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eo Primeiras palavras Um relatério da Organiza¢ao das Nagdes Unidas (ONU), divulgado em setembro de 2014, informava que 805 milhdes de pessoas passavam fome em todo o mundo. Esse numero representava um em cada nove seres humanos que viviam no planeta. A ONU ‘também apontava que a maior parte dos que passavam fome vivia em paises em desen- volvimento, Isso nos mostra que, em pleno século XXI, antigos problemas continuam a desafiar a humanidade. Por isso, é cada vez mais importante compreender o mundo € os fendmenos que fazem parte do dia a dia. Para cada problema vivenciado por homens e mulheres em varios lugares da Terra, como a falta de comida ou a distancia entre duas cidades, diferentes sociedades encon- traram diferentes solucées. Entretanto, tendo como referéncia a historia ocidental até o final da Idade Média, essa busca por conhecimento e solucées nao acontecia em relagao as transformagdes e aos contflitos sociais: os choques entre religides, os conflitos geracionais, a estrutura familiar e a organizacao politica e econdmica, entre outros, eram entendidos como fenémenos naturais ou como resultados da providéncia divina. Nesses casos, néo cabia & humanidade interferir. Uma realidade na qual nao se pode intervir no é vivida como um problema, mas como um destino, e um destino néo pode ser objeto da ago humana e do conhecimento cientifico. Somente a partir do século XVIII, por causa das grandes revolucdes que ocorreramno periodo, as sociedades e suas diferentes realidades comecaram a ser discutidas e vistas como construgées passiveis de serem transformadas pela agdo humana. Mais do que isso, essas transformagdes poderiam ser realizadas considerando objetivos tracados pela prépria sociedade, com base em principios éticos modernos que propunham a liberdade, a igualdade e a fraternidade contra a servidao, a hierarquia e a exploracdo, Occontexto social que mudou o modo como as sociedades ocidentais olhavam para si Disice L__._mesmas e as converteu em objeto da ciéncia foi um processo sécio-histérico que envolveu © wowsociologia. _tr@s grandes revolugées: uma econémica (Revolusao Industral), uma politica (Revolugdo seedprgovbr Francesa) e outra cultural (iluminismo). ‘Acesso em: ao 2016, Nesse contexto, 0 conhecimento religioso ¢ filosético construido ao longo dos séculos Site da dscplinadeSocio- foi confrontado com outro mado de compreender a realidade social: o conhecimento logia do Portal Daa Dia cientifico. Somente entdo foi possivel o surgimento da Sociologia, ciéncia que objetiva Educagéo, do estado do Pa compreender os conflitos, as permanéncias e as transformacées das sociedades contem- rand. Apresenta diferentes 5-3 eas, Em conjunto com a Antropologia c a Ciéncia Politica, a Sociologia constitui documentos einformagies Sooeotens. o¢ampo do conhecimento denominado Ciéncias Sociais PF cronotosi fcradoo primeio carso Max Weber de Sociolagiane publica Aética Bras na Escola René Descartes Mance Engels protertantee Live de Sociologia publea Discuz publcam Manifesto epi do Poltica de Sto dométoda omnis ceils Paulo Augusto Comte Erle Durkheim 0 Coli Pedr, Aforma publica Curso de publica ass roflode nero, Copanere eta fsa posta domed possoaserapiimeia | acbnigatoriedade ‘od. frstiuigiodeemine | doensinode Sefeeceadsciina | Sedge Socwopiaemsuagede | Tasesaas cuatarno bial. secundras. O18 Elas buscam compreender a realidade social e propor solugées para os iniimeros conflitos, sociais contemporéneos. Ainda que, na pratica,adivisio entre as tr8sciéncias no sejarrigorosa, por convengo, a Antropologia priotizaos fenémenos culturais, a Ciéncia Politica, as relacées de poder e instituigdes politicas, ea Sociologia, a andlise das relacdes e estruturas socias. Neste capitulo, iniciaremos juntos a caminhada para entender como a Sociologia nos permite desnaturalizar nossas certezas e por que o método cientifico ¢ uma ferramenta indispensdvel para o sucesso dessa empreitada, © As diferentes formas de conhecimento Aespécie humana ndo se limita sobreviver no mundo. Ela também procura entendé- lo € modificé-lo de acordo com as diferentes formas como percebe a realidade. Essa busca, que articula a realidade objetiva (como se apresenta aos sentidos) e a realidade subjetiva (tal qual é percebida pelos individuos), & a matriz sobre a qual se constréi o que convencionamos chamar conhecimento. Podemos definir 0 conhecimento como toda compreensio ¢ prética adquitidas, cuja ‘meméria e transmissdo permitem lidar com as tarefas do diaa dia, Quando uma pessoa age de acordo com sua experiéncia de vida, expressa uma forma de conhecimento do mundo. Correr a favor do vento e segurar um martelo pelo cabo sao habilidades adquiridas com a cexperincia, um tipo de conhecimento construidona vida comm, Do mesmo modo, quando um cientista anuncia uma descoberta, também apresenta um tipo de conhecimento sobrea realidade. Portanto, podemos afirmar que somos todos capazes de produzir conhecimento, mas existem diferengas de acordo com a forma como esse conhecimento é produzido. Orientado pela experiéncia e transmitido por geragdes, 0 conhecimento produzido nas sociedades adquire formas to diversas quanto as préprias sociedades. Pode-se, por ‘exemplo, resolver um problema imediato (como atravessar um rio sem se afogar), res~ ponder 2 uma questao transcendental, isto é, que vai além da nossa existéncia material (como o sentido da vida e da morte), resolver uma pendéncia social (como determinar 0 justo proprietario de uma terra) ou desvendar as estruturas do Universo (de que forma definir a menor particula que compae a matéria). E possivel tentar explicar as mais diversas questdes com base na experiéncia ou mediante 0 que se aprende com os pais, na crenga em Deus ou em um livro sagrado, em sistemas légicos de pensamento ou, ainda, em regras e critérios sisternsticos de inves tigagdo e de verificagao. Desnaturalizar Rideia de desnaturalizagdo ou estranhamento na Sociologia consiste lem perceber os fenémenos sociais como construgées humanas resultantes de outros, fenémenos sociais, rndo como aspectos imutaveis da ratureza Reazado em Sio Pauloo Congress de Sociologia, Cada pemeira Nesse congress, Forestan assocagiode socislogos Femandes apresenta ro pas aAssocacio estudo Oensnede Profisiona ds Socslogos Seciologianaescola so Estado do io de _scundéria reir Janeiro APSER. Sancionoda a Lei 1#11.684/2008, ue torna obrigatriaaincusae da Socolgia como disciplina nas srades cuiculares de Ensino IMédhio em todo 0 pas Aorganizacio E publicade olivro Sancionada a Le Incemmaciona do edagogla do oprimido, 19394/1996, nova ei de “Trabalho reconhece de Paulo Frere, Direizes eases da Ecucarso, aprofissio de referencia paraa ‘que aponta anecesidade dos sodélage. valorzaciodos saberes populares naconstrugo ‘doconhecimento, 1a formagio des alunos de Ensino Mo. ‘onhecimenter de Sociologia pe Rameta & dsouseto sone & Inusiea da eigo no won tomum aaslea 30 long0c8 hese As explicagdes obtidas com regras ¢ critérios sistemticos de investigacao e de veri- ficago constituem a forma de conhecimento que chamamos de ciénci Pela possibilidade de ser criticada e corrigida, pela flexibilidade para absorver inovagées e expandir sua drea de atuagdo, pela eficiéncia na forma como orienta a intervengao no mundo, pelo cardter plural que permite sua pratica em diferentes culturas, a ciéncia € hoje 0 modo mais aceito de producao de conhecimento. No entanto, ainda que ela seja importante para a producao material da sociedade, outros conhecimentos produzidos no dia a dia, baseados na pratica ena experiéncia, estao presentes na vida social. As conquistas das lutas politicas e a eficécia dos saberes tradicionais dos povos, assim como diferentes produtos da inteligéncia coletiva (desenvolvida por meio do trabalho colaborativo e disponibilizada para a sociedade especialmente por meio das novas tecnologias informacionais, como a internet), s80 exemplos disso. ® Conhecimento religioso O fato de a ciéncia ser o meio de produgao de conhecimento mais amplamente aceito nas sociedades industrializadas nao significa que outros meios tenham desa- parecido. Quando o conhecimento sobre o sentido da vida ou sobre como proceder diante da inevitabilidade da morte ¢ fundamentado na crenga em Deus ou em um livro sagrado, ele é chamado conhecimento teolégico ou rel “a “J Religiao A religido pode ser entendida como 0 conjunto de crengas e préticas comuns de uma coletividade, organizado com base em uma ou mais divindades, que determina 05 principios morais desse grupo e suas interpretagées do mundo. Cada expressio ‘ou manifestacgo religiosa se caracteriza por simbolos e rituais especficos. As tradigoes religiosas mais difundidas na atualidade 880 0 ctistianismo, oislamismo, o hinduls- ‘mo, o judaismo e o budismo. Além dessas, existem milhares de outras manifestacdes religiosas em todo o mundo. No Brasil, por exemplo, convivem centenas de religiSes, ‘que podem ser reunidas em cinco grandes grupos: catdlicos, evangélicos, espiritas, afro-brasileiros e de outras manifestagoes religiosas, como 0 islamismo, o judaismo, ‘© budismo e 0 hinduismo. Estas ultimas ‘No Brasil, 92% da populagéo declara ter religiso. Na foto, igeja da ‘epresentam apenas uma pequena parcela ‘Ordem Tercera de Sao Francisco de Assis em Ouro Preto (MG, 2015). das crengas religiosas dos brasileiro. Catélica Apostélica Umbanda e Outras a Evangélicas | Espiritas Candenblé ‘i ‘Sem religido 646% 22.2% 21% 27% 80% Fonte: IBGE. Censodemogrdico 2010 resukados ers de amos Rio de Jane: IBGE, 2012. 20 t 3 : i ; i i i Diferentemente da ciéncia, a religido & um conhecimento sustentado pela crenca na existéncia de uma realidade exterior ao mundo que influencia a percepcdo e a explicago da realidade social. Seus ensinamentos orientam uma compreensao e uma pratica da vida fundamentadas nos principios religiosos. Conhecimento filosofico A Filosofia também procura explicar a realidade. Mas, diferentemente da fundamen tago religiosa, que tem como principio a fé em uma verdade revelada, amparada em um ‘ou mais deuses ou profetas, a Filosofia empreende um esforco para dar sentido racional {a0 mistérios do mundo com base no questionamento e na reflexébo. Ainda que seus resultados no precisem ser comprovados em testes de verificago, eles indo podem deixar de obedecer aos principios da raz3o. Ao procurar responder a questdes como “o que &?", “como €2" e “por que é?”, em outras palavras, a0 buscar a esséncia, a significagdo e a origem das coisas, a Filosofia se vale do pensamento racional e da légica para justificar e sistematizar 0 conhecimento que produz, PER Filosofia e Filosofia das Ciéncias Sociais A Filosofia é uma disciplina académica que esté inter-relacionada com diferentes campos do saber, pois trabalha com ques- tes como a natureza do entendimento, da l6gica, da linguagem e da causalidade. Essas questées séo importantes para © questionamento dos fundamentos da ciéncia promovido pela Filosofia & impor- tante para que a Sociologia continue a se transformar, de maneira que aprimore suas técnicas, renove seu compromisso ético e aperfeicoe os resultados diferentes céncias,entreelas Sociologia. | accirm, a Filosofia das Ciéncias Socials pesquisa os processos de construgéo de conceitos, a relacdo entre a teoriae a realidade, o lugar dos valores em sua ar- ‘gumentacéo, a natureza da aco, o papel da linguagem eas formas para comprovar uma teoria sociol6gica Por esse motivo, existe uma especiali dade filoséfica chamads Filosofia das Cién- cias Socials, que se propée, entre outras coisas, a questionar os fundamentos da construgéo teérica, dos métodos de coleta de dados e dos resultados da Sociologia. ® Conhecimento do senso comum Desde que nascemos, apreendemos continuamente informacées sobre o mundo. A convivéncia em sociedade nos transmite o que é essencial para sobrevivermos. Fsse conhecimento fundamentado na experiéncia, ou na experiéncia que nos é transmitida, ¢ chamado senso comum. E como se a experiéncia fosse um conjunto de fenémenos sobre os quais ndo cabe questionamento e que, por esse motivo, se impoe como a base das opinides, ideias e concepgbes que acabam por prevalecer em determi- nado contexto social. Segundo o sociélogo portugués Boaventura de Sousa Santos, o senso comum ¢ 0 conhecimento vulgar e pratico que orienta nossas ages no cotidiano e thes dé sentido. De fato, na maior parte do tempo, ao tomarmos decides, néo realizamos reflexées elaboradas nem experimentos em laboratério. Apenas agimos de acordo com 0 que consideramos adequado, com base em nossa experiéncia no mundo. Quando o céu fica carregado de nuvens negras, nao é preciso ser cientista para saber que logo vird uma tempestade, Sabemos disso porque, todas as vezes em que choveu, 0 céu tinha sido tomado por nuvens escuras. Senso comum Compreende o conjunto de saberes € praticas produzidos com base nas. experiéncias concretas das sociedades humanas. € construlde pela observacio e pelo aprendizado diante dos fenémenos cotidianos. Etransmitido socialmente ao longo das geracies, em uma ou mais coletividades. 1¢ 5 3 5 A formagao dos Invcuos ptunedade ro eapivlo 3 fo qual 6 aberead o toms (oe soca Ciencia | Estudo sistemético ‘e metédico dos diferentes fendmenos naturals ou soca. E realizado com base na selecdo de um ‘objeto de pesquisa, {que é entdo analisado por meio de um ‘onjunto de técnicas de investigago.e procedimentos de verificagae aprovados coletivamente por um grupo de profissionais da drea do conhecimento ‘em questéo. 22 Socisloga entrevista participante do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, em 2072: coleta de dados templrcos é um dos fundamentos das Ciéncias Socials Pais ensinam filho a andar de bicicleta Acexperiénciae a transmissio de conhecimentos praticos sobre a vida s80 caracteristicas do senso comum, Conhecimento cientifico O escurecer do céu e a tempestade que o sucede podem ser analisados mediante a aplicagdo de um método rigoroso de investigacao que explicaria as causas e consequéncias desse fenémeno, as condigdes em que ele acontece ou sua periodicidade. Ao seguir esse método, o investigador nao apenas produziré um conhecimento valido como também poder promover sua aplicagao util. No século XX, 0 conhecimento formal fundamenta- do na observacao e na experimentagao, aliado a sua aplicacao util, tornou-se a principal caracteristica do que chamamos ciéne © conhecimento cientifico também é resultado da busca constante por explicacbes sobre os diferentes eventos que acontecem em nosso mundo. No entanto, essas explica~ Bes precisam ser construidas mediante rigorosa execuc3o de um método organizado, com base em teorias coerentes e socialmente aceitas. Ciéncia e senso comum: opostos ou complementares? Desde que a ciéncia se estabeleceu como o principal meio de conhecimento dos fenémenos naturais e sociais, sua relago com o senso comum tomou-se objeto de de- bates. De um lado, esto aqueles que a consideram um conhecimento hierarquicamente superior ao senso comum; de outro, os que consideram complementares os dois tipos de conhecimento, O socidlogo Pedro Demo defende que a pesquisa é 0 modo pelo qual se conhece a realidade. A investigag3o é uma caracteristica fundamental da ciéncia. Ao comparar 0 senso comum coma ciéncia, ele afirma que o primeiro aceita a realidade sem questionamentos rnem pesquisas. Isso equivale a afirmar que o Sol se movimenta em tomno da Terra porque © vernos nascer no leste e se porno oeste, Ao contrério, aciéncia é construida com base em pesquisas metodologicamente fundamentadas. Positivismo. Corrente de pensamento criada pelo filésofo francés ‘Augusto Comte (1798-1857), 0 Positivismo est relacionado .20 surgimento da Sociologia como ciéncia, Seumétodo exige ‘que o investigador assuma uma atitude laica e pragmatica ria busca dos principios que governam a vida social, como ‘um fisico que procura identificar as leis do mundo natural. 0 Positivismo defende o principio de que a ciéncia €o caminho para o progresso da humanidade e que s6 se pode afirmar ‘que uma teoria é correta se ela for comprovada por meio de aa métodos cientificos validos. Esta escola filoséfica ganhou race dees forca na Europa na segunda metade do século XIX e come- ensamento sociolégico, _¢0 do XX, perlodo em que chegou ao Brasil, tendo exercido ‘Augusto Comte é0 significativainfluéncia no pais, que expressa em sua bandeira criador do Positivismo. _republicana o lema positivista "Ordem e progresso". Os defensores da oposicao entre cincia e senso comum destacam a ciéncia como conhecimento imparcial eracional, enquanto 0 senso comium é visto comio um olhar parcial e irracional sobre a realidade. Essa concep¢ao tem origem no Iluminismo, movimento intelectual e politico que, ao longo do século XVIII, defendeu a ciéncia como 0 caminho para a superagdo do chamado Antigo Regime. A defesa da ciéncia como tinico conhecimento valido e aceito e a critica 20s outros meios de explicacao do mundo, principalmente o religioso, serviram de fundamento para que, no século XIX, se desenvolvesse uma corrente de pensamento conhecida como Po- sitivismo, Nela, aciéncia € 0 Unico conhecimento util a ser perseguido pela humanidade, a tinica maneira de investigar e conhecer a realidade e a tinica forma legitima de resolver 95 problemas que a impediriam de atingir sua plenitude. Em uma segunda vertente, esto aqueles que consideram a ciéncia e 0 senso comum, conhecimentos complementares. O sociélogo Boaventura de Sousa Santos afirma que a oposico entre ciéncia e senso comum se justificou nos séculos XVIll e XIX, principal mente nas Ciéncias Naturais, para promover a ciéncia como o principal meio de conhecimento do mundo. Na atualidade, tal oposigo no se justifica e deve ser substituida por uma aproximagio que transforme tanto 0 senso comum quanto a ciéncia. Assim, 0 senso co- ‘mum se tornaria menos supersticioso e restrito & tradico, enquanto a ciéncia ficaria mais acessivel e inteligivel a todos, mediante o surgimento de novos veiculos de divulgago cientifica e a universalizacao da educacao. Quem escreveu sobre isso \ Boaventura de Sousa Santos Sociblogo portugués (1940-), especialista em Sociologia do Direito, & defensor da eproximago entre ciénca e senso comum «incentivador da aco dos movimentos socials como meio de enfrentar crises. Dirige atualmente o projeto de investigacdo ‘Alice —espelhos estranhos,ligdes imprevistas: definindo para a Europa um novo modo de partthar as experiéncias do mundo, Boaventura de Sousa Santos enfatiza a importancia da ‘complementaridade entre senso comum eciéncia uminismo Movimento intelectual surgido na Europa no século XVII O lluminismo teve {grande influéncia nas transformasées politicas e ‘econémicas ocorridas nesse periodo. Suas propostas mais relevantes foram a defesa da liberdade ‘econdmicae politica ea valorizagao da cincia como principal meio de compreenséo ‘do mundo. Seus ideais serviram ‘05 interesses da burguesia nascente ‘contra a estrutura social do Estado absolutista, John Locke, Voltaire, Charles de Montesquieu, Jean-Jacques Rousseau e Adam Smith so alguns dos principas tedricos do lluminismo e tveram papel central na construgso do pensamento social contemporaneo. B® Wriee L__ © 0 éleo de Lorenzo Estados Unidos, 1992, Diregio: George Miler. Duragao: 136 min. fos seis anos, Loren- zo recede o diagnéstico e adrenoleucodistrofia (ALD), doenga rara que atinge o cérebro e leva a morte, Desenganados pelos médicos, seus pais passam a questionar a bacia médica tradicional ea buscar alterativas que sejam capazes de impedir ce avango da doenga ou Quem escreveu sobre isso \ Paulo Freire Educador efilésofo pernambucano (1921-1997), revo- lucionou a educagéo a0 criar uma pedagogia eman- cipadora, na qual o educando se liberta das visées naturalizadas pelas classes dominantes e constr6i seu aprendizado utilizando a realidade de seu pré- prio contexto. Em Pedagogia da autonomia, Freire defende que o conhecimento que o educando traz para a escola deve ser respeitado e orientado para que ele possa produzir uma interpretagao critica e no alienante do mundo em que vive. Paulo Freie propés uma nova visSo sobre a teducagao, que valorizava as praticasculturais os saberes populares. Essa percepco de ciéncia e senso comum como formas complementares de co- nhecimento também pode ser encontrada na obra de Paulo Freire. Segundo ele, no ha produgao de conhecimento sem que haja conexdo entre o sujeito que o produz € sua realidade social, Isso significa que 0 senso comum determina o alcance e 0 tipo de conhecimento produzido. Contrapondo-se ao Positivismo, Freire defende que o conhecimento da realidade acontece com base no modo como os individuos explicam © mundo em seu cotidiano e na valorizagéo do saber popular — uma das modalidades do senso comum. Segundo essa visdo, todo conhecimento cientifico teria por objetivo converter-se em senso comum. Assim, em um tempo no qual a ciéncia se tornasse popular, o senso co- mum também passaria a adquirir novo carater, mais critico e menos receptivo a verdades prontas que nao apresentassem fundamentos racionais e objetivos para serem validados. Nesse sentido, ciéncia e senso comum seriam percebidos como complementares Por exemplo, a classe burguesa que liderou a Revolugio Francesa para depor o rei absolutista e proclamar uma repiblica nao aceitou a premissa religiosa que orientava © senso comum, segundo a qual os reis governavam por direito divino. Ao argumentar que os homens eram todos iguais e que seria impossivel provar que Deus escolhera um em detrimento dos demais para governar, o pensamento liberal burgués proclamava que 0s préprios cidadios deveriam decidir, por critérios definidos por eles mesmos, quem seria 0 governante ‘Antes, 0 senso comum aceitava que os reis fossem coroados por ordem divina; hoje ele rejeita essa hipétese, que durante séculos teve valor de verdade. Nas sociedades de- mocraticas ocidentais, acredita-se que o voto confere legitimidade ao governante pelo periodo estipulado para seu mandato. A difusdo dessa concepsao pelo mundo tem sido a base para questionar governos ditatoriais em diferentes épocas e lugares. Mais recentemente, eventos ligados & chamada Primavera Arabe — um conjunto de movimentos sociais que atingiu varios pafses arabes a partir de 2011 — serviram para questionar um poder solidamente estabelecido e que até ento ndo se mostrava passivel de ser questionado. Embora na maior parte dos casos no se tenha alcangado um estado de liberdades democraticas nesses paises, houve o questionamento efetivo da situacso, com consequéncias que impossibilitaram o retorno completo ao estado de coisas anterior a eclosao desses protestos, Jogo musical nspirado ras tradigbesculturals do estado do Maranhio, aplicativa Bumnba objetvafortalecer a identicade regional por melo da descoberta dos ritmos, das paisagens das particularidades faleiéricas locas Alem éo praze ico, 0 jogo incentva os particpantes a mergubhar que reforgam o pertencimento cultural, Para jogar,acesse . Acesso em: 16 fev. 2016. 70 Multidlo de fides no Farol da Barra, em Salvador (8A, 2015). O carnaval, elemento marcante da cultura brasileira, & exemple de uma prética que se originou em outra Sociedade foi absorvda pelos basileiros, adquirindo carster proprio no pats. Culturalismo: trajetérias e percursos culturai Outra critica ao evolucionismo foi feita pela escola culturalista, da qual o alemao naturalizado estadunidense Franz Boas é o principal representante. Para ele, 0 conceito de civilizacdo deve ser relativizado na medida em que depende dos pardmetros utilizados para considerar as representacdes. Segundo esse pensador, as diferencas culturais seriam resultado das trajetérias independentes dos grupos humanos. Assim, nao indicariam uma hierarquia, mas as escolhas e experiéncias de cada sociedade. Um exemplo da aplicagao dessa teoria é a utilizagao que cada cultura dé as inovacoes ‘tecnolégicas. Pesquisas histéricas recentes apontam que os chineses inventaram o papelea imprensa mil anos antes que o Ocidente. © império chinés também ja dominava as tecno: logias necessérias para a construgdo de grandes embarcacées, mas manteve seu isolamento como intuito de proteger sua sociedade. A China sé se deu conta do seu “equivoco" quando nao péde fazer frente as aspiragdes coloniais da Gra-Bretanha nas Guerras do Opio, entre 1839 e 1860. Essa perspectiva de analise antropolégica criou anogSo de relativismo cultural Quem escreveu sobre isso \ Franz Boas Formado nos Estados Unidos, o alemao Franz Boas (1858-1942) rejeitou o evolucionismo e defendeu uma VisBo histérica da cultura por acreditar que ela seria a Jinica capaz de permitir a compreensao das caracte- risticas de qualquer sociedade. Para ele, era fungéo da ‘Antropologia estudar de forma no linear as distingBes entre as culturas, atentando para os percursos diferen- ciados construidos historicarente por cada uma delas. Franz Boas, antropélogo precursor

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