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SAN ©) any od Sa f} et a wre ae & Colegio Titulo Autores Coordenagto Cient fica Copyright Composigi, impressio ® acalamentos capa Distrbuigto © Encomtdas ISBN Depésito Legal FICHA TECNICA Investigacao em Psicologia Metodologia da Investigacio ‘em Psicologia e Educacio 4° Edigao, Outubro de 2007 5° Edigho, Dezembro de 2008 Leandro $. Almeida e Teresa Freire Leandeo 5. Almeida Miguel Gongalves © Psiguilbris Edicbes Candeias Artes Graficas Braga www:candelasag.com Miguel Candeias Psiquiltoios Edigdes Rua José Maria Ottoni, 56 4715-308 Braga ‘Tel. 253 284 517/964 145 134 psiguilibrios@gmail.com editora@psiquilibrios pt wwwepsiquilbrios pt 978-972-97388-5-2 28478508, [Nenhuma parte desta publicaso pode ser ‘eprodurida por qualquer mei, sem previa autorizagdo 4 elon por ese indice Geral Nota Prévia Introdugdo CAPITULO I: A investgasio psicoigica (© conhecimento cientifico Caracteristicas do conhecimento cientifico Produgio do conhecimento cientifico, ‘A investigagao cientifca.... Objectivos da investigagao Modelos de investigagao . (0 processo de producio do conhecimento cientifico Bibliografia.... CAPITULO II: Problema, hipéteses e varidveis Definigio de um problema . Passos na definigéo de um problema. Revisto bibliogrética Hipéteses CClassificacio das hipsteses Aceitagio e rejeigio das hipéteses Varidveis Estatuto das varidveis na investigagio Parametros de medida das varidveis Natureza da medida das variaveis Escalas de medida das variéveis AAs varidveis no quadro dos modelos de investigacao Bibliografia. 8 v 19 a 2 9 31 37 41 8 48 2 5 6 a n % Ceptate 1 A tvestiapi Pieler presente capitulo aborda os aspectos relativos a investigagto psico- logica, centrando-se nas questdes relativas ao conhecimento cientifco em geral, como sejam as caracteristicas do conhecimento cientifico,e & prépria produgéo do conhecimento cientifico. Estas questdes permitem-nos, de algum modo, um maior enquadramento dos aspectos relativos & investiga- ‘go cientifica jé que esta em causa a cientificidade de uma érea do conhe- cimento. Assim, consideraremos os objectivos da investigacio, 0s modelos de investigagio existentes e, também, a tipologia das investigagies em Psicologia e Educacio. Estes sio assuntos essenciais a que qualquer investigador deve aten- der quando pensa executar uma investigagao cientifica. Desde logo, 0 in- vvestigador deve estar consciente que a sua investigagdo obedece a deter- rminados requisitos cienificos que devem ser ponderados e respeitados. O conhecimento cientifico Falar em conhecimento cientifico ¢ falar em ciéncia, Certamente que nem todo 0 conhecimento que possuimos, ¢ que diariamente utlizamos, se pocte incluir dentro da classificagdo de conhecimento cienifico. No entanto, as nossas decisses mais pensadas, e sobretudo enquanto profissionais, sero tanto mais adequadas quanto mais validadas pelo conhecimento cientifico. Certamente que, as grandes alteragdes sociais ndo passam apenas pelos re- sultados das investigages, pelo menos na sua explicagio mais proxima, contudo € impossivel dissociar os avangos civilizacionais da investigacio entretanto operada e do aproveitamento dos seus produtos mais diretos. termo cigncia, do latim scientia, significa “conhecimento, doutrina, cerudiglo ou pratica” (Arnal eal, 1992), Progressivamente foi acrescentado © cardcter sistemético ou organizado de tal conhecimento, Hoje podemos definir ciéncia por “conjunto organizado de conhecimentos sobre a teali- 15 ‘Metodlai da bnsstgnio em Pailin Eiuengto dade e obtidos mediante o método cientifico” (Bravo, 1985). Na descrigao deste método importa salvaguardar 0 seu cardcter empitico, diferenciando este conhecimento das especulagdes ou abstracgdes puras. Mais recentemente, ainda, 0 termo ciéncia surge usado como 0 "co- hecimento em si" e como determinada maneira de produzir conhecimen- to. Neste iltimo caso, cidncia define-se por um modo de conhecimento Tigoroso, metédico e sistemético que pretende optimizar a informagdo disponivel em tomo de problemas de origem teérica e/ou pratica (Arnal tal, 1992), sendo a sua principal funcao a compreensio, explicacao, digdo e controlo dos fenémenos. Assim, e cada vez mais, a ciéncia apoia a tomada de decisdes e os processos de mudanca da realidade. No caso da Psicologia, podemos afirmar que, enquanto ciéncia, procura descrever, explcer, predzer e controlar 0 comportamento humano. Neste sen- tido, podemos definir ts tipos de investigaclo: a investigacio descritoa, a investigagéo correlacional e, ainda, a investigac&o experimental, cujas caracte- risticas podem ser visualizadas no quadro que se segue (quadro 1.1) QUADRO 1.1 ~ Tipos de investigagio Orr ‘Tipos de lnvestigagto Deseritiva Correlacional Experimental Descrever um fendmeno _Relacionar varidveis__Procurar relagbes causais Tdontifcar variveis Apreciarinteracgio__Predizer e controlar de variéveis fenémenos Tnventariarfactos Diferenciar grupos Estabelecer les Alguns dos conhecimentos disponiveis quer na Psicologia, quer nas demais Cincias Sociais e Humanas, poderio nao se enquadrar numa definigdo restrita de “conhecimento cientifico”. Por exemplo, é possivel a coexisténcia de teorias diversas para explicar um mesmo fendmeno, o que 16 Capitulo 1+ A nose Pcie {findo é tio frequente nas ciéncias ditas “naturais” ou “exactas”, sobretudo quando esté em causa a replicagdo de um fenémeno. Isto explica, aliés, que nas Ciéncias Sociais e Humanas duas teorias distintas se apoiem em dados de investigagao para se afirmarem como veridicas ou explicagées plausi- veis. Nesta altura, e a0 contrétio das citncias mais exactas, podemos afir ‘mar que os dados empiricos nao s4o utilizados para a recusa de uma teoria, aspecto que segundo Popper delimita as teorias cientficas das ndo cientifcas (Popper, 1987). AA singularidade dos objectos nas Ciéncias Sociais e Humanas aparece indubitavelmente associado aos condicionalismos que para uns ¢a faque- 21 e para outros a nobreza do estatuto cientifico destas ciéncias. Falaremos, 0 longo deste capitulo, da especificidade deste objecto e das possiblida- des ou exigéncias do seu estudo segundo uma metodologia cientifica, Comegaremos, no entanto, por caracterizar o que se pode entender por “conhecimento cientifico” Caracteristicas do conhecimento cientifico O nosso conhecimento sobre a realidade que nos circunda pode apre- sentar diferentes origens e assumir diferentes caracteristicas. Por exemplo, podemos possuit um conhecimento vulgar ou comum sobre as coisas que mais povoam 0 nosso quotidiano, Muita da informacio que nos legam os nossos antepassados e educadores exemplificam esse tipo de conhecimen- to. Ao mesmo tempo, a manipulaglo que vamos fazendo sobre os objectos sicos e o mundo que nos rodeia, permite-nos um conhecimento prético sobre os mesmos. Ambos estes conhecimentos sio espontaneos e integram © que se designa por “conhecimento comum”. Eles fazem parte do nosso quotidiano e, por norma, s4o conhecimentos pouco sistematicos e pouco certicos. Mesmo assim, fazem parte do nosso quotidiano e podem assumir- -se como fundamentais num grande nimero das nossas deci v7 ‘Metodlesia da Invstigngoom Palo Edengo O conhecimento cientifico é, por ineréncia, mais organizado, sistemé- tico e preciso na sua fundamentagao. Assistesthe, ainda, caracteristicas de racionalidade e objectividade. E um conhecimento obtido através do mé- todo cientifico, e de entre as suas caracteristicas, podemos salientar as seguintes: (}) objectivo: descreve a realidade como ela é ou pode ser, mesmo que falivel e apenas temporariamente correcto, mas nunca como gostariamos que fosse; (i) empirico: sempre baseado na experiéncia, nos fenémenos efactos; (ii) racional: mais assente na raz3o e na ldgica do que na intuigio; (iv) replicavel: as mesmas condigdes, em diferentes locais e com di- ferentes experimentadores, devem replicar os resultados, ou a sua comprovagao pode ser feita por pessoas distintas e em cir- cunstancias diversas; w sistemético: conhecimento organizado, ordenado, consistente e coerente nos seus elementos, os quais formam uma totalidade coerente ¢ integrada num sistema mais amplo; (vi) metédico: conhecimento obtido através de procedimentos e es- tratégias fiaveis, mediante planos metodolégicos rigorosos; (vii) comumicdvel:conhecimento claro e preciso na sua significagso, reconhecido e aceite pela comunidade cientifica; (iti) anatftico: procura ir além das aparéncias, procura entrar na com- plexidade e na globalidade dos fenémenos; e (x) cumulative: conhecimento que se ensaia, constéi e estrutura a Partir dos conhecimentos cientificos anteriores. 18 Capitulo 1-4 resin Pailin Produgio do conhecimento cientifico A Cigncia assenta em alguns conceitos basicos, ou seja, a sua reali- dade e linguagem propria. Neles se inclui a cadeia: facts (realidades), ‘endmenos (ocorréncias) e dados. Factos sio tudo aquilo que se conhece ou se supbe a propésito da realidade, os quais, quando circunscritos no espa- 0 ou no tempo, denominam-se acontecimentos. Estes quando sdo estuda- dos pelo investigador designam-se fenémenos, sendo a informacio deles extraida designada por dads. Os dados identificam-se, entao, com todo 0 tipo de informacio descritiva da realidade, como por exemplo enunciados, afirmagies e negacdes. Sempre que possivel uma ciéncia apoia os seus postulaclos tedricos em dados observveis e replicéveis. Contudo, e isto em qualquer ciéncia, parte da sua érea de conhecimento cientifco nao foi nem é directamente observavel [Nas Cigncias Sociais e Humanas, inclusive, aceita-se que s6 uma parte dos factos que ocortem é directamente observaveis. Também por causa disso, importa, entio, acautelar os procedimentos metodolégicos e as afirmacoes que se produzam neste processo de construgéo de conhecimento. O iinvestigador, partindo das relacées entre fenémenos, procura evi- déncias para afirmar, descrever ou negar factos. Por exemplo, seré que 0 consumo de élcool no trabalho pode estar associado a desmotivacio dos trabalhadores e as condigdes menos agracveis onde exercem as suas fun- es? Aqui, importa apreciar as relagées ou as conexdes que se podem estabelecer entre os fendmenos antes de se formularem ilagées conclusivas. ‘Uma atitude correcta, e a vinica do ponto de vista da “investigacio cien- tifica”, procura aprofundar quais sio os fenémenos e as relagées que ‘mantém com os factos, nomeadamente apreciando a cadeia ou tipo de relagies, antes de se estabelecerem ilagbes. Existem diferentes tipos de relagOes. Quando as relagées sto geras, necessérias e constantes elas constituem-se em leis. Uma lei assume-se, en- 19 Metal Inestiggso om Paci ¢Eaveno to, como uma relago constante numa estrutura, independente das mudan- «as nas suas partes ou nas propriedades dos fendmenos. A ciéncia procura relacées constantes e invariaveis, ou seja, leis. Na investigagao cientifica ‘uma lei é precedida de uma conjectura, ou seja, uma resposta ou explicacdo proviséria de um dado problema descrito sob a forma de relagdes entre fenémenos (veremos mais & frente 0 conceito de hipétese aqui envolvido). AAs relacdes que se possam estabelecer entre factos fenémenos tém ‘um papel importante no processo de investigacao cientifica. Este processo a propria ciéncia sio movidos pelas tentativas de compreensao, explica- fo ¢ predicdo de tais relagdes. Quanto mais geral, constante e necesséria ‘uma relagdo, melhor capacidade preditiva apresenta em relagio aos fenémenos implicados. Para poder explicar e predizer 0s fendmenos & necessério um sistema de relagdes, contrastadas mediante dados empiticos. Tal sistema € designado por teoria, ou seja, sistema ou quadro descritivo, «ese possivel explicativo, predictor e controlador (muitas vezes provisério) dos fenémenos. Na descrigfo de uma teoria, devemos considerar 05 seus elementos constitutivos (Kerlinger, 1979): os conceitos ou varidoeis que descrevem os ferémenos (com frequéncia construtos hipotéticos), as relagies entre os conceitos ou varidveis que descrevem os fendmenos, as explicagbes dos ferémenos descritos e suas relagbes, e as predigdes de umas varidveis a partir das outras. ‘Uma teoria possui varias caracteristicas. Em primeiro lugar é um sis- tema relacional de leis gerais, necessérias e constantes capazes de descre- ver, explicar e predizer os fenémenos em estudo, Em segundo lugar, uma teoria deve permitir a formulagio de dedugdes dentro do seu ambito es- pecifico (sistema hipotético-dedutivo). Em terceiro lugar, uma teoria é sem- pre provisoria (a historia tem progressivamente demonstrado a falsidade de teorias que, em dado momento, eram dadas como certas), embora isso do impega a sua utilidade. 20 Capita 1 A Investigate Pseigien Finalmente, enquanto aceites pela comunidade cientifica, as teorias tém varias vantagens. Elas permitem-nos ter um sentido global do que é conhecido sobre fendmenos dispersos, simplificar miltiplos dados através da consideragao dos seus aspectos e relagies mais pertinentes, e manter a tensio inerente a testagem de novas hipéteses em face do seu sentido heuristico (Pinto, 1990, pp. 17-8) A investigacio cientifica Aeexpressio “investigacio cientifica” 6, de alguma forma, tautolégica Com efeito, a investigagao ou é cientifica ou nao & investigacio. Os dois termos esto indubitavelmente associados. A expressio, aqui, pretende apenas vincar algumas exigéncias do método cientifico, ou seja, 0s méto- dos, meios ou passos que definem a metodologia da investigacéo (Alferes, 1997, p. 19) Objectivos da investigagio Na condugéo de uma investigacio, o investigador € orientado por determinados objectivos operacionais. Estes v3o depender da natureza dos fenémenos e das varidveis em presenca, bem como das condigies de maior ‘ou menor controlo em que a investigagao vai ocorrer. Tais objectivos po- dem ser apresentados de uma forma mais descrtiva ou mais explicativa (Amal etal, 1992, pp. 98-9), ‘Assim a um nivel mais descrtivo, podemos identificar um primeiro objectivo da investigacio, como sendo o da “inventariagio” das caracteris- ticas num grupo ou dos valores que pode assumir tuma varidvel, Incluem- se aqui, 0s estudos centrados na descricfo de grupos populacionais, os levantamentos, os recenseamentos ou estudos epidemioldgicos. Geralmen- a -Metoelgi de Instigate em Paci «Eavcngo te o investigador centra-se na quantificagio do ntimero de elementos que descrever uma ou mais situacbes, ou uma out mais variaveis. Numa escala poderemos, por exemplo, tentar descrever a proveniéncia sécio-cutural dos alunos considerando a profissao dos pais, o meio urbano ou rural de pro- veniéncia, entre outros, ¢ tudo isso em fungdo do ano de escolaridade que frequenta e niveis de rendimento escolar. Ainda a um nivel mais descriti- vo, a investigacio pode agora avangar para a “descrigio de uma eventual relacio entre fenémenos”. Aqui a investigagao pode tentar identificar as. componentes descrtivas dos fenémenos, as suas caracteristicas, o seu ni- vel ow intensidade e 0 grau de variagéo conjunta que podem apresenta. Para este objectivo, o investigador pode comparar, isto é,recolher vatios conjuntos de dados e estimar eventuais diferencas em termos de propor- «io ou de médias, pode associar, ou seja, apreciar o grau de variagao con- junta apresentada por dois ou mais conjuntos de dados, ou pode ainda correlacionar, isto é, apteciar 0 grau de variagio conjunta de duas ou mais varidveis, ou em que medida os valores de uma variével tendem a apare- cet associados com a variagao dos valores na outra. Por exemplo, 0 inves- tigador pode comparar a frequéncia dos comportamentos deficitarios de atencio de uma crianga dentro e fora da sala de aula, pode associa tal frequéncia com 0 decurso da semana escolar, ou pode ainda correlacionar 4 frequéncia de tais comportamentos com o grau de interacgdes verbais e cculares que 0 professor estabelece com a turma, Outro objectivo, que ultrapassa jé o nivel descritivo, pode situar-se na predigio das categorias ou valores dos fenémenos. Neste caso, 0 investigador rocura, por exemplo, caleular o grau ou a probabilidade de ocorréncia dos fenémenos ou variéves através da andlise da sua ocorréncia em deter- ‘minadas condigdes ou através dos valores que uma outra variavel associa- da verha a assumir. Muitas das decisdes dos psicdlogos no seu quotidiano profissional decorrem deste tipo de estudos: seleccionam os sujeitos para determinado posto de trabalho em fungdo dos seus resultados nos testes, 2 capitate A boston aconselham determinado tipo de psicoterapia em fungio do diagnéstico da pessoa e da situacio, sugerem determinadas medidas educativas face as caracteristicas pessoais e de aprendizagem do aluno. Por iltimo, 0 objectivo do investigador pode situar-se na explicagio as relagdes de causalidade entre os fertémenos. Neste caso, determina-se 0 sentido e a intensidade de uma relagdo entre fenémenos através, soja da comparagio, em que dois grupos aleatsrios submetidos @ determinada con- digo experimental podem ser comparados, no final, nas suas respostas ‘numa determinada variavel; seja da correlacio, isto 6, varios modelos estru- turais causais hoje disponiveis possibilitam realizar inferéncias de causali- dade, tomando as interdependéncias e as influéncias de miltiplas varié- veis em estudos ndo estritamente experimentais. Um exemplo para o pri- meio caso pode ser a extinggo de uma resposta quando o sujeito nao retira dela qualquer proveito — veja-se a crianca que a partir de uma certa idade deixa de chamar a atengdo dos pais através do choro; no segundo caso, podemos afirmar que a relagio entre os niveis de capacidades possuidas € 0 rendimento no trabalho é mediatizada quer pelo sentido que as tarefas tém para o sujeito, quer pelos incentivos que ele recebe em funcio da sua produtividade, Modelos de investigacio Varios critérios podem ser utilizados para deserever ou elaborar taxonomias das investigagdes em Psicologia e Educacio. Por exemplo, em termos da sua finalidade elas podem ser mais movidas pela descoberta e fixacio de leis getas, estando entdio em causa a investigacio bisica ou inves- tigagio pura; ou movidas pela resolugéo de problemas concretos e particu- lates, investigacio aplicada ou investigagio prétiea; ou, ainda, movidas por alguma forma de conciliagio de ambas as posturas anteriores, por exem- plo naquilo que vem sendo chamado de “inoestigagao-acclo”. 23 Maton Iostgagto em Plo «Ean Por outro lado, e em termos de profundidade do estudo, as investiga- ses podem distribuir-se num continuum cujos extremos seriam as explo- ratdras e as experimentais, ficando como niveis intermédios as descritius ¢ a8 corrlacionais. Nessa altura caminhamos de um grau mais indutivo ou de descoberta de pontos de continuidade ou pregnancia numa dada rea- lidade (exploratéria) para um nivel mais dedutivo em que importa testar relacdes causa-efeito jf devidamente estudadas (experimental). Em termos da sua prépria metodologia, as investigacées psicol6gicas podem ser objecto de varias classificagdes. Por exemplo, elas podem ser ‘mais quantitaivas ou mais qualitativas, podem ser mais Iaboratoriais ou mais de campo (sobre o terreno), podem ser mais estudos de indole transversal ‘ou longitudinal. Por Ghimo, temos a investigagao essencialmente dirigida pela busca das leis gerais (0 mais frequente), ou sea, a investigagio nomolética; € a investigagdo centrada na peculiaridade ou singularidade, ou seja, a investigagio idiogrifca Duas perspectivas basicas podem caracterizar, grosso modo, as investi- gacOes nas dreas da Psicologia e Educacéo. Uma primeira, que definiiamos como enpiiconnalitica, e que aparece frequentemente confundida (iden- tificada) com outras expressoes como investigacdo quantitatva, positivista e experimental. Uma segunda, que definirfamos por humanisla-interpretaiva, ¢ que aparece por norma mais associada a expressées como investigacio qualitativa e naturalista, No primeiro caso, a investigagao tem como objec tivo explicar, predizer e controlar os fenémenos. Considerada como préxima das ditas “Ciéncias Exactas” ou "Ciéncias Naturais", a investigagao busca aqui as regularidades e leis explicativas através dos esforgos colocados na objectividade dos procedimentos e na quantificagao das medidas. A aplicago do método experimental ao estudo do comportamento hhumano coloca algumas dificuldades, como ja deixamos antever. A comple- xidade dos fenémenos psicol6gicos ¢ educativos é bem maior que a dos fenémenos, em certo grat regulares e transponiveis para laboratério, que mM CCaptato 1A browse Piolen ‘encontramos nas Ciéncias Naturais. A sua defesa em absoluto ou em exclu- sivo pode dar origem a posigdes reducionistas ou mecanicistas do funciona- ‘mento e desenvolvimento psicolégico, bem como a posigdes menos cientifi- «as face a0 objectivo de conhecer uma dada realidade na sua especificidade. Varios fendmenos sto dificeis de observar sem serem afectados, muitas si- tuagdes sio irrepetiveis, muitos resultados obtidos so imbuidos de algum attificialismo pouco condicente com a complexidade, a dindmica e a natu- teza interactiva dos fenémenos psicoldgicos Educacionais. A segunda perspectiva constitui-se em reacgdo ® primeira, assumin- do-se como uma perspectiva marcadamente anti-positivista. A realidade psico-educativa 6 percebida como mais dindmica, fenomenolégica e asso- ciada & historia individual e aos contextos. O seu estudo nao poderd ser feito sem 0 recurso a propria perspectiva dos sujeitos implicados nas situa- ‘bes. A par dos comportamentos observaveis, torna-se necessério conhecer 0s sistemas de crengas e de valores, os sistemas de comunicagio e de relaglo, bem como as suas representagdes para os individuos ou grupos em causa. Interessa particularmente aqui olhar aos significados e as inten- G6es das acgbes humanas, Assim se explica, entdo, a maior importancia atribuida aos métodos mais qualitativos que quantitativos, aos métodos mais holisticos e ideogréficos que “manipulativos” e nomotéticos. De entre estes métodos qualitativos destaca-se a andlise de conteido, A sua aplicacio ocorre com dados provenientes de entrevistas, documentos 0u outro tipo de registos. A andlise de contetido integra, ou pode integrar, uma andlise de pendor mais quantitativo e outro mais qualitativo. A pri- meira, mais extensiva, centra-se na frequéncia de diversas categorias do contetido, por exemplo. A segunda é mais intensiva e tende a centrar-se nas informagées, possivelmente menos frequentes, mas mais detalhadas e complexas com a preocupagao de af detectar presenga ou auséncia de certas caracteristcas do discurso. Se no primeiro caso, a informacio assim recolhi- da pode servir um objectivo de testar uma hipétese, neste iilimo caso a 25 Metal taestigogso om Peleg Educgo informagao pode ser particularmente itil para ensaiar ou projectar hipste- ses. Importa acrescentar, por iiltimo, que a par de uma andlise tematica do discusso, a andlise de contetido pode e tende a avancar para uma anélise ‘mais estrutural (revelar a estrutura subjacente mais que o contetido em si ‘mesmo, buscando a inteligibilidade do proprio discurso, por exemplo) Claro que, também alguns reparos e criticas podem ser feitos a esta perspectiva. Em primeiro lugar, o peso da subjectividade nas suas anélises conclusdes. Em segundo lugar, a pouca capacidade de fundamentar con- clusdes no sentido da sua generalizagao ou da descrigdo dos fenémenos a0 longo do tempo e do espago (regularidades, leis), mesmo que se afirme 1ndo ser esse 0 seu objectivo. Certamente que a investigacao psicolégica e educacional ficaria igualmente pobre quando reduzida a esta perspectiva, ou sem ela. O mesmo aconteceria em relagio & perspectiva anterior. De acordo com o afirmado atrés, varias modalidades de investigagao psico-educativa podem ser apontadas. Mencionaremos aqui as trés moda- lidades da investigagio mais frequentes na Psicologia e na Educagao: a quan- titatio-experimental, voltada essencialmente para a predigdo e explicagéo ipdteses; a quantitativo-crrelacional, vol- através da testagem de teorias e tada mais para a compreensio ¢ a predigao dos fendmenos através da formulagdo de hipsteses sobre as relacdes entre variaveis; e a gualitatioa ‘mais dirigida & compreensio e descricao dos fendménos globalmente con- siderados. (QUADRO 12 ~ Modalidades de investigacio cientfica Modalidades de Investigasio Quantitativo — ‘Quantitative - Qualitative Experimental Comelacional Predigio e explicagio _Compreensio e prediqio _Compreensio e descrigio dos fendmenos dos fenémenos dos fendmenos 26 Coptale 1 A tava Pcgen Claro esta que outras classficag®es s2o possivels. As proprias desig- nagbes sio miitiplas, dependem de autor para autor, ¢ todas elas acabam por dar uma atengio maior a um ou a outro aspecto. Voltaremos ao assun- to no capitulo dedicado aos planos da investigacao. Para jd, fiquemos com a ideia que o primeiro paradigma decorre da aplicagio do método expe- imental dedutivo-positivista, mais caracterstico das cigncias naturais ¢ exactas, na Psicologia e na Educacio. (O segundo esté particularmente identificado com os modelos corzela- cionais de andlise e com os esforgos da Psicologia e da Educagio de expli- cagéo do desenvolvimento psicol6gico, dos comportamentos humanos ¢ dos rendimentos por referéncia a outros construtos ou variéveis intemas (veja-se 0 recurso a0s testes psicoldgicos como instrumento privilegiado de observacio nesta segunda corrente de investigagio) ou externas (veja- -se a tentativa de explicar o rendimento escolar do aluno recorrendo-se as variveis sécio-culturais de origem), Finalmente, 0 terceiro modelo de investigagio tem vindo a ganhar importancia, nos iltimos anos, em face da maior abrangéncia da sua ané- lise e do miimero de varidveis (inclusive fenémenos) que procura abarcar. Para este ultimo modelo, encontramos expressdes como perspectiva cetnogréfica ou perspectiva naturalista, de algum modo decorrentes do tipo de instrumentos de observacio usados preferencialmente nesta abordagem (observacio directa, realizagao de entrevistas, atencio aos significados e aos contextos). Também algumas vezes é designada de perspectiva quali- tativorinterpretativa, dado assumir uma menor postura nos aspectos da quantificagao e da manipulagdo-explicagio dos fenémenos. Préximas deste iltimo modelo, foram surgindo algumas subdivisdes com caracteristcas proprias e assentes também em objectivos mais especi- ficos. Veja-se 0 caso da designacio investigapao-ncgio que, defensores de tuma ligacdo estreita entre investigacao e pratica profissional, nos sentimos motivados a apresentat. 0 seu uso parece decorrer de um predominio de a Mutat de tstigagio em Psat «Evento questdes de ortlem prética sobre as de investigacio, e onde objectives como a transformacio da realidade, auto-consciéncia dos-individuos (e seus grupos de pertenca) ou o desenvolvimento social mais lato aparecem fre- quente e explicitamente formulados. A investigagio-acgio surge, assim, como o estudo de uma situagdo social com o fim de melhorar a qualidade da acgdo dentro da mesma. Apartit das, acgbes, sua discussio, compreensio e alteracio, esperam-se modificagdes, ‘em consonancia, nas situacdes. Destes aspectos de participagao e mudanga associados a “investigaco-accao” decorre a tomada desta como ciéncia critica ou, se quisermos, uma decisio politica na medida em que envolve rmudancas das pessoas ¢ instituigbes, a busca das melhores condigBes de vida e, inclusive, a participagio democratica de todos (por vezes fala-se em investigagio-acgo participation). Citando Simoes, “0 resultado deverd set ‘um triplo objectivo: produzir conhecimento, modificar a realidade e trans- formar os actores" (Simdes, 1990, p. 43). Sob designagdes nem sempre coincidentes, o uso de métodos de in- vvestigacio no quadro do paradigma da investigacio-acgio diminuiu nos ‘anos 60, voltando de novo a ressurgir 0 seu interesse nos iltimos tempos (Amal et al, 1982, p. 246). Algumas “fragilidades’, as quais poderio ter justficado 0 seu menor uso durante a década de 60, podem apontar-se: a dificuldade em precisar o seu significado; a dificuldade de acordo entre os autores a propésito do seu ambito lato e restrito; a ambiguidade da sua natureza; e, a helerogeneidade dos seus procedimentos (Amal eta, 1992, p. 247), Alguns princfpios da investigacio-accfo podem ser defi dendo as sistematizagdes de diferentes autores. Em primeiro lugar, a metodologia da investigagio-acglo na sua aplicagao tem sempre aspectos de indole pratica a atingir, por exemplo integra-se num processo ou programa de mudanga, onde o saber (novo conhecimento) e a prépria mudanga so- cial se podem construir em paralelo. Em segundo lugar, a metodologia da 28 Capitale 1 A Inetiaea Paicolgcn investigneio-acgo caracteriza-se por uma atitude continua de fases de pla- nificagio, acgdo, observacao e reflexao, e onde se pondera sempre o feedéack entre elas. Em terceiro lugar, a investigneio-acgo requer 0 envolvimento de cutis que néo apenas o investigador no projecto e, por norma, os pré- prios elementos das comunidades e instituigdes que no os integrados na equipa de intervengao e/ou de investigacio (Simdes, 1990). Neste sentido fala-se de uma investigagio-intervengao participativa, participante ou coope- rante. Estas expresses salientam o envolvimento e o enriquecimento miituo esperados. Nas Cincias Sociais e Humanas, dé-se bastante importincia & dis- cussio dos paradigmas de investigagio. Acredita-se, em particular, que © paradigma adoptado pelo investigador determina, no s6 as opcoes metodolégicas, como estas afectam, ou podem afectar, os dados, o seu tratamento e as respectivas conclusdes. Hussén vai mais longe dizendo que o proprio paradigma “decide” a escolha do problema e a sua for- mulagio por parte do investigador (Hussén, 1988). Assume-se, assim, que o paradigma é um referencial dominante numa determinada comu- nidade de investigadores a propésito dos problemas e da sua aborda- {gem cientifica, havendo progressivamente maior abertura a diversidade © processo de produgdo do conhecimento cientifico A producio do conhecimento cientifico assenta em dois elementos informativos bésicos: os dados ou observacdes e as teorias ou postulados tericos. No primeiro caso, o método cientifico confunde-se com um mé- {odo indutivo de compreensio da realidade. Aqui, o investigador em face da necessidade de mais informacéo sobre um dado problema, ou de uma “teoria” compreensiva sobre o mesmo, parte de um conjunto parcial de 29 Metals Iesigapto em Paci Educgo dados para a elaboracio de um resumo descritivo dos fenémenos obser- vados, tomando, sobretudo, as sas possiveis relagdes-e primeiras expli- cagbes. No segundo caso, 0 método cientifico inicia-se com a formulagio de tum enunciado hipotético em face de um dado corpo de conhecimentos tedricos prévios, devidamente organizados e consistentes, avangando de seguida para a sua festagem (contestagdo). Trata-se essencialmente jé de um método dedutivo. Um e outro procedimento s4o possivels e, no caso da Psicologia e da Educacéo, igualmente necessérios. Reportando-nos Psicologia, tal neces- sidade pode associar-se quer ao estado evolutivo em que se encontra como ciéncia nos seus varios dominios de estudo, quer a especificidade dos fendmenos psicolégicos ¢ miiltiplas variveis ~ que néo apenas psicolé- gicas ~ que Ihe estao associadas. Podemos defender, assim, que os dois, procedimentos podem na Psicologia traduzir etapas diferentes na produ- «80 do conhecimento cientifico. Enquanto o primeiro é mais heuristico e exploratério, 0 segundo volta-se jé mais declaradamente para a réplica, testagem, explicagdo e controlo dos fenémenos. Estes aspectos estardo particularmente presentes na descrigao das fases ou momentos da inves- tigago como veremos nos capitulos seguintes. Entretanto, ambos podem servir-nos para ilustrar alguns cuidados e atitudes por parte do investi- gador (Alferes, 1997, pp. 21-9): curiosidade em saber, énfase na proble- matizagao das situagdes, confronto entre teoria e realidade, re-equacio- rnamento em espiral dos problemas ao longo da investigacio, comple- mentaridade de métodos alternativos, e 0 préprio sentido social da in- vestigacao, Reportando-nos & componente de metodologia de investigagio deste li ‘ro, daremos particular atengio a dois blocos informativos reportados &s fases do método cientifico. Um primeiro bloco tem a ver com 0s momentos preparativos de uma investigagao e com os cuidados metodoldgicos a 30 Copitate 1A nvesioce Pskligice considerar tendo em vista a definigio de um problema a investigar e a definigao de um modelo de relagbes entre as variveis a testar nessa inves- tigagdo. Um segundo bloco centra-se nas questées do plano da investiga- Ho. Aqui, analisaremos as investigacdes obedecendo a panos experimen- tals e ndo-experimentais, bem como falaremos dos procedimentos de amostragem. Terminamos este livro com 0 tépico da anilise e diseussdo dos resultados, até como uma forma de sintese e interligacao dos varios capitulos. Procurar-se-4 que esta progressio na abordagem dos varios te- mas promova, desde logo, 0 sentido da necesséria continuidade de deci- sbes e de passos na investigacao, BIBLIOGRAFIA Ares. R (197) Insti ef em pice: Tre prin. Coimtra Almedina ‘Amal, J, Rincén, D. & Latorre, A, (1992). 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Inventatie as principals caracterstcas da investigacio dita deseritiva, correlacional e experimental; 3. Explique as seguintes caracteristicas do conhecimento cientifico: eplivel e snaliice 4. Interigue a sequéncia:factos, fendmenos dados 5. Em que consiste 0 objectivo da praigto na investigacio? 6. O que diferencia a investiga pura da investiga apicne? 17._iferencie o método dedutivo do método indutivo na producto do conhe- cimento centfco. 32 CAPITULO II le ct oO AE EEE Problema, hipéteses e varidveis

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