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Introdução tais que saem de solução; (ii) efeito da estrutura molecular, I
onde a linearidade da parafina e o seu alto peso molecular
As companhias de petróleo têm intensificado a exploração facilitam a sua agregação; (iii) efeito fluido-dinâmico, onde E
offshore, onde os campos são localizados abaixo do fundo um regime turbulento, que provoca uma difusão molecular
do mar. Neste caso, a baixa temperatura da água provoca
um resfriamento brusco do óleo, ocasionando deposição de
e uma dispersão cisalhante, favorece uma maior troca tér-
mica e, conseqüentemente, a saída da parafina de solução; e
N
parafinas. O fenômeno de cristalização de parafina pode ser
dividido em três estágios: a nucleação, onde o primeiro núcleo
um regime laminar, que provoca o ancoramento e aderên-
cia na parede e, ainda, alinha esses cristais favorecendo a
T
aparece; o segundo estágio, onde a massa produzida sai de deposição da parafina[4].
solução; e o terceiro, onde ocorre a agregação dos cristais Atualmente esse problema de deposição de parafina é Í
produzidos dando origem a cristais maiores[1-3]. controlado pela Petrobrás através de três métodos: (1) o
O fenômeno de precipitação de parafina pode ocorrer preditivo, onde são feitas modelações moleculares e simu- F
devido à ação de três mecanismos: (i) efeito termodinâmico, lações numérica e física; (2) o preventivo, onde se empre-
onde a redução de temperatura e o abaixamento da pressão ga inibição química, inibição magnética e isolamento I
provocam a precipitação e uma posterior deposição dos cris- térmico; (3) o corretivo, onde são aplicadas uma remoção
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Autor para correspondência: Elizabete F. Lucas, Instituto de Macromoléculas Professora Eloisa Mano, UFRJ, Caixa Postal 68525, CEP: 21945-970, Rio de
Janeiro, RJ, Brasil. E-mail: elucas@ima.ufrj.br
O
Polímeros: Ciência e Tecnologia, vol. 14, nº 4, p. 283-288, 2004 283
Gentil, D. O. et al. - Aditivos Poliméricos como Modificadores da Cristalização de Parafina
Experimental Pr epar
eparoo do sistema-modelo
Prepar
Foi preparada uma solução a 10% de P140 em solvente
Reagentes parafínico: 10g de P140 foram aquecidas até fusão e adicio-
Os reagentes para a obtenção do aditivo polimérico foram nadas a 90g de solvente. A esta solução o aditivo polimérico
usados como recebidos: mistura de ésteres fosfóricos, a foi, então, adicionado em concentrações de 50, 100, 150 e
43,7%p/v, e aluminato de sódio. Os dados de caracterização da 200ppm. Após a adição do aditivo, as soluções foram mantidas
mistura de ésteres e suas estruturas estão apresentados, res- sob agitação por 15 minutos, sob aquecimento, para garantir
pectivamente, na Tabela 1 e Figura 1[9]. Os constituintes do a sua homogeneidade.
sistema-modelo, parafina P140 e solvente parafínico, foram
obtidos da Refinaria de Duque de Caxias, Rio de Janeiro (Bra- A valiação do desempenho do aditivo polimérico
sil) e usados como recebidos. A parafina P140 apresenta uma O sistema-modelo foi caracterizado quanto às proprieda-
distribuição de C20 a C39 e o solvente parafínico de C10 a C17. des reológicas em diversas temperaturas (de 40 a 10 °C),
empregando-se viscosímetro Brookfield LVDV-III, acoplado Tabela 3. Viscosidade dos sistemas reacionais em tempos variados
a um sistema de programação de aquecimento/ resfriamento. Viscosidade (cP)
Os valores de TIAC foram obtidos por calorimetria, utili-
Tempo (dias)
zando um calorímetro modelo micro DSC III - Setaram, DG 1 DG 2 DG 3
acoplado a um banho termostático, modelo phenix C25B. (Al:P -1:10,5) (Al:P - 1:8,7) (Al:P - 1:7,5)
As amostras foram, primeiramente, aquecidas até 60 °C e as 1 — 262,4 82,5
curvas foram obtidas durante o resfriamento até 0 °C, sob
uma taxa de 1 °C/minuto. O valor de TIAC foi tomado na 2 296,2 488,1 299,2
interseção dos prolongamentos da linha base e do início de 3 316,4 568,4 323,2
formação do pico, no resfriamento.
Os sistemas-modelo com e sem aditivo polimérico tam- 4 335,9 619,4 378,7
bém foram avaliados por microscopia. Depois de homo-
geneizadas, sob aquecimento, as soluções foram transferidas as proporções utilizadas em cada batelada e as respectivas de-
para um capilar de vidro e vazadas na placa do microscópio. nominações dadas a cada produto obtido.
Em seguida, cada amostra foi submetida a aquecimento Os sistemas reacionais tiveram suas viscosidades
(5 °C/min), para completa fusão dos cristais de parafina, e sub- monitoradas ao longo de 4 dias (Tabela 3). Nos três sistemas,
seqüente resfriamento controlado (0,5 °C/min). As análises foi observado um aumento da viscosidade à medida que o tem-
de microscopia óptica (OM) foram realizadas em um micros- po reacional aumentou, sugerindo um aumento de peso
cópio de luz polarizada, modelo Axioskop - Zeiss. As fotos molecular. As reações foram realizadas com teores variados
foram registradas com uma lente de 20X de aumento. de éster fosfórico em relação ao aluminato do sódio com o
As parafinas precipitadas em temperatura próxima a TIAC objetivo de obter produtos de pesos moleculares também va-
foram submetidas à análise morfológica, utilizando riados. Esperava-se que o peso molecular do produto aumen-
microscopia óptica, e análise de distribuição de parafinas por tasse à medida que o teor de aluminato em relação ao éster
número de átomos de carbono, por meio de cromatografia aumentasse. Entretanto, pode-se observar para todos os tem-
gasosa com detector FID, (fabricado pela HP, modelo 5890 e pos reacionais, que os maiores valores de viscosidade foram
coluna capilar com fase estacionária de metil silicone e obtidos para o sistema polimérico do DG 2. Os resultados
dimensões 30m x 0,25mm x 0,10um). A separação das parafi- sugerem que existe um valor ótimo da razão aluminato de sódio/
nas precipitadas dos sistemas-modelo com e sem a adição de éster fosfórico para obtenção de pesos moleculares mais ele-
aditivo polimérico foi realizada por meio de um processo de vados e esse valor está associado à relação estequiométrica
filtração, em três temperaturas distintas: 30, 27 e 23 °C (todas desses reagentes que, neste caso, é de aproximadamente 1/10.
correspondendo a um valor abaixo da TIAC).
A valiação do sistema-modelo com e sem a adição de
Resultados e Discussão polímer
polímeroo
A fim de estudar a influência dos aditivos sobre o compor-
Obtenção dos aditivos poliméricos tamento reológico de sistemas contendo parafina e também
Os aditivos poliméricos foram obtidos pela reação da mis- sobre o ambiente dos cristais formados, optou-se por utilizar
tura comercial de ésteres fosfóricos e aluminato de sódio. As um sistema-modelo, constituído de parafina P140 dissolvida
reações foram conduzidas com o objetivo de obter estruturas em n-parafina, a uma concentração de 10%p/v. A parafina P140
de peso molecular elevado contendo segmentos hidrocarbônicos foi escolhida por representar as parafinas presentes no petró-
(com afinidade pelas moléculas de parafina presentes do pe- leo. O solvente n-parafina foi escolhido para simular a disso-
tróleo) e grupos polares (éster fosfórico) capazes de modificar lução da P140 no petróleo. Este sistema-modelo permite a fácil
o hábito cristalino dessas parafinas. A fim de serem obtidos visualização dos cristais formados, o que é muito difícil quando
produtos de pesos moleculares variados, para avaliar a influên- se utiliza um sistema real à base de óleo cru.
cia do peso molecular no desempenho do produto como
modificador da cristalização de parafinas, foram realizadas três Viscosidade
reações com teores variados de reagentes. A Tabela 2 apresenta O sistema-modelo teve seu comportamento reológico ava-
liado em teores de 50, 100, 150 e 200 ppm dos três tipos de
Tabela 2. Nomenclatura dos produtos obtidos de acordo com as proporções aditivos obtidos. A Figura 2 apresenta as curvas de visco-
de reagentes utilizadas
sidade em função da temperatura do sistema-modelo aditivado
Proporção em massa de aluminato com DG 2. A viscosidade de todos os sistemas aumenta com
Produto
de sódio:éster fosfórico a diminuição da temperatura. A utilização dos aditivos provoca
DG 1 1:10,5
uma queda nos valores de viscosidade medidos a baixas tempe-
raturas. Os aditivos DG 2 e DG 3 foram mais eficientes na
DG 2 1:8,7 redução da viscosidade do que o aditivo DG 1. O aditivo DG
2 parece ser ligeiramente mais eficiente do que o DG 3. Além
DG 3 1:7,5
disso, observa-se um aumento de eficiência com o aumento
TIAC ∆ Hc
Sistema-modelo aditivado
(±1 °C) (1 J/g)
Puro 34,3 16,9
DG 1 34,9 16,2
DG 2 34,9 16,6
DG 3 35,0 16,9
Figura 4. Microscopia óptica do sistema-modelo com (a) 200 ppm de DG 1 a 25 °C, (b) 200 ppm de DG 2 a 25 °C e (c) 200 ppm de DG 3 a 25 °C.
ma modelo puro; na temperatura próxima à TIAC são obser- senta cristais de uma forma mais dispersa. Esta observação,
vados alguns cristais bem pequenos e na temperatura abaixo associada aos resultados de viscosidade, indica que quanto
da TIAC são observados muitos cristais na forma de agulhas, maior for a capacidade do aditivo em dispersar os cristais de
que são responsáveis pelos depósitos parafínicos que blo- parafina, maior será a redução de viscosidade do sistema em
queiam as linhas de produção de petróleo[1]. A morfologia des- temperaturas mais baixas, quando comparado ao ensaio em
ses cristais é modificada com a presença do aditivo; é ausência do aditivo.
observada a formação de cristais como se fossem pequenas
“ilhas”, que não se aglomeram para formar depósitos. A mo- Conclusões
dificação do hábito cristalino é mais acentuada nos siste-
mas-modelo contendo os aditivos DG 2 e DG 3, o que está A reação de éster fosfórico com aluminato de sódio pro-
de acordo com os resultados de viscosidade que aumenta duz material de peso molecular elevado, sendo que um pro-
menos acentuadamente (com a redução da temperatura) na duto com peso molecular mais elevado é obtido a uma razão
presença dos aditivos DG 2 e DG 3. Esses aditivos atuam na ótima de éster fosfórico e aluminato de sódio, a qual está
modificação do hábito cristalino evitando a aglomeração dos próxima à relação estequiométrica dos reagentes. Os aditivos
cristais para formar os depósitos. De acordo com os resulta- poliméricos obtidos da reação de éster fosfórico (contendo
dos de DSC, os cristais modificados são formados na mesma cadeias hidrocarbônicas longas) e aluminato de sódio agem
temperatura daqueles não-modificados e apresentam a mes- com maior eficiência como modificadores da cristalização de
ma entalpia de fusão. Desse modo, acredita-se que as para- parafinas se apresentarem peso molecular dentro de uma fai-
finas cristalizam do mesmo modo, e co-cristalizam com o xa ótima e forem utilizados também em concentração ótima,
aditivo que apenas modifica a superfície do cristal e não per- para o sistema-modelo adotado. Os aditivos poliméricos
mite a aglomeração entre cristais de parafinas. obtidos são capazes de manter a viscosidade, de um sistema-
Comparando as micrografias do sistema-modelo aditivado modelo de parafinas, relativamente baixa mesmo quando a
com DG2 e DG 3, parece que o sistema contendo DG 2 apre- temperatura é reduzida. A presença do aditivo polimérico
modifica o processo de cristalização das parafinas e impede o Associating Polymers as Antimisting and Drag-
fenômeno de aglomeração, responsável pela formação do Reducing agents”, in: Polymers as Rheology Modifiers,
depósito. A presença do aditivo polimérico parece não modi- Exxon Research and Engineering Company, cap.10,
ficar o modo como as parafinas cristalizam, evitando somen- p.176-189, Annandle, N.J., EUA (1991).
te a aglomeração dos cristais.
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