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COMPLEMENTO DE CRIMINOLOGIA
DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL DE SÃO PAULO
9. SISTEMA DA CRIMINOLOGIA 12. ESCOLAS SOCIOLÓGICAS
TEORIAS CONSENSUAIS E CONFLITIVAS
Nos ensinamentos do emérito jurista, Pablos de
Molina, o denominado sistema da criminologia é caracte- 12.1. Teoria da Anomia
rizado por duas amplas concepções: a primeira proposta
pela escola austríaca (concepção enciclopédica) enquanto Grande parte da criminalidade que uma sociedade
a segunda, designada concepção estrita, segrega do padece tem raízes em conflitos sociais face às situa-
estudo criminológico disciplinas fundamentais como a ções de carências, desigualdade econômica e intelec-
vitimologia, a criminalística e a penologia, razão pela qual tual além de outros conflitos não resolvidos, fatos estes
concentraremos nosso estudo na primeira concepção. evidenciados na perspectiva da teoria da Anomia de Emile
Durkheim e Robert Merton.
De acordo com a concepção enciclopédica, as disci-
plinas interligadas com o sistema da criminologia estu- Para Durkheim o crime é a manifestação de um
dam a realidade criminal, o processo e a repressão e desregulamento social fruto da estimulação de dese-
prevenção do delito. Vejamos: jos, decorrentes da modernização. Observando o con-
texto social do Brasil o modo de vida advindo dessa es-
9.1. disciplinas relacionadas com a Realidade Criminal: trutura nos faz concluir que temos que buscar suporte
fenomenologia, etiologia, prognose, biologia criminal, principalmente na teoria da Anomia, para justificarmos o
psicologia criminal, antropologia, geografia criminal e aumento da criminalidade buscando soluções de cará-
ecologia criminal. ter social que possam amenizar o problema.
9.2. disciplinas relacionadas com o Processo: criminalística. Desta forma a teoria da anomia estaria vinculada a filoso-
fia do “Sonho Americano”, proposta por Robert Merton em
9.3. disciplinas relacionadas com a Repressão e Pre- 1938, a qual propõe a igualdade real de oportunidades entre
venção do delito: penologia e profilaxia. os cidadãos visando construir uma “sociedade do bem-es-
tar”, propondo modos de adaptação individual baseada na
conformidade, inovação, ritualismo, retraimento e rebelião.
10. CLASSIFICAÇÃO DOS DELINQUENTES
12.2. Escola de Chicago
Hilário Veiga de Carvalho após classificar mais de
sessenta e sete espécies de delinquentes sem exaurir 12.2.2. Teoria Espacial (1950):
o tema, propôs sua própria classificação baseada na
maior ou menor presença de fatores biológicos ou Ainda atrelada a escola de Chicago à teoria norte-ame-
mesológicos na conduta delitiva. São eles: ricana das “Janelas Quebradas” propõe a repressão dos
menores delitos para inibir os mais graves, fazendo surgir
I. Biocriminosos Puros: a política da tolerância zero implementada pelo ex-prefeito
Considerado um pseudo ou falso criminoso dada nova-iorquino Rudolph Giuliani, naquela cidade.
sua inimputabilidade. São indivíduos que sofrem ape-
nas interferência de fatores biológicos quando da práti- Baseada em decisões desprovidas de discricio-
ca delitiva. Grupo representado pelos loucos de todos nariedade por parte das autoridades policiais as quais
os gêneros, psicóticos e psicopatas. agem segundo padrões pré-determinados no que se
refere à atribuição de punições - independentemente da
II. Biocriminosos Preponderantes: culpa individual do infrator ou situação peculiar que se
Aqueles que praticam por influência prepominan- encontre – a lei da tolerância zero é extremamente in-
temente biológica, entretanto, sofrem ligeira interferên- transigente com delitos menores, como por exemplo,
cia de cunho biológico em sua conduta. Ostentam alta não pagar o transporte público , penduras em botecos,
probabilidade de reincidência. pequenos furtos , pichações etc. acarretando, eventual-
mente, a prisão das classes menos favorecidas.
III. Biomesocriminosos:
São aqueles com pouca probabilidade de reincidência, Seu objetivo é promover a redução dos índices de
os quais sofrem influência biológica e social não sendo pos- criminalidade e evitar que um determinado local se tor-
sível identificar qual fator predominou na ocorrência do crime. ne uma zona de concentração da criminalidade hot spot.
Nesse sentido, tanto os contatos pessoais como o con- 15.3. Programas de Prevenção do Delito
tato com métodos e técnicas criminosas, são formas de
aprendizado que motivam e legitimam o comportamento 15.3.2. Programas de Prevenção Axiológico
delituoso criando a famigerada “Teoria da Aprendizagem
Social”, conclusão esta abstraída da delinquência juvenil É o que ocorre na delinquência juvenil nos bairros
típica dos bairros menos favorecidos (periferias) onde os menos favorecidos, onde os menores infratores – sem
menores infratores – sem qualquer parâmetro de êxito pro- qualquer parâmetro de êxito profissional fora da
fissional fora da criminalidade – acabam por se associar a criminalidade – acabam por associar-se a grupos
grupos delinquentes, onde aprenderão e imitarão técnicas delinquentes, onde aprenderão técnicas criminosas as
criminosas legitimando o comportamento criminoso. quais imitarão, legitimando o comportamento criminoso.
13. VITIMOLOGIA
17. CRIMINOLOGIA NA AMÉRICA LATINA
13.3. Vitimização
O nascimento da Criminologia na América Latina co-
Consiste no ato ou efeito de alguém tornar-se vítima meça com a tradução do positivismo como uma impor-
de sua própria conduta (auto lesão, suicídio), da condu- tação cultural que vai configurar racionalidades, progra-
ta de terceiros (crimes diversos) ou mesmo de fato da mas e tecnologias.
natureza (acidentes, catástrofes).
Raúl Zaffaroni em curso de mestrado no Rio de Ja-
neiro reforçava o pensamento lombrosiano por meio da
13.3.1. vitimização primária: são os efeitos naturais do disseminação das ideias de Nina Rodrigues.
crime, sua consequência. Exemplo: subtração do objeto.
Rosa Del Olmo fez a primeira tentativa de reconstru-
13.3.5 vitimização indireta: consiste na autoculpabi- ção histórica da criminologia latino-americana trabalhan-
lização da vítima pelo crime, atribuindo a si a responsa- do os encontros internacionais, as publicações e as cáte-
bilidade do delito como nos casos de não assegurar seu dras como fontes, associando os processos econômi-
veículo e este ser furtado, ter sua residência incendiada cos e culturais ao processo de mundialização do capita-
por ter esquecimento de vela acesa etc... lismo, da divisão internacional do trabalho à entrada do
positivismo e do correcionalismo na América Latina, ques-
tões estas debatidas no Congresso Internacional de
14. PROGNOSE CRIMINAL Criminologia sediado no Rio de Janeiro no século XXI.
Com a obra A Vaidade Criminal & A Piedade Homi- crime, do perfil de criminosos e das possibilidades múl-
cida atentou para o espírito de imitação (mimetismo) - tiplas de circunstâncias apuráveis no decorrer da ativi-
típico nos delitos de repercussão - quando, por vaida- dade diante do fenômeno criminal.
de ou sentimento similar, uma conduta criminosa é
repetida formando lendas no meio criminal chaman- A polícia tem como característica exclusiva o uso da
do-lhe atenção a personalidade de certos agentes que força física, entretanto, nem sempre nos valemos da mes-
não se contentam em praticar apenas o delito, neces- ma para regular relações interpessoais na comunidade.
sitando obter lucro ilícito com sua conduta como ocor-
re, geralmente, na prática de delitos sem violência Como bem explica o professor Fernando Antonio da
como no estelionato. Silva Alves, destaca-se dentre as atribuições conferidas
pelo Estado à polícia, o papel de investigação proativa e
Assevera que por vaidade e deformação de caráter reativa. “A primeira consiste na iniciativa de investigação
sentem uma necessidade incontrolável de se exibirem desenvolvida pela própria polícia, enquanto que a última
para a sociedade, comprando carros importados caros, corresponde ao início da investigação, por iniciativa do
roupas de grifes não acessíveis ao trabalhador comum, público em geral. Enquanto que determinadas ativida-
gerando mais sentimento de impunidade no meio social. des demandam uma iniciativa proativa, como o controle
de organizações criminosas, o monitoramento por
Já no estudo da Piedade Homicida fala sobre a euta- interceptação telefônica ou infiltração, outras atividades
násia, consentimento da vítima nos tempos de guerra, do podem ser facilmente produzidas pelo próprio cidadão
direito à morte e da discordância entre o moral e o legal interessado ou pela vítima, que recorrem à polícia quan-
no homicídio-suicídio com fins piedosos e altruístas. do eles próprios já desenvolveram práticas de investiga-
ção que visaram elucidar a autoria de delitos”.
José Ingenieros médico, sociólogo e psiquiatra. Nas-
ceu em Palermo, Itália em 1877 e faleceu em 1925 em Desta forma, além de desenvolver suas funções
Buenos Aires. Publicou diversos trabalhos no campo da precípuas e geral, compete incutir na ideologia policial
psiquiatria e da criminologia. Foi um dos maiores inte- conceitos básicos de criminologia para melhor compre-
lectuais da Argentina e América Latina, tendo defendido ensão do fenômeno delitivo – desprovida do rigor re-
as posições dos positivistas à época. pressivo imposto pelo direito penal – sem prejuízo para
a vítima e, quiça para o Estado.
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