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Desembarque Aliado na Normandia

Ataque à “Muralha do Atlântico”

Operação Overlord

Na conferência de Casablanca, celebrada no mês de janeiro de 1943, o Presidente Roosevelt, o Primeiro-


Ministro Churchill e os altos chefes militares tomaram uma resolução de importância transcendental. Os
líderes aliados consideraram que havia chegado o momento, dado o desenvolvimento favorável dos
operações na África do Norte, de iniciar a elaboração dos planos gerais para a grande invasão do continente
europeu através do Canal da Mancha. Esse projeto já fôra elaborado pelos britânicos, nos dias sombrios da
evacuação de Dunquerque. No momento em que a Inglaterra parecia estar à beira da derrota e quando Hitler
asseguraria a supremacia na Europa, aparentemente de forma definitiva, o comando inglês, demonstrando
possuir uma confiança absoluta no triunfo final, ordenou a constituição de um Estado-Maior de
Planejamento, encarregando-o de estudar a futura invasão do continente europeu, partindo do território
britânico.

Os trabalhos realizados pelo citado organismo abarcaram, em princípio, possíveis operações contra as costas
da França, da Espanha, da Bélgica e da Noruega. Estes estudos prosseguiram durante 1941, ano em que
foram intensificados em virtude da invasão alemã da URSS. Os ingleses, durante esse período, realizaram
numerosos reconhecimentos sobre as costas inimigas, para avaliar o poderio das defesas, as condições do
tempo e os níveis das marés. Foram assim preparados informes detalhados sobre os pontos citados, que eram
de essencial importância para o desencadeamento de futuras operações.

Paralelamente, os britânicos mantinham a organização dos célebres "comandos", cuja missão consistia em
incursionar no litoral ocupado pelos alemães para reunir informações e ensaiar, ao vivo, as técnicas de
ataque.

De todos esses esforços surgiu o chamado "Comando de Operações Combinadas", sob a enérgica condução
do Almirante Louis Mountbatten, o qual aperfeiçoou novas técnicas de ataque anfíbio e adestrou os
contingentes de tropas, especializando-as em desembarques e operações anfíbias.

Os americanos, por sua vez, sob a inspiração dos Generais Marshall e Eisenhower, haviam promovido, desde
o momento da sua entrada na guerra, a concentração do grosso das forças na realização de um assalto ao
continente europeu através do Canal da Mancha. Esses projetos foram objeto de sucessivos adiamentos, por
cousa do agravamento da situação militar aliado na África do Norte. O fulminante avanço de Rommel sobre
o Egito, em 1942, que levou os britânicos á beira da derrota, fez com que os líderes aliados deslocassem paro
o teatro de guerra do Mediterrâneo grande parte das forças que se propunham concentrar na Grã-Bretanha
para a invasão do continente europeu. Foi então que, em junho desse ano, Roosevelt e Churchill resolveram,
na conferência que mantiveram em Washington, realizar um esforço decisivo no África, com o objetivo de
terminar com o poderio alemão naquela região, antes de levar a cabo o ataque contra as costas francesas.

Organiza-se o COSSAC

A derrota total sofrida por Rommel e o Afrika Korps, em EI Alamein, eliminou definitivamente a ameaça que
as armas alemães representavam para os aliados na África do Norte. Foi por isso que, na conferência de
Casablanca, resolveu-se iniciar planejamento definitivo do ataque à fortaleza européia.

Para cumprir essa missão organizou-se um quartel-general de planejamento anglo-americano. Esta


organização foi denominada COSSAC (Chief of Staff to the Supreme Allied Commander-Chefe do Estado-
Maior do Supremo Comando Aliado). Esse título correspondia ao chefe da organização, general do Exército
Britânico Frederick E. Morgan. Sob a condução desse homem se realizaram, portanto, os planos tendentes a
materializar a invasão.

O chefe britânico salientou, depois do guerra, que tanto ele como o seu Estado-Maior gastaram muito pouco
trabalho original para concretizar, tanto os aspectos táticos como estratégicos da invasão. De fato, o comando
COSSAC não fez mais que completar os trabalhos que os ingleses haviam iniciado três anos antes, ao se
retirarem, derrotados, de Dunquerque. No mês de maio, os chefes do Estado-Maior Combinado, com sede
em Washington, informaram ao COSSAC que a data fixada para a operação seria 1 o de maio de 1944,
assinalando, também, que o número disponível de embarcações para o desembarque da tropa de assalto
estaria limitado ao número necessário para lançar sobre as praias cinco divisões simultaneamente.

Ao todo, os efetivos disponíveis, no tocante a tropas, alcançavam 29 divisões, das quais duas eram
aerotransportadas.

Baseados nessa força, o comando COSSAC teve que elaborar os seus planos.

O fracasso do ataque contra Dieppe, realizado por tropas canadenses e britânicas, oferecera uma valiosa
experiência. Esse assalto, dirigido diretamente contra as poderosas fortificações do porto francês,
demonstrou a conveniência de não atacar os portos, mas sim zonas abertas. Revelou, também, a necessidade
de contar com apoio de fogo concentrado da esquadra e da aviação, nos primeiros momentos do
desembarque. A falta desse apoio custara aos aliados, em Dieppe, sangrentas perdas. Os estudos realizados
conduziram finalmente à elaboração do projeto definitivo, terminado a 15 de julho de 1943, sob o
denominação de plano Overlord.

Esse plano foi remetido à conferência celebrada na cidade de Quebec entre os dias 17 e 24 de agosto, por
Roosevelt, Churchill e outros chefes militares.

O plano

O plano Overlord inicial contava, como já se disse, com a utilização de 29 divisões. Após minuciosos
estudos, haviam sido escolhidas como zona de desemborque as praias da Normandia, frente à cidade de
Caen. Outras praias que defrontavam a Inglaterra haviam sido deixados de lado depois de um processo de
eliminação.

A região do Passo de Calais, a mais próxima á costa britânica, oferecia, pela sua proximidade, grandes
vantagens para o apoio aéreo e o envio de tropas. Porém, essa zona era uma das mais poderosamente
defendidas da costa francesa, e se encontravam ali as maiores concentrações de tropas e efetivos aéreos
alemães. A zona da Normandia, embora fosse menos favorável do ponto de vista da capacidade de suas
praias, e da distância da Inglaterra (cerca de 100 milhas, contra 18/20 do Passo de Calais), não havia sido
suficientemente fortificada pelos alemães, que a consideravam pouco provável como zona de invasão.

Frente a Caen, as defesas eram relativamente débeis, as praias eram largas e protegidas contra os ventos. O
terreno era propício para instalar aeródromos, o que solucionaria o problema do apoio aéreo, que era o que
apresentava maiores dificuldades. Esperava-se que a consolidação da cabeça-de-ponte não ofereceria
maiores dificuldades. Em seguida, as tropas tratariam de tomar os portos bretões e especialmente o de
Cherburg, no extremo norte da península de Cotentin, para permitir a entrada de reforços. Sabendo que os
portos seriam defendidos até o final, e, quando abandonados, severamente danificados pelos alemães,
adotou-se a resolução de que os abastecimentos seriam transportados, durante um período relativamente
extenso, através das praias.

A invasão foi concebida em três fases principais. A primeira começou já em 1943, com a grande ofensiva
aérea da RAF e da Força Aérea dos Estados Unidos, contra o coração da Alemanha, destinada a produzir um
debilitamento na capacidade de produção da indústria alemã. A segunda fase preparatória também consistia
em operações aéreas. A ofensiva de bombardeio, porém, seria dirigida, no período imediatamente anterior à
invasão, contra as comunicações que conduziam às zonas costeiras da Normandia. A terceira e última fase
seria iniciada com um breve bombardeio aéreo contra as defesas costeiras. Tropas aerotransportadas seriam
lançadas com o fito de capturar Caen de surpresa e os "comandos" estabeleceriam cabeças-de-ponte no rio
Orne.

Simultaneamente, seriam desembarcadas sobre as praias três divisões de assalto, seguidas por duas brigadas
de tanques. Uma vez rompidas os defesas da praia, e consolidado a cabeça-de-ponte, as operações
prosseguiriam sob a forma de uma potente cunha de penetração, rumo ao sul e sudoeste, com a intenção de
aniquilar as forças inimigas, obter campos para aeroportos e ganhar terreno para realizar um movimento
giratório destinado a irromper na península de Cotentin, pela retaguarda.
Uma vez completado esse movimento, uma força avançaria através da península e conquistaria Cherburg.
Calculava-se que esse porto cairia nas mãos dos aliados dentro de catorze dias depois de efetuado o
desembarque. Nesse instante já teriam sido desembarcadas umas dezoito divisões e uns catorze aeroportos
estariam já em funcionamento. Nestes, poderiam operar mais de trinta esquadrilhas de combate.

As operações posteriores seriam determinadas pela intensidade da reação alemã. Se a Wehrmacht se


mostrasse frágil, o avanço se faria direto rumo ao oeste, em direção do Sena. Considerava-se, porém, que os
alemães ofereceriam tenaz resistência nas margens desse rio. Assim, determinou-se, como manobra mais
aconselhável, que, no caso da resistência alemã se concretizar, não atacar em direção ao Seno, mas sim, rumo
ao leste, em direção ao Atlântico, para ocupar todos os portos bretões: Saint Malo, Saint Nazaire, Lorient,
Brest e Nantes. Assim, uma vez consolidada uma forte base de partida, e organizadas as linhas de
comunicações, se iniciaria, então, o avanço rumo ao Sena e Paris.

Este era, em grandes pinceladas, o plano Overlord.

A distribuição das forças determinadas pelo comando COSSAC correspondia a um esquema simples. As
tropas britânicas e canadenses desembarcariam do lado esquerdo e os americanos à direita. Para transportar
as 29 divisões, da Inglaterra à Normandia, calculou-se que seria necessário contar com mais de 4.000 barcos
e embarcações de desembarque de todos os tipos.

As forças aéreas, tanto americanas como britânicas, deviam arregimentar 11.000 aviões. Além disso, para a
descida das tropas aerotransportadas, seriam necessários 2.700 planadores.

No dia D, teriam que ser desembarcados nas praias, juntamente com as tropas de assalto, uns 11.500 veículos
e 4.600 toneladas de abastecimentos.

Decisão em Quebec

O plano geral Overlord foi submetido, como já se assinalou, aos líderes aliados que se reuniram em Quebec,
em agosto de 1943. Ali foi estudado minuciosamente pelos chefes militares. Alguns deles, como o Marechal
britânico, Sir Alan Brooke, consideraram que a velocidade prevista para o desenrolar das operações era
excessiva. Acreditava-se também que os efetivos aliados tinham uma margem de superioridade muito
pequena sobre as unidades alemães. Churchill, embora concordasse com a operação, condicionou a sua
aprovação final ao prosseguimento impetuoso de todas as operações na Itália. Salientou, também, que achava
necessário, antes de chegar a uma decisão definitiva, alcançar uma redução substancial do poderio das forças
aéreas alemãs no oeste da Europa; além disso, contar com a possibilidade de não se encontrarem na zona
alemã mais de doze divisões móveis, em condições de operar, no momento do ataque.

Suas objeções foram vencidas, porém, pela obstinação americana. Os americanos conseguiram, após longas
discussões, que o líder britânico concordasse em que o plano Overlord se convertesse em objetivo com
prioridade máxima, passando para segundo plano, definitivamente, a guerra no Mediterrâneo.

Para debilitar a resistência alemã, decidiu-se também, na conferência, levar a cabo um desembarque no sul
da França (Operação Anvil). Combinou-se, ao mesmo tempo, intensificar o ofensiva aérea, para debilitar o
poderio da Luftwaffe.

Os Estados Unidos, por sua vez, teriam de incrementar em mais de 25 % a produção de lanchas de
desembarque.

Com o fito de sanar a falta inicial de portos, aprovou-se o plano proposto pelo comando COSSAC, de montar
sobre as praias dois grandes portos pré-fabricados. Ficou assim decidido o início da mais importante
operação bélica da Segunda Guerra Mundial, no teatro do Atlântico.

O comando é organizado

As forças americanas concentradas na Grã-Bretanha estavam sob as ordens do General Devers. Os efetivos,
até aquele momento, não eram de grande poderio. Contudo, calculava-se que, uma vez iniciada a invasão, e
ao principiar o avanço sobre a Alemanha, os Estados Unidos estariam em condições de empenhar cerca de
cem divisões no teatro de guerra europeu.

Para criar uma organização de comando adequada, o General Morgan, chefe do COSSAC, sugeriu a criação
de um comando de grupo de exércitos que tomaria a seu cargo a direção de todas as forças americanas.

No setor britânico já existia o 21 o Grupo de Exércitos, comandado pelo General Paget, que agrupava as
forças inglesas e canadenses.

O General Marshall decidiu então organizar esse vital comando militar e designou como chefe, o General
Omar Bradley, que tivera destacada atuação na África do Norte. Esse chefe recebeu, também,
simultaneamente, o comando do 1o Exército americano, o qual, juntamente com o 2 o Exército britânico, seria
utilizado coma ponta-de-lança no assalto à Normandia.

A 19 de outubro de 1943, Bradley assumiu suas novas funções. Cabia agora decidir a importante questão do
comando supremo, tanto o de todas as forças aliadas que combateriam na Europa, como a das unidades que
lutariam na Normandia. Estes dois cargos recaíram nos ombros dos Generais Eisenhower e Montgomery.

Em princípios de dezembro de 1943, Eisenhower entrevistou-se em Túnis com o Presidente Roosevelt, que
regressava aos Estados Unidos, depois do histórica conferência de Teerã, com Stalin.

Assim recebeu a general a notícia da decisão: "- Bem, Ike - lhe disse Roosevelt - você vai comandar
Overlord". Eisenhower, surpreendido e emocionado, respondeu: "- Senhor Presidente, compreendo que tal
designação implica decisões difíceis... Espero que o senhor não se decepcione...".

Horas mais tarde e em uma nova entrevista com Roosevelt, Eisenhower discutiu com o presidente os
diversos aspectos da sua nova tarefa. Roosevelt lhe declarou então que, com o completo acordo do General
Marshall, resolvera confiar-lhe o comando de Overlord, porque era necessário designar sem tardar um
comandante. Assinalou também que, a princípio, estava disposto a dar o comando ao General Marshall. No
entanto, depois de estudar as possibilidades, decidira que Marshall não podia afastar-se de Washington; era
necessário, de fato, que continuasse em seu posto no Estado-Maior-Conjunto.

O presidente lembrou, também, a sua preocupação acerca do momento adequado para dar a conhecer ao
mundo a designação. Decidiu faze-lo, finalmente, ao chegar a Washington. Nesse ínterim, a questão
permaneceria em segredo.

Nas vésperas do Natal, Roosevelt, de Washington, anunciou, numa mensagem de rádio, a designação de
Eisenhower como comandante das forças de invasão. O título agraciado ao chefe americano foi de
Comandante Supremo das Forças Expedicionárias Aliadas.

Eisenhower propôs e obteve a nomeação do Marechal-do-Ar Tedder como segundo chefe. Indicou, ainda,
para comandar as forças britânicas, o General Alexander.

Em suas memórias esclarece as razões das suas preferências: "Nesse momento expressei minha preferência
por Alexander, principalmente pelo fato de que estivera estreitamente ligado a ele. Sentira crescer para com
ele uma amizade e uma admiração que aumentara com o decorrer dos anos. Considerava Alexander como o
soldado mais competente da Grã-Bretanha no campo da estratégia. Era, além disso, um homem afável e
amistoso, ao qual os americanos apreciavam instintivamente". Eisenhower, contudo, não conseguiu que
Alexander fosse nomeado. Churchill considerou a presença de Alexander indispensável à frente das forças
aliadas na Itália.

Nomeou, em seu lugar, o General Montgomery, como comandante das forças britânicas de Overlord. Assim
pensava Eisenhower a respeito desse chefe inglês: "Montgomery não tem superior em duas características
sumamente importantes. Desperta entre os soldados britânicos, imediatamente, uma intensa devoção e
admiração. Isso constitui a maior qualidade pessoal que um comandante pode possuir. Outra característica
saliente de Montgomery é a sua habilidade tática para sustentar o que pode ser denominado "batalha
preparada". No estudo dos posições inimigas e no das situações que podem apresentar-se, assim como
também na combinação de suas próprias unidades blindadas de artilharia, aéreos e de infantaria, para
assegurar a vitória tática contra o inimigo, ele se mostra meticuloso e seguro".
Depois de uma curta estada em Washington, Eisenhower voou para a Inglaterra. A 14 de janeiro de 1944
chegou a Londres. Uns dias antes chegara à capital britânica o General Montgomery, proveniente da Itália,
para assumir o comando das forças terrestres da Overlord. No dia seguinte, 15 de janeiro, o QG de invasão
recebeu o título de QG da Força Expedicionário Aliada (SHAEF). Como chefe do seu Estado-Maior,
Eisenhower designou o Tenente-General Walter Bedell Smith. O General britânico Morgan, que até então
dirigira tudo o que se relacionava com Overlord, passou a desempenhar um papel secundário dentro do
comando aliado.

Uma vez instalado o seu comando, Eisenhower procedeu à realização de uma série de modificações no
projeto da invasão. As mais importantes foram a ampliação da frente de assalto e o incremento das forças da
primeira leva de desembarque (três divisões foram aumentadas para cinco). Também se aumentou o número
das forças aerotransportadas (seriam agora três divisões completas, em lugar de dois terços de uma,
conforme o projeto primitivo).

A cabeceira da invasão foi ampliada em ambos os flancos. Pelo leste, até as proximidades do rio Orne, e no
oeste agregou-se uma praia adicional, na costa da península de Cotentin. A totalidade da frente litorânea a ser
invadida tinha agora uma extensão de cem quilômetros. Esta foi dividida em cinco praias que, de leste a
oeste, eram os seguintes: Sword, Juno e Gold, que deveriam ser atacadas pelo 2 o Exército britânico, sob o
comando do General Dempsey; Omaha e Utah, atacadas pelo 1 o Exército americano, às ordens do General
Bradley.

A necessidade de contar com mais embarcações, ante o aumento dos efetivos, forçou o adiamento da data do
invasão.

A 17 de maio, finalmente, Eisenhower fixou a data definitiva para o ataque: 5 de junho de 1944. Essa data,
logicamente, estava sujeita a uma mudança de último momento, se o tempo estivesse duvidoso. Eisenhower
assinala as vantagens que esse adiamento, indiretamente, possibilitou: "Estrategicamente, a determinação da
data do ataque resultou como uma medida acertada. No dia 1 o de maio, data escolhida originariamente para a
invasão, nossas forças na Itália ainda encontravam firme resistência ao sul de Roma, e as forças russas
estavam ainda ocupadas na Criméia e organizando-se para sua grande ofensiva. Na primeira semana de
junho, no entanto, Roma havia caído, e as forças de Kesselring batiam em retirada. A Criméia fôra
desocupada e a Alemanha esperava nervosamente a grande investida russa".

Desta forma estavam resolvidas as questões fundamentais que poriam em marcha a operação Overlord, o
assalto à fortaleza inimiga, a investida contra a Alemanha de Hitler. Mais de 300.000 soldados, britânicos e
americanos, e 54.000 veículos de combate, seriam lançados sobre os praias por cerca de 4.000 embarcações
aliadas. No ar, 11.000 aviões inglEses e americanos teriam a seu cargo a cobertura aérea da gigantesca
operação.

Assim, nas vésperas do dia D, todo o sul da Inglaterra ficou convertido num gigantesco campo militar. Ao
receber a ordem essas tropas marchariam para o combate.

Preparativos Alemães

O comando geral das forças alemãs no oeste da Europa estava confiado ao Marechal von Rundstedt. Este
chefe deveria enfrentar o problema praticamente insolúvel de defender a costa francesa, do Atlântico e do
Mediterrâneo, contando com meios insuficientes.

Hitler, por sua vez, acreditou encontrar a solução do problema de defesa colocando em marcha a construção
da chamada "Muralha do Atlântico". As obras, contudo, haviam sido iniciadas tardiamente. Compreendiam
uma série de grandes casamatas de aço e cimento, destinadas à artilharia de costas, complementadas por
numerosas obras defensivas menores. O General Blumentritt assim qualificou essa política de Hitler:
"Deveria ter percebido, sem dúvida, que não existe país no mundo capaz de construir uma linha contínua de
fortificações desse tipo sobre uma frente de milhares de quilômetros". Hitler, porém persistiu na sua idéia
inicial, desviando para essa construção uma imensa quantidade de materiais e mão-de-obra que teriam sido
necessários para a fabricação de armamentos. Assim, em 1943, haviam sido instaladas sobre o.litoral 140
baterias de longo alcance, solidamente montados em casamatas de cimento e aço. A maioria dessas baterias
eram integradas por canhões de 105 mm, capturados dos franceses, dos poloneses e dos tchecos. Havia,
também, canhões russos de 12 e 15 cm. Ainda, peças francesas de 15 e 22 cm. No que se refere a artilharia
de curto alcance, Blumentritt assinala: "Dispúnhamos de um menu variado de 340 canhões de calibres que
iam desde 2 cm até 15, pertencentes a todas as nações possíveis e imagináveis. Os aparelhos de mira e
pontaria eram, em parte, antiquados, de sorte que resultava muito difícil a essa artilharia disparar eficazmente
contra alvos flutuantes móveis".

Em fins de 1943, o Marechal Rundstedt enviou a Hitler um informe no qual expunha claramente a deficiente
qualidade e quantidade das forças com que contava para a defesa do continente europeu. Bastaria para
comprovar a total insuficiência de recursos, o memorando citado; este, em síntese, salientava: "As melhores
tropas foram trasladadas para a Itália e a Rússia para cobrir as baixas. As divisões que restam no Ocidente
oscilam entre 50 e 60, porém se trata de divisões "costeiras" imobilizadas no litoral. Estas unidades têm a seu
cargo a defesa de frentes cuja extensão varia entre 40 e 150 quilômetros, e, às vezes, mais. Ao sul de
Bordeaux, na costa do Golfo de Viscaya, os setores são tão extensos que o capitão de uma simples
companhia gasta numa visita de inspeção um dia inteiro. Nessa zona não há defesas, mas, simplesmente,
postos litorâneos de observação. O setor mais poderosamente defendido e onde se encontra concentrado o
grosso dos baterias fortificadas que a propaganda nazista utiliza para sua difusão, está na zona do Passo de
Calais. Depois, a linha. vai-se tornando mais débil, à medida que avança rumo ao Oeste e ao Sul. Como já se
salientou, ao sul de Bordeaux, a Muralha do Atlântico termina por desaparecer".

Hitler, ao receber o alarmante memorando, sentiu-se fortemente impressionado. Em novembro de 1943


emitiu a Diretiva n° 51, na qual se registrava uma mudança decisiva na sua focalização da guerra. Outorgava,
finalmente, ao oeste, a primazia sobre todas as demais frentes e ordenava que se dirigissem para lá o grosso
das suas forças.

Poucos dias mais tarde, o Führer designou o Marechal Rommel como encarregado da defesa das costas do
Canal da Mancha. Paro que não houvesse interferência com Rundstedt, outorgou-lhe o comando do
denominado grupo de exércitos "B", que compreendia o 15 o e o 7o Exércitos, sediados na França, no litoral
norte, e as forças encarregadas da defesa da Holanda. Outro grupo de exércitos, o "G", comandado por von
Blaskowitz, com os exércitos 1o e 19o, cobriria os restantes setores da costa oeste e sul da França, a fronteira
espanhola e a da Itália. O comando-supremo de ambos os grupos de exércitos continuaria em mãos de
Rundstedt.

Rommel, como de costume, dedicou-se ao trabalho com o máximo de energia, decidido a deter a invasão
sobre o próprio litoral. Para tal fim, propôs-se a criar imensos campos de minas e barreiras de obstáculos e
realizou esforços tremendos para conseguir a concretização do seu plano, que tinha alcances gigantescos.

Seus planos, de fato, previam a instalação de mais de 200.000.000 de minas, sobre uma profundidade de
mais de oito quilômetros. Contudo, também sob esse aspecto, os alemães atuaram demasiadamente tarde. Em
fins de maio, e apesar da intensidade dos trabalhos, somente haviam sido colocadas quatro milhões de minas
e erigidos 517.000 obstáculos, 21.000 dos quais eram munidos de minas.

Os alemães, empenhando ao máximo a sua capacidade inventiva e de trabalho, lutaram incansavelmente para
dotar a defesa da costa de elementos que a tornassem intransponível. Talvez o êxito os tivesse recompensado,
se a tarefa tivesse sido principiada muito antes. A esta altura dos acontecimentos, no entanto, os esforços
estavam condenados ao fracasso.

Anexo
Prelúdio da Invasão
O êxito, em qualquer atividade, depende freqüentemente de acidentes ou acontecimentos inesperados. A invasão da
França, em 1944, foi possibilitada, ao menos em grande parte, por um contratempo sofrido pelo General Eisenhower, na
África do Norte, em 1943. Em fevereiro desse ano, durante a campanha da Tunísia, recebeu-se no Alto Comando uma
informação que prevenia Eisenhower das possíveis graves conseqüências que poderia acarretar para as armas aliadas a
concentração de tropas inimigas nos arredores de Fondouk Faid e Gafsa. De fato, apresentava as características de um
iminente contra-ataque.
Os informes chegados das linhas de combate acusavam a possibilidade de que o ataque partisse de Faid. Paralelamente,
os peritos do serviço secreto decidiram que a incursão seria iniciada em Fondouk.
O ataque chegou, afinal. E partiu de Faid. Os alemães cruzaram Kasserine e obrigaram os aliados a retroceder quase
duzentos quilômetros.
O serviço secreto fracassara.
Dias mais tarde, Eisenhower escreveu a respeito: "Foi um erro muito grande da nossa seção G-2. Depois da batalha
substituí o meu chefe da organização de informação no quartel-general aliado".
O homem que substituiu o chefe da G-2 era o Brigadeiro Kenneth W. Dobson Strong, dos Royal Scots Fusilliers.
Dobson Strong tinha 43 anos e o seu aspecto era o de um intelectual, delgado e ascético. Sua vida, ininterruptamente,
salvo um brevíssimo período em que figurou no comando de um batalhão de fuzileiros, esteve dedicada à informação.
Dobson Strong fizera do serviço secreto a sua meta e sua religião. Passara grande parte da sua vida na Alemanha, na
França, na Itália e na Espanha, aprendendo os idiomas desses países e compenetrando-se dos costumes nacionais. Por
volta de 1943, Strong gozava de merecida fama como o maior perito do exército inglês a respeito da Alemanha.
A chegada de Strong ao QG de Eisenhower foi uma clara demonstração da sua importância. Na Inglaterra,
posteriormente, entre janeiro e maio de 1944, o Brigadeiro Strong assumiu a responsabilidade de organizar nada menos
que um completo Serviço de Informação auxiliar da preparação para o dia D.
Os planos de Strong se orientaram em três direções, cobrindo três objetivos primordiais. O primeiro deles consistia em
recolher o máximo de informação possível. O segundo tinha o fito de ocultar o acontecimento que se aproximava. O
terceiro, por fim, se destinava a desencadear uma série de medidas tendentes a iludir o inimigo a respeito das intenções
e forças reais dos aliados e do lugar do ataque. A cortina se fechou quando Eisenhower chegou à Inglaterra, no mês de
janeiro de 1944, e assumiu o comando de Overlord. A partir desse instante foi necessário ocultar com uma cortina da
fumaça os movimentos de cada homem relacionado com o projeto. Até mesmo os passos de Eisenhower foram, nesses
meses, clandestinos e furtivos. Era necessário manter o mais impenetrável mistério em torno do plano em marcha.
Somente dessa maneira os alemães se veriam obrigados a distribuir suas forças ao longo de toda a suposta frente de
invasão, debilitando-as consideravelmente.
Uma das manobras de Strong, tendentes a debilitar o poderio da "Muralha do Atlântico", foi levada a cabo fazendo
chegar aos alemães uma informação falsa relacionada com a possível invasão do território da Noruega por parte dos
aliados. A conseqüência não se fez esperar: imediatamente, o serviço secreto aliado foi informado da chegada de novas
divisões de reforço à citada zona. Essas divisões já não seriam enviadas ao setor real da invasão. Outro dos episódios
relacionados com a próxima operação teve por protagonista o Marechal-de-Campo Sir Bernard L. Montgomery. De
fato, o prestigioso chefe britânico foi visto nos lugares mais inesperados, indicando com sua presença atividades muito
claras para um agente discretamente inteligente. A realidade, porém, era que este "Montgomery" não era outro senão um
sósia do conhecido chefe. Enquanto isso, o Serviço de Informação trabalhava febrilmente, "colecionando" informações.
A magnitude da empresa não pode ser expressada de modo adequado. Tinham que ser identificadas desde as unidades
alemãs, até as simples patrulhas. Tinham que ser localizados os campos de aviação da Luftwaffe e conhecer-se de modo
preciso o número e a potência dos aviões com que ainda contava a Luftwaffe. Era preciso obter dados concretos sobre a
famosa "Muralha do Atlântico", o sistema de fortificações alemão ao longo da costa francesa. Era necessário obter
informações específicas acerca das baterias costeiras, incluindo algumas novas. Precisava-se saber o número e potência
dos canhões que haviam sido desmontados dos navios de guerra e montados em pontos estratégicos. Era vital conhecer
o estado das ferrovias e rodovias.
O Serviço de Informação devia averiguar tudo o que dizia respeito ao estado das praias de desembarque, os campos de
minas e o intrincado sistema de obstáculos submarinos. Esses obstáculos representavam um problema especial que tinha
que ser resolvido a qualquer custo. O Serviço de Informações havia descoberto umas estruturas de aço, chamadas
"Elemento O" e outras chamadas "Tetraedro". Os obstáculos mais freqüentes eram os construídos com trilhos de estrada
de ferro. Se as barcaças tinham que chegar até a praia, era necessário que esses obstáculos fossem destruídos. Strong e
suas forças especiais conseguiram praticamente todos os dados que se necessitavam, inclusive amostras das minas e dos
obstáculos, organizando equipes de demolição.
O centro nevrálgico dessa fantástica atividade era a sala de guerra em Widesing, o QG da invasão de Eisenhower. Ali
eram afixados todos os dados pertinentes, em gigantescos mapas. Um deles apresentava as praias, assinalando,
inclusive, a profundidade das águas que as tropas teriam de vadear até chegar à terra. Outros mapas indicavam as
localizações de baterias, os alambrados e os campos de minas.
Estava-se de posse também da ordem de combate alemã, identificando todos os oficiais em comando, desde os
Marechais-de-Campo Rundstedt e Rommel, até os comandantes de regimentos. O Serviço de Informações identificou
uma divisão integrada por russos, antigos prisioneiros de guerra. De onde procediam essas informações? A maioria
desses dados procediam das fontes convencionais, do reconhecimento aéreo, e do cuidadoso estudo das fotografias
aéreas, da interceptação de comunicações e transmissões do inimigo, e de outros meios habituais. Periodicamente eram
lançadas patrulhas especiais sobre as zonas que se desejava estudar. Os agentes fixos enviavam informações
suplementares sobre determinadas instalações e sobre certos objetivos, cuja localização requeria um conhecimento
específico. Foi um trabalho espetacular, e realizado com um mínimo de baixas. Apesar dos muitos comentários a
respeito, foi um trabalho de equipe e não de homens isolados.

Portos artificiais
A incursão levada a cabo pelos efetivos aliados, e que teve como objetivo o porto de Dieppe, trouxe numerosos
ensinamentos. Um deles, e o não menos importante, foi o fato de que os alemães baseavam a defesa das costas nos
portos e não nas praias. Era imprescindível, em verdade, contar com portos capazes de comportar o desembarque rápido
e organizado de forças e abastecimentos, numa segunda etapa. Portanto, a captura dos portos se converteu no objetivo
mais importante da invasão; no objetivo primeiro e principal.
Cherburg e Brest foram os dois primeiros pontos designados para serem ocupados pelas forças aliadas. Contudo, razões
lógicas indicavam que ambos ofereceriam dura resistência. Em conseqüência, com o fito de sanar a falta inicial de
portos, os planejadores da Overlord decidiram adotar uma idéia lançada por Winston Churchill, no transcurso da
Primeira Guerra Mundial: os portos artificiais. Tratava-se de estruturas pré-fabricadas, que deviam transladar-se à costa
francesa peça por peça, a fim de serem novamente armadas assim que se firmasse pé em terra.
A proposta foi estudada e aprovada durante a conferência de Quebec, em 1943. Imediatamente emitiu-se a ordem aos
peritos, para que começassem o trabalho.
Os portos consistiam em centenas de peças individuais, de cimento, aço e madeira. Sua construção exigiu cerca de três
milhões de toneladas de materiais. Quando foram rebocados até a costa francesa, vários dias depois do Dia D,
utilizaram-se na operação perto de trezentos rebocadores. A montagem dos portos foi levada a cabo por uns vinte mil
homens, entre oficiais e soldados.
Cada porto cobria aproximadamente três milhas quadradas e contava com embarcadouros para sete navios e doze
embarcações de cabotagem, além de dois cais para LST. Os cais estavam unidos às praias por meio de plataformas de
aço, apoiadas sobre bóias de cimento ou aço. Os cais e as embarcações pequenas eram defendidos dos embates das
ondas por quebra-mares montados com barcos em desuso, transportados até o local por seus próprios meios e afundados
depois, a uma profundidade de umas duas braças.

Preparativos
O General Brereton, chefe da 9a Força Aérea americana, encarregada de prestar apoio direto às forças de invasão, relata
em seu "Diário" pormenores da preparação do plano Overlord.
Ascot, 5 de dezembro de 1943. A vida em nosso QG começou a vibrar, e a maioria das suas seções, providas já de
pessoal completo de oficiais, estão totalmente entregues ao planejamento de Overlord, a operação militar mais
complexa que jamais foi concebida. A tranqüila campina inglesa, numa área de 35 milhas de Londres, parecia um
pequeno EUA, com ianques por todo o lado. As grandes mansões de campo, requisitadas pelo Ministério do Ar, são
utilizadas como alojamentos para os oficiais americanos. Os grandes caminhões de duas e meia toneladas, jipes e carros
de comandantes americanos, monopolizam as estreitas vias inglesas. As tavernas estão repletas de ianques... Os
ingleses, alegremente, nos entregam seus lares e aceitam nossa "invasão" com o melhor dos ânimos. A hospitalidade e
franqueza desse povo contribui enormemente para estreitar ainda mais os laços entre nossos dois países...
Ascot, 28 de fevereiro de 1944. A propaganda nazista está difundindo rumores acerca da existência de armas secretas
fantásticas que Hitler lançará logo sobre a Inglaterra. E nossos agentes de Inteligência estão ocupados, nestes dias, em
separar o ridículo do certo. Esses rumores emanam geralmente de Ancara, Berna, Estocolmo e Lisboa. Um dos rumores
salienta que os alemães estão aperfeiçoando um projetor de raios infravermelhos que penetrarão através de nuvens,
fumaça e neblina e localizarão os bombardeiros aliados em rota para o Reich. Circulou outra informação de que os
nazistas haviam desenvolvido gases não venenosos que seriam descarregados sobre Londres por uma esquadrilha de
bombardeiros. O gás ficaria suspenso sobre edifícios da cidade. Então, foguetes disparados da costa do Passo de Calais
produziriam a deflagração do gás e riscariam Londres do mapa. Esses rumores são elaborados para disseminar o pânico
entre a população. Contudo, nem todos devem ser considerados falsos. Alguns deles correspondem a fatos reais. Por
exemplo, os alemães realizaram grandes progressos na propulsão a jato. Existe também uma evidência concreta de que
se deve temer algo do possível aperfeiçoamento de canhões ou foguetes. Nos círculos de alto nível existe um temor real
de que os alemães recorram à guerra bacteriológica. A possibilidade que se produza um fato tão catastrófico é suficiente
para assustar qualquer um.
Greenham Common, 23 de março de 1944. A 101a Divisão Aerotransportada e o Comando de Transporte de Tropas
realizaram um exercício de combate para o Primeiro-Ministro [Churchill], o General Eisenhower e o General Bradley.
Três grupos de aviões C-47 deram uma excelente exibição de lançamentos, colocando suas tropas bem em cima da DZ
[Zona de Lançamento]. Antes que os pára-quedistas saltassem, os planadores aterrissaram com precisão na sua LZ
[Zona de Aterrissagem]... Churchill se encontrava de ânimo excelente, cheio de energia e muito entusiasmado.
Qualificou as tropas aerotransportadas como a "expressão mais moderna da guerra". Ao concluir a exibição, os soldados
foram convidados a quebrar as fileiras e reunir-se em torno do Primeiro-Ministro, Este pronunciou as seguintes
palavras: "Profundamente emocionado e alentado, tenho hoje a honra de visitar as tropas aqui... Nestas semanas que se
escoam rapidamente, vejo congregados na Inglaterra estes soldados da nossa grande aliada, a América, preparando-se
para assestar um golpe, por uma causa que é a maior de todas as causas pelas quais qualquer de nossos dois países tenha
jamais lutado... Agradeço a Deus que todos vocês se encontrem aqui e, do fundo do meu coração, lhes desejo boa sorte
e sucesso". Posteriormente, Churchill foi conduzido para realizar uma inspeção pelo campo. Ao entrar em um planador
americano, o Primeiro-Ministro disse aos seus tripulantes: "Vocês estão muito confortáveis aqui dentro". Churchill tem
uma maneira de transmitir suas impressões, e quem as recebe se sente a pessoa mais importante do mundo. O General
Eisenhower disparou um dos morteiros dos pára-quedistas para mostrar ao Primeiro-Ministro o seu funcionamento, e,
ao fazê-lo, fez um comentário a respeito do alcance da arma. O soldado raso John Betz, de Cleveland, interrompeu
então o general e corrigiu o dado que este havia fornecido. O fato provocou hilaridade entre os presentes.
Canal da Mancha, 30 de março de 1944. Depois do pequeno almoço, me dirigi a Dartmouth e embarquei em um LCI
[Landing Craft Infantry, barco de desembarque da infantaria], para presenciar o exercício Beaver. Nossa embarcação
navegou através da baía e se uniu às restantes naves que interviriam na operação às 8h 20m da manhã, O bombardeio de
amaciamento foi curto e os projéteis não caíram sobre as praias. Pouco antes da hora H presenciei o fogo de um LCR
[Landing Craft Rocket, barco de desembarque lança-foguetes], e fiquei impressionado pelo seu intenso poderio de fogo
e pelo dano que causou nas praias. Os LCR conduziam 780 foguetes, cada um deles igual em poder destrutivo ao
projétil de um canhão de 4 polegadas. A hora H estava fixada para 9 da manhã; a primeira leva do assalto tocou a praia
às 9h e 1 m. Então as tropas foram desembarcadas eficientemente. A segunda leva consistia em LCT [Landing Craft
Tanks, lanchas de desembarque de tanques], e os blindados que transportava foram depositados em terra mais depressa
do que se esperava. As levas que se seguiram eram integradas por LSI [navios de desembarque de infantaria], e LST
[navios de desembarque de tanques]. Estes últimos diferiam das LCT, pois conduziam 30 tanques em lugar de 5. As
nuvens baixas dificultaram as operações aéreas, e o bombardeio foi efetuado a tão baixa altura que as miras dos
aparelhos não puderam ser utilizadas.

Campos de minas e obstáculos


Em uma carta ao General Meise, chefe de engenharia do grupo de exércitos "B", datada de 17 de março de 1944,
Rommel expunha os seguintes conceitos:
"... Para o primeiro setor, que se estende com uma largura de mil metros ao longo da costa, e para outro semelhante
mais para o interior, necessitaremos de 10 minas por metro, o que representa para toda a França um total de 20 milhões
de explosivos. Para o resto da zona (8.000 m) serão precisos 200 milhões..."
A cifra citada por Rommel era realmente fantástica. Apesar do chefe alemão ter organizado a fabricação de minas na
própria França, onde se contava com explosivos em quantidade suficiente para produzir 20 milhões de minas contra a
infantaria, a seguinte nota, extraída do Diário de Campanha do grupo de exércitos "B", demonstra os resultados obtidos:
"Até 20 de maio de 1944 foram colocados na costa do Canal 4.193.167 artefatos, mais da metade por iniciativa de
Rommel, e a maioria depois dos fins de março. Nesse curto período, e também graças ao marechal, 1.852.820 ficaram
preparados para colocação..."
Referindo-se aos obstáculos, Rommel escreveu o seguinte:
"... desde o final de janeiro procedeu-se à instalação de obstáculos ao longo de toda a costa atlântica. Pode-se perguntar
por que essa tarefa não foi empreendida antes, já que deste modo a franja seria muito maior. A resposta é que ninguém
pensou em tal forma de defesa. Embora o trabalho tenha sido iniciado tarde, existiam consideráveis vantagens, já que o
inimigo terá que adaptar-se a um sistema defensivo que ocasionará uma infinidade de perdas. É possível, inclusive, que
esses obstáculos tenham contribuído para o retardamento da ofensiva adversária..
"O objetivo das mencionadas obstruções consiste não somente em impedir a aproximação das praias - que se levará a
cabo utilizando centenas de lanchas de desembarque e navios, veículos anfíbios e tanques à prova de água, sob
cobertura da escuridão noturna ou de névoa artificial - mas também destruir o equipamento das tropas. Consistem numa
ampla variedade de obstáculos, providos de minas ou projéteis de artilharia. Serão levados a cabo os maiores esforços
para instalá-los em profundidade e torná-los eficientes seja qual for o estado da maré. Os recentes exercícios anglo-
americanos parecem indicar que o desembarque se efetuará duas horas depois da maré baixa e uma vez que a artilharia
e os bombardeiros tenham procurado destruir os obstáculos. Todos sabemos como é difícil derrubar os alambrados por
meio de fogo de artilharia. Muito mais difícil será ocasionar danos a uma franja de duros obstáculos, até o ponto de
permitir um desembarque frente a eles. Seriam necessárias imensas quantidades de munições e bombas, assim como
uma preparação extraordinariamente longa. E se contrariamente ao esperado, o inimigo consegue anular os obstáculos
situados debaixo da superfície da água, isso nos indicará o local da sua aproximação e nos permitirá acumular as
necessárias reservas.
"Quanto mais tempo o inimigo nos conceder, maiores serão os obstáculos e, mais cedo ou mais tarde, nossos batalhões
estarão em condições de informar acerca dos excelentes resultados de tais franjas, nas quais existirão milhares de minas
e de explosivos de todo o gênero..."
Os obstáculos seriam colocados de acordo com o seguinte esquema:
Uma primeira zona, situada a dois metros de profundidade na maré alta. A segunda, a 2 metros quando e maré se
encontrar em sua parte mediana. A terceira, a 2 metros, na maré baixa. A quarta, a 4 metros, também na maré baixa.
No dia da invasão, as duas primeiras estavam completas em muitos setores, especialmente na Normandia; porém não as
mais profundas, pela falta de tempo disponível.

Obstáculos
Alguns dos elementos distribuídos no litoral, com o intuito de impedir a aproximação das barcaças inimigas eram os
seguintes:
1. Estacas enterradas no fundo, equipadas com minas antitanque na extremidade superior.
2. Tetraedros de cimento, equipados com minas ou lâminas de aço.
3. Obstáculos antitanques convencionais.
4. Minas idealizadas por Rommel, chamadas "quebra-nozes", consistentes em uma estaca com base de cimento, em cujo
interior se ocultava um projétil pesado. A embarcação que tocasse com seu casco a estaca, provocava a explosão do
projétil, pela percussão da estaca com a espoleta.
5. Refletores que iluminariam as zonas atacadas.

Barcos de desembarque empregadas pelos aliados


A frota de invasão compreendia, além das naves de guerra destinadas a proteger a operação, uma grande quantidade de
embarcações menores. Em sua maioria haviam sido projetadas para o transporte de tropas e veículos. Eis algumas delas:
AKA - Barco de carga que podia transportar 400 homens e 200 veículos.
APA - Transporte para 96 homens e 80 veículos.
LCA - Embarcação de desembarque. Transportava 30 homens equipados.
LCC - Nave de controle de operações anfíbias.
LCH - Barco utilizado como quartel-general. Transportava 60 homens.
LCI - Embarcação para 200 homens equipados.
LCM - Conduzia tanques e veículos dos navios para as praias.
LCP - Transportava 22 homens.
LCT - Transportava 55 homens.
LCT - Conduzia tanques, artilharia e veículos.
LCVP - Embarcação de assalto com rampa. Transportava um veículo ou 30 homens.
LSD - Dique flutuante para reparação de embarcações menores.
LSI - Mercante transformado. Carrega de 18 a 24 embarcações de assalto e 1.100 homens.
LST - Transportava 35 tanques, veículos e 175 homens. Com rampa.
LVT - Transporte anfíbio blindado.
MT - Levava 40 veículos e 160 homens.
SG-B - Transportava 200 toneladas de abastecimentos,
Rhino Ferry - Pontão autopropulsado. Podia transportar uma LST carregada.

Armas
O General Eisenhower relata em suas Memórias as novas armas e táticas aperfeiçoadas pelos aliados às vésperas da
invasão.
"Em um lugar afastado da costa leste da Inglaterra, o exército britânico construiu todos os tipos de obstáculos táticos,
similares aos que os alemães podiam utilizar para defender-se contra o nosso ataque. Os ingleses erigiram numerosas
casamatas, muralhas de pedra e grandes barreiras de alambrados de arame farpado. Semearam campos de minas,
levantaram obstáculos de aço, tanto submersos como em terra firme e escavaram fossos antitanques. Cada uma dessas
defesas era uma réplica das que sabíamos que os alemães já haviam instalado. Então, os britânicos se deram ao trabalho
de projetar os equipamentos que permitiriam destruir esses obstáculos. Usaram a zona citada para testar os
equipamentos e desenvolver e experimentar novas técnicas de combate... Outro exemplo interessante dessas
experiências foi o novo método para utilizar torpedos Bangalore. Esses torpedos não são outra coisa senão um longo
tubo cheio de explosivos. Os tubos são introduzidos nos campos minados, e ao explodir detonam todas as minas
colocadas ao longo do torpedo. Tem uso similar para a destruição de cercas de arame farpado. Por meio deles, abrem-se
estreitas passagens através dos alambrados e dos campos de minas, pelos quais as tropas podem passar e continuar o
ataque, enquanto outros contingentes na retaguarda se encarregam de limpar o resto dos obstáculos. Os torpedos haviam
já sido empregados desde muito na guerra, porém os britânicos desenvolveram um novo método de utilização.
Esta tática consistia em adaptar vários tubos em um tanque Sherman, cada um dos quais continha um torpedo
Bangalore. Os tubos apontavam diretamente para a frente, e eram, na prática, verdadeiros canhões, providos de
pequenas cargas de pólvora preta na sua parte posterior. Ao avançar, o tanque disparava automaticamente esses
"canhões" improvisados; escalonadamente, de forma tal que cada torpedo, ao explodir a uns trinta pés de distância do
tanque, abria uma passagem contínua através do campo de minas. Cada tanque levava torpedos suficientes para abrir
uma passagem de, aproximadamente, cinqüenta jardas de largura, O propósito era, em vez de depender dos indefesos
soldados para realizá-la, essa arriscada tarefa seria efetuada pela tripulação do tanque, protegida pela blindagem. Eu
nunca cheguei a ver essa arma em ação, porém ela constitui um exemplo dos métodos que experimentávamos para
aliviar a dura tarefa do soldado de infantaria. Pontes desmontáveis para flanquear fossas antitanque, tanques lança-
chamas e tanques providos de correntes, cunhas e pesadas escavadeiras para destruir as minas, foram também armas
desenvolvidas e postas à prova."

"... Nossa frágil frente..."


Em conversações com o Tenente-General Fritz Bayerlein, o Marechal Rommel fez anotar suas opiniões a respeito da
passível invasão do continente pelos eletivos aliados. Disse Rommel, entre outras coisas:
"O desembarque principal terá lugar provavelmente pelo setor do 15 o Exército (o Passo de Calais) por ser desse ponto
que poderíamos lançar um ataque em grande escala e de longa distância contra a Inglaterra, e principalmente sua
capital. Se o mar estiver agitado, o propósito principal do inimigo consistirá em apoderar-se de um porto ou portos que
lhe assegurem a atracação de grandes navios. E mais: tratará também de conquistar a zona da qual lançarmos nosso
ataque contra a ilha.
"... É provável que realize o seu esforço principal contra o setor situado entre Bolonha e o estuário do Somme e, de cada
lado de Calais, onde desfrutaria do grande apoio de sua artilharia de longo alcance, sendo esta também a rota mais curta
para o assalto, para o envio de suprimentos, e para o emprego da arma aérea. Quanto às tropas aerotransportadas,
devemos esperar que o grosso seja utilizado para abrir uma brecha em nossas defesas costeiras pela retaguarda, e tomar
posse da área de onde são disparados nossos foguetes de longo alcance.
"... O momento do ataque ainda está incerto, porém o adversário fará o possível para empreendê-lo antes que comece o
nosso ataque de longa distância contra a Inglaterra. Se, devido ao mau tempo, ou a borrasca no mar, fracassar no seu
propósito, o ataque terá lugar no princípio ou pouco depois de iniciada a nossa campanha contra a ilha, já que quanto
maior for a duração desta última, mais se farão sentir os seus efeitos sobre o moral das tropas anglo-americanas. Se
lançarmos nosso ataque durante um período de mau tempo, desfavorável ao desembarque, disporemos da possibilidade
de criar condições particularmente adversas para a ação inimiga.
"... Provavelmente precederão o desembarque fortíssimos ataques pelo ar, e a operação em si terá lugar debaixo das
cortinas de fumaça e proteção de numerosos vasos de guerra. Além do desembarque propriamente dito, lançarão tropas
atrás das linhas costeiras dos setores principais, com o fim de atacar as defesas pela retaguarda e criar uma cabeça-de-
ponte no menor espaço possível de tempo.
"A linha de defesa sofrerá severos danos, devido à sua debilidade, e é duvidoso que tenha condições de rechaçar o
inimigo, cujas forças se aproximarão numa frente ampla, mediante centenas de botes de assalto blindados e acobertados
por neblina artificial. Se o assalto não for rechaçado, nossa frágil frente será logo rompida e o inimigo estabelecerá
contato com as forças aerotransportadas que atacarem pela retaguarda..
"... Com as escassas defesas de que dispomos agora, o inimigo conseguirá estabelecer cabeças-de-ponte em vários
pontos, conseguindo penetrar a fundo em alguns setores. Uma vez que tal ocorra, somente a rápida intervenção de
nossas reservas operativas poderá lançá-lo novamente ao mar... ".

Oleodutos sob o mar


Os exércitos aliados estavam, em grande parte, mecanizados e motorizados. Em conseqüência, o problema relacionado
ao abastecimento de milhares de veículos de todos os tipos foi estudado minuciosamente. As necessidades de
combustível, de fato, seriam muito grandes e teriam que ser satisfeitas em curto prazo. Além disso, as forças aliadas no
continente aumentavam dia a dia. Isso, logicamente, exigia uma crescente demanda de combustível. Tratava-se de um
aparente círculo vicioso que pedia uma solução efetiva e a curto prazo. E a solução foi encontrada.
Baseados numa idéia sugerida por Lorde Louis Mountbatten, em 1942, os peritos começaram a trabalhar na construção
de um oleoduto a se estabelecer entre Inglaterra e França. As experiências foram realizadas com um tubo flexível,
blindado, especialmente projetado, no rio Tâmisa. Cada um dos condutos era capaz de suportar a passagem de cerca de
250 toneladas de combustível por dia. Os planos previam o lançamento do oleoduto submarino uns quinze dias depois
do Dia D, lapso no qual se esperava haver completado o rastreamento e limpeza dos campos de minas no Canal da
Mancha. Para o Dia D + 75 estava previsto o funcionamento de perto de dez condutos, que transportariam ao litoral
francês aproximadamente 2.500 toneladas diárias de gasolina.
A implantação do oleoduto, imediatamente depois do dia D, foi denominada "Operação Pluto'' (Pipeline under the
ocean: oleoduto sob o oceano).
Previamente à colocação do oleoduto, determinou-se abastecer as forças aliadas mediante o emprego de navios-tanques.
Ancoravam a certa distância da costa e dali o combustível era transportado até a praia por meio de pequenos oleodutos.
Unidades especiais deveriam desembarcar no dia D, ou D + um, com a finalidade de construir as instalações de
armazenamento.

"A batalha do litoral"


Conclusões de Rommel, referentes à defesa do litoral, ante a iminente invasão:
"... Acredito que se deve realizar uma tentativa de rechaçar o adversário nas praias, e em todo caso travar a batalha na
mais ou menos preparada franja litorânea. Isso demandaria a construção de uma zona fortificada e minada que se
estenda desde a costa até 8 ou 10 km para o interior e possa ser defendida em ambos os sentidos. Os campos de minas
atuais, cruzados por alambrados, representam um obstáculo precário ou nulo, já que em pouco tempo se poderiam abrir
corredores para atravessá-los. A zona minada que proponho consistiria em numerosos campos, cada um de vários
quilômetros de comprimento e largura, traçados segundo um plano bem meditado, entre a costa e uma linha situada 10
km ao interior. Compreendo que se necessitará de um número extraordinário de minas. No momento bastaria, contudo,
que fossem colocadas nas frentes litorâneas e interior, simulando o resto...
"As divisões empenhadas na costa terão diante de si duas tarefas: defender o litoral contra um desembarque inimigo e
resistir, 8 ou 10 km terra adentro, aos ataques das forças aerotransportadas. Se estas descessem sobre a zona minada,
não seria difícil destruí-las ali mesmo. "Algo sumamente necessário para reduzir os efeitos do bombardeio aéreo e naval
é o aumento em profundidade da franja costeira. O chefe de toda divisão situada no litoral colocará o seu posto de
comando na metade da zona minada, já que, num certo sentido, terá que atuar como comandante de uma fortaleza.
"... O número de antitanques e metralhadoras de tiro rápido situado na vanguarda da zona costeira é insuficiente, por
enquanto. Levando em consideração que devemos procurar destruir as unidades de desembarque enquanto ainda
estiverem na água, ou, quando muito, no momento de ganhar a praia, os efetivos das tropas defensoras desse setor
avançado terão que sofrer considerável aumento. A defesa seria relativamente fácil enquanto as embarcações
adversárias se encontrassem ainda navegando. Uma vez desembarcados tropas e material, o poder combativo desses
elementos se multiplicaria de maneira assombrosa.
"Conseqüentemente será necessário que nos setores mais comprometidos se acumulem antitanques pesados, canhões de
propulsão autônoma e antiaéreos todos situados numa zona avançada, de onde fosse possível trasladá-los, com toda a
rapidez, para a costa, para entrar em combate enquanto o inimigo desembarcasse.
"... A batalha do litoral estará terminada provavelmente em umas horas, e, se a experiência não nos engana, a afluência
de elementos da retaguarda resultará decisiva. Uma das condições básicas para o triunfo desse contra-ataque das
reservas consiste no manejo de forças aéreas que apóiem a ação e, principalmente, afastem os bombardeiros inimigos."
O Alto-Comando Alemão e a invasão
No dia 20 de março de 1944, em uma conferência que Hitler manteve com os mais altos chefes das três armas, o Führer
referiu-se ao papel que o teatro ocidental representaria na guerra:
"... Ocorrerá um desembarque anglo-americano no oeste. Não sabemos onde, nem quando... As concentrações de barcos
que se observam não podem ser tomadas como sintoma de que a escolha do local tenha recaído num setor determinado
do Atlântico, da Noruega ao Golfo de Viscaya, ou do Mediterrâneo, no sul da França, à costa da Itália, ou os Bálcãs.
Tais concentrações podem ser movimentadas a qualquer momento... ou efetuar-se com a finalidade exclusiva de nos
enganar. Em nenhum lugar da nossa larga frente é impossível um desembarque... As zonas mais favoráveis... são as
duas penínsulas de Cherburg e Brest, que oferecem tentadoras possibilidades para estabelecer uma cabeça-de-ponte... O
mais importante para o inimigo consiste em capturar um porto que lhe permita desembarques em maior escala. Somente
esse fato já confere uma importância capital às costas ocidentais e seus portos. Emitimos ordens para que sejam
considerados fortalezas, cujos chefes serão responsáveis... de que a praça resista até o último cartucho ou até a
derradeira ração de campanha... A operação de desembarque não pode prolongar-se... além de algumas horas ou, quando
muito, dias, como demonstra o exemplo de Dieppe. Uma vez rechaçado, o inimigo não repetirá sua tentativa. Deixando
de lado o número de baixas sofridas, necessitará de vários meses para uma segunda tentativa. Contudo, não é este o
único fator que o freará, mas também o rude golpe sofrido no moral de suas tropas e comandados. Por agora, impedirá a
reeleição de Roosevelt, o qual poderá considerar-se afortunado se terminar num cárcere. Também na Inglaterra o
cansaço existente se acentuará mais ainda. Churchill, já velho, doente, e com menor influência, será incapaz de
organizar um novo desembarque. Muito breve poderemos nos opor, com forças equivalentes às 50 ou 60 divisões
adversárias. A destruição das unidades atacantes significa muito mais que uma decisão puramente local no Ocidente. É
o fator decisivo que marcará o resultado da contenda.
"As 45 divisões que agora temos na Europa são necessárias na frente oriental e serão transferidas para lá assim que
conseguirmos uma decisão no Oeste. Isso ocasionará uma mudança sensível. Como é no oeste que está localizada a
frente fundamental desta guerra, no comportamento dos soldados que a guarnecem repousa o final da mesma e o futuro
do Reich. A absoluta consciência de que o esforço individual é a base sobre a qual se assenta todo o nosso futuro,
deverá presidir os pensamentos dos oficiais e soldados".

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