerador, Explica-se. Quando dois tributos sao exigidos sobre um mesmo fato gerador pode-se ter uma situacao de bis in idem, quando a exigéncia é feita pelo mesmo sujeito ativo, ou bitributagdo (também chamada de dupla tributagao) quando a exigéncia é feita por sujeitos ativos diversos. No caso brasileiro, uma situagao tipica de bis in idem é a incidéncia do Imposto de Importagao {Il) e do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), ambos tributos de competéncia tributéria da Unido incidentes quando do desembarago aduaneiro na importacdo. J4 uma situagaio de bitributacao ou dupla tributagao bastante conhecida ocorre quando paises diversos fazem uso de critérios diversos para a tributagdo sobre a renda, v.g. © Brasil que usa 0 critério da fonte € os Estados Unidos da América (EUA) quando sam 0 critério do domicilio para tributar a renda de uma pessoa residente nos EUA, mas que aufere rendimentos no Brasil Jé em uma segunda conotagao, temos a negativa da incluso (ou impossibilidade da nao exclusao) de determinados tributos na base de outros ou deles mesmos. No Brasil essa cumulatividade ocorre no caso do Imposto de Renda da Pessoa Juridica (IRPJ) e da Contribui¢ao Social sobre o Lucro Liquido (CSLL) que integram cada qual a sua propria base de célculo e um a base de calculo do outro.** Séo tributes que se ‘cumulam, portanto. Para que néo houvesse tal cumulatividade seria necesséria uma lei especifica afirmando a impossibilidade de tal cumulacao. A terceira conotagao, que é a que nos interessa, diz respeito a incidéncia de um determinado tributo sobre as diversas fases de uma cadeia de producao, distribuigaio jrgico universal (realizagdo conereta de uma integragdo e cooperacdo entre os palses) - perspectiva ‘pragmética. Quanto aos riveis de andlise, considera a existéncia de 8s, cada qual com um método propio: ‘2 andlise das rogras (justaposigdo de regras logals - método descritvo) a anise da institulgae(elaboragao dos quadros legals de determinada institu¢do em ambos os direltos ~ método técnic) e a analse do sistema (apreenséo global dos sistemas em comparacéo - método estrutura. Para a situacéo especca do estuco de cases, aponta 0 método funcional que examina as solugaes dadas nos pases para um mesme problema humano, " Segunco a Lel né 9.316, de 22 de novemibro de 1996: “Art. 1 0 valor da contrbuigso social sobre 0 luero Tquido ndo pederd ser deduzido para efeito de doterminagae do lute real, nem de sua prépria base de Célculo. Pardgrafo dnico. Os valores da contviouigao socal a que se refere este argo, registrados como custo ou despesa, deverdo ser adicionados a0 lucro liquide do respective periodo de apuracéo para efeito de determinagi do Iuere real e de Sua prépria base de célculo” (BRASIL, 2023), 50 Frum de Di, Inbutino— RADI 1Gela Honzant, ano 43, n. 7, p. 47-82, n/t, 2018 REDT_PLMoLinds 50 osnazo1s 112028 |ANKO CUMULATIVIDRDE NO INA EUROPEU E NOS TRIBUTOS BRASILEIROS NAO CUMULATIVOS © comercializagao de bens € prestacdo de servicos, de forma nao cumulativa, ou seja, de forma a gravar apenas a riqueza agregada por cada contribuinte em cada etapa dessa cadeia. Essa é a no cumulatividade tipica dos IVAs que é identificada no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), no Imposto sobre a Circulago de Mercadorias e prestagdo de Servicos de transporte interestadual e intermunicipal ¢ telecomunicagées (ICMS), nas contribuigdes ao PIS/COFINS nao cumulativas, tributos brasileiros, e no IVA europeu. Dentro dessa terceira conotagéio é que surgiram as varias técnicas (também chamados de regimes de operacionalizagao) de se atingir a no cumulatividade, conforme se segue. 2.1 Método aditivo De acordo com 0 método aditivo, 0 valor agregado (base de célculo do tribute) & obtide através da soma dos salrios pagos pela empresa ocupante de determinada fase da cadeia e dos demais dispéndios por ela incorridos (custos de produgao com Insumos, despesas ¢ matérias-primas) com os lucros obtidos (margem de lucro) em determinado periodo (SEHN, 2011, p. 264). Segundo Cesare Cosciani, o método foi assim definido pelo segundo relatério da missao chefiada por Carl S. Shoup (*“Missao Shoup"), enviada pelos Estados Unidos da América ao Japao para reorganizar suas financas apés a Segunda Guerra Mundial, in verbis: Mas atin, en el segundo informe, para facilitar el calculo del impuesto, en lugar del método de determinacién por diferencia, se daba opcién para utilizar el de adicién, que consiste en obtener la base imponible por la suma de los salarios, intereses y rentas pagados, con los beneficios determinados a los fines de! impuesto a la renta. (COSCIANI, 1969, p. 33.34) © método é chamado de aditive direto quando sobre esse valor se aplica dire- tamente a aliquota do tributo cujo resultado informara o seu quantum debeatur. Se houver a necessidade de intermediacao de outra aliquota para a composicao da base de cAlculo do tributo ou a existéncia de aliquotas diversas discriminando diferentes tipos de custos ou lucros obtidos, o método é chamado de aditivo indireto, pois essas aliquotas intermedidrias aumentariam (se superiores a 100%) ou diminuiriam (se Inferiores a 100%) 0 valor agregado (um aumento significaria um ataque a neutralidade fiscal, uma diminuigao ensejaria desoneragao). Também ocorre o método aditivo indireto quando so aplicadas aliquotas diversas do tributo para cada componente do valor agregado. Afirma André Mendes Moreira (2012, p. 73) que tal forma de tributagao esta nacionalmente presente na Argentina em Israel, para a tributagao das instituigses financeiras, e nos Estados de Michigan (desde 1976) e New Hampshire (desde R. Frum de Oy, Tiburio —RFDT | Belo Horizont, ano 43, 73, p. 47-82, jan /tev. 2035, 51 REDT_PeMOLOinds $1 osnazo1s 112028 (CHRISTIANG MENDES WOLNEY VALENTE 1993). No entanto, essa metodologia nao € a adotada por nenhum dos tributos que 80 objeto de estudo do presente trabalho, de forma que esta sendo mencionada apenas a titulo informativo. 2.2 Método subtrativo Diferentemente do método aditivo, 0 método subtrativo invoca uma operagao de subtracdo para se chegar da base de calculo do imposto ou, aps 0 caleulo do imposto, para se chegar ao valor devido. Na primeira hipétese, tem-se 0 método subtrativo base sobre base (basis on basis). Na segunda, 0 método subtrativo imposto sobre imposto (tax on tax). Vejamos. 2.2.1 Método subtrativo base sobre base No método subtrativo base sobre base, inicia-se a identificagdo da base de cAlculo do IVA com o prego total da operagao (bens) ou prestagao (servicos). Em um segundo momento, dele se deduz o valor das mercadorias e servigos adquiridos pelo contribuinte (despesas e custos) que a lei elenca como dedutiveis. Isto é, a lei sele- ciona quais sao os dispéndios da empresa (aqueles mesmos dispéndios utilizados no método aditivo, v.g. saldrios, custos de produgdo, insumos, despesas e matérias- primas) que serao deduzidos do preco total da operagao ou prestagao para se chegar a base de cAlculo do tributo. Sobre essa base de calculo € que se aplica a alfquota do tributo, chegando-se ao método subtrative base sobre base direto. ‘Como no método aditivo, se antes da aplicagéo da aliquota do tributo houver a intermediagao de outra aliquota, tratase de método subtrativo base sobre base indireto. Explicando de outra forma, se sobre os dispéndios selecionados pela lei houver uma limitagao de valor caracterizada pela incidéncia de uma aliquota antes de se abater do preco total da operagéio ou prestagao, para af sim chegar-se a base de célculo do tributo, trata-se de método subtrativo base sobre base indireto. De observar que se a lei limitar as espécies de dispéndios que serao deduzidos ou fizer sobre eles incidir previamente uma aliquota inferior a 100% (cem por cento), hé restri¢do da neutralidade. Esse método é 0 normalmente utilizado quando nao ha a identificago do tributo ago nas faturas (notas fiscais), pois, juntamente com o método aditivo, sdo a Gnica forma de se empregar ai a néo cumulatividade, j4 que se desconhece o valor dos tributos que incidiram nas fases anteriores da cadeia. 0 ideal é que a lel Selecione exatamente os custos e despesas que compuseram a base de célculo do tribute na fase anterior a fim de preservar a neutalidade fiscal 52 Frm de Dr. Ireatino = RADY 18a Hongo, aro 43,79. AP-82 nen 2088 REDT_PELMOLinds 52 osnazo1s 112028 |ANKO CUMULATIVIDRDE NO INA EUROPEU E NOS TRIBUTOS BRASILEIROS NAO CUMULATIVOS (0 método subtrativo base sobre base direto existe em poucos lugares do mundo. Segundo André Mendes Moreira (2012, p. 74), o Japao e 0 Vietn o adotam. Alids, 0 estudos para a adogao de tal método no Japao datam de 1949, com o projeto de- corrente do envio da j4 mencionada “Missao Shoup”. 0 projeto assim previa: [..1] la mejor solucién consiste en ampliar la base del impuesto y aplicar la tasa, no sobre el beneficio, sino respecto de los intereses, rentas y salarios. En otras palabras, esa base puede definirse como: el monto Integral bruto de lo cobrado menos lo adquiride de otras empresas, incluidas las compras de equipos, terrenos y construcciones. La diferencia es lo que la empresa agrega al valor de los materiales, etc., que ella adquirid de otras empresas. (ESTADOS UNIDOS DA AMERICA, p. 201) Jé 0 método subtrative base sobre base na forma indireta somente existe no Brasil, sendo aqui adotado para a contribuieéo social para financiamento da Segu- ridade Social (COFINS) e para a contribuigdo para o Programa de Formacao do Patriménio do Servidor Pablico e Programa de Integragao Social (PIS/PASEP) néo cumulatives, consoante a Lei n® 10.637/2002 e a Lei n® 10.833/2003. Para essas contribuigdes, prevé a legislaco nacional nos arts. 1° da Lei n? 10.637/2002 e da Lei n? 10.833/2003 (BRASIL, 2012) que o fato gerador e a base de calculo sao 0 “faturamento mensal", assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juridica, independentemente de sua denominagao ou classificagao contabil."® Sobre essa base de calculo incide uma aliquota de 7,6% (sete inteiros € seis décimos por cento) para a COFINS ¢ de 1,65% (um inteiro sessenta € cinco centésimos por cento) para o PIS/PASEP, chegando-se ao valor do tributo devido, do qual serao descontados créditos calculados sobre as despesas e custos que os arts. 3 da Lei n? 10.637/2002 ¢ da Lei n* 10,833/2003 elencam ‘como dedutiveis, apés a aplicagao das mesmas aliquotas de 7,6% (sete inteiros seis décimos por cento) para a COFINS e de 1,65% (um inteiro e sessenta e cinco centésimos por cento) para o PIS/PASEP (BRASIL, 2012). Ou seja, 0 encontro da base tributdvel com a base creditével é intermediado pela incidéncia de aliquotas {forma indireta). Nesse caso, pelo fato de as aliquotas incidentes sobre a base de 3 Aqui reside a primeira aiferenga entre esses tributos ¢ os demais IVAs sob exame. A leglslagdo brasileira, com ‘amparo na Consttugde Federal de 1988, artfciosamente ampliou 0 conceite de faturamento para abranger, ‘além das receltas provenientes da venda de mercadoria e servgos, também todas as receltas auferidas pela pessoa jurcica, Independentemente de sua denominagio ou natureza contabl. Sendo assim, o tributo na Vverdade tom camo fato gorador e base de calcula a recelta bruta © noo faturamento, como erdin.ariamente os IMAs tém,j8 que normaimente ineidem sobre o valor das faturas, Sua base de célculo, portanto, é mais ama {que a dos IVs. Tl, 2 nosso sentir, no prejudica a classificagdo do tributo 20 lado dos IVis, tendo em vista {que apenas significa mais um ataque 4 neutralidace fiscal, entre tantos outos. Em sentido contro, André Mendes Moreira, para quem tai trbutos nao podem ser considerades tpieamente nao cumulatos tendo em Vista que a vibutaclo sobre a receita bruta descaracteriza a plufasia necesséria para tal tipo de exagio que tom per principio aincidéncia do gravame na cirulacde de riquezas (MOREIRA, 2012, p. 102 ¢ 111 et seq). R. Frum de Oy, Tiburio —RFDT | Belo Horizont, ano 43, 73, p. 47-82, jan /tev. 2035, 53 REDT_PLMOLinds 59 osnazo1s 112028 (CHRISTIANG MENDES WOLNEY VALENTE cdloulo e sobre a base creditavel serem idénticas, 0 efeito é 0 mesmo que se 0 tributo fosse apurado pelo método subtrative base sobre base direto. A existéncia dessa aliquota intermedidria, portanto, somente se justifica por razées de politica fiscal, permitindo ao legislador alguma margem de manobra para no futuro desmembrar, aumentar ou reduzir a aliquota incidente sobre determinadas despesas e custos a serem creditados. 2.2.2 Método subtrativo imposto sobre imposto © método subtrativo imposto sobre imposto, também conhecido como invoice credit (crédito na fatura) ou tax on tax, consiste em fazer incidir uma aliquota sobre © valor da venda da mereadoria ou servigo (valor faturado), calculando-se o valor do tributo e, em um segundo momento, permitir a dedugéo do valor do imposto pago que incidiu na operagao anterior na cadeia e que fol destacado na respectiva nota, © pressuposto desse método é que o imposto esteja sempre destacado nas notas fiscais de compra e de venda, pois 0 imposto pago na compra é utilizado como crédito para se abater do imposto devido na venda. ‘Como nos demais métodos, as variages direta e indireta sao possiveis, bas- tando para caracterizar o método subtrativo imposto sobre imposto indireto a inci- déncia de uma aliquota intermediando o encontro entre os impostos pagos a serem compensades, Ou seja, se 0 imposto pago nao puder ser integralmente compensado or haver a incidéncia de uma aliquota para a formagao do crédito a ser compensado, d&-se a adogiio do método indireto, do contrario, dé-se 0 método subtrativo imposto sobre imposto direto. Esta Gitima é a forma mais comum no mundo de se empregar a no cumu- latividade. 0 método subtrativo imposto sobre imposto direto é o empregado no IVA de Portugal, que segue as diretivas do IVA europeu, no IPI ¢ no ICMS brasileiros. Na Europa, por ocasiao da formagao do Mercado Comum Europeu, houve a necessidade de se uniformizar a legislacao tributaria dos paises membros, ocasiao ‘em que foi publicada a Primeira Diretiva IVA, de 11 de abril de 1967, para a substi- tuigdo dos sistemas gerais de impostos indiretos por um sistema comum de tributagao sobre 0 valor agregado. A Sexta Diretiva (77/388/CEE, de 17 de maio de 1977) uniformizou a base tributavel para todos os Estados membros da CEE. Em Portugal, foi essa Sexta Diretiva que serviu de base transposiedo do IVA para a legislacao interna em 12 de janeiro de 1986, abandonando-se 0 antigo Imposto sobre Transagdes. Atualmente, o IVA europeu é regrado pela Diretiva n? 112/2006, da Unido Europeia e em Portugal pelo Cédigo do IVA (Decreto-Lei n® 102, de 20 de junho de 2008, publicado com a autorizacdo legislativa do art. 91 da Lei n® 67-A, de 31 de dezembro de 2007). 54 Frm de Dr. Ireatino = RADY 18a Hongo, aro 43,79. AP-82 nen 2088 REDT_PLMOLOinds 58 osnazo1s 112028 |ANKO CUMULATIVIDRDE NO INA EUROPEU E NOS TRIBUTOS BRASILEIROS NAO CUMULATIVOS No que interessa ao ponto em exame, segundo 0 art. 19 do Cédigo do IVA Portugués (NEVES, 2012, p. 347): Decreto.Lei n* 102, de 20 de junho de 2008. ARTIGO 19° Direito a dedugao 4 - Para apuramento do imposto devido, os sujeitos passivos deduzem, nos termos dos artigos seguintes, ao imposto incidente sobre as operacées tributdveis que efectuaram: a) 0 imposto devido ou pago pela aquisigao de bens e serigos a outros sujeites passives; 1b) 0 imposto devido pela importagao de bens; ) 0 imposto pago pelas aquisigSes de bens ou senvigos abrangidas pelas alineas €), h) 1), ))€ ) do n® 4 do artigo 2%; (Decreto-Lei n? 186/208, de 12 de Agosto); 2) 0 imposto pago como destinatario de operagées tributévels efectuadas por sujeitos passivos estabelecidos no estrangeiro, quando estes ndo tenham no territério nacional um representante legalmente acreditado © nao tenham facturado 0 imposto; €) 0 imposto pago pelo sujeito passive a saida dos bens de um regime de entreposto ndo aduaneiro, de acordo com 0 n® 6 do artigo 15°. 2- $6 confere direito @ deducdo 0 impesto mencionado nos seguintes documentos, em nome e na posse do sujeito passivo: 2) Em facturas © documentos equivalentes passados em forma legal; ) No recibo de pagamento de A que faz parte das declaragées de importacdo, bem como em documentos emitidos por via electronica pela Ditecgao-Geral das Alfandegas e dos Impostos Especiais sobre 0 Consumo, nos quais conste o nimero e data do movimento de caixa. © artigo mencionado no deixa dividas a respeito da adogao do método sub- trative imposto sobre imposto direto, havendo, inclusive, meng&o expressa @ fatura ‘em que € discriminado 0 imposto pago (invoice credit No ICMS brasileiro, 0 método subtrativo imposto sobre imposto direto esta previsto diretamente na Constituigao Federal de 1988 (BRASIL, 2013), a saber: Constitui¢ao Federal de 1988 Art, 185, Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: (Redagao dada pela Emenda Constitucional n? 3, de 1993) [...1lI- operacées relativas a circulagao de mercadorias e sobre prestagdes de servigos de transporte interestadual ¢ intermunicipal e de comunicagao, ainda que as operagdes e as prestagées se iniciem no exterior; (Redagao dada pela Emenda Constitucional n? 3, de 1993) [..-] $28 0 imposto previsto no inciso II atendera ao seguinte: (Redago dada pela Emenda Constitucional n® 3, de 1993) R. Frum de Oy, Tiburio —RFDT | Belo Horizont, ano 43, 73, p. 47-82, jan /tev. 2035, 55 REDT_PLMOLinds 55 osnazo1s 112028 (CHRISTIANG MENDES WOLNEY VALENTE |. seré nao-cumulativo, compensandose o que for devido em cada operacao relativa a circulagao de mercadorias ou prestagao de servicos com 0 montante cobrado nas anteriores pelo mesmo ou outro Estado ou pelo Distrito Federal; ...] © inciso foi reproduzido com as mesmas palavras pelo art. 19, da Lei Comple- mentar n® 87/96 (BRASIL, 2013), verbo ad verbum: Lei Compiementar n® 87/96 Art, 19, imposto 6 néo-cumulativo, compensande-se © que for devido em cada operacao telativa & circulacdo de mercadorias ou prestagao de servigos de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicagao ‘com 0 montante cobrado nas anteriores pelo mesmo ou por outro Estado. Do mesmo modo, a Constituigao Federal de 1988 prevé em relacao ao IPI, in verbis: Constitui¢do Federal de 1988 Art, 153. Compete & Unido instituir impostos sobre: [..]IV- produtos industrializados; [..-] §3#- 0 imposto previsto no inciso IV: [a] Il- seré nao-cumulative, compensando-se o que for devido em cada ‘operacao com o montante cobrado nas anteriores; (.. A Carta Constitucional Brasileira, ao se referir ao “montante cobrado” e ao “que for devido”, com toda evidéncia esta se referindo ao imposto calculado na operagao anterior € a0 imposto calculado na operacdo subsequente, compensando ambos, havendo af o encontro dos impostos. A adogéio do método imposto contra imposto 6 mais clara na legislacao do IPI, em que explicita © Cédigo Tributario Nacional (BRASIL, 2013): Lei n® 5.172, de 25 de outubro de 1966. Art, 49. © imposto € nio-cumulativo, dispondo a lei de forma que o montante devido resulte da diferenca a maior, em determinado periodo, entre @ imposto referente aos produtos saidos do estabelecimento e 0 ago relativamente aos produtos nele entrados. |, Neste aspecto, portanto, 0 IVA Portugués, 0 IPI e 0 ICMS estao acordes, enquanto as contribuigdes sociais do PIS/PASEP e COFINS nao cumulativos adotam critério diverso 56 Frm de Dr. Ireatino = RADY 18a Hongo, aro 43,79. AP-82 nen 2088 REDT_PLMOLinds 56 osnazo1s 112028 |ANKO CUMULATIVIDRDE NO INA EUROPEU E NOS TRIBUTOS BRASILEIROS NAO CUMULATIVOS 3 Ndmero de operagoes gravadas Segundo André Mendes Moreira (2012, p. 74), nos tributos sujeitos & nao cumulatividade € importante observar 0 niimero de estagios do processo produtivo que sao gravados. Um ciclo completo do processo produtivo compreende a produgao (fabricagao) ou a importagao, a distribuigao ¢ a venda ao consumidor final. A primeira etapa diz respeito & entrada do produto em circulagao e corresponde saida do produto do estabelecimento fabricante ou a aquisicao do produto pelo estabelecimento importador. Na segunda etapa estao os estabelecimentos distribuidores atacadistas ou 0 estabelecimento importador que fardo papel de distribuir 0 produto no mercado interno para outros distribuidores atacadistas ou para o varejista Na terceira etapa se situam os comerciantes varelistas que fargo a venda para outros varejistas ou para 0 consumidor final, em que se completa o ciclo. De ver que somente a primeira etapa é composta de uma Gnica operagao."* A segunda e a terceira etapas podem ter miltiplas operagées, pois a mercadoria ja est em circulagao, podendo transitar por inimeros atacadistas ou varejistas antes de chegar ao consumidor final. Decerto, os tributos onde 6 possivel a aplicagao da nao cumulatividade tem por pressuposto serem plurifasicos, ou seja, devem incidir em mais de uma etapa do proceso produtivo, do contrario, nao hé 0 que ser cumulado ou compensado. Os tributos que incidem em uma dnica fase do processo produtivo so chamados de monofasicos. Com toda evidéncia, a monofasia exelui a nao cumulatividade. No que diz respeito a0 néimero de operagées gravadas, uma anélise do fato gerador do IVA Portugués e das contribuigdes sociais do PIS/PASEP e COFINS nao ‘cumulativos revela que sao tributos mais completos que 0 ICMS e o IPI. Explico. © IVA no modelo europeu é “...] um imposto geral sobre 0 consumo, que se aplica em todas as fases do circuito econémico por que passam os produtos até ao consumidor final” (ESTRELLA, 2013). Possui um fato gerador alargado que, segundo © art, 12 do Cédigo do IVA Portugués (NEVES, 2012, p. 18), abrange igualmente as transmissdes de bens ¢ as prestacdes de servigos, a saber: Denomina-se operagao todo © qualquer ato ou negécio juridco que imolaue no imputsionamento do bem ‘u mercadra ao seu: destino Fnal, passando desde a origem da cadela econémica até o consumo. Ou sela, todo ato que leve © bem a cicular eccnomicamente em dlregdo a0 consume. [..] Nessa longarina, exsurge © conceito de circulagao econdmica, Ea movimentacao econdmica do Dem desde a sua orgem, passando por todas as fases de agregaeao de valor até chegar a0 consumisor como produto final. € a ideia de que a matériagrima recebe tratamento desde a sua concepeao, sendo beneficiada de maneira a revelar um produto nove, acabiado e pronto 20 consumo, cumrindo todas as fases do ciclo de procucdo do bem. 0 exemplo do sapato € do tecido, que vem desde 9 coure brute € 0 algodo, respectivamente, até chegar as suas cversas cespécles" (ESTRELLA, 2013), R. Frum de Oy, Tiburio —RFDT | Belo Horizont, ano 43, 73, p. 47-82, jan /tev. 2035, 57 REDT_PLMOLoinds 57 osnazo1s 112028 (CHRISTIANG MENDES WOLNEY VALENTE Decreto-Lei n# 102, de 20 de junho de 2008 ARTIGO 12 Incidéncia objectiva 1 - Esto sujeitas a imposto sobre o valor acrescentado: a) As transmissdes de bens e as prestagdes de servigos efectuadas no territério nacional, a titulo oneroso, por um sujeito passive agindo como tal; ') As importagées de bens; ©) As operacées intracomunitarias efectuadas no territério nacional, tal como sao definidas e reguladas no Regime do IVA nas Transacgées Intracomunitarias. As contribuigdes sociais do PIS/PASEP e COFINS nao cumulativos, por incidirem sobre o faturamento global e demais receitas de todas as empresas contribuintes,* também no discriminam bens e servigos, ou as fases do circuito econdmico. Transcreve-se: Lei n® 10.637/2002 ‘Art. 12 A contribuiggo para o PIS/Pasep tem como fato gerador o faturamento mensal, assim entendido 0 total das receitas auferidas pela pessoa|uridica, independentemente de sua denominagao ou classificacao conta, §1° Para efeito do disposto neste artigo, 0 total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e servicos nas operagées em conta prépria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juridica, §22 A base de célculo da contribuigdo para o PIS/Pasep é 0 valor do faturamento, conforme definido no caput. (...] Lei n® 10,833/2003 Art. 12 A contribuigao para o PIS/Pasep tem como fato gerador 0 faturamento mensal, assim entendido 0 total das receltas auferidas pela pessoajuridica, independentemente de sua denominagdo ou classificacdo contabil, 81° Para efeito do disposto neste artigo, o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e servigos nas operagdes em conta propria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa Juridica, §22 A base de calculo da contribuicao 6 0 valor do faturamento, conforme definide no caput. [. =F importante mencionar que a abrangénia das contribuigées ao PIS/PASEP © COFINS no cumulatvas sobre forte golpe om razio de sua limitagdo 3s empresas subometidas 3 apuragao do Imposto de Renda da Possoa Juric (RP) pelo uct real, J que a maior parte das empresas do Brasil ndo ulliz esse regime de apuracao, mas 0s regimes de lucro presumido ou luce arbitrado que S80 mais simpliicados e cisseminados entre as. ‘empresas maneres. Ver at. £0, Il, da Lei r# 10.833/2003, e at. 8%, 1, da Lei n 10.637/2002. 58 Frum de Di, Inbutino— RADI 1Gela Honzant, ano 43, n. 7, p. 47-82, n/t, 2018 REDT_PELMOLinds 58 osnazo1s 112028 |ANKO CUMULATIVIDRDE NO INA EUROPEU E NOS TRIBUTOS BRASILEIROS NAO CUMULATIVOS Ja 0 ICMS, muito embora incida sobre 0 ciclo completo, abrangendo as trés etapas supramencionadas do processo produtivo, sofre restrigdes quanto a prestacéio de servigos, ja que onera somente as prestagdes de servigos de transporte interes- tadual e inter municipal e de comunicagao. Por estas terras, os servigos sao tributados de forma monofasica pelo Imposto Sobre Servigos de Qualquer Natureza (ISSQN) € ainda assim somente aqueles servigos listados expressamente em lei.*® Ou seja, a tributagao genérica sobre os servicos somente é admitida no Brasil nas contribuighes sociais do PIS/PASEP ¢ COFINS no cumulativos e somente para pessoas juridicas. ‘Segue a legislacao do ICMS pertinente (BRASIL, 2013): Lei Compiementar n® 87/96 Art, 12 Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir o imposto sobre operagées relativas a circulagdo de mercadorias e sobre prestagdes de servigos de transporte interestadual e Intermunicipal e de comunicagao, ainda que as operagdes e as prestagdes se iniciem no exterior. Art. 22 0 imposto incide sobre: |-operagies relativas a circulagao de mercadorias, inclusive ofomecimento de alimentagao e bebidas em bares, restaurantes e estabelecimentos similares; Il prestagdes de servigos de transporte interestadual e intermunicipal, por qualquer via, de pessoas, bens, mercadorias ou valores; Ill- prestagdes onerosas de servigos de comunicacao, por qualquer meio, inclusive a geragao, a emissao, a recepgao, a transmissao, a retrans- missao, a repeti¢ao e a ampliagao de comunicagao de qualquer natureza; IV fomecimento de mercadorias com prestagao de servigos nao com. preendidos na competéncia tributaria dos Municipios; V- fomecimento de mercadorias com prestagao de servicos sujeitos a0 imposto sobre servigos, de competéncia dos Municipios, quando a lei complementar aplicdvel expressamente o sujeitar a incidéneia do imposto estadual, §1° 0 imposto incide também: |- sobre a entrada de mercadoria ou bem importados do exterior, por pessoa fisica ou juridica, ainda que nao seja contribuinte habitual do im- posto, qualquer que seja a sua finalidade; (Redacdo dada pela LCP 114, de 16.12.2002) II--sobre 0 servico prestado no exterior ou cuja prestagao se tenha iniciado no exterior, “Segundo a Lel Gomplementar nt 116/203: “Art. 18 0 Imposto Sobre Senvigos de Qualauer Natureza, de Compoténcia dos Muniipios e do Distrito Federal, tem como fato gerader a prestagio de serigos constantes da lista anexa, ainda que esses no se constituam como atWvidade preponderante do prestador. §1° 0 imposto incide também sobre 0 senico preveniente do exterior do Pais ou cuja prestago se tenha iniciado no ‘exterior do Pais. §2° Ressalvadas as excegdes exoressas na lista anexa, o$ eefigos nela mencionados ni ‘leam sujeltos a0 Imposto Sobre Operagdes Relathas a Ciculagda de Mercadorias e Prestagdes de Servigos de Transport Interestadual ¢ intermunicipal e de Comunicacéo ~ ICMS, ainda que sua prestacéo envolva fornecimento de mercadorias |..." (BRASIL, 2013) R. Frum de Oy, Tiburio —RFDT | Belo Horizont, ano 43, 73, p. 47-82, jan /tev. 2035, 59 REDT_PLMOLinds 58 osnazo1s 112028 (CHRISTIANG MENDES WOLNEY VALENTE lil. sobre a entrada, no territério do Estado destinatério, de petréleo, inclusive lubrificantes e combustivels Iiquidos ¢ gasosos dele derivados, © de energia elétrica, quando nao destinados comercializagao ou a industrializagao, decorrentes de operagdes interestaduais, cabendo o imposto ao Estado onde estiver localizado o adauirente. §22 A caracterizacdo do fato gerador independe da natureza juridica da ‘operagao que 0 constitua.[...] Art. 4° Contribuinte é qualquer pessoa, fisica ou juridica, que realize, com habitualidade ou em volume que caracterize intuito comercial, operagdes de circulaedo de mercadoria ou prestagdes de servicos de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicacao, ainda que as operacdes @ as prestagées se iniciem no exterior. Pardgrafo Unico. € também contribuinte a pessoa fisica ou juridica que, mesmo sem habitualidade ou intuito comercial: (Redagao dada pela LCP 114, de 16.12.2002) ||. importe mercadorias ou bens do exterior, qualquer que seja a sua finalidade; (Redacao dada pela LOP 114, de 16.12.2002) II- seja destinatéria de serviga prestado no exterior ou cuja prestagao se tenha iniciado no exterior, Ill-adquira em licitago mercadorias oubens apreendidos ou abandonados; (Redagao dada pela LCP 114, de 16.12.2002) IV - adquira lubrificantes ¢ combustiveis liquidos e gasosos derivados de petrdleo e energia elétrica oriundos de outro Estado, quando nao desti- nados A comercializacao ou industrializagdo. (Redacao dada pela LCP nf 102, de 11.07.2000) Em relago ao IPI, é imposto que onera a produgao (fabricacao), importagao a distribuigdo, nao incidindo sobre a terceira etapa, na qual se dara a venda entre varejistas ou do varejista ao consumidor final. Segue trecho do Cédigo Tributdrio Nacional (BRASIL, 2013): Len? 5.172, de 25 de outubro de 1966. Art, 46. 0 imposto, de competéncia da Unido, sobre produtos industria lizados tem como fato gerador: 1-0 seu desembarago aduaneiro, quando de procedéneia estrangeira; Il a sua saida dos estabelecimentos a que se refere o paragrafo Unico do artigo 51; lil a sua arrematacao, quando apreendido ou abandonado e levado a leildo. Pardgrafo Unico, Para os efeitos deste imposto, considera-se industria- lizado © produto que tenha sido submetido a qualauer operagao que Ihe modifique a natureza ou a finalidade, ou 0 aperfeigoe para 0 consumo. bal Art. 51. Contribuinte do imposto 6 1-0 importador ou quem a lei a ele equiparar; 60 Frum de Di, Inbutino— RADI 1Gela Honzant, ano 43, n. 7, p. 47-82, n/t, 2018 REDT_PLMoLinds 60 osnzos 112027 |ANKO CUMULATIVIDRDE NO INA EUROPEU E NOS TRIBUTOS BRASILEIROS NAO CUMULATIVOS II 0 industrial ou quem a lei a ele equiparar; IIl- 0 comerciante de produtos sujeites ao imposto, que os fornega aos contribuintes definidos no inciso anterior, IV - 0 arrematante de produtos apreendidos ou abandonados, levados a lellao. Pardgrafo Gnico. Para os efeitos deste imposto, considera-se contribuinte auténomo qualquer estabelecimento de importador, industrial, comer- clante ou arrematante, Com efeito, quando a lei se refere ao “comerciante de produtos sujeitos ao imposto, que os forneca aos industriais ou equiparados”, estd restringindo o ambito do fato gerador do imposto dele afastando a terceira etapa do ciclo econdmico. 4 Ativo imobilizado Outro ponto de relevo reside no tratamento que cada espécie tributaria de IVA da aos bens do ativo imobilizado (ativo fixo ou ativo permanente) utilizados na produgao ou prestacdo de servicos para efeito de geragdo de créditos a serem abatidos do tributo. Aqui trés classificagdes sao possiveis: IVA tipo produto (ou IVA bruto), IVA tipo renda e IVA tipo consumo, Examina-se. 4.1 IVA tipo produto (bruto) No IVA tipo produto (bruto) nega-se a possibilidade de a aquisicao de bens para © ativo fixo gerar créditos a serem abatidos do tributo ou de sua base de célculo. Ou seja, qualquer investimento no ativo permanente da empresa gera um tributo pago que se transforma em custo que serd transferido no prego ao elo subsequente da cadeia econémica, havendo cumulagao. ‘Segundo Moreira (2012, p. 76), a denominagao deriva do fato de que a base de incidéncia do tributo equivale a soma do valor de venda das mercadorias e servigos € das aquisicaes de bens de capital (especificamente o ativo fixo)."” Sendo assim, ‘economicamente 0 tributo grava 0 produto bruto das vendas. No Brasil, esse € 0 caso tipico do IPI. Muito embora a Constituigao Federal de 1988 traga em seu art. 153, §32, IV dispositivo que determina a reducao do impacto do tributo *...] sobre a aquisi¢ao de bens de capital pelo contribuinte do imposto, na Muito embora aqui se refira a bens de capital no sentido de que se trata de bens Go atlvo fixo, 0 conceito & tuem mais abrangente, pois ergloba também as bens de uso e consumo. Segundo André Estella (2013), 08. bens do atv fixo/permanente sae aqueles de permanéncia duradourae destinades a mantorofuncionamento, da atvidace empresarial. J4 05 Dens de uso e consumo sao aqueles classiicados no ato evculante ca ‘empresa e tém como principais caracteristicas 0 tempo de via dt inferior a um ane e sua destinagéo para a manutengio dos bens do allo imebilzado nun de Oy. Tivo REBT Belo Hrzante, ano £3, n. 7, p. 47-82, jan tev. 2015 61 REDT_PEMOLoinds 61 osnzos 112027 (CHRISTIANG MENDES WOLNEY VALENTE forma da lei" (BRASIL, 2013), a legislagao ordinéria em vigor ainda nao foi modificada para admitir tal modelo de creditamento, transcreve-se (BRASIL, 2013): Lei n® 4.502, de 30 de novembro de 1964 Art, 25, A importancia a recolher ser o montante do impésto relativo 0s produtos saidos do estabelecimento, em cada més, diminuido do montante do impésto relativo aos produtos néle entrados, no mesmo periodo, obedecidas as especificagées e normas que o regulamento esta- belecer. (Redacao dada pelo Decreto-Lei n? 1.136, de 1970) §1° 0 direito de dedugao sé é aplicavel aos casos em que os produ tos entrados se destinem @ comercializagao, industrializagao ou acon: dicionamento e desde que os mesmos produtos ou os que resultarem do processo industrial sejam tributados na saida do estabelecimento. (Redagao dada pelo Decreto-Lei né 1.136, de 1970) [...] Decreto n® 7.212/2010 - RIPI/2010 Art, 226, Os estabelecimentos Industrials e os que Ihes so equiparados poderdo creditar-se (Lei n® 4.502, de 1964, art, 25): |. do imposto relativo a matériaprima, produto intermedidrio e mate- rial de embalagem, adquiridos para emprego na industrializagao de pro- dutos tributados, incluindo-se, entre as matérias-primas ¢ oS produtos intermedirios, aqueles que, embora nao se integrando ao nove produto, forem consumidos no processo de industrializagao, salvo se compreen didos entre os bens do ativo permanente; [...] A discussao a respeito de ser o IPI um tributo que adota o IVA tipo produto foi levada a julgamento pelo Superior Tribunal de Justiga (STJ) em sede de recurso repre- sentativo da controvérsia, gerando a seguinte ementa (BRASIL, 2013): PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTRO- VERSIA. ARTIGO 543C, DO CPC. TRIBUTARIO. IPI, CREDITAMENTO. AQUISIGAO DE BENS DESTINADOS AO ATIVO IMOBILIZADO E AO USO E CONSUMO. IMPOSSIBILIDADE. RATIO ESSENDI DOS DECRETOS 4544/2002 E 2.637/98. 4. A aquisiedo de bens que integram o ativo permanente da empresa ou de insumos que ndo se incorporam ao produto final ou culo desgaste ndo ocorra de forma imediata e integral durante o processo de Industializagdo 1ndo gera direito a creditamento de IPI, consoante a ratio essendi do artigo 164, |, do Decreto 4.544/2002 (Precedentes das Turmas de Direito Pablico: AgRe no REsp 1.082.522/SP, Rel. Ministro Humberto Martins, ‘Segunda Turma, julgado em 16.12.2008, Die 04.02.2009; AgRg no RESP 41.063.630/RJ, Rel. Ministro Francisco Falcao, Primeira Turma, julgado fem 16.09.2008, DJe 29.09.2008; REsp 886.249/SC, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, julgado em 18.09.2007, DJ 15.10.2007; REsp 608.181/SC, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, julgado em 06.10'2005, DJ 27.03.2006; e REsp 497.187/SC, Rel Ministro Franciulli Netto, Segunda Turma, julgado em 17.06.2003, DJ 08.09.2003). 62 Frum de Di, Inbutino— RADI 1Gela Honzant, ano 43, n. 7, p. 47-82, n/t, 2018 REDT_PLMOLOinds 62 osnzos 112027

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