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OBRAS DO AUTOR Parcerias piblico-privadas ~ Um enfoque m ica S. Justen, Sfo Paulo: Processo de execugdo. 7. ed. rev. tual. ampl. Coop.: Luiz. Carlos Wambi Flavio Renato Correia da Almeida, Sio Paulo: RT, 2005. v. 2. (Curso avangado de processo ci 4, rev. atual.€ ampl. Coop.: da Almeida. Sao Paulo: ~ Lei 9.079/95. 2. ed. rev., tual. empl ‘So Pavlo: RT, 2001 Tutela relativa aos deveres de fazer e de néo fazer, 2. ed rev. atual. e amp. ‘Sto Paulo, 2003, Dados Internacional de Catlogagio na Publicago (CIP) (Cimara Brasileira do Livzo, SP, Brasil) Biblografia ISBN 85-203 1. Brasil - iret constvcionsl 2 Cis julgada~ Brasil Tilo 0s-7m20 cbu347.95381) {ndices para catlogo sstemstico: 1 Brasil: Coie julgad Proceso civil 347.953(81) EDUARDO TALAMINI COISA JULGADA ESUA REVISAO ® Coisa julgada e Constituigao » Oregime infraconstitucional dacoisajulgada da coisa julgada As sentengas inexistentes EDITORA rae REVISTA DOS TRIBUNAIS 30 COISA JULGADA F SUA REVISAO ‘Ni ha como falar em “el delinear oterrenoem que esse in: premissas cria dois riscos em s ar de falsos problemas de buir erroneamente coisa julgada a situagdes que em verdade dela nao revestem € cuja injustiga ou jidade pode vir a ser corrigida ou superadaindependentemente de qualquer solugio que envolva verdadeira quebra da coisa julgada. Por outro, hd orisco dapretensa solugio de pro- blemas que verdadeiramente envolvem destinados a negar a sua ocorréncia (y. izagdio” da coisa julgada sem antes Secap.6). termo “coisa julgada” paradesignaracoisa -se da coisa julgada formal (n. 2.7). 2.1 Conceito de coisa julgada material A coisa julgada material pode ser configurada como uma qualida- de de que se reveste a sentenca de cognigo exauriente de mérito transi- tada em julgado, qualidade essa consistente na imutabilidade do cont 0 do comando sentencial Esse conceito comporta 0 desenvolvimento detalhado dos seus VSrios aspectos. 2.1.1 Osatos acobertados pela coisa julgada O primeiro desses aspectos diz respeito a0 coisa julgada, ic., ouniverso de atos sobre 0s q de incidéncia da ela re tributo que poderecair apenas sobre atos juris ais. Maisespecificamente, apenasaque- eis com a coisa, ‘Também nao so todos os atos juris. coisa julgada. F bem verdade incula a coisa julgada: do judicial de que janaocaiba recur- inadequada: quando muito, ser- veparaestabeléceranogo~—bei mais ampla-de preclusio da faculda- "No projeto de nova Lei de Introdugto, mantém-se a mesma definiczo jeto de nado 2 art. 6°, $39) i Ae ta RI EARNER NA TITS NOgOES GERAIS 31 derecursal v.n.2.8), Por sua vez, oart.467 do Codigo de Processo Civil pretendeuestabelecer definicdo mais precisa, mastambém pecou. A parte outras imprecisées a seguir indicadas, contentou-se em consignar quea isa julgada material recairia sobre qualquer “sentenga” no mais su- jeitaa recurso. rigor, no ordenamento processual brasileiro, néo é pos- tar 0s pronunciamentos aptosarevestirem-se da coisajulga- ado”? Lembre-se apenas que do : seu objeto) pode eventualmente dizer respeito a um direito,relagio ou situagio processual (p.ex.,embai rescis6ria, mandado de segu i que o decide, desde que presentes os demais pressupostos, estaré aptaa fazer coisa julgada material. 6ri0s (p.ex., 0s atos exec \s que extinguem o processo as sentengas de cognigiio sumria (p.ex., nos processos urgentes, na ju- digo voluntiria ete.) Sobre coisajulgada nas sentengas que extinguem oprocesso.com smento de mériton seon. 3.49, adiante 2.1.2 Transito em julgado e coisa julgada O segundo aspecto concere ao trdnsito em julgado. Nao basta tratar-se de sentenga de mérito, Para que se estabelega a coisa julgada Emborao art. 2.909 do Cédigo Garbagnati, ! procedimento, n.3, 1) 32 COISA JULGADA E SUA REVISAO Epreciso que estejam esgotadas as possibilidades de alteragao da sen- tenga mediante mecanismos internos ao processo em que ela foi profe- rida, Ou seja, énecessério que da sentenga jé ndo caiba nenhum recur- sonem reexamede oficio, Otrdnsito em julgado indicao momentoem que isso ocorre. Note-se que trdnsito em julgado e coisa julgada sio institutes in- confundiveis, Coube ao direito candnico firmar a distingZo (w. I. Quando muito, pode-se vincular o tran- sitoem julgadoa coisa julgada formal, de que se fala adiante. Mas, ainda assim, nao ha iden lade entre os dois conc ito dos meios internos de reviséo tenga; o segundo diz respeito & autoridade que se estabelece, iva da reabertura do processo. Estiioem relagio de causaeefeito. 2.1.3 Coisa julgada, efeitos da sentenga e contetido do decisum Oterceiro aspecto diz respeito ao nticleo esse rios efeitos produzidos pela senten- ficar-se-ia com 0 proprio efeito declaratorio Trata-se da concepsio até hoje prevaleconte nad Goldschmidt, Derecho procesal, n. 63, p. 387 e 395-396; SchOnke, Der rocesal,n. 76, p. 216; Rosenberg, Tratado, v.2,n, 146, p. 442; Lent, Diriuo pro. essuate, n. 65, p. 258; Jauemig, Direito processual,n. 62, p.316, en. 65, p. 342; Leible, Proceso civil alemén, cap.4, 1, p-345,¢n. 8, p.377. No direito bra lerava ser acoisa julgada uma "g ida no provimento (Dirtto processuale, Adeclaragdo(v. p.ex, 7 ¥.1,n. 53, p. 199) — mas veja-se també; sente texto, No di worecente, v., g., Ni ©€2,p. 81-82. Em Portugal: Castro, Direito processui NOGOES GERAIS 33 Jéem Chiovenda nota-se um esbogo de superagio da nogo antes mites subjetivos da prestamaadistinguir os efeitos da sentenga da autoridade da\ da, Sobre os primeiros, escreve que “como todo ato juridico rel as partes entre 2s quai tee vale com respeitoa todos”. A respeito da segunda, consigna ado [giudicato] érestri- to is partes e s6 vale como julgado entre ek afirmar que as partes podem renunciar ao efeito do julgac pretender nova decisio sobre o jé decidido, Chiovenda deixa também nitida a diferenga entre 0 de da coisa julgada (proibigdo de nova decisio).*Mas faltava, ainda, explicagiio ade- quada para o fendmeno. Coube a Liebman a precisa distingao entre coisa julgada e efeitos ga. Segundo sua ligo, coisa julgada é uma qi dos efeitos da sentenga—e nao um de seus e modo como se manifestam e vigoram 0s efeitos da sentenga = sejam eles quais forem (declaratérios, constitutivos ou condenaté- rins, de acordocomac de Licbman).* Emseue cebida peladoutrina ge mento, ‘do, com forga obrigat6ria ¢ in as, Dat que o efeito con : - como o estaria também a condenagao, considerada em si ia conforme a teoria ia &declaragao também presente e que Ihes serve de pressuposto l6gico.” |, p. 924; € Institigdes, v. yn. 133,p-414, tados, natrad, port. eG. Menegale). 34 COISA JULGADA E SUA REVISAO ‘emque incorreessaconstrugio, por confundir num mesmo plano os efeitos da sentenga com accoisa jul Em tese, todos os efeitos da sentenga podem produzir-se antes ou inde- pendentemente da autoridade da coisa julgada, sem que tenham sua es- séncia desnaturada. Liebman pondera que o proprio efeito dectaratério pode ser imaginado.nesses termos. Ele até reconhece que a declaragao, despida da imunizagao que acoisa jul c em atos administrativos. Hé também manifestagdes jurisdi- is declar rio pode produzir-se mesmo antes do transito em julgado da sentenga? Liebman ainda pondera que aid todeck pretendida pela doutrina alema, por um lado, deixasema protegoda coisa ulgadaos demaisefeitose, por outro, nora aautono- que acaba absorvido na coisa julgada."° io prejudicial que jé foi obj igado, 0 juiz do segundo proce: jomando em conta o comando da sentenga ainda ni der 0 processo ea NOgOES GERAIS 35 para Liebman, a coisa julgada, em face dos efeitos da sen- tenga, é um elemento novo, um plus, que vai além daquilo que os efei- i propiciariam. A coisa julgada qualifica todos os efeitos ‘Acexplicagao de Liebman para o fendmeno da coisa ulgada ¢ de sua relagéo com os efeitos da sentenga esta longe de constituir simples tese \démica. E de vital relevncia para a solugo de quest6es atinentes aos sma de grande relevancia prética e intimamente vineulado is garantias fundamentais do processo (v.n. 2.5). Quantoao seu ceme, de distingdo entre eficdcia da sentengae auto- ridade da coisa julgada, a doutrina em discurso conta com ampla adesio Mas a teoria de Liebman foi, entre nés, alvo de percuciente critica por parte de Barbosa Moreira." Segundo o ilustre processualista cario- a, acoisa julgada nao consiste propriamente na imutabilidade dos efei- tosda sentenga, mas na imutal tenga. Osefeitos da sentencaeventualmente se mos ~ quer porque isso deriva da sua normal atuagao (p. ex., ef nat6rio), quer porque, desde que o objeto seja direit tes podem posteriormente ajustar solugdo diversa(p.ex., a8 partes separa- das judicialmente em processo litigioso retomam o vinculo conjugal; re- "Idem, §2, n.3, p. 19-20. Corso, 1,n. 83, p. 289-2 p.453-455; Verde, Prof de la sentencia"). 36 COISA JULGADA B SUA REVISAO :missioda divida objeto da condenacio), Serdéimpossivel, isso sim, aobten- $0 de outro comando, junto aqualquer juz, para aquele mesmo objeto de Processo antes decidido pela sentenca revestida da coisa julgada, a critica de Barbosa Moreira é antes um reparo 2 da tese de Liebman (“coisa julgada € qualidade dos ‘uma oposico ao contetido da teoria liebmaniana como um todo. Do exame geral da exposigaofeit ‘bman, fica claro que ‘sua preocupaco maior estava em diferenci coisa julgada. A afirmagio de Liebman de que a coisa julgada idade dos efeitos” no retrata integralmente tudo o quanto 0 mestee italiano expe em seu ensaio. Afinal, o proprio Liebman reconhecia que a relagao juridica que foi objetoda sentenca pode ser posteriormente modificada pelas partes, sem que isso afete a coisa julgada (usava como exemplo um daqueles empregados por Barbosa Moreira: 0 pagamento, com 0 que “perde a “ Mais ainda, em outra passagem Liebman lefinigdo da coisa julgada é a de“ ‘dade do comando emergente de uma sentenca” (muito embora, a seguir, 420 procurar explicar o sentido da definigfo, afirme que a defi Fecai no apenas sobre oato emsi, mas também sobre os seus “ef Emcerto sentido, a cons sido oposta a Liebman por todavia, chegaram a conclusées menos adequadas do que as do proces. sualistafluminense."*Na época, Liebman espondeu-Ihes afirmando que ‘a modificagao da relacao juridica objeto do julgado nao implicaria alte~ ago dos efeitos da senter jeceriam inc6lumes.” Mas, j.¢.,aaptidao, apot€ncia, de Produzirefeitos) da sentenga, cuja base estccontida na sentenga, comos roprios efeitos. Os efeitos consistemnaconeretarepercussiodo decisum batida por Liebman, sentenga, “Ainda sobre a sentenga..”,n. I, p. 183. NOGOES GERAIS 37 sobre a situagto objeto de julgamento. Desse modo, se essa situago, depois de sofrer (ou deestar aptaasofier) arepercussao da sentenga, pode ficaré que os préprios edidos de operar. Ent, es, como pretendia im anterior: nfo seré daquele objeto (mesma causa de pedir pedido) jé decidi Barbosa Moreira faz-€ levar adiante, aprimor eaistoridade da sentenca~ sem negar o ceme datese de Liebman, sejano que concerne aessa di iva de limitara coisa julgada imos ensaios que Liebman ‘ou sobre o tema, em 1979, a formulagao por ele proposta aproxi- ‘mou-se significativamente da de Barbosa Moreira: em face da coisajul- nfo se permite as partes “é pretender um novo juzo sobre o lamente decidido por intermédio de uma sentengaque repre- ina conereta da relagio juridica controvertida”." emboraconcordando parcialmente com ade Barbosa Moreira, opde-se adeter- io de qualificada polémica com Barbosa Moreira. Para Ovidio B. da Silva, Liebman acertou ao afirmar que a coisa julgada nao é um efeito da sentenga. Por outro lado, 0 processualista ¢gaticho concorda com Barbosa Moreira na constatagio de que a coisa Julgada nao é qualidade que toma imutaveis todos os efeitos da senten- eit da sentengae coisa julgada”,n. 4, p. 287 * CE. OvidioB. da Sib 105; “Contedido da sentengae: Sua posigioesté também expost faderem Arenharte Mi 4,p.490-497, Aela onto, Cosa 38 COISA JULGADA E SUA REVISAO ga. Porém, discorda da idéia de que a coisa julgada consista na imutabi lidade do contetido do comando jurisdicional. Segundo Ovidio Baptista da Silva, a coisa julgada seria a qualidade de imutabilidade que recai apenas sobre a declaragao contida na sentenga. Aquilo que Barbosa Moreira denominou de “contetido” da sentenga, que se toma imutivel, seria, a rigor, 0 seu elemento declaratério, Para Ovidio, quando, por ‘exemplo,adivida € paga ou perdoada, ocorre aextingo doefeito conde- em relago aos demais efeitos da sentenga ‘0s, mandamentais, executivos...). Todos poderiam ser obje- to de remtincia, perdao ou transaco ~ exceto o efeito declarat6rio2" A concepgio defendida por Ovidio, contudo, em um relevante ponto no se identifica com aquela tradicional orientagfio contra a qual se veltou Liebman: embora afirmando que a coisa julgada é qualidade que se res- tringe a0 efeito de reputa — ao contrério da doutrina criticada por Liebman ~ que a coisa julgada sejaindispensével paraqueasentenca tenhaefeito declarat6rio.” 2.1.4 A relevncia concreta da disputa tedrica—A margem de liberda- de das partes diante da coisa julgada Do aqui sintetizado, os dados fundamentais residem na di entre autoridade e efeitos da sentenga e na constatagao da pos de que os efeitos sejam, em determinadas condigGes, alterados ou ext tos sem que se caracterize afronta’ coi estar superadatodae Julgada com o conceito de “verdade” (v.n. 4.1.3¢4.2).A coisa julgada no estabelece presunctio ou fic¢do de verdade des fatos afirmados na sentenga; apenas, pragmaticamente, torna imutével o resultado da atua- 0 jurisdicional. No mais, poderia parecer que a superagiio das divergéncias entre as concepgdes acima descritas, ainda que pertinente para o rigor dos con- eitos te6ricos, ndo repercutiria de modo significative nas questBes con- {dio B. daSilva, “Contetdo da sentenga ecoisajulgada”,n. VI 193, p.492-493, NOGOES GERAIS 9 cretas relativas ao tema, Mas a questio tem relevancia prética. Uma re~ percussao concreta — jé apontada acima e retomada adiante ~ pée-se no Ambitodos limites subjetivos da Igada (n.2.5). Mashéaindaoutra de grande importancia, que merece ser aqui destacada, A definigao da coisa julgada como qual decisum ou como qualidade da declaragao ali contida passa pela consi- deragao (¢ tomada de posigao da seguinte questao: qual a vincu- aco das partes ao efeito declarat6rio da sentenga? A indagagao pode ser configurada concretamente nos seguintes termos: tendo a sentenga de- claradoa inexisténciado direito, podem as partes depois consensualmente estabelecer que o direito existia extraindo-thes todos 0s efeitos desde 0 ‘momento em que preteritamente ter-se-ia co lo? No aimbito das relagé tes podem estabelecer 0 isponiveis, ndo ha dvidas de qu ‘Mas a questo continua posta. Nao se trata de as pat rem agora um direito, mas de reconhecerem suaexisténciapretérita, para todos os fins. Vale dizer: reconhecer aexis- daquilo que a sentenga declarou inexistente, Alguém poderia su- ta de uma falsa questo, sob o argumento de que, nessa hi- pétese, tanto faria saber seas partes estio de fato reconhecendo odireito pretéritoou, na verdade, esto apenas, no presente, constituindo um novo (p.ex.,se 0 crédito negado pela sen- juros que sobre ele teriam incidido, ‘juste entre as partes, mon- ‘reconhecer” agora a divida pre- ido, nesse momento, uma divida de \diferente concluirem um sentido ouno outro. Pense-se definigdo da data de surgimento do direito é 1e 0 regime aplicavel ou implicard repercussdes, Perante terceiros. Considerem-se, ainda, 0s casos que nem sequer com- ortam uma variagio do momento de existéncia do direito ou darelagio Juridica (de modo que ou ela sempre existiu ou no). Portanto, cabe res- ponder questio tal como posta. Pois bem, caso a resposta seja negativa, ou seja, caso se considere, que as partes ndo poder, mediante consenso, reconhecer a existéncia (ptetérita) do direito dispontvel j4 declarado inexistente pela sentenga, 18). Mas nao} ‘nos casos em que a e relevante para defi 40 COISA JULGADA E SUA REVISAO isso significard que a coisa julgada ati ipria declarago, nos ter- ‘mos concebidos por Ovidio Baptista da: ise aresposta for posi- Se-4 como pressuposto que a coisa julgada recai sobre oconteti- ‘comando da sentenga, apenas impedindo nova solucao jutisdicio- nal para o objeto anteriormente decidido, mas no perpetuanem mesmo oefeito declaratério contido na sentenga, Nato parece haver raztio para rejeitar essa segunda solugfo: as par- tes podem consensuaimente reconh istencia (pretérita) do direi- declarada inexistente pela ante (desde a origem) 0 di- dispontvel dectarado existente pelo juiz. Nao poderio, todavia, pretender do juiz declara¢do ou qualquer outta providéncia no sentido oposto a declaragto que ele ja emitin. Portanto, a formulagio de Barbosa Morcira parece a mais adequada. Convém frisar: as partes néo ficam vinculadas & declaragao jurisdi- podem, no ambito das relagées disponiveis, abd ig30 inagio da incerteza dada pelo juize consensualmente estabelecer vedado as partes obter novo pronunciamento que vé contra 0 contetido do dispositivo revestido da coisa julgada (eacoisajulgadaé questao de ordem piiblica, aser conhecidade oficio no curso do processo—v.n.2.2.7,adiante). Isso significa que em todos os casos em que, mais do que o reconhecimento de umarelago, as partes dependam de uma providéi no podem produzir extrajudicialmente (ages cor ‘do haverd como se obter tal resultado, pois nfo sera da ‘mesmo com o consenso ent wea tenga, ndo bastard o Jo nao existe. Mais do sirio alterat-se o registro pilblico ~ 0 que, todavia, depende de intervengao judicial, vedada pela coisa julgada. Mas consi- dere-se agora a hipétese inversa, em que a sentenga houver negado a ® O qual afirma expressamente que “nenhum negécio juridico envolvendo 9 efeito declaratsrio da sentenga que importe em rentncia, ou perdao, ou confssio Ccontréria a0 que o Juiz declarou, teré qual jurfdica, por ser negécio uridico absolutamente invétido, por contrérioe ofensivo a coisa julgada” (“Con teido da sentenca e coisa julgada”,n. IX, p. 218). NOGOES GERAIS a existéncia da relagao de filiagdo. A despeito disso, as partes poderdo Posteriormente, de comum acordo, reconhecer a existéncia dessa rela- 0, pois 0 reconhecimento da filiago independe de intervencdo judi- cial (C. Civ, art. 1.609, He . De resto, ndo é de descartar que terceiros juridicamente interessa- ‘a ficardo vinculadas & ante a julgada. Vale dizer: a coisa julgada poderd ser invocada contra as partes por um terceito. Afinal, gada ndo vincula o terceiro (n. 2.5, adiante), mas, nos seus li sécio autor da primeiraacao terdo como se subtrair da autoridade dacoisa Julgada, Nesse novo processo, o juiz ficaré vinculado ao comando ante: rior, que reconheceu a nulidade. viivelem vista das regras sobre reconheci ia etratagao do econhecimer ‘meramente econémi ‘010 das partes. 42 COISA JULGADA E SUA REVISAO ma em abstrato ndo era “cogent: rma concreta i estabelecia posigdes juridi- ‘mesma natureza se reveste, A ‘de que anormaem concreto se reveste, se compa- rada com a norma em abstrato, esté retratada na sua intangibilidade em face da lei, de novos pronunciamentos jurisdicionaise, conseqiientemen- {e, da insubordinagao do vencido. Todavia, o conteido disponivel da relagdo no se altera. Sustentar o contréio imy 'aera “cogente” (no sentido acima dicado), assim como parte titulardaposigao juridica ativa jé nfo podia dispor dessa posigdo antes, nao poder’ igualmente fazé-lo depois, Nesse sentido, haverd de se submeter cogentemente também a sentenga que declara a norma in tua a vontade concreta da norma”). A “indisponi sa julgada, mas na norma atuada, dade” da sentenga—aquilo que Liebman ‘ficdcian " além de ndo se con- fundir com acoisa julgada, tampouco impede as partes de abrir mio de suas posigdes juri fica apenas que a sentenga, impGe-se mesmo contra a vontade daquele que sofre a (disponivel) que foi objeto do pro- ‘cesso.e da sentenga que fez coisa julgada ¢ confirmada pela regrado art. "Expressio usada por Bett, que &enfético em destacar o catéter meramente processual da coisa julgada (" lade de, mesmo depois da c ‘outro modo (Lez i NOGOES GERAIS a 850 do Cédigo Civil de 2002, correspondente ao art. 1.036 do diploma anterior: apenas se algum dos transatores ndo tinha ciéncia da anterior coisa julgada é que serd nulaa transagao. Bem por isso, nos casos em que as partes podem transigir, nada impede que celebrem um compromisso arbitral paraoexame do mesmo objeto atingido pela anterior coisa jullgada.”* O que nao Ihes & dado ~ repita-se ~€ pretender novo exame pelo Ju Por outro lado, quando o direito envolvido ¢ indispontvel, aimpos- sibilidade de as partes, ainda que de comum acordo, darem para acau- sa solugdo diversa da fixada na sentenga deriva do fato de que jé se Jjulgada material, as partes nfo esto antorizadas a simplesmente ignors- la: poderao, nao havendo coisa julgada, até voltar a juizo pedir outro pronunciamento, mas do poderdo simplesmente desconsiderara “nor- ‘maconcreta”). A coisa julgada é apenas oaspecto deimutabilidade que das partes ou ambas lerd-lo ou obter outro to pretendam ir a juizo meramente incompativel 2.15 O conceito de coisa julgada e a definigdo veiculada em l |Cédigo de Processo! iteralmente a concep¢ao de ‘Como aponta autorizada doutrina, 0 a0 definir a coisa julgada, néo adoto igfo,.",n.2.2.2, p. 243; Barbosa Moreira, O ait, 467 nio se manteve com a redagio que 0 igo Ihe propunha, essa sim fel &teoria de Liebman (vente ss Moniz de Aragio, Sentenca,n. 169, p.239, e Arasjo Cintra, Comentarios, In. 258, p. 296-297). 44 COISA JULGADA E SUA REVISAO A constatacdo doutrinéria é correta. No entanto, cumpre notar que © pretenso conceito veiculado no art. 467 nao &, em qualquer hip6tese, de todo adequado, Sua inadequagao nto se pée em face dessa oudaquela concepgao tedrica (pois se fosse assim, seriauma inadequagio irelevante; ou, até mesmo, poderia estar desautorizando a concepgdo te6rica). A retensa formulagocontida no art. 467 €falha tomando em conta pré- rio conceito de coisa julgada extrafvel do ordenamento a partir da con- sideragdo de outros dispositivos, conforme visto acima (n.2.1.1, acima). Vale dizer, lade do art. 467 € desautorizada por outras normas contidas no proprio Cédigo. 2.1.6 Coisa julgada como situagéo juridica de indiscu comando judicial fe incompatfvel com a preocupagiio em distin- guir tal fendmeno dos efeitos (outros) da sentenga. O fundamental é re. conhecer que a coisa jul -m si mesma, com as efi- ccécias (declaratoria, ‘mandamental etc.) que @ sentenga veicula como uma resposta a demanda de tutela nem com as. demais eficécias secundirias¢ anexas tradicionalmente reconhecidas, sobre os efeitos da sentenga Sobre 0 contetido do comando (Barbosa Moreira) ou sobre 0 rio da sentenea (Ovidio Baptista da Sil depois jé ndo 06 mais. Ou seja de mudanga de si to, emcerta perspectiva—e sem prejuzo da p ingao entre efei- tos (ou demais efeitos) da sentenga e sua imutabilidade —o advento da coisa julgada pode ser visto em si mesmo como uma eficécia prépria, va (insista-se: inconfundtvel, de todo modo, com os efeitos re situagao juridica de in- idade judicial do comando contido na sentenga, Nessa perspectiva, é um efeito anexo do transito em julgadoda sen- tenga—vale dizer, um efeito diretamente atribuido por norma de lei,em NOQOES GERAIS 45 relago qual asentenga transitadaem julgado funciona como mero fato juridico.” Essaeficécia constitutivaanexa €0 instrumento pelo qual opera ‘a qualidade consistente na imutabilidade do decisum. Emsuma, oque orase propéenio € considerar a efeito da sentenga, mas, sim, como efeito do transito em julgado da sen- tenga. do instinuto e sua repercussdo material 2.1.7 Ocardter proces No se veja na afirmagao de tal forga constitutiva um mero retomo O que se esté afirmando aqui ¢ algo diverso. A sentenga ndo cons- titui o direito do vencedor ao reconhecer que ele tem razdo, Mesmo as sentengas com eficdcia principal con: nesses terms, * Barbosa Moreira, de passagem, sugere como interpretagio “preferivel” para a regra do art. 467 algo nos termos ora propostos: a coisa julgada como sen- Ansito em julgado ("Eficacia dasentenga eautoridade da coisa ando a coisa julgada como ‘uma idéia j& preconizada por 14). Também Bett, afirma que a 46 COISA JULGADA E SUA REVISAO suale, ainda, adeterminagio de que se adote o comando anterior como premissa inafastavel nos pronunciamentos jurisdicionais proferidos nos Processos subseqlientes para os quais 0 objeto do processo anterior fun cione como questo prejudicial. Em ambos os casos, trata-se de diretri- es cogentes para os dredos da jurisdigéo ¢ para o exercicio das garan- tias jurisdicionais. Nesse set préxima da teoria “processu material e o processo,** quando incide sobre as sentengas de erpetua-se um ato de poder jurisdicional que incidiu sobre a idico-material, sobre a vida do jurisdicionado. Iss0 no faz da julgada fen6meno de direito material (caso contrério, nfo apenas a coisa julgada, mas a propria sentenga de mi todo, em sua fungiio nuclear de prestartutela jurfdica, teriam cardter subs- tancial ~com 0 que estaria abolida a autonomia do di Mas 0 que basta para evidenciar o quanto o tema esta longe de ser uma simples questao técnica interna ao processo. 2.2 Coisa julgada, a Apenas serevestem da coisa julgada material os atos em relagio 203 quais alei expressamente atri dade inerente a todo ato jurisdi ‘nem de escopo essencial do pro- cesso. Sao perfeitamente concebiveis manifestagées da fungio jurisdi- ulos e imperativos de naturezajurfdieo-process isdicion :! para sua posicdo 3, p. 551). V. também Carm poder de ojuiz decidire odi prio Dinamarco enquadrou a processual materiat” (J ¥.3,n.955, p. 303), NOCOES GERAIS 47 cional que nao se tomem imutaveis. Mais ainda, € em tese imagindvel sistema processual cujos pronunciamentos sejam sempre passiveis de jurisdicional. A atribui- idade da coisa julgada decorre de opefo politica entre dois .nga, representada pélaimutabilidade do pronunciamento, sdessa escolha operada pel hhaverd coisa julgada, Daf a idéia da coisa julgada como 22.1 Coisa julgada e jurisdigao Diante disso, deve-se pesquisar o sentido ¢ 0 acerto da afirmagio, feita porautorizados processu julgada seria trago difere: fungOes do Estado. |gada —reitere-se — no € 0 atributo ess fo. Mas essa constatagao nao afastao acerto de outra assertiva: somen- ivo nem o normativo) pode, em da jurisai- s ordenamentos: por um lado, consa- segurando-se sempre a0 preju- do jurisdicional, 48 COISA JULGADA E SUA REVISAO tanto, se algum ato piblico esta apto a tender & imutabilidade, esse € 0 ato jurisdicional, e ndo 0s outros. I nem é propriamente o da imutabili- dade. O aspecto nuclear consisteem uma verdadeira “reservade senten- ‘¢a”: apenas um promunciamento juris caroutro pronunciamento juris. tenga apenas podem ser revogado ‘mediante outras proniincias j 30, nem ato privado nem o provimento administrativo ou legislativo podem incidir direta e imediatamente sobre uma sentenga, de modo a cassé-la ou reformé- sso € diferente do que se passa, nos modernos ‘osatosparticularese os atos pal sujeitos & revisio jurisdicional a julgada nfo € inerente & mas a atividade jurisdi Essa constatago tampouco pert no sendo o critério essencial de identificagao da jurisdigao, a coisa jul- gada seria um efeito necessario do atributo essenci lador poderia sempre rever seu comportamento anterior. iz, como se substitui as partes na condi- edo de um terceiro imparcial desvinculado dos interesses envolvidos, desenvolveria uma at iaaser o mesmo, ta lade ~raziio por que no se ac: taria a sua reiteragdio.” Tal explicagao é insatisfatéria em mais de um aspecto. Primeiro, hipoteticamente pode haver um sistema com ampla revisiio das decisdes jurisdicionais pelos drgios jurisdicionais, sendo NOGOES GERAIS 49 , dos atos administrativos praticados no ex: 6 possivel a “autovinculag: jor mesmoem sede administra al nemexcluiré o controle ju- lade de 0s atos serem revistos no iu nao se relaciona com a natureza ia de “reserva de sentenca”: 0s atos ju 0s nao revisaveis pelos outros Poderes. Apenas ndo parece possfvel sustent “reservade sentenga’ sejaumtragodec: 50, 0 inico apto a identificar a jurisdiga0. Ao menos em um sei a “reserva de sentenga” guarda relago com o atributo da ‘subs dade”, que qu servade sei isente certos atos administrativos ou legi wo do cones jurist ional. Dir-se-d que apenas esses atos estdo alheios ao afastada. Por exemplo, a consagrago de uma nova garantia fondamental mediante ‘emendacons © *Punzioni..”, p.214-215, 50 COISA JULGADA E SUA REVISAO de” © a impossibilidade de “revisio externa” estio intimamente liga- das. Por um lado, a “substitutividade” justifica a impossibilidade de “revisio externa”. Por outro, a impossibilidade de “revisio externa” mecanismo de viabilizagdo da substitutividade. 2.2.2 O valor constitucional da coisa julgada A coisa julgada éinstituto vinculado ao princfpio geral da seguran- sajuridica(v.n, 2.2.6,adiante), Mereceuexpressa mengono textocons- titucional, no rol de direitos e garantias fundament lei ndo preju- dicaré o direito adquirido, o ato perfeito e a coisa julgada” (CF, art. 5°, XXXVD. Ocorre que, em seus termos literais, o enfoque principal desse dis- positivo parece residir na garantia da irretroatividade das leis, e no tan- tonos institutos nele mencionados. Diante disso, cabe investigar qual 0 exato alcance da coisa julgada como garantia constitucional. Ha de se saber qual 0 preciso sentido da cléusula do rol de direitos e garantias fundamentais em que ela esté mencionada, A norma em discurso confe- re relevo constitucional para acoisa julgada apenas nos limites em que o instituto funcione como mecanismo de preservagio da irretroatividade das leis, como querem alguns (v.n. 6.2)? Ou, diferentemente: confere- ‘seao pr6prio instituto da coisa uulgada, em si mesmo, o valor de garantia constitucional? A resposta a essas questdes comporta a formulagao de algumas diretrizes: (1") Nao hd como deixar de conferir relevancia constitucional & coisa julgada, estando ela —como esta ~ tutelada em dispositivo consti- tucional. E impossfvel dar ao inciso XXXVI do att. *estrito ‘de mecanismo meramente instrumental. garantiade iretroatividade das leis. Mesmo se fosse possivel dizer que 0 teor literal do dispo: restringe a isso (e nao se restringe — como se vé adiante), haveria de se aplicar a maxima de hermenéutica pela qual as normas sobre direitos ¢ ‘garantias fundamentais merecem interpretagao extensiva, Além disso, basta comparar a disposigo com outras contidas no préprio art. 5° da Constituigio: 0 inciso XXXV prevé apenas que a “lei nio excluiré” 0 acesso a justiga ~e no entanto ninguém duvida que a garantia ali consa- grada vai muito além disso, impondo a qualquer aplicador do direito 0 respeito a todas as derivagdes extraiveis da inafastabilidade da tutela ju- NOGOES GERAIS SI risdicional; o capurdo art. 5*refere-se apenas’ igualdade “perante.a lei", ‘mas reconhece-se facilmente a incidéncia do principio da isonomia em todo e qualquer momento de aplicagao do direito. Tal como nesses ca~ sos, a coisa julgada nao é mencionada como simples limite, baliza, da lade legislativa. A referénciano texto da Constitui¢do implica outras conseqéncias, (2))A afirmagao de que nfo é dado & lei suprimir a coisa julgada que ja se tenha formado implica também o prinefpio geral de que 0 icador da lei nao pode, ele mesmo, desrespeitar a coisa julgada. O Supremo Tribunal Federal ja se pronuncion aesse respeito.® Nao faria sentido limitar a atividade do legislador para o fim de proteger a coisa {julgadae, ao mesmo tempo, deixar o aplicador da ei livre para agir como bementendesse. Trata-se de conjugar oart. 5°, XXXVI, como prinef- pio constitucional da legalidade (art. 5°, 1). Assim, fica definitivamente de que o inciso XXXVI do art. 5°estaria tratando uni- ‘camente de irretroatividade das leis. Ainda que nao mediante formula explicita, o dispositive consagra como garantia constitucional o pré rioinstituto da coisa julgada. E, revestindo-se de tal condi¢0, a coisa Julgada ndo pode ser suprimida da Constituigdo nem sequer mediante emenda constitucional (CF, art. 60, § 4°, [V). Por um lado, a coisa jul- ‘ada constitui uma garantia individual: na perspectiva do jurisdiciona- do, ela se presta a conferir estabilidade & tutela jurisdicional obtida.!* afastada a idéi “RE 92.823, RTY 99/794; RI 12.405, RTI 121/373. Ct. Moniz de Aragio, p. 20, Frederico Marques, Manual 3, 685, p. sal pode tomar por base para asuadeciséouma regraque ‘nem sequero legislador poderia ordenar™ (Alexy, “Direito constitucional..",n. 1.3,p. 57, reportando-se a uma frmula cunbada por Schumann). a julgada nfo consiste, em si como uma tutela 20s ,éarulelada tutela, tucional reco. estagio da “seguridad juri- (AnaM, Lourido Rico, La . Comentérias, cap. VI, n. ; Montero Aroca, EI nuevo ‘um reforgo da tutela, Po nhece valor eon cova juzgada, n, 3, p. 54-51; J. Carreras del 14,p.411,m.105,p.424en, 52 COISA JULGADA ESUA REVISAO Por outro, a coisa julgada tem também o cardter de garantia institucio- nal, objetiva: prestigia a eficiéncia ea racionalidade da atuagao esta- tal, que desaconselham, em regra, a repeticao de atividade sobre um. mesmo objeto. Assim, discorda-se de recente doutrina que pretende negar cardter constitucional ao instituto na ordem jurfdica brasileira (v. n, 6.2, adiante). (3) No entanto, a precisa definigo do regime da coisa julgada é tarefa do legislador infraconstitucional. Volta-se aqui & idéia da coisa julgada como dado politico, com a qual se iniciou o item 2.2. Cabe & lei disciplinar 0 campo de incidéncia, as condig6es para formagio, os limi- tes objetivos e subjetivos, os meios de revisao e todos os demais aspec- tos do instituto. Portanto, é sempre possfvel a sua (re)modelagfo infra- constitucional ~-desde que limitada sua aplicagaoa pronunciamentos que ainda nfo tenham transitado em julgado. Esse € 0 primeiroe mais 6bvio limite & atuagao do legislador, extrafvel da propria cléusula do inciso XXXVI. Asalteragdes no regime dacoisa julgadando podem servir para desfazer nem facilitar o desfazimento daqueles comandos jurisdicionais Jdacobertados in concreto portal autoridade. Mas nfo se trata do tinico limite que a Constituiclo imps. (Nao parece razodvel supor que o legistadorinfraconstitucional ‘possa vir a abolir integralmente a coisa julgada, consagrando a possibi- idade permanente de tevisio de todo e qualquer pronunciamento da ju- risdigao. Nem mesmo se essa aboligao total tivesse eficacia ex nunc, de modoa preservar as coisas julgadas anteriormente estabelecidas, elaseria admissivel. Muito embora do ponto de vista l6gico-juridico seja perfei- tamente concebivel um modelo processual jurisdicional despido dacoisa julgada, o direito constitucional positivo brasileiro afasta essa possibili- dade. A Constituigdo impde a premissa de que o modelo processual ju- risdicional contemplaré a coisa julgada ~ ainda que remetendo ao le- gislador infraconstitucional, dentro de certas condig6es,aliberdade de Proceso, cap. 24, p. 537)-No Brasil, v. Frederico Marques, Manual. 3,n. 685, p. 235-236; L, Greco, "Efiedcia..”,n.2,p. 150. Ver por exemplo: RT 159/682, rel. Min, 8, Perence; RE226,887-PE, ‘Min. Carlos Velloso ~ ambos citados no RE 220.517-2, rel, Min. Celso de (em RT 794/196). Mas em todas essas decisbes reconhece-se a esséncia constita- ional da coisa julgada (v. 7.2, d,adiante).. é eee ame ALI Bin NOGOES GERAIS 33 definigto dos atos que serdo revestidos dessa estabilidade. “Esse é mais «um dos significados extraiveis do inciso XXXVI do art. 5*, (S*) Além disso, outras normas constitucionais também condicio- nam a atividade do legislador infraconstitucional na formulagao da dis- ciplina da coisa julgada. Do proprio inciso XXXVI extraem-se os limi- es @ supresséo da coisa julgada acima mencionados: proibigao de a lei retroagireprejudicaras coisas julgadas anteriores; proibi¢dode ale abolir integralmentea coisa julgada, ainda que com eficécia ex nunc. Mas exis- tem também limites constitucionais 4 propria previsio da coisa julga- da. E do que se trata a seguir. 2.2.3 Critérios constitucionais para a atribuigdo da coisa julgada pelo legislador Afirmou-se acima que a atribui¢o da coisa julgada é uma “opgao” lador. Mas 0 legisladorndo goza de rrestritaliberdade nessa sua ha politica: segue pardmetros constitucionais. Apenas é constitucionalmente deferivel a coisa julgada A decisio proferida em processo desenvolvidoem regime de contradit6rio entre as partes —o qual ser efetivo ou potencial, conforme o grau de disponibi- lidade dos interesses em disputa. Somente pode ser destinatério de co- ‘mando irreverstvel aquele a quem antes foi dada a oportunidade de par- ticipar do processo de formagao desse comando. Uma das implicagées dessa condicionante constitucional diz respeito aos limites subjetivos da coisa julgada, Estabelecer como imutével uma decisio perante terceiro, 4que nao teve oportunidade de participar do processo em que ela foi pro= fetida, afrontatia nao apenas a garantia do contraditério, como também odevido processo legal e ainafastabilidade da tutelajuriscicional, respeito, veja-se o n. 2.5, adiante, Mas também entre as prépt do proceso o p “ Como nota Blival da’ infraconsttucional é dado regular 0s aspectos processuais do institto; nfo, porém, inteferir sobre a diretriz contida ho inciso XXXVI do art. 5*(A protegdo dos direitos, n, 24, p. 143), 34 COISA JULGADA E SUA REVISAO Outro pardmetro fundamental para a atribuigdo dacoisajulgadaéa presenga de cogni¢do exauriente. 0 instituto ~ que tem por esséncia a imutabilidade~6 constitucionalmente incompativel com decisao profe- rida com base em cognigao superficial e, por isso mesmo, provisoria, jo constitucional da coisajulga- isposigao expressanes- idee darazoabilida- lo processo. Como visto, dentro lade de certos atos virem a se tor- ‘ou privada é submetida ao crivo da JurisdigG0, Dai ja se ‘vé que a imutabilidade da coisa julgada—qualidade excepcional no qua- ‘a circunstincia de ele ter sido precedido de de manifestagao das partes, mas sobretudo aprofundidade da co que se pode desenvolver. A emissode decisées amparadas em cognigao suméria (superficial) nfo é, em si mesma, incompativel com as garan- tias do processo. Renunt fundada das questdes relevantes para a solugo do conflito em troca de uma decisio célere. Em certos casos, isso éjustificado pela necessidade deprotegio jurisdicional ripidaceficiente, semaqual ndose estariadai ida no art. 5°, XXXV, da Cons tuigdo. Mas se paga um prego pelo emprego da cognicé contrapartida razoavel consiste na impossi guira o mesmo grau de exauriente, Adota-se solucdo de compromisso: sacrifica-se a profundi- dade ese prods um pronunciamento urgentee apio a grar 05 rau dos concretos desejado: 1.4, p. SIA respeito de sua repercusséo brasileiro, v.Talamini, Tusela monitéria, parte 2, n. 2.2.4, p.98- Sérgio Cruz Arenhart, A tela ia, n, 3.10, p. 218 seguintes; Teresa Wambier e Medina, O dogma, n.3, p. 86-169. NOCOES GERAIS 55 Nao se trata de constatagio recente. A‘ tiga doutrina reconhecia nao haver coisa julgada (cap. 4). Mas na argitigo da tese que originou o presen SS, Bedaque opds-se a essa nogao de que a cognigdo suméria nfo € apta a produzir coisa julgada material. Segundo ele, um exemplo em sentido contrério seria 0 da revelia no proceso comum de conhecimento. ‘A seguir so reiterados sistematizados os argumentos naquela ‘oportunidade opostos contra esse seu entendimento. ‘A sentenga de mérito proferida no processo com mento em que houve revelia faz, sim, coisa julgada mi se tem na hipstese cognigao suméria, O juiz esta inve: gama de poderes instrutérios que Ihe permitem, se for necessdrio, in- clusive determinar a produgio de provas de oficio, apesar darev préprio Prof. JR. S. Bedaque reconhece essa possibilidade ~** opiniao com a qual ja concordei anteriormente" e que foi recentemente endos- sada em valiosa monografia sobre o tema. A revelia geracomo efeito principal a presungao relativa de veracidade dos fatos narrados pelo autor. Mas essa presungio pode ser derrubada ou abalada por fatos s, miximas da experiéncia ou documentos contides nos autos Imente trazidos pelo préprio autor). Quando isso ocorrer, 0 juiz rd o dever ~ de determinar diligéncias as destinadas a apurar os fatos (art. 130). A existéncia dessa possibilidade j4 € o que basta para que no se possa considerar ahipdtese como sendo de cognigo suméria(v. n.2.2.5, 1 seguir). Ha uma fundamental diferenga, p. ex., entre essa situagao no proceso comum de conhecimento e aquela que ocorre no processo rio quando oréu deixapassarembranco oprazo ara oporembar- os, p. 102, nota 231, ‘Saneamento..",2. 6, p. 93, © Umberto Bresolin, Efeitos da revel... n. 8.5,p. 160-161, que, aliés, se refere tanto ao eserito de Bedaque quanto ao meu. Cf. ainda, com amplas referén- , Maria Liicia de Medeiros, A revelian. 3.4.1, p. 148-156. 56 COISA JULGADA B SUA REVISAO rizada apenas nos casos em que, 0 juiz, tendo por suficiente a presun provinda, julgasse antecipadamente a lide. Ora, isso nada mais é do que um julgamento amparado em pre- sung ~ 0 que é normalmente possfvel em qualquer outro proceso m de conhecimento. Ouseja, a valeratese aqui criticada seria “de nigdo sumaria” todo julgamento amparado em presungées, ainda quando proferido em proceso comum de conhecimento — idéia essa que é acertadam ada pela mais autorizada doutrina e a juris- 1.2.2.5, adiante). Por (odo julgamento ante- cipado da lide proferido nos casos em que, néo tendo o réucumpridoo ‘nus da impugnag: 08 fatos (arts. 330, mento antecipad }) — 0 que tampouco procede. O julga- je na hipétese de ocorrero efeito principal da Iga ido Federal), Na exposigio de motivos do pro- dando ao processo de conhecimenta o mesmo janeamento..",n. 6, p-92-93. Eessa thantes monografistas do tema: Maria Lit- 11.3.4. 146, e Umberto Bresolin, Efeitos da revelia, 9.2, p.174-177 (com referéncias doutrindrias e jurispradenciais). NOCOES GERAIS 57 2.2.4 Segue. As espécies de cognigdo ea coisa julgada Nesse ponto, cumpre considerar a existé sumariedade de cognigao: a “horizontal” e a “vertical” A cognigaohorizontalmentesumériaimplicaumcortenaextensio dda matéria cognoscvel -residindo a sumariedade precisamente nessa seogdo, De todaa situagao conflituosa, apenas uma fragao € trazida para dentro do processo para ser objeto de exame juris aragioem divorcio, ages possessérias, embargos de terceito etc). Nessa hip i¢30 parcial, pois ela abrange apenas uma parte do confi (ou sumdriaem sentido lade, verossimithanga, cognigdo. Fala-se, entdo,em cognicio supe estrito), para sereferirao.exame damera plans aparéncia, do diteito, Sdo exemplos disso: as decisoes de antecipagdo de jenasagdesespeciais;aliminareasentengaca ido 0 exame exauriente que no processo cautelar se permite fazer Watanabe, Dacognicdo cp. 5p. 83 segintes:Ovitio defesa.",. 12, p. 158. , Da cognido, n, 20:2, p. 8.

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