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Capitulo 1 inguagem, texto, géneros textuais Introducao No dia a dia, empregamos frequentemente o termo “linguagem” para falar da co- municagio em geral: linguagem do corpo, linguagem dos sinais, linguagem da m sica, linguagem da pintura, linguagem da danga, linguagem do cinema. De fato, usa- ‘mos a linguagem em quase tudo que fazemos, pois a finalidade dela é a comunicagao: por meio das atividades de linguagem, dialogamos, transmitimos informagées ¢ co- nhecimentos, manifestamos emogées. Nesta obra, ao tratar de linguagem, referimo-nos principalmente linguagem verbal, presente num conjunto de palavras que se articulam para compor textos. ~ Agsim, tanto conversas, cartas, formulirios, bulas e contratos, quanto debates, re- portagens, contos, poemas ou pecas de teatro sao formas de comunicagao conside- radas textos. ‘Texto 6, portanto, toda produgéo linguistica, oral ow escrita, que apresenta senti- do completo e unidade. Tais produces podem ser elaboradas por um ou mais de um autor, numa determinada situacéo. Para garantir a compreensio, 0 autor deve arti- cular bem as partes do texto, e isso s6 se torna possivel gracas a alguns recursos que estudaremos mais adiante. = £0 contexto que determina 0 modo como vamos utilizar a linguagem na intera- ‘540 com outras pessoas, seja em textos falados ou em textos escritos. Por exemplo, 0 contexto pode envolver uma discussdo em familia, em ambiente doméstico, entre os ‘membros que a compdem; uma entrevista de trabalho, no espaco profissional, com a presenca do candidato e do representante da empresa; uma carta de amor, amostra de ‘um didlogo afetivo; uma reportagem para uma revista importante em que o redator, 0 escrever, leva em conta o interesse e a expectativa dos leitores. Cada uma dessas. tuagées exige um tipo de escolha, por parte de quem fala ou escreve, Assim, os Textos devem ser planejados considerando 0 espago em que vio circular e 0s leitores a que se destinam. Pelo mesmo motivo, as condigdes de producio de um texto devem ser cuidado- samente verificadas. Elas Semrendom do que envolve ‘uma situaggo.de comut cagdo{ 1)o local e 0 momento{2)& posigio social dos participantes, 3) tema a ser tratadqf4)) ambiente em que se encontram{5)\ finalidade da comunicacio. As condigSes de produgao determinam a escolha do género textual ~ um tipo de texto com caracteristicas relativamente estiveis ~ mais adequado para cada situagio de comunicagio, da noticia de jornal ao trabalho de conclusio de curso (TCC), como estudaremos neste livro. Tais condicées tornam-se claras quando respondemos as seguintes questdes-cha- ve: quem diz? Para quem? De que modo? Com qual finalidade? Qual a posigio social de cada um dos interlocutores? Em que ambiente o texto vai circular? Depois de res- ponder a essas pergunlas, pode-se escolher facilmente o formato, a composicio e © estilo mais adequados para o interlocutor a quem o texto se dirige Sentido explicito e sentido implicito Para comentar “sentido explicito” e “sentido implicito’, vamos acompanhar dois estagidrios de uma grande empresa, observando alguns dos textos orais e escritos com que entram em contato num dia de trabalho. Rui chega cedo, ouve tocar o telefone na mesa de Lia e atende. Em seguida, escreve um bilhete: A Lia, Ligaram do Departamento de Contabilidade, perguntando se j foram feitos os depé- sitos solicitados. Ha mais um, pedem que vocé passe ld Rui (8h45) Lia chega as 9h, Ié o bilhete, pensa em agradecer, mas Rui nao se encontra na ‘mesa ao lado. Dirige-se ao Departamento de Contabilidade, onde ocorre a seguinte conversa: B ~ Vocés chamaram de novo? De novet.. ~ Pois é,falhou, falhou.. tem de sair mais uma vez, pra outro... pra outro depésito. ~ Dai... vai atrasar o meu servigo, vai atrasar tudo. Depois de um tempo, toca o telefone de Lia. Rui atende a ligagao e, com o chefe, ‘ocorre outra conversa: ~ A Lia...a Lia nao esté, foi fazer um depésito. ~ De novo? Eu... preciso da ajuda dela, Avise assim que ela chegar. ~ Pois néo, doutor... Doutor Eusébio, eu... eu dou o recado. ~ Bu... eu preciso da sua ajuda também, venham... os dois & minha sala, por favor, assim que... assim que ela retornar. Um pouco mais tarde, Lia ¢ Rui vao a sala do chefe e recebem orientagoes a respei tode um trabalho. Ao fim da conversa, 0 diretor anuncia que fard um comunicado im- portante, No dia seguinte, aparece uma circular na tela de todos os computadores: D. CIRCULAR INTERNA [27/2009] Referente a servigos externos Solicitamos que colaborem para evitar desperdicio de tempo, pois atrasos prejudicam (0 andamento do trabalho da empresa, Para que nio se repita desnecessariamente a saida para servigos externos, pedimos as chefias de departamentos verificar, diaria- mente, as 9h, se ndo ficou pendente nenhuma providéncia que dependa de atividade externa dos subordinados do seu ou de outro(s) departamento(s), uma vez que elas io executadas sempre a partir de 10h, Agradeco a colaboragio da equipe. Diretoria Geral (Os quatro textos acima fazem parte de um mesmo contexto: 0 ambiente de trabalho numa grande empresa, Dois deles — as conversas — s4o orais. Dois outros — o bilhete ea circular ~ sio escritos. Nesses textos ha também variagao de interlocutores: Lia, Rui, 0 chefe, o funcionério da Contabilidade. Examinemos cada um dos quatro textos. O texto A é um bilhete de um colega para outro, ambos com @ mesma posigo na ‘empresa. O tom poderia ser informal (se fosse um bilhete pessoal, por exemplo), mas 0 nao ocorre. Qual a razo de o bilhete ter sido redigido formalmente? O motivo dessa escolha esté implicito: provavelmente Rui supde que outro funciondrio possa leo sobre a mesa de Lia. O texto B & uma conversa entre funcionérios, um texto falado. Na lingua falada, © planejamento do texto é simultaneo a sua execucao, por isso, com frequéncia, esse tipo de texto apresenta caracteristicas como repetigdes e interrupgdes. Percebemos, isso facilmente no exemplo B e, logo depois, no exemplo C. Por se tratar de uma con- versa entre funciondrios, o tom do texto B ¢ informal, como exemplificam os termos “C8, ‘pra’ e “daf’ Jé 0 texto C, outra conversa, apresenta um tom formal, pois os in- terlocutores sdo 0 chefe e um subordinado ~ porém, mesmo neste caso, a formalidade do vocabuldrio e do tom nao impede as repeticdes préprias da comunicagio falada espontanea, Os textos A, B e C tém a mesma finalidade: agilizar a comunicagio entre funcio- narios de uma mesma empresa. Procuram ser objetivos e apresentar 0 assunto sem rodeios. O texto D é uma circular, um documento interno que o diretor da empresa dirige a todos os funcionérios. O tom ¢ formal, o titulo vem acompanhado de numeracao e data, e, no subtitulo, anuncia-se o assunto. Como todo texto escrito, a circular deve ter sido planejada previamente, ou seja, rascunhada, revisada, o que nao seria possi- vvel num texto falado espontaneo, no qual planejamento e execugo ocorrem a0 mes- mo tempo. (O texto D tem como finalidade regulamentar procedimentos internos da empre~ sa. Como sio conhecidas as condigdes de produgao desse texto, fica facil perceber, além do sentido explicito, também o sentido implicito. A circular aparenta dirigir-se explicitamente as chefias: “pedimos &s chefias de departamentos verificar..” Mas, na verdade, ela visa a ditar regras de conduta a todos os funcionérios, como sugerem dois indicios presentes no texto. Em primeiro lugar, o modo como esta redigido o ini- Estude também Nos dois préximos capitulos, convidamos o leitor a examinar aspectos gerais, pre- sentes em todo tipo de texto: coesio e coeréncia, no capitulo 2; parigrafo, no capitu- lo 3; intertextualidade, no capitulo 4. Na sequéncia, hé capitulos dedicados ao estudo de géneros textuais, com abordagem de seus aspectos especificos. Capitulo 2 Coesao e coeréncia textuais Introdugao Tira 9 Tura da Mania, pudcada no jr O Estado de S. Paulo em 18 fv. 2008 Nos quadrinhos acima, imagens e palavras séo articuladas para compor a unidade do texto. O leitor percebe que: 1) as imagens completam o sentido das palavras e vi ce-versa; 2) ha uma sequéncia do primeiro para o segundo quadrinho; 3) propde-se ‘um conceito de familia partilhado por muitas pessoas. ‘Trata-se de um texto misto - com imagens e palavras ~ que apresenta continuida- de de sentido: a primeira colocagao, “ser pai €... é..”, seré completada pelo quadrinho. final, em que 0 conceito de paternidade se traduz tanto pela fala da personagem, “..€ ser feliz”, quanto pela imagem do pai com os filhos no colo, envoltos em pequenos co- races, num cendrio doméstico em que a mie, com expressio feliz, contempla o cari- ho entre os membros da familia. Para compreender uma histéria em quadrinhos, ou HQ, 0 leitor tem de saber ler eentender o que esta escrito nos baldes e, a0 mesmo tempo, compreender a relagak do texto com as imagens. Além disso, deve ter um repertério ou conhecimento de mundo que o leve a compreender as situagdes retratadas ~ no caso acima, um concei- to de familia

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