A maioria dos que at este momento pronunciaram discursos neste lugar fez o elogio deste costume antigo de honrar, ante o povo, aqueles soldados que morreram na guerra, mas a mim parece-me que as solenes exquias que publicamente celebramos hoje so o maior elogio daqueles que, pelo seu herosmo, as mereceram. Comearei, pois, a elogiar os nossos antepassados. Pois justo e equitativo render homenagem recordao. Esta regio, habitada sem interrupo por gente da mesma raa, passou de mo em mo at hoje, guardando sempre a sua liberdade, graas ao seu esforo. E se aqueles antepassados merecem o nosso elogio, muito mais o merecem os nossos pais. A nossa constituio poltica no segue as leis de outras cidades, antes lhes serve de exemplo. O nosso governo chama-se democracia, porque a administrao serve aos interesses da maioria e no de uma minoria. De acordo com as nossas leis, somos todos iguais no que se refere aos negcios privados. Quanto participao na sua vida pblica, porm, cada qual obtm a considerao de acordo com os seus mritos e mais importante o valor pessoal que a classe a que se pertence; isto quer dizer que ningum sente o obstculo da sua pobreza ou da condio social inferior, quando o seu valor o capacite a prestar servios cidade. No que corresponde Repblica, pois, governamos livremente e, ainda, nas relaes que mantemos diariamente com os nossos aliados e vizinhos, no nos irritamos porque ajam sua maneira, nem consideramos como uma humilhao os seus prazeres e alegrias que, apesar de no nos produzir danos materiais, nos causam pesar e tristeza, ainda que sempre tratemos de dissimul-los. Ao mesmo tempo em que no temos receio nas nossas relaes particulares, domina-nos o temor de infringir as leis da Repblica; obedecemos aos magistrados e s regras que defendem os oprimidos e mesmo que no estejam editadas, a todas aquelas que atraem sobre quem as viola o desprezo de todos.