A exposicao (parte 2)
— Como esta tudo por aqui? Ja
chegaram muitos convidados? —
pergunto a minha mae, que esta na
portaria ajudando a receber os
convidados.
— Estao indo muito bem, ja
esta bem cheio la dentro. Até a
familia da Ver6nica veio de Nova
lorque, e alguns outros amigos da
sua irma, também, ela esta super
feliz.
— Que bom que deu tudo certo
— falo com certo alivio. Eu sei que a
Sara sempre foi muito resistente
quanto as frustragoes, mas eu
realmente tive receio de dar algoerrado aqui, ela ficar m«l e isso
repercutir na sua cirurgia.
Esses Ultimos meses foram um
divisor de aguas na vida da Sara,
ela finalmente se entendeu com o
seu amor de adolescéncia, sim, 0
Edu conseguiu quebrar a barreira
que ela ergueu entre eles, tenho
que admitir que fiquei
impressionado com a perspicacia
dele em saber se aproximar e nao
dar a ela a chance de fugir mais.
Desde que eles se entenderam é
visivel a alegria da minha irma, ela
esta mais ativa e empenhada, na
sua chance de recuperagao
principalmente, e isso também se
deve a Jules. Olho a mulher ao meu
lado, que conversa alegrementecom minha mae e so consigo
pensar em uma palavra: gratidao.
Acabo rindo da ironia que rodeia
isso tudo. Eu sendo grato a mulher
de quem um dia eu odiei tanto e
quis destruir, e mais, o motivo do
meu Odio foi justamente a situagao
em que ela deixou a minha irma.
Como o destino é um jogador
fantastico, nao é mesmo, ele
conseguiu reverter uma situagao
que para muitos, especialmente
para mim, era impossivel ter outro
final que nao a queda e sofrimento
da Jules, mas aqui estamos nos,
Juntos e eu que tanto desejei o
sofrimento, estou grato e muito
feliz ao lada dela.
— O que foi? — a Julesperguntou ao me pegar encarando-
a.
— Nada. Vamos entrar?
— Vamos sim, estou querendo
provar o buffet — comentou rindo.
Ultimamente ela esta com uma
fome monstruosa, mas sempre
reclama que esta gorda depois de
matar todas as vontades de comer.
— Chegaram, a Sara ja estava
quase mandando ir atras de vocés
— o Edu diz assim que entramos na
galeria.
— Ela esta te deixando maluco?
Sim, porque na primeira exposigao
dela la em Nova lorque, ela me
enlouqueceu.
— Estamos nos virando bem,
vocé nao sabia como acalma-la, eusei — o filho da p**a fala de forma
sacana.
— Vocé pode, por favor, me
poupar desses pormenores, ela é
minha irmazinha.
— S6 estou te dizendo que nao
precisa se preocupar, eu cuido
muito bem da sua irmazinha, ela
adora — continua rindo, e a Jules
ainda completa:
— Da para perceber mesmo que
ela esta adorando, olha so o sorriso
dela.
— Vocé também vai comegar?
— S6 estou falando o obvio.
Olha a sua irma vindo ai, pergunte a
ela. — aponta para a Sara que
acabou de parar ao lado do Edu.
— Estavam falando de mim?— Sim, estavamos comentando
o fato de como vocé esta bem, mais
bonita e radiante. A proposito, vocé
esta linda nesse macacao,
combinou tanto com seus olhos —
a Jules diz com uma satisfacao
sem precedentes, mais para me
provocar, mas ela nao perde por
esperar, eu me vingo em casa.
— Obrigada! Eu estou mesmo
muito bem viu, nao poderia estar
mais feliz, isso aqui esta sendo um
sonho — minha irma diz com brilho
nos olhos. E, ela realmente esta
feliz.
— Viu sé, tinhamos razao — o
Edu completa e eu acabo rindo
quando a Sara nos encara confusa.
A exposicao esta sendorealizada no Instituto Tomie Ohtake,
é uma galeria muito conceituada
aqui em Sao Paulo, os melhores
artistas do pais e até
internacionais, expGem suas obras
aqui. A arquitetura do prédio, os
espacos, a localizagao... tudo aqui é
agradavel, vale a pena a visita. O
Edu se empenhou bastante para
conseguir uma vaga na agenda de
exposicoes daqui e esta valendo
muito o esforco dele, pois isso aqui
esta incrivel.
— Samuel, quanto tempo —
ouco a voz do pai da Ver6nica atras
de mim. — Isso aqui esta muito
bonito, a Sara é talentosa —
completa quando viro-me de frente
para ele.— Boa noite, senhor Arnold.
Sim, realmente é muito tempo. Eu
agradeco pela presenga de vocés
aqui, 6 muito importante para Sara,
ja que a VerOnica é sua amiga.
— Ficamos felizes em poder
prestigia-la, ela 6 uma garota muito
especial. Entao, decidiu mesmo
ficar no Brasil?
— Sim, eu vou manter minha
residéncia aqui agora. Essa é minha
esposa, Jules, meu amor, esses Sao
Arnold e Sabrina, os pais da
VerGnica.
— Eum prazer conhecé-los —
minha esposa, como sempre, é
extremamente educada com os
dois.
— O prazer é nosso. E bomsaber que o Samuel encontrou uma
pessoa legal para casar, esse
garoto é uma joia rara, um menino
muito bom viu, vocé escolheu bem
— o Arnold também é educado e
gentil. E uma pena eles terem uma
filha como a Ver6nica, pois sao
realmente pessoas boas.
— Vou deixa-los conversando e
vou vé se a Marina ja chegou.
Aproveitem a exposicao, esta tudo
lindo — diz, agora para o casal, que
lhe sorri.
— Tudo bem, vai la — dou-lhe
um beijo rapido nos labios e ela se
afasta.
— Isso aqui esta realmente
muito bonito — o Arnold comenta e
depois nos comegamos aconversar sobre assuntos
aleatorios.
Outros empresarios se
aproximam e o assunto: negocios
surge e se prolonga por longos
minutos.
— E incrivel como 0 assunto
sempre acaba em negocios, né! — a
Sabrina fala rindo, depois que os
outros se afastam.
— Isso € como uma regra em
nosso meio, absolutamente tudo
remete ao trabalho uma hora ou
outra — concordo também rindo. —
Ja foram nas outras salas? Tem
cinco salas ao todo e todas com
decoracao especifica, a minha irma
nao mediu esforcos para tornar
isso aqui incrivel, e conseguiu viu.— Com certeza, ela conseguiu
sim, esta tudo espetacular. E bom
ver o progresso dela, eu ainda
lembro da menina comegando seus
primeiros borrados, quando a
VerGnica levava ela la em casa.
— Eu lembro disso, foi muito
bom o apoio que ela recebeu de
todos vocés. Obrigado. — Digo
realmente grato, a Sara se
empolgou muito mais depois que
comegou a frequentar a casa deles.
Encontramos a Sara e minha
mae, que nos acompanham em
diregao a outra sala onde tem mais
telas, essa sala tem uma tematica
diferente e no momento esta vazia,
ou deveria estar, pois assim que
estamos mais proximos, ouvimosvozes, que eu conheco bem.
— Vocé acha que eu realmente
gostei daquela aleijada? Nao! Eu
nao gostei — a voz da Ver6nica
preenche os meus ouvidos,
causando-me um ddio que mel
consigo me sustentar no lugar.
— Nao fala assim dela! — agora
é a voz da Jules. Esta muito
irritada. — Ela vai saber quem é
vocé de verdade, Ver6nica, eu vou
falar pra ela que de amiga, vocé nao
tem nada!
— Hahaha, vai la, Jules
Montez, vai la e conta, mas eu
garanto que nao vao acreditar em
vocé. Ou vocé acha que so porque a
situagao entre vocés esta mais
calma, eles vao acreditar em tudoque vocé falar, eu acho que nao.
— Vocé é muito cinica! Que
alma podre vocé tem.
— Nao se sinta tao melhor do
que eu, Jules, ou vocé esqueceu
que sua alma é podre e bolorenta
também. Mesmo eu nao gostando
de verdade daquela aleijada inutil,
eu a tratei bem. Tudo bem que o
motivo sempre foi o irmao dela, eu
sabia que o calcanhar de Aquiles do
Samuel era a irma e foi ai que eu
resolvi defendé-la e deu certo.
— Entao vocé so se aproximou
dela por interesse no irmao? — A
Jules pergunta incrédula. Na
verdade eu também estou, mesmo
sabendo que a Ver6nica nao tem
carater, eu nao pensei que ela fossetao desgragada assim.
— Foi. Porque mais eu teria
interesse de ser amiga de uma
garota sonsa e que precisa de
ajuda para se locomover. E muito
cansativo, mas 0 bonus valeu a
pena, o Samuel gostou da minha
atitude e eu finalmente consegui
me aproximar.
— Vocé 6 um monstro! — A
Jules diz, sua voz esta mais irritada
do que antes.
— Nao mais do que vocé. Afinal
foi vocé que colocou ela naquela
cadeira de rodas, Jules, o monstro
aqui é vocé.
— Eu vou mostrar para todos a
sua verdadeira face.
— Eu ja disse, pode contar, elesnao vao acreditar — ri vitoriosa.
— Entao que bom que nos
ouvimos tudo pessoalmente, nao é
mesmo, “amiga” — Sara diz,
levando sua cadeira até onde elas
estao. Sua voz embargada faz cada
célula do meu corpo tremer de
odio. Ah, mas isso nao vai ficar
assim, de jeito nenhum.Verdade revelada
JULES MONTEZ
“ A vida é uma caixinha de
surpresas. Ela pode nos oferecer
presentes inimaginaveis, se temos
coragem de arriscar."
Essa é uma boa descric¢ao para
esse momento que estou vivendo.
Quem diria que a tao esperada
exposicao da Sara, nos traria
surpresas tao chocantes.
Assim que sou apresentada
aos pais da Ver6nica, que parecem
ser simpaticos, definitivamente
aquela ali nado saiu aos seus, eu
dou uma desculpa para me afastar,
decidi dar espacgo ao Samuel paraconversar a vontade.
— Isso aqui esta mesmo divino,
Edu, vocé arrasou — digo,
aproximando-me dele.
— E, valeu a pena, olha sé 0
rostinho feliz da Sara — fala,
olhando para a mulher que esta
conversando alegremente com um
grupo de pessoas, 0 amor é muito
visivel nos seus olhos.
— Fico feliz por vocés, Edu, feliz
de verdade. E incrivel como a nossa
vida mudou tanto, pelo menos a
minha. Hoje eu sou alguém que eu
nunca imaginei ser um dia.
— Vocé esta muito feliz, né?!
— Sim, eu estou feliz demais. O
Samuel esta sendo incrivel comigo,
eu vou ser mae e isso — aponto aSara e o grupo de pessoas — vé-la
assim, tao feliz e me dar bem com
ela, isso 6 a chance que eu sempre
pedi e nao acreditei que teria um
dia. Eu estou vivendo um sonho,
Edu.
— Fico feliz por vocé.
A Sara acena para o Edu,
chamando-o para apresentar para
os amigos e ele vai todo pomposo.
Esses dois sao tao lindos juntos,
estavam predestinados a ficar
juntos.
Eu continuo olhando as telas,
estou realmente surpresa com o
talento da Sara, é cada tela linda,
com cores e detalhes dignos de um
artista de elite.
— Aressa, nao brinca comigo!— A Veronica esta logo a frente, de
costas para mim e falando ao
telefone — Vocé sabe muito bem
que eu nunca gostei daquela
aleijada, meu interesse sempre foi o
irmao dela.
Sinto nojo ao ouvir como ela se
refere a Sara, pior 6 que eu estou
vendo a velha Jules nas suas
palavras frias e sem qualquer
sentimento de empatia. Ela ri
depois de ouvir o que a pessoa do
outro lado falou e responde:
— Vocé esta louca! Eu nao vou
sair assim tao facil, vocé sabe que
eu nao sou de desistir do que eu
quero. Eu vou ter o Samuel de volta
e sera através daquela insuportavel
da irma, vocé sabe, ele é louco porela. O que vocé pensa que esta
fazendo ai? — questiona quando
me viu parada na porta. — Esta
ouvindo minha conversa, sua v***a!
— Como vocé pdde? —
aproximo-me dela. Apesar de saber
que ela nao presta, eu estou
surpresa por ela ouvi-la falar desse
jeito da Sara, eu achei que era uma
amizade verdadeira.
— O qué? Jules, nao me diga
que vocé pensa diferente de mim.
Eu sei quem vocé é de verdade,
afinal nao é segredo pra ninguém
quem é que deixou a Sara aleijada.
— Eu sei o que eu fiz, mas eu fiz
tudo as claras, nao fingi ser o que
nao sou.
Nos iniciamos uma discussaoe, quando estou a ponto de voar no
pescoco dela e fazé-la engolir cada
absurdo que disse, a Sara aparece.
— Entao que bom que nos
ouvimos tudo pessoalmente, nao é
mesmo, “amiga” — tem dor,
decepgao e muita tristeza na sua
voz embargada.
— Sa-Sara... 0-0 que vocé esta
fazendo aqui? — A Ver6énica
gagueja enquanto olha para ela.
Eu olho para tras e estao todos
aqui e assim como eu, todos
chocados, a Sonia, os pais da
Ver6nica e um Samuel, que tem a
pior expressao de todos. Seu
maxilar trincado, punhos cerrados,
a raiva parece que emana de cada
poro, ele encara a Veronica comose nao tivesse mais nada aqui, tem
tanto ddio e frieza no seu olhar que
parece que criou uma tensao no
comodo inteiro. Eo mesmo olhar
que ele tinha para mim no inicio de
tudo.
— E, eu estou aqui, a aleijada —
volto minha atengao para a Sara,
que falou novamente — hahaha,
entao assim como as outras
meninas de quem vocé tanto falou,
vocé também so estava interessada
no meu irmao.
— Nao, Sara vocé... vocé me
ouviu mel.
— Ouvi? Verdnica, sao as
minhas pernas que nao prestam, os
meus ouvidos funcionam
perfeitamente bem.— Mas...
— Mas nada, Veronica! O que
vocé disse foi... foi nojento demais.
Vocé é mesmo minha filha? — O
senhor Arnold esta palido, acho que
é de tanta decepcao.
— Papai, eu... eu nao quis dizer
isso. Foi um engano.
— Engano, sua maldita! Vocé
disse claramente que esta com a
Sara so para se aproximar do
Samuel, vocé chamou ela de... — a
Sénia esta tao nervosa que sua voz
chega a falhar. Eu sinto pena
quando ela nao consegue nem
pronunciar a palavra que deve ser
muito dolorosa para todos eles.
— Nao... Nao é assim...
— Ecomo?— Ahn? — ela olha para a Sara
que acabou de questiona-la.
— Como é entao? Eu quero
saber, VerOnica, como vocé vai
explicar o fato de chamar de
aleijada com tanta repulsa, a
pessoa que vocé disse ser amiga?
— Avoz da Sara, apesar de um
pouco embargada ainda, agora esta
mais firme. — Entao, nao é assim
que trata suas amigas? — ela ri, um
sorriso triste que $6 mostra o
quanto isso doi nela.
— Nao, Sara... isso...
— Chega! — O Samuel, que até
o momento estava calado, diz, seu
tom é tao frio que chega a gelar o
ambiente. Ele anda a passos lentos
até a VerOnica, que esta palidacomo papel — Entao vocé achou
que se a Jules nos dissesse, nao
acreditariamos nela, que
acreditariamos cegamente em
vocé. — Ele ri, mas é so raiva que
existe no seu sorriso — Vocé é
mesmo muito confiante de si
mesma.
— Samuel. Samuel, vocé
precisa acreditar em mim! — Ela
toca o rosto dele e tenta abraga-lo,
mas tem seu pescoco preso por
ele.
— Vocé acha que pode se livrar
disso? — questiona fechando a
mao — Vocé tem toda razao
quando diz que a Sara é meu
calcanhar de Aquiles, ela ێ mesmo,
e vocé tem uma pequena nocao doque eu sou capaz de fazer com
quem a machuca, nao tem? — ele
olha rapidamente para mim, mas
em nada se abala. — Vocé curtiu a
aventura de se fingir de amiga da
minha irma para vir parar na minha
cama? Foi prazeroso, sua filha da
p**a?!
— Samuel... Sam... — sussurra
tentando se livrar do aperto, seu
rosto muito vermelho mostra que
ela esta a ponto de perder a
consciéncia por falta de ar.
— Irmao, isso nao vale a pena
— a Sara diz tocando as costas
dele. — Deixa ela.
— Vocé esta com pena, Sara?
— Nao estou com pena dela, sd
nao quero que vocé se compliquepor tao pouco. Solta ela e vamos
continuar curtindo a noite. Por
favor!
Depois de ouvir a suplica da
irma, o Samuel finalmente abre a
mao, a mulher cai como um saco
de batatas no chao.
— Me desculpe, Arnold, Sabrina,
mas eu nao quero mais qualquer
tipo de contato com a sua filha, e
no que depender de mim, ela nao
tera um emprego, vida social e
nenhum tipo de mordomia onde eu
tiver poder de decisao.
— Samuel, eu... nao sei nem o
que dizer. Sinto muito — o Arnold
diz, seu rosto envergonhado, a
decep¢ao, tristeza... eu também vi
isso antes, so que a diferenca é queesse aqui 6 um pai de verdade, o
meu nao era.
— Tira ela daqui! — Falae
passa pelo homem, indo em
diregao a saida.
— Jules, va atras dele, ele nao
esta nada bem. — A Sara me diz. Eu
estou parada no mesmo lugar, acho
que ainda estou digerindo o
espetaculo que acabei assisti. —
Vocé vai? E que o meu irmao nao
age com muita sabedoria quando
esta com raiva, e bom...
— Tudo bem, eu vou —
interrompi-a depois de perceber
que sua voz esta falhando de novo,
ela esta muito msl. — pode deixar
que eu vou Ia tentar falar com ele,
fica bem, ta?— Obrigada por me defender.
— Tudo bem.
Eu falo ja saindo, pois o Edu
chega abragando-a. Os pais da
Ver6nica também vao arrastando
ela para fora e até tapas ela leva da
mae. Pelo menos dessa vez nao
precisei sujar minhas maos.
Eu tenho que praticamente
correr, pois o Samuel esta andando
muito rapido e ja sumiu na frente.
Quando eu o alcango, ele ja esta no
estacionamento, ougo um barulho
alto e vejo-o socando a lateral do
carro.Arrependimento
SAMUEL ADAMS
“Mais perigoso nao é o lobo
raivoso que te ataca de frente, mas
o lobo que se disfarga com pele de
cordeiro e te cativa fingindo-se de
amigo."
Nunca uma frase fez tanto
sentido quanto essa esta fazendo
agora. Odio. Arrependimento.
Decepcao. E mais dio. E isso que
eu estou sentindo agora. Vontade
de voltar naquela sala e arrancar a
cabeca daquela maldita fora. Como
ela pode fazer algo tao baixo? Tao
nojento, c**+l. Sim, porque isso foi
muita crueldade. Se aproveitar deum momento de fragilidade de uma
garota, fingir uma amizade e no
final tudo ser por causa do irmao
da garota, so porque ela queria p*u!
Eu quero mata-la!
Saio da sala desnorteado, sem
rumo. Eu estou com raiva, estou me
sentindo culpado tambem, afinal
tudo isso que ela fez foi por minha
causa. No final, eu, mesmo que
indiretamente, também acabei
machucando a minha irma. Assim
que chego ao estacionamento, dou
varios socos na lateral do carro,
tenho que extravasar minha raiva
de alguma forma ou vou acabar
tendo um colapso.
Eu deveria ter acabado de
estrangular a Veronica, mandadoela logo para o inferno, gente como
ela 6 um desperdicio de oxigénio,
mas a Sara, sempre tem um
coracao bom, ela é muito diferente
de mim, prefere seguir sua vida a
buscar vingan¢a, ja eu, enquanto
nao devolvo na mesma moeda ou
muito mais caro, nao consigo
seguir, minha raiva nao me deixa
ficar em paz, foi assim antes e nao
é diferente agora.
— Oi — ougo a voz da Jules
atras de mim. Dou mais um soco,
agora tao forte que faz um pequeno
corte nos nos dos dedos — Vocé...
quer ir para casa? — sua voz baixa,
mostra que ela esta tensa e... com
medo? Viro-me, ficando de frente
para ela.— Vocé deve estar se sentindo
vingada, nao é mesmo?! — Falo
pensando nas muitas vezes que
comparei ela a Ver6nica.
Eu usei a Verénica para atingi-
la e fiz isso achando que estava
ganhando, mesmo com os diversos
avisos do Daniel, eu ainda achei
que estava fazendo certo, e agora
eu vejo o quanto fui o****o, Eu
achei que estava usando, mas na
verdade fui usado, enganado e feito
de trouxa por aquela desgracada.
— Eu nao estou. — Suspirou
profundamente antes de continuar
— Samuel, vocé pode nao acreditar
em mim, mas eu nao estou nada
feliz com isso que aconteceu. A sua
irma nao merecia nada disso, ela éboa e tem um coracao enorme, nao
merecia encontrar pessoas como a
Ver6nica e... eu, no caminho dela.
— E, ela nao merece mesmo,
mas tudo, absolutamente tudo de
r**m tem sempre que acontecer
com ela! — soco novamente o
carro.
— Nao precisa ficar assim, ela...
— Nao precisa? Jules, vocé nao
sabe como a Sara tratava aquela
maldita, ela tinha ela como um
suporte! Vocé nao entende, claro
que nao, vocé nunca foi excluida ou
ficou sozinha.
— Vocé esta enganado, eu sei
sim...
— Sabe? Nao, vocé nao sabe.
Sempre teve amigos, seu grupinhona escola. Nunca esteve solitaria e
sofrendo bullying, como a Sara
passou a maior parte da vida!
Meu estomago chega a
embrulhar quando penso em tudo
que aconteceu, sinto tanta raiva
que ms! consigo me manter
racional.
— Eu sei que vocé sente raiva,
mas nao pode deixar isso estragar
esse momento da sua irma. Ela vai
superar isso, nos vamos ajuda-la.
— diz tocando o meu brago, numa
tentativa de me acalmar.
— Vocé acha que é tao facil
assim? Vocé sempre ficou do outro
lado, Jules — acabo falando no
impulso, mas me arrependo em
seguida — nao foi...— Samuel, nao precisa me
lembrar que eu também fiz muitas
coisas ruins para sua irma — sorri
triste — o que a Veronica fez é nada
perto das atitudes que eu tive, é
como ela disse la, mesmo
mentindo, ela sempre tratou sua
irma muito bem, ja eu fiz coisas
horriveis e a deixei na situagao que
ela esta hoje. — fala e tenta se
afastar, mas eu a aperto em um
abraco.
— Eu sinto muito. Vocé nao tem
culpa de nada disso, pelo contrario,
vocé estava defendendo a minha
irma e eu... eU SOU UM I****a por
estar aqui te falando essas coisas
— beijo sua testa e depois sua
boca. — Desculpa.— Vocé nao tem que me pedir
desculpas, eu sei muito bem que eu
também tenho participacao nisso.
Samuel, eu juro, juro que nunca vou
esquecer o que eu fui, eu posso
estar vivendo bem com vocés hoje,
mas eu sel o que eu fiz, eu nao... —
Calo suas palavras com um beijo.
Eu sou um grande i****a! Um
e******Q GUe Nao pensa antes de
colocar as merdas para fora, mas
dessa vez eu nao falei para insinuar
sobre o que ela fez, eu so quis dizer
que ela nao passou pelas dores da
Sara, mas ela interpretou minhas
palavras de forma errada. Paro o
beijo por falta de ar.
— Eu sou um e******0 — falo
recuperando o félego —, eu naopenso quando estou com raiva e
acredite em mim, eu nao quis
insinuar nada sobre vocé ou o que
passou. Jules, eu so estou cheio de
Odio da Veronica, dela, e de mim
por nao ter visto suas verdadeiras
intengoes. — Dou mais um beijo —
Jules, eu... eu realmente nao queria
te fazer lembrar dessas coisas.
— Esta tudo bem. — Ela
responde com um suspiro. Sua voz
baixa e triste, acaba comigo.
— Nao, nao esta nada bem,
Jules. p***a! — xinguei, esfregando
meus cabelos — Por que eu tenho
que ser tao impulsivo!
— Samuel, esta tudo bem, é
sério. Eu sei que vocé esta triste e
com raiva, nao vou levar isso emconsideracao. — Ela me faz olhar
nos seus olhos — Nao vamos
deixar que aquela lombriga
oxigenada — nao consigo segurar
uma risada — Agora vocé nao se
importar com o apelido, ou melhor,
apelidos que eu dei a sua
amiguinha.
— Ela nao é mais minha amiga,
agora é minha inimiga.
Ela abre um lindo sorriso.
— Bom saber disso, mas eu
espero que vocé no resolva se
vingar com um novo casamento,
porque... — Ai! — Ela solta um
gritinho quando eu a coloco de
costas no carro, prendendo seu
corpo com o meu.
— Eu ja sou casado, muito bemcasado. Nem pense em continuar o
que ia dizer, senhora Miller Adams.
— Mas eu ia falar justamente
isso, que vocé ja esta casado e eu
nao vou lhe dar o divorcio. E melhor
vocé encontrar uma nova forma de
obter vinganga.
— Eu vou cuidar de tudo do
Jeito certo dessa vez. — Acaricio
seu rosto — Jules, eu sei que eu
errei muito com vocé, te fiz muito
mel, mas eu juro que tudo que eu
mais desejo agora é acertar e te
fazer feliz. — Falo sinceramente.
A nossa historia comegou do
jeito errado, eu fiz muitas coisas
que nao deveria ter feito, e hoje
estou pagando por isso. Ouvir
todas aquelas barbaridades daboca da Verénica foi uma porrada
muito certeira no meio da minha
cara, e eu mereci. Eu estava tao
cego pela minha vinganga que nao
me importei com mais nada nem
ninguém, e o resultado disso é que
a Veronica se enfiou na minha casa,
usou a confianga e amizade da
minha familia e ainda conseguiu
me fazer de i****a, eu fui um
patinho que caiu na armadilha dela.
— Vocé ja faz isso, Samuel. — A
Jules diz, tirando-me dos meus
pensamentos.
Depois de vé-la defendendo a
minha irma com tanta garra, eu
sinto ainda mais por tudo que fiz
ela passar. O rostinho triste dela,
olhando a mesa recheada que eupreparei para receber a Ver6nica,
enquanto para ela eu nem sequer
fiz um café, seus olhos Umidos e
inchados de tanto chorar por ter
nos visto com tanta i********e, a
noite que a deixei sozinha, mesmo
depois de ter passado dias fora de
casa em viagem de negocios...
foram tantas coisas que nao
consigo nem pontuar.
— Vamos para outro lugar? —
Pergunto, distribuindo beijos no
seu pescoco.
— Vamos sim, acho que
podemos vir prestigiar a exposigao
da Sara na segunda noite. — Ela
concorda apertando a gola da
minha camisa.
— Eu acho melhor pedir outrocarro, esse vai chamar muita
atencgao — comentei, olhando o
estrago que fiz na lataria.