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PARO, Vitor Henrique.

Gestão escolar, democracia e qualidade do


ensino. – São Paulo: Ática, 2007.

Vitor Henrique Paro é professor titular no Departamento de Administração Escolar e


Economia da Educação da Faculdade de Educação da USP, onde exerce a docência e a
pesquisa na graduação e na pós-graduação.
Sobre o conceito de qualidade do ensino e sua relação com a democracia (18 páginas)
de Vitor Henrique Paro, publicado (2007) pela Editora Ática de São Paulo, sendo este o
primeiro capítulo componente da obra Gestão Escolar, Democracia e Qualidade do
Ensino.
Em primeiro momento o autor apresenta duas dimensões da escola para uma educação
para a democracia, o individual e o social sendo eles interligados pois o primeiro diz
respeito ao “viver bem” o bem-estar social, o segundo visa a contribuição do indivíduo
para a sociedade numa realização da liberdade.
Embora o que tem se visto no Ensino Fundamental é que a escola está muito longe
dessas duas dimensões, pois o ato de aprender nesse espaço está desvinculado a
qualquer sentimento de prazer. A escola se nega a propor um currículo que abrange o
educar para a democracia, isto é, ela se limita a não formar os seus educandos sob a
perspectiva da ética expondo a um “jogo de empurra”, a escola espera da família e a
família espera da escola essa formação ética para os educandos.
Parece contraditória, uma instituição educacional que é a escola ignorar essa
necessidade de capacitar seus alunos para exercerem sua cidadania de forma
democrática. Para esclarecer essa falta de ação da escola o autor propõe que seja feita
uma ressignificação do papel da escola rompendo com o paradigma neoliberal que
conceitua a escola como formação de mão-de-obra.O que se entende como uma
formação democrática, está muito além de uma simples transmissão de informações, ela
engloba que a educação deve fazer parte da vida do indivíduo numa construção
histórico-cultural.
Paro ressalta também que um indivíduo completo de informações e seguro dos
conhecimentos de disciplinas tradicionais da escola corresponde apenas aos interesses
neoliberalistas de concorrer e serem aprovados por exames e provas concedidas pelo
sistema educacional se torna irrelevante numa visão democrática que defende a
educação como um ato de amor e construída dia-a-dia.
O autor ainda salienta que a escola democrática não se coloca como a única forma de
transformação social, a idéia é de que esse tipo de discurso seja apropriado a todos os
âmbitos culturais, políticos e, sobretudo educacional da sociedade.
A concretude da escola depende das ações que é estabelecida direta ou indiretamente no
interior da escola. Qualquer ação e/ou projetos realizados com qualidade pela escola
deter como protagonistas diversas pessoas envolvidas do ambiente escolar.
Além disso, é preciso considerar a concretude da escola, a sua realidade para
compreender a escola não apenas como uma reprodutora daquilo que já vem pronto,
definido por terceiros, sem ter qualquer elo com a realidade atual da escola.
É imprescindível que a escola não deveria estar apenas condicionada a corresponder as
estatísticas do sistema educacional capitalista, logo ela deveria estar engajada num
processo de qualificar os educandos na sua formação moral, ética e intelectual, sendo
nesse caso a qualificação profissional apenas conseqüência de um trabalho bem feito
desenvolvido com base num ensino de qualidade e democrático.
No livro Gestão Escolar, democracia e qualidade do ensino, Paro faz considerações
acerca da qualidade de ensino na escola pública municipal do estado de São Paulo e sua
relação com a gestão democrática, demonstrando preocupação com o ensino oferecido.
Na obra foram apresentados os resultados da pesquisa que o autor realizou no período
de agosto de 2000 a julho de 2003, com o objetivo de estudar a estrutura organizacional
e didática da escola pública fundamental sobre a qualidade de ensino. O estudo na
referida escola envolveu uma pesquisa bibliográfico-documental e o trabalho de campo
com o uso das entrevistas que envolveram o corpo docente, a coordenação pedagógica e
a direção pedagógica.De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9.394
(LDB) que aponta uma nova forma de reger a escola através de uma gestão
democrática, seguindo as seguintes determinações:Art.14-Os sistemas de ensino
definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de
acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios:I-Participação dos
profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola;II -
Participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou
equivalentes.Art.15- Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas
de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e
administrativa e de gestão financeira, observadas as normas de direito público. (In
http://www.mec.gov.br. Acesso em 12/01/10). De acordo com Dourado (2001), a gestão
democrática é entendida como processo de aprendizado e luta política que não se
restringe à prática educativa, mas por apresentar autonomia e a valorização da
participação dos canais democráticos. Para uma melhor compreensão no entendimento
de administração e gestão, Paro em suas diversas obras, afirma que esses termos são
sinônimos. Segundo Santos (2009) a Administração Escolar advém da Administração
Empresarial de cunho capitalista e burocrática, com o uso de métodos e orientações para
serem aplicáveis a escola, tais como: eficácia, eficiência, modernização e produtividade.
Logo, uma administração voltada para empresas e indústrias não poderiam ser
incorporados na escola. Já o conceito de Gestão Educacional é fundamentado na
coordenação, monitoramento e liderança de um processo, onde o gestor atua na área
administrativa e pedagógica.Paro aborda na obra que a educação é entendida como
atualização histórica do homem e condição imprescindível, tendo uma apropriação da
cultura (valores, conhecimentos, objetos, crenças, tecnologia, costumes, arte, ciência,
filosofia). Então, a escola deve pautar-se pela realização de objetivos numa dupla
dimensão que são o individual que diz respeito ao provimento do saber necessário ao
auto-desenvolvimento do educando e a dimensão social que é baseada na formação do
cidadão tendo em vista sua contribuição para a sociedade, para que haja a construção de
uma ordem social. Esta dimensão é um dos objetivos da escola que se sintetiza em uma
educação para a democracia. Paro fundamenta essas dimensões relacionando qualidade
de ensino com a estrutura da escola de ensino fundamental como o principio de natureza
administrativa onde a administração é vista como mediação e que haja coerência entre
os aspectos pedagógicos e administrativos. Depois, temos o de natureza política que
deve estar de acordo com a condição democrática e a estrutura da escola tenha uma
forma democrática para favorecer a vontade dos sujeitos envolvidos no processo
pedagógico. O autor afirma dos objetivos que a escola pública fundamental em geral
tem conseguido realizar estão muito distantes ou antagônicos em relação aos inúmeros e
graves problemas sociais da atualidade. Percebe-se que os educadores estão sob o
paradigma do ‘credencialismo’, onde há uma grande preocupação com exames e
aprovações, tendo como metas a preparação para o mercado de trabalho e o vestibular,
além do uso de indicadores de qualidade que permite ter uma avaliação de escolas
adequadas e comprovadamente o seu ensino ser de qualidade tem o Ideb (Índice de
desenvolvimento da educação básica), SAEB (Sistema de Avaliação da Educação
Básica), Provinha Brasil, Enem e entre outros.O autor considera que a escola apresenta
omissão na função de educar para a democracia, a instituição deve propiciar uma
formação democrática com valores e conhecimentos, capacitar e encorajar seus alunos a
exercer de maneira ativa sua cidadania na construção de uma sociedade melhor. Então a
educação para a democracia é um componente fundamental da qualidade de ensino,
onde o educador tem a preocupação de preparar seus educandos dotando de capacidades
culturais contemplando uma formação para a democracia e Paro utiliza Maria Vitória
Benevides em três pontos: 1.a formação intelectual e a
informação – da antiguidade clássica aos nossos dias, trata-se do desenvolvimento da
capacidade de conhecer para melhor escolher. Para formar o cidadão é preciso começar
por informá-lo e introduzi-lo às diferentes áreas do conhecimento, inclusive através da
literatura e das artes em geral. A falta ou insuficiência de informações reforça a
desigualdades, fomenta injustiças e pode levar a uma verdadeira segregação. No Brasil,
aqueles que não têm acesso ao ensino, à informação e às diversas expressões da cultura
lato sensu são, justamente, os mais marginalizados e
‘excluídos’. 2.a formação moral, vinculada a uma
didática dos valores republicanos e democráticos, que não se aprendem intelectualmente
apenas, mas, sobretudo pela consciência ética, que é formada tanto de sentimentos
quanto de razão; é a conquista de corações e mentes.
3.a educação do comportamento, desde a escola primária, no sentido de enraizar hábitos
de tolerância diante do diferente ou divergente, assim como o aprendizado da
cooperação ativa e da subordinação do interesse pessoal ou de grupo ao interesse geral,
ao bem comum (BENEVIDES apud PARO, 1998, p.167-168 p.25 e 26). Paro no
decorrer da obra faz recomendações para o que ele acredita ser possível melhorar a
qualidade de ensino e democratização da escola pública: a organização do ensino em
ciclos de aprendizado, ao invés de séries, propiciando condições para motivação ao
aprender, constituindo os educandos em sujeitos autônomos. A composição do currículo
que contemple a formação integral do cidadão em detrimento da concepção conteúdista.
Para complementar com as disciplinas escolares (Língua Portuguesa, Matemática,
Ciências, História, Geografia, entre outros) tem-se a necessidade de dar importância à
música, à dança, às artes plásticas, do cuidado pessoal, à ética e à política tornando-os
temas centrais na prática diária das escolas. A forma de ensinar onde o professor
apresente condições para que o aluno possa aprender, compreendendo-o como sujeito.
Para isso, é preciso uma política educacional que proporcione melhores condições de
trabalho (melhores salários, menor quantidade de aluno por docente, disponibilidade de
material escolar, entre outros), ter formação profissional e aprender metodologias. Por
fim, temos o fortalecimento dos mecanismos de participação, que são: a Associação de
Pais e Mestres, Conselho Escolar e Grêmio Estudantil contribuindo para a tomada de
decisões e o envolvimento da comunidade escolar e externa, a adoção de uma direção
colegiada com a função de dividir as responsabilidades com os componentes
democráticos e a constituição de processos eletivos para escolha de dirigentes
escolares.Anteriormente, o autor já provocou discussão sobre a gestão democrática e os
mecanismos democráticos em toda a sua produção bibliográfica, dando o enfoque das
dificuldades para a sua implantação considerando fatores como: a cultura autoritária do
ensino, a ausência de recursos financeiros, a desmotivação dos professores e a falta de
estrutura que favoreça a participação dos pais.As implicações envolvendo gestão foram
apresentadas por autores como Prais (1992) que previa uma administração do tipo
colegiada, sendo um caminho possível na construção de uma escola democrática
comprometida com a transformação social, porque o sentido político da administração
tem uma concepção de tomada de decisões, participação, divisão de responsabilidade
para instituir formas de organização escolar, eliminando o espírito corporativo e
competitivo que possa existir no espaço escolar. A gestão para Abu-Duhou (2002)
especificando o Brasil que de acordo com a LDB promove uma reestruturação do
ensino público, propõe uma descentralização como ferramenta, permitindo a delegação
de autoridade e poder de decisão do governo às escolas. Já Santos (2008) é a favor de
uma educação inclusiva, democrática e de qualidade, com respeito à diversidade e as
diferenças, onde os profissionais de educação devem superar os efeitos do
neoliberalismo, a competitividade, a exclusão e a burocracia. De tudo o que já foi
discutido e abordado relacionando com o Paro e dos diversos autores da área em
questão, surgiu questionamentos que precisam ser respondidos mediante reflexão e
consciência, tais como: O que pensam os professores, os coordenadores pedagógicos, os
diretores e demais agentes escolares sobre a qualidade do ensino que praticam e da
relação deste com a construção da cidadania? ; A escola tem condições de fazer
funcionar esses mecanismos como o Grêmio Estudantil para de fato haver o exercício
da democracia? E como Conselhos de Escola, Associações de Pais e Mestres e Grêmios
Estudantis podem colaborar para a elaboração de práticas escolares mais eficientes e
democrática.

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