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Revista 49
Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 49 – 55, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.
RESUMO: Realizou-se estudo a cerca da Doença Hipertensiva Específica da Gestação (DHEG) e Recém-
Nascidos de Baixo Peso (RNBP), com os objetivos de verificar a incidência de RNBP em mães com DHEG e
apresentar alguns dados epidemiológicos. Os dados foram coletados através de um roteiro. Pesquisamos 239
prontuários de gestantes com DHEG e seus respectivos recém-nascidos, no período de janeiro-1998 a dezembro-
2002, em um hospital público de Goiânia. Constatamos que 69,70% das mães tiveram filhos com peso menor que
2500 g, levando-nos a concluir que a DHEG influencia na incidência de RNBP, visto que em menos de 50% dos
casos, houve o nascimento pré-termos. A maioria das mães era primigestas. Mais de 50% destas fizeram pré-
natal, porém, apenas 39,70% realizaram mais de seis consultas. Em 82,85% dos casos, a via de parto foi
cesariana.
SUMMARY: It happened a study of the Specific Hypertensive of Gestation Disease (SHGD) and Low Weight of
New Born (LWNB) with the objectives to verify the incidence of LWNB in mothers with SHGD and to present some
epidemic data. The data was collected through a trial. From January-1998 through December-2002 in a public
hospital of Goiânia, we researched 239 files of pregnant women with DHEG and their respective new born. We
verified that 69,70% of the mothers had children with smaller weight than 2500g, leading us to conclude that DHEG
influences in the incidence of RNBP, because in less than 50% of the cases, there was a birth of pre-term. Most of
the mothers were pregnant for the first time. More than 50% of them made prenatal, however, only 39,70%
accomplished more than six consultations. In 82,85% of the cases, the childbirth was via cesarean operation.
1*
Orientadora, Doutora e Professora adjunta da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás– FEN/UFG.
2
Acadêmica do 5° ano de enfermagem da Universidade Federal de Goiás e bolsista do Programa Especial de Treinamento -
PET. E-Mail: leilineia@zipmail.com.br.
3*
Acadêmica do 5° ano de enfermagem da Universidade Federal de Goiás.
MARTINS, C.A.; REZENDE, L.P.R.; VINHAS, D.C.S. – Gestação de alto risco e baixo peso ao nascer em Goiânia. Revista 50
Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 49 – 55, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.
prematuro da placenta, em aproximadamente 50% dos Uma das graves complicações de distúrbios
casos é decorrente da DHEG e outras complicações hipertensivos na gravidez é a síndrome HELLP,
associadas à prematuridade, contribuindo para a caracterizada por hemólise, elevação de enzimas
mortalidade neonatal. hepáticas e plaquetopenia. O fígado gorduroso da
Na gestação a vascularização uterina, segundo gravidez, também é considerado complicação,e se
CINTRA (2001), sofre grandes alterações para trata de uma patologia grave, de etiologia
fornecer suprimento sangüíneo adequado ao útero em indeterminada. Pacientes com estas patologias devem
crescimento e ao produto gestacional, as artérias ter acompanhamento rigoroso, com internação e
espiraladas se dilatam, atingindo até trinta vezes seu cuidados em terapia intensiva, afirma CINTRA (2001).
diâmetro pré-gestacional. Geralmente, entre outros, os distúrbios
Entre a décima e a décima sexta semana de hipertensivos na gravidez são graves, e acarretam um
gestação ocorre a primeira onda de invasão aumento na incidência de parto cesárea,
trofoblástica, com ocupação da camada muscular e do potencializando as complicações. A doença apresenta
endométrio da porção decidual das artérias um elevado índice de morbiletalidade materna e
espiraladas. perinatal, que exige uma intervenção rápida e segura
A segunda onda de invasão entre décima sexta para o concepto.
e a vigésima segunda semana se estende às porções Pacientes com gravidez em curso, segundo
miometriais das artérias espiraladas. Estes vasos CINTRA (2001), devem ficar em decúbito dorsal, com
tornam-se dilatados, incapazes de sofrer contração e a cabeceira do leito em semi-Fowler. Em casos
apresentam tecido trofoblástico em contato direto com graves, repouso em decúbito lateral esquerdo, o maior
o sangue materno. tempo possível, ou decúbito elevado a 45º, se a
Para CINTRA (2001), gestantes com distúrbios paciente estiver consciente e orientada. A gestante
hipertensivos na gravidez, não apresentam a segunda acima de vinte semanas pode ter 20% a 30% de
onda de invasão trofoblástica no parênquima uterino. redução do débito cardíaco em posição supina, por
O tecido trofoblástico fica superficial e não avança este motivo é necessário observar o posicionamento.
além da porção decidual das artérias espiraladas. O Deve ser feito o controle rigoroso da freqüência
diâmetro externo final destes vasos no miométrio é respiratória em pacientes sem assistência ventilatória,
menor que a metade dos vasos similares em gestantes e a oxigenação com ventilação mecânica e sedação,
normais. bem como podem ser necessários monitorização
Não ocorrendo a invasão trofoblástica dos vasos cardíaca e controle de níveis pressóricos (inclusive
uterinos, que estão uniformemente contraídos, haverá com métodos invasivos, em casos mais graves).
hipoperfusão do trofoblasto. Acredita-se que ocorra a Outros procedimentos que podem ser
produção de um agente, pelo tecido trofoblástico em necessários: Controle diário de proteinúria, por urina
sofrimento, que seja citotóxico e juntamente com tipo I ou reação colorimétrica urinária com fitas
outros mecanismos, cause dano ao endotélio. especiais, sondagem vesical de demora com controle
A cliente com distúrbio hipertensivo na gravidez, rigoroso de diurese e balanço hídrico, avaliação
segundo CINTRA (2001) e REZENDE (1995), não constante da função renal, eletrólitos, hematimetria,
apresenta aumento do volume plasmático sendo que pesquisa de dimorfismo eritrocitário, plaquetas,
este é pequeno ou inexistente. Há elevação do coagulograma completo, TGO/TGP, LDH, bilirrubinas,
hematócrito. O débito cardíaco poderá estar normal, glicemia, gasometria arterial no mínimo uma vez ao
aumentado ou diminuído, dependendo da gravidade, dia, com correção dos distúrbios, com acidemia,
duração da doença e terapêutica utilizada. A pressão insuficiência renal, alterações de coagulação,
arterial é elevada, assim como a resistência vascular hemorragias.
periférica, com diminuição de perfusão em vários A monitorização fetal deve ser realizada após
órgãos. Há um estado hemodinâmico de baixo volume, a estabilização da paciente. A enfermagem deve
alta pressão e alta resistência. manter-se atenta aos sintomas: dor epigástrica ou em
Mesmo em casos de doenças sistêmicas com hipocôndrio direito, náuseas e/ou vômitos e, na
comprometimento vascular, como vasculites ou prevenção de crises convulsivas dentre outros
aterosclerose materna, mola hidatiforme, diabetes e procedimentos da conduta clínica na eclampsia e está
lúpus eritematoso sistêmico, o resultado final é a não- indicado, sob prescrição médica, o sulfato de
ocorrência da segunda onda de invasão trofoblástica, magnésio (SO4Mg), e no caso de recorrências
com o mesmo comprometimento de hipoperfusão dos subentrantes, opta-se pela fenil-hidantoína. Entretanto,
tecidos trofoblásticos. A razão do fenômeno da não- na pré-eclampsia, convém lembrar a relação
invasão trofoblástica, segundo esses autores, é risco/benefício do uso de medicamentos com
desconhecida, mas acredita-se na existência de potenciais efeitos teratogênicos ou outros efeitos
mecanismos bioquímicos, imunológicos e genéticos colaterais, a administração deve ser feita com rigoroso
envolvidos neste processo, que não foram critério, recomenda-se o Ministério da Saúde (BRASIL;
comprovadamente definidos. 2000).
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Já, na pré-eclâmpsia leve, a conduta consiste Para RAMOS (1986), dentre outros, os fatores
em tratamento ambulatorial, repouso, dieta influentes no retardo de crescimento fetal são as
normossódica e controle do ganho de peso excessivo. Causas fetais (rubéola congênita, síndromes de
A via de parto depende da indicação obstétrica (não nanismo primordial, anormalidades cromossômicas,
ultrapassando 40 semanas de gestação), síndromes de má formação congênita, produção fetal
Portanto, um importante meio profilático para se reduzida de insulina e de fator de crescimento
reduzir a incidência de Doença Hipertensiva Específica semelhante à insulina I FCI-I); Causas placentárias
da Gestação é a assistência adequada ao pré-natal, (tumores placentários, descolamento prematuro
realizada por enfermeiro, com consultas periódicas e crônico da placenta, transfusões intergemelares,
intervalos habituais – no mínimo seis, sendo duas insuficiência placentária, dentre outras); e causas
consultas médicas, (no entanto, em presença de maternas (doenças vasculares periféricas que
qualquer sinal ou sintoma de alteração de risco, a reduzem o afluxo sanguíneo útero-placentário,
gestante deve ser encaminhada ao médico). hipertensão arterial crônica, vasculopatia diabética,
entre outros). A pré-eclampsia e eclampsia constituem
RECÉM-NASCIDOS DE BAIXO PESO risco para o nascimento de recém-nascidos de baixo
peso. Vale dizer, que ainda não há provas de que a
Segundo dados do Ministério da Saúde redução do fluxo sanguíneo útero-placentário seja a
(BRASIL; 2000a), a freqüência dos recém- nascidos de causa de retardo de crescimento no feto humano,
baixo peso é estimada entre 10 e 15%, de todas as embora se saiba, várias causas que reduzem esse
gestações. No entanto para a problemática do retardo fluxo estão associadas a recém nascidos pequenos
de crescimento fetal ou redução do crescimento intra- para idade gestacional.
uterino e das complicações associadas ao nascimento, Um importante dado sobre a relação pressão
respectivamente, não existe, ainda, tratamento arterial materna/peso fetal foi desenvolvido por NAYE
específico. O estabelecimento da conduta fica na e cols (1973), demonstraram que pressão diastólica
dependência da idade gestacional, das condições de máxima obtida durante a gravidez, aumenta quando
vitalidade fetal, da evolução clínica e do fator causal. aumentam o peso pré-gravídico e o ganho líquido de
Propõem-se medidas como repouso materno e a peso na gravidez, ou seja, o peso total ganho pela
correção dos fatores causais identificados. mãe menos o do feto e o da placenta.
São considerados recém nascidos de baixo Os dados sugerem que muitas modificações do
peso quando o peso do recém-nato for menor que crescimento fetal atribuídos à nutrição oferecida pela
2500g. A qualidade do crescimento fetal depende da mãe sejam, na realidade, mediados pela pressão
interação do organismo do feto com o de sua mãe, e o arterial e pela perfusão uterino-placentária.
suprimento por fatores maternos e placentários Na compreensão de que a gravidez não é
(BRASIL, 2000a). doença, mas ocasionalmente poderão ocorrer
RAMOS (1986), avalia clinicamente o intercorrências que afetam drasticamente a mãe e ao
crescimento fetal, determinando-se a altura do fundo concepto, o estudo busca avançar na realidade
do útero através do exame bimanual do abdome epidemiológica local considerando a relevância aos
gravídico. Além disso, as medidas de ultra-sonografia fatores mencionados e outros a serem identificados
do diâmetro biparietal, do comprimento do fêmur e do como de risco, para implementação de ações
perímetro abdominal fetais, são também empregadas normalizadas de controle pré-natal, que configure um
para se estimar o crescimento fetal. padrão de qualidade, aplicado à população de
A combinação dessas medições prediz com mulheres no período grávido-puerperal.
exatidão o peso fetal. Os desvios da curva de
crescimento serão relacionados a condições de alto RESULTADOS
risco. O desenlace do feto ou recém-nascido com
retardo do crescimento dependem da redução do Os resultados foram coletados e em seguida
crescimento intra-uterino e das complicações apresentados em números absolutos conforme
associadas ao nascimento. demonstrado nas tabelas a seguir:
Conforme a tabela acima, percebemos que a vida, sendo que os mortos (incluindo natimortos),
grande maioria (82,84%) dos neonatos nasceu com dentro da população estudada, foram 10,87%.
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A tabela 2 mostra que no hospital pesquisado, vivos, corroborando com REZENDE (1995), que afirma
138 crianças nasceram com peso menor que 2500g. que o baixo peso ao nascer pode decorrer da DHEG.
Isso corresponde a 69,70% do total de recém-nascidos
A tabela 3 mostra que dos 239 casos de DHEG, de recém-nascidos que apresentaram baixo peso para
61,92% das crianças nasceram a termo. E, a idade gestacional, justificando a relação doença
observando a tabela 2, os dados revelam que o baixo hipertensiva específica da gestação como um dos
peso ao nascer não estava atrelado a idade fatores preponderantes do baixo peso fetal ao nascer.
gestacional, pois 69.70% dos fetos que nasceram com Pois, de acordo com REZENDE e MONTENEGRO
peso baixo para a idade gestacional o parto ocorreu (1995), e NEME(1995), as alterações morfológicas
entre 37 e 42 semanas). funcionais no organismo da gestante portadora de
Isso leva-nos a afirmar que a idade gestacional perturbações circulatórias atingem, dentre outros
não influenciou no resultado, uma vez que os órgãos, a circulação útero-placentária em cerca de 40
resultados constatados na tabela 2 apresentam 31% a 60% dos casos, com incidência de grandes enfartes
do total de recém-nascidos. placentários.
Contudo, no estudo, verificou-se alta incidência
Paridade N. %
Primigestas 135 56,48
Secundíparas 44 18,41
Multíparas 52 21,76
Sem Informação 8 3,35
Total 239 100
A tabela 4 mostra que em 56,48% dos casos, uma patologia de primigestas, pois menos da metade
as mães eram primigestas, concordando com CINTRA soma-se as puérperas secundíparas e multíparas.
(2001), que afirma que a DHEG é predominantemente
Pré - natal N. %
Sim 136 56,90
Não 71 29,70
Sem Informação 32 13,40
Total 239 100
de gestantes que não realizaram pré-natal, ou seja, em assim, um dos fatores determinantes no controle e
torno de 30% das mulheres grávidas, constituindo prevenção da DHEG.
Número de consultas N. %
Mais que seis 54 39,70
Menos que seis 82 60,30
Total 136 100
Observa-se, na tabela 6 que apenas 39,70% estes dados freqüentemente além de outras causas
das mães, realizaram pré-natal efetivamente, ou seja, contribuem para o agravamento do problema, uma vez
com mais de seis consultas. Entretanto, é importante que os indicadores de mortalidade registram
estar alerta para os dados da tabela 5 onde apenas claramente a importância de medidas de assistência
(56,90%) das mães fizeram pré-natal, independente do às gestantes e recém-nascidos.
número de consultas. Segundo MARTINS (2001),
Via de parto N. %
Operatório 198 82,85
Normal 30 12,55
Sem Informação 11 4,60
Total 239 100
Observa-se na tabela acima, que a via de parto agravamento da patologia para eclampsia grave, (por
predominante foi a cesariana, concordando com exemplo a ocorrência da Síndrome Hellp), embora
GRASSIOTO (1984). Entretanto vale a pena lembrar pouco comum, tem grandes chances de ocorrer.
que no Estado de Goiás, segundo MARTINS (2001) Assim, o mais importante é intervir com medidas
dentre as causas obstétricas diretas que lideram os gerais das quais se inclui o parto cirúrgico.
altos índices de morte materna, destacam–se a Com base em tudo isso, vemos que as questões
infecção e a toxemia, coeficientes que encontram-se da DHEG devem estar atreladas à humanização da
associados à má qualidade da assistência pré-natal. assistência à mulher no período gravídico-puerperal,
prática que fortalece as condutas com enfoque na
CONSIDERAÇÕES FINAIS prevenção, sintonizadas em novos pressupostos que
encarem a saúde no contexto político-econômico,
A análise dos resultados evidenciou que o cultural e histórico, no qual a gravidez não é um
número de crianças que nasceu com baixo peso para processo de doença e as intervenções dos
idade gestacional foi dominante. O número de pré- profissionais devem adotar condutas que tragam bem
termos foi de 30,54%, reforçando que a doença estar e garantam a segurança para a mulher e para o
hipertensiva específica da gestação realmente seu filho, restringindo abordagens tradicionais
influencia na incidência de recém-nascidos de baixo desnecessárias e muitas vezes potencialmente
peso, uma vez que, a idade gestacional não iatrogênicas.
influenciou no resultado, visto que 61,92% dos
conceptos nasceram a termo, ou seja, com idade REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
gestacional adequada (entre 37 e 41 semanas) e em
6,69% dos casos, o parto ocorreu com 42 semanas. BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas
A maior parte dos prontuários, ou seja, 60,30% de Saúde. Gestação de alto risco. Manual técnico. 3.
registra que as mães eram primigestas e não ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2000.
realizaram o pré-natal adequadamente pois apenas _______. Urgências e emergências maternas. Manual
39,70% das clientes fizeram mais de seis consultas. técnico. 2 ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2000a.
Os achados, também mostram que a via de CINTRA, E. A; NISHIDE, V.W; NUNES, W.A. A
parto predominante foi a cesariana, evitando assim o assistência de enfermagem ao paciente gravemente
risco de morte para a mãe e o neonato, pois o enfermo. São Paulo: Atheneu, 2001.
MARTINS, C.A.; REZENDE, L.P.R.; VINHAS, D.C.S. – Gestação de alto risco e baixo peso ao nascer em Goiânia. Revista 55
Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 49 – 55, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.