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Internet
enquadrada na lei
FLÁVIA FONSECA
N
ão tem mais jeito:
o governo federal
vai ter que apro-
var este ano a lei
que valida docu-
mentos eletrônicos e regula-
menta o uso da assinatura di-
gital. Ele mesmo já constatou
as vantagens da rede como
meio difusor de informação e
criou o e-Governo com o obje-
tivo de substituir o papel pelos
dados eletrônicos nos serviços
que presta ao cidadão. “Em
2001, o Governo entra de sola
na internet, aumentando o nú-
mero de serviços. Isso vai de-
saguar para que outras empre-
sas façam o mesmo. Os proble-
mas vão vir à medida que
maiores somas estiverem tra-
fegando”, constata o advogado
e especialista em Direito da In-
formática, Alexandre Athe-
niense. O resultado será a de-
manda ainda maior pela segu-
rança e proteção do usuário
garantida em lei.
Em muitos países, a legisla-
ção já criou parâmetros para o
assunto. No Brasil, algumas
leis tramitam no Congresso,
esperando a aprovação que es-
tava prevista para março deste
ano. É bem possível que atra-
se, já que a votação em Plená-
rio do projeto analisado pela
Comissão Especial para o co-
mércio eletrônico não aconte-
ceu em dezembro como era es-
perado. O trabalho que vinha
sendo realizado está parado e
O que é a
assinatura
digital
A regulamentação do uso da
assinatura digital é essencial
para o e-commerce. Da mesma
forma que a assinatura de pu-
nho representa um elemento
único e exclusivo que identifica
uma pessoa, a digital (também
chamada assimétrica) garante
com elevado grau de confiabili-
dade técnica a identidade do
usuário. Ter a certeza que uma
mensagem é autêntica, reco-
nhecendo sem nenhuma dúvida
a sua origem, é fundamental pa-
ra a segurança de um negócio
eletrônico. Muitas empresas, e o
próprio Governo, já utilizam a
assinatura digital, porém, sem
validade jurídica.
A assinatura digital nada
mais é que um símbolo perso-
nalizado, gerado a partir de
combinações matemáticas. Ele
vem associado a um contrato ou
pode ser adotado por uma pes-
soa que queira assinar um do-
cumento. Imagine que você re-
ceba um arquivo com uma assi-
natura digital. Para reconhecer
o emissor da mensagem, você
precisa ter em mãos duas “se-
nhas”: uma sua, pessoal e in-
transferível (Chave Privada), e
outra da fonte que enviou o ar-
quivo (Chave Pública). A combi-
nação das duas confirma a ori-
gem da mensagem. Para evitar
a fraude, os certificadores ele-
trônicos autenticam a Chave Pú-
blica, garantindo que os docu-
mentos são originais e têm o
mesmo valor daqueles emitidos
em papel e firmados por meio
convencional.
assim vai continuar até 15 de
fevereiro, quando os deputa-
dos voltam do recesso. Uma
audiência pública ainda deve
acontecer após esta data para
avaliar o comércio eletrônico
sob o aspecto do Código de De-
fesa do Consumidor; em segui-
da, o relator da Comissão, de-
Cuidados para não ficar na mão
Já que, por enquanto, não
tem uma lei específica, como
as empresas e os usuários da
internet podem se proteger
nas transações do comércio
eletrônico? Em primeiro lu-
gar, as empresas devem escla-
recer o máximo possível das
suas regras nos contratos que
realizam com clientes e forne-
cedores para que estes papéis
sejam o argumento em caso
de processo judicial. Como
precaução, os internautas de-
vem documentar todos os
passos da concretização de
uma compra: salvar tela a te-
la (em disquete ou no compu-
Editora:
INFORMÁTICA
Rosa Maria Miguel Fontes
putado Júlio Semeghini (PS-
DB/SP), deve emitir o parecer
para votação.
Dentre as propostas analisa-
das pela Comissão Especial es-
tá o projeto do deputado Lucia-
no Pizzatto (PFL/PR) e da
OAB/SP que toca em um as-
sunto polêmico: os certificado-
tador) a evolução do negócio
ou imprimir cada uma. Trocar
e-mails com a empresa que
está negociando e solicitando
o pedido de confirmação da
compra.
“A prova é obtida através do
meio de produção. Todos os
elementos somados podem
convencer o juiz”, diz o advo-
gado Alexandre Atheniense,
ressaltando que a documenta-
ção que o usuário arquivar se
caracteriza por uma prova
presumida e não inequívoca.
Isso quer dizer que o juiz que
for analisá-la vai considerar o
argumento do usuário em pri-
TELECOMUNICAÇÕES
res eletrônicos. A proposta é
que os atuais cartórios sejam
reconhecidos pelo governo fe-
deral como autoridades certifi-
cadoras, passando a dar a
mesma fé pública dos papéis a
documentos eletrônicos – o que
não invalida a atuação no Bra-
sil de certificadores internacio-
meira instância. É claro que
também será avaliada a possi-
bilidade de alteração dos regis-
tros a partir de um ato de má
fé do usuário. “Estamos pas-
sando para a fase de validar o
intangível. A nossa lei, que foi
escrita para lidar com coisas,
terá que passar a lidar com da-
dos”, afirma Atheniense.
O advogado acredita que as
propostas que estão em trâ-
mite no Congresso, quando
aprovadas, vão conseguir
atender aos problemas que
estão por vir envolvendo o
mundo virtual da web. “Os
ajustes e pequenas alterações
Belo Horizonte, Quinta-feira, 4 de janeiro de 2001 - Nº 268
nais. “Será que os donos de
cartório vão ter a tecnologia
para acompanhar a certifica-
ção? Este vai ser o embate do
ano que vem”, afirma Alexan-
dre Atheniense. Ele acredita
que vai ter espaço para todos:
os cartórios mais experientes e
que têm melhor estrutura vão
(inevitavelmente) vão aconte-
cendo”, afirma. Hoje, pratica-
mente todas as formas de co-
mércio eletrônico vêm sendo
realizadas na base da con-
fiança recíproca. À medida
que maiores somas de dinhei-
ro envolverem os negócios, a
possibilidade de uma das par-
tes se sentir lesada aumenta.
Até a promulgação da lei, os
usuários devem arquivar tu-
do, já que com a documenta-
ção em mãos fica mais fácil
ser atendido. Além disso, de-
vem procurar lidar com em-
presas conhecidas no merca-
do.
c
m
y
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ESTADO DE MINAS
dar conta do recado, enquanto
que os certificadores interna-
cionais não vão atuar fisica-
mente em cidades pequenas.
Lei genérica
Outro projeto tramita no
Congresso, de autoria do sena-
dor Lúcio Alcântara
(PSDB/CE). O diferencial da
proposta é que não é tão espe-
cífica quanto a do deputado
Luciano Pizzatto. Levando-se
em conta a dinâmica do co-
mércio eletrônico e as cons-
tantes evoluções tecnológicas,
uma lei mais genérica pode
ser mais interessante, como
afirma Atheniense. Ele exem-
plifica com o Código Penal, de
1940, que pode ser aplicado
em casos de difamação pela
internet. A lei deixa claro que
difamação é difamação, seja
por que meio for.
O advogado destaca que,
apesar de não haver uma lei
específica para o comércio ele-
trônico, muitos danos gerados
a partir de um negócio virtual
podem encontrar suporte na
legislação atual. Segundo ele,
o usuário que compra merca-
dorias pela internet está bem
protegido pelo Código de Defe-
sa do Consumidor, que foi cria-
do em um contexto dinâmico.
Já quando as compras não são
de mercadorias, mas de infor-
mações, cada caso deve ser
analisado. “A lei não foi escri-
ta para lidar com dados”, lem-
bra.
Cartórios
vão se
estruturar
A complexidade do processo
que envolve a assinatura digital
é grande e, claro, a polêmica
em torno também. Há quem
questione a segurança da pro-
posta da OAB/SP. Por outro la-
do, os representantes de cartó-
rio estão apoiando a aprovação
da lei que concede à classe a
permissão para emitir certifica-
dos eletrônicos (desde que
atendam às normas do Minis-
tério da Ciência e Tecnologia).
Segundo o diretor da Associa-
ção dos Serventuários de Justi-
ça do Estado de Minas Gerais
(Sergus-MG), órgão representa-
tivo da Associação dos Notários
e Registradores do Brasil (Ano-
reg-BR), Maurício Leonardo, os
cartórios já possuem um pré-
projeto de Autoridade Certifica-
dora e estão aguardando a
aprovação da lei para começa-
rem a se estruturar.
Com a aprovação dos proje-
tos de lei para o comércio ele-
trônico, a proteção aos usuá-
rios da internet será bem maior
– um convite, aliás, para au-
mentar a participação de em-
presas e consumidores no e-
commerce. Diversos países as-
tão atentos a esta realidade e
organizando a casa com a cria-
ção de leis específicas. Foi o
que aconteceu nos Estados Uni-
dos em junho do ano passado, c
quando foi regulamentado o
uso da assinatura digital. Em
m
outros países da Europa (Itália, y
Espanha e França) também
existem leis vigorando sobre o k
assunto.