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Trabalho Prático de conclusão da Formação de Formadores

para Especialização em Igualdade do Género

Igualdade de Género

Trabalho realizado por: Nuno Vitória


Da Mãe Terra ao
Deus Único
Paganismo: O que é?
Chamamos de povos Pagãos aqueles que, na Antiguidade, tinham nos campos
e plantações o seu sustento, a base da sua vida. A Terra era, portanto, sagrada
para eles. Toda a sua cultura e religião girava em torno da Natureza: a época
das colheitas, as estações, os Solstícios, etc. Muitos dos povos Pagãos eram
politeístas, atribuindo aos deuses aspectos da Natureza com que conviviam.
Assim, havia o deus do Sol, a deusa da Lua, o deus da caça, a deusa da
fertilidade, etc. Foram Pagãos os povos Gregos, Romanos e Celtas, por
exemplo.

Uma característica muito marcante da religião Pagã é a


existência de deuses e deusas, às vezes com igual poder, e
muitas vezes tendo a figura feminina como dominante.
Paganismo…
O Paganismo é uma forma de vida e é uma religião, que tem as suas raízes, na
pureza da infinita variedade da Natureza, venerando a Divindade Feminina e o
seu sagrado Masculino em todos os seus aspectos.

Um ser humano não se concebe só por um ser, sendo necessário o lado


feminino e o masculino para a criação. Ninguém nasce do nada, por isso quem
nasce com o sentido Pagão nasce amando naturalmente a Deusa e o Deus seu
consorte.
Filosofia do Paganismo

Os Pagãos respeitam todas as pessoas e todas as formas de vida como parte


de um Todo sagrado. Cada mulher e cada homem é para um Pagão, um lindo
e único ser. As crianças são amadas e honradas. Os bosques, as florestas e as
clareiras são o lar dos animais selvagens e das aves, que são tratadas com
respeito e carinho.
A Mulher… no Antigo Egipto
A mulher egípcia teve um estatuto privilegiado em comparação com outras
civilizações antigas.
A igualdade entre os sexos era um facto natural e comum aos egípcios, que nunca
se referiram a relações de inferioridade ou qualquer outro tipo de problema
relacionado com a posição da mulher na sua sociedade, ressaltando que eram
iguais tanto em dignidade como em direito.
A mulher era sui juris, podendo desempenhar importantes papéis em diversas
actividades produtivas, dispor dos seus bens, estabelecer contratos ou obrigações,
intentar processos judiciais; portanto, tinha liberdade de acção e independência.
…no Antigo Egipto

Na vida privada mantinha-se o amplo direito da mulher. Ela tinha igual


participação na herança e controle dos seus bens pessoais. No aspecto
público, a mulher podia intervir na gestão do patrimônio familiar, acção essa
considerada normal em muitos casos como, por exemplo, na ausência do
marido ou durante a viuvez.
Hipácia, 370-415 d.C.
“Havia em Alexandria uma mulher chamada Hipátia,
filha do filósofo Têon, que fez tantas realizações em
literatura e ciência que ultrapassou todos os filósofos
de seu tempo. Tendo progredido na escola de Platão
e Plotino, ela explicava os princípios da filosofia a
quem a ouvisse, e muitos vinham de longe para
receber seus ensinamentos.”
In Sócrates, o Escolástico, em ' História Eclesiástica'
A Mulher…na Grécia Antiga

O povo de Creta era festivo e levava uma vida alegre. Quase não havia
distinção entre as classes sociais. Tanto os homens quanto as mulheres
dedicavam muito do seu tempo aos jogos, exercício físicos ao ar livre,
pugilismo, luta de gladiadores, corridas, torneios, desfiles e touradas.
…na Grécia Antiga

"A presença da mulher em exibições perigosas e de grande habilidade e


também nas festas aparece em diversas pinturas em cerâmicas e nos
afrescos. Essa valorização da mulher se deve principalmente ao facto de que
a divindade maior de Creta é uma mulher (a Deusa-Mãe). Daí podemos
concluir que a mulher na sociedade Cretense gozou de uma grande
consideração.“
Baseado em Franco di Trondo, La Storia e I suol Problemi, Loescher Editore, Torino , Itália.
A Mulher… na Roma Antiga

Na sociedade romana as mulheres ocupavam uma posição de dignidade. A


mulher, quando casada, era a verdadeira dona da casa...tomava conta dos
escravos, fazia as refeições com o marido, podia sair, e era tratada com um
profundo respeito, tendo acesso ao teatro e aos tribunais.

O casamento — justum matrimonium — era nos tempos mais antigos uma


cerimónia solene e resultava da transferência da mulher do controlo do pai
(potestas) para o do seu marido (manus).
… na Roma Antiga
Teve início no Século II a.C. um processo de emancipação das mulheres.
Abandonaram-se gradualmente as formas mais antigas de casamento e
adoptou-se uma na qual a mulher permanecia sob a tutela do seu pai, e
retinha na prática o direito à gestão dos seus bens. Existem notícias de
mulheres versadas em literatura; podemos ver mulheres inteligentes e
ambiciosas como Clódia, e Semprónia (mulher de D. Júnio Bruto), que
participou da Conspiração de Catilina.
Na época imperial o casamento passou a ser impopular, e foram tomadas
medidas para encorajá-lo mediante a imposição de penalidades aos não-
casados.
A instituição da Igreja Católica

Nos primeiros 280 anos da história cristã, o Cristianismo foi banido pelo
Império Romano, e os cristãos foram terrivelmente perseguidos. Isto mudou
depois da “conversão” do Imperador Romano Constantino. Constantino
“legalizou” o Cristianismo pelo Édito de Milão, em 313 d.C. Mais tarde, em 325
d.C., Constantino conclamou o Concílio de Nicéia, numa tentativa de unificar o
Cristianismo.
A instituição da Igreja Católica

Constantino imaginou o Cristianismo como uma religião que poderia unir o


Império Romano, que naquela altura se começava a fragmentar e a dividir.
Mesmo que isto pudesse parecer um desenvolvimento positivo para a igreja
cristã, os resultados foram tudo menos positivos. Constantino recusou-se a
abraçar de forma completa a fé cristã, tendo continuado com muitos dos
seus credos pagãos e práticas. Assim, a igreja cristã que Constantino
promoveu foi uma mistura de verdadeiro Cristianismo e paganismo romano.
A Consolidação da Igreja Católica
Ao longo do século V d.C., o Império Romano do Ocidente sofreu ataques
constantes dos povos bárbaros. Do confronto desses povos invasores com a
civilização romana decadente, desenvolveu-se uma nova estruturação
europeia de vida social, política e económica, que corresponde ao período
medieval.

Durante a desagregação do Império Romano, decorrente, em grande parte,


das invasões germânicas, a Igreja católica conseguiu manter-se como
instituição social mais organizada. Ela consolidou a sua estrutura religiosa e
difundiu o cristianismo entre os povos bárbaros, preservando muitos
elementos da cultura pagã greco-romana.
A Consolidação da Igreja Católica
Apoiada na sua crescente influência religiosa, a Igreja passou a exercer
importante papel político na sociedade medieval. Desempenhou, por
exemplo, a função de órgão supranacional, conciliador das elites dominantes,
contornando os problemas da fragmentação política e das rivalidades
internas da nobreza feudal. Conquistou, também, vasta riqueza material:
tornou-se dona de aproximadamente um terço das áreas cultiváveis da
Europa ocidental, isto numa época em que a terra era a principal base de
riqueza. Assim, estendeu o seu manto de poder "universalista" sobre
diferentes regiões europeias.
O Concílio de Latrão

O Concílio de Latrão (também chamado Latrão IV) foi convocado pelo então
Papa Inocêncio III, em 1215. Neste concílio é recomendado aos padres, entre
outras medidas, uma atenção especial às heresias, estimulando o
interrogatório em casos de suspeitas e, caso ficasse comprovado o desvio, a
punição.
A caça às “Bruxas”
Nos sermões de padres por toda a Europa, proliferava a concepção de que a bruxaria
estava ligada à cobiça carnal insaciável do "sexo frágil", que não conhece limites para
satisfazer seus prazeres.
Com o seu "furor uterino", para o homem, a mulher era uma armadilha fatal, que podia
levá-lo à destruição, impedindo-o de seguir a sua vida tranquilamente e de estar em
paz com sua espiritualidade.
Na Idade Média, a maioria das ideias e de conceitos eram elaborados pelos
Escolásticos.
Todos os dados sobre as mulheres deste período saíram das mãos de homens da Igreja,
pessoas que deveriam viver completamente longe delas. Muitos clérigos
consideravam-nas misteriosas, não compreendiam, por exemplo, como:
•Geravam vida;
•Curavam doenças utilizando ervas.
As “bruxas” do Cristianismo
Tendo em conta o contexto histórico da Idade Média:
• As bruxas eram as parteiras, as enfermeiras e as assistentes. Conheciam e
entendiam sobre o emprego de plantas medicinais para curar
enfermidades e epidemias nas comunidades em que viviam e,
consequentemente, eram portadoras de um elevado poder social.
• Estas mulheres eram, muitas vezes, a única possibilidade de atendimento
médico para mulheres e pessoas pobres.

• Aprendiam o ofício umas com as outras e passavam esse conhecimento

para suas filhas, vizinhas e amigas.


Quem eram as “Bruxas”?
O estereótipo das bruxas era caracterizado, principalmente, por mulheres:
• de aparência desagradável;

• com alguma deficiência física;

• idosas;

• mentalmente perturbadas;

• bonitas que haviam ferido o ego de poderosos ou que despertavam

desejos em padres celibatários ou homens casados.


Os “crimes”…
As mulheres eram acusadas de:
• Praticarem crimes sexuais contra os homens;

• Fazerem um “pacto como demónio”;

• Se organizarem em grupos – geralmente reuniam-se para trocar


conhecimentos acerca de ervas medicinais ou conversar sobre problemas
comuns ou notícias;
• Possuírem “poderes mágicos”, os quais provocavam problemas de saúde
na população, problemas espirituais e catástrofes naturais.
A Inquisição e os Tribunais do “Santo
Ofício”
Como uma forma de reconquistar o centro das atenções, a Igreja Católica
instaurou os “Tribunais da Inquisição” ou “Os Tribunais do Santo Ofício” que
perseguiam, julgavam e condenavam todas as pessoas que representavam
algum tipo de ameaça às doutrinas cristãs.

As penas variavam entre a prisão temporária até a morte na fogueira.

(Em 1484 foi publicado pela Igreja Católica o chamado “Malleus Maleficarum”, mais conhecido
como “Martelo das Bruxas”. Este livro continha uma lista de requerimentos e indícios para se
condenar uma bruxa. Numa das suas passagens afirmava claramente que as mulheres deveriam
ser mais visadas neste processo, pois estas seriam, “naturalmente”, mais propensas às feitiçarias.)
Qualquer pessoa podia ser denunciada ao “Tribunal da Inquisição”. Os
suspeitos, maioria mulheres, eram presos e considerados culpados até
provarem a sua inocência. Geralmente, não podiam ser mortos antes de
confessarem ligação com o demónio. Então, para procurarem provas de
culpabilidade ou a confissão do crime, eram utilizados procedimentos de
tortura como:
•raspar os pêlos de todo o corpo procurando marcas do diabo, que podiam
ser verrugas ou sardas; 
•perfuração do corpo da vítima com agulhas, procurando uma parte indolor
do corpo, parte esta que teria sido “tocada pelo diabo”;
•surras violentas;

•estupros com objectos cortantes;

•decapitação dos seios.


Geralmente, quem sustentava a sua inocência acabava queimada viva. Já as
que confessavam, tinham uma morte mais misericordiosa: eram
estranguladas antes de serem queimadas.

A “caça às bruxas” admitiu diferentes formas, dependendo das regiões em


que ocorreu, porém, não perdeu a sua característica principal:

Uma massiva campanha judicial realizada pela Igreja e pela classe dominante
contra as mulheres da população rural.

Estima-se que aproximadamente 9 milhões de pessoas foram acusadas,


julgadas e mortas neste período, onde mais de 80% eram mulheres, incluindo
crianças e moças que haviam “herdado este mal”.
O Pecado Original
A mulher, apesar de trabalhar tanto quanto o homem, estava sempre em
grau de inferioridade devido ao facto de ser personificada em Eva.

Eva concentra em si todos os vícios maus que eram directamente associados


como pertencentes à figura feminina medieval:
•a luxúria;

•a gula;

•a sensualidade;

•a sexualidade.
Assim, a mulher era tida como a:

• pecadora;

• tentadora;

• aliada de Satanás;

• culpada pela queda do género humano.

A identidade do pecado original, principalmente na história do cristianismo,

foi um fardo pesado para a mulher até o século XVIII, consagrando à

mulher o papel da principal tentação mundana, capaz de afastar o homem

do caminho da purificação.
O outro lado...
No período feudal o lugar da mulher na Igreja apresentou algumas diferenças
daquele ocupado pelo homem mas, o contrário do que se pensa, várias figuras
femininas desempenharam um notável papel na Igreja medieval.

Certas abadessas eram autênticos senhores feudais, cujas funções eram


respeitadas como as dos outros senhores:

Administravam Algumas até


vastos territórios usavam báculo,
como aldeias e como o bispo.
paróquias.
Exemplo:

Abadessa Heloísa, do mosteiro do Paráclito, em meados do século XII, tinha


uma vida que comportava todos os aspectos administrativos:
• recebia o dízimo (imposto) de uma vinha;

• tinha direito a foros sobre feno ou trigo;

• explorava uma granja;

• tinha direito de pastagem da floresta.


A instrução religiosa
As religiosas deste tempo são, na sua maioria, mulheres extremamente
instruídas,pois ao entrarem para um convento era normal que
desenvolvessem os seus conhecimentos para além do nível corrente,
podendo mesmo rivalizar em nível de sabedoria com os monges mais
letrados do tempo.
As religiosas contribuíram para o desenvolvimento do teatro na Idade Média,
escrevendo seis comédias em prosa rimada.
A própria Heloísa chegou a conhecer e a ensinar às monjas o grego e o
hebreu.
Muitas mulheres ministravam localmente a instrução às crianças da região.
Conclusão
É no confronto directo com o Cristianismo que o mito da bruxa ganhará os
contornos que hoje vemos e em paralelo, assistiremos ao delinear de uma
nova posição a ser ocupada pela mulher, pois, no seu processo de
"formatação", a religião criada em nome de Cristo afasta, paulatinamente, as
mulheres dos seus nichos de poder, assumindo, em definitivo, o seu aspecto
Patriarcal. Justamente a religião que, em seus primórdios, galgou
importantes degraus apoiada por mulheres.
É na institucionalização do Cristianismo que a mulher perde a sua projecção
inicial, relegada a um papel subalterno na Igreja que nascia. Uma nova
realidade era escrita, não sem conflitos, arbitrariedades, sangue e Fé
Verdadeira. Uma realidade regida por um Deus Único.
Conclusão
Nessa nova realidade que surgia era o Filho, não mais a Mãe, a figura de
maior importância. Mesmo que haja, principalmente após as Cruzadas (séc.
XI a XIII), uma certa redescoberta do feminino cristão, na figura de Maria, a
relação de primazia estava irremediavelmente comprometida. E aquele saber
das bruxas, desde há muito associado a deuses muitos, será marcado
indelevelmente pela chegada do Deus Único.
Apoiado nestes pressupostos é inegável que a Idade Média irá assistir a um
reescrever do papel da mulher na sociedade, coisa que já vinha sendo
delineada, mas que naquele momento ganha novos e fortes contornos.
A mulher do cristianismo não é mais a mesma das religiões pagãs.
O Papel não reclamado

“As primeiras luzes, os primeiros gestos, as primeiras palavras de conversão


que deram origem à Igreja brotaram de mulheres. Antes do tempo da
institucionalização da Igreja, houve o tempo das matriarcas cristãs e a
história da Igreja não ficará completa se não se falar delas, se não se fizer
‘memória delas’ (...) Era interessante se, durante um mês, as mulheres não
colocassem os pés na Igreja. Era a única forma de fazermos ver a nossa
importância e a Igreja, por seu turno, via-se ‘obrigada’ a alterar a sua
posição”

Maria Julieta, religiosa do Sagrado Coração de Maria


Reflexão
Optei por esta temática porque, além de pretender aprofundar os meus
conhecimentos na mesma, considero ser necessário trazer para a discussão e
reflexão assuntos, que fazem parte integrante da nossa vida, cujas
responsabilidades não estão claramente atríbuida, ou assumidas, e que
directa ou indirectamente, condicionam muitas pessoas na sua vida
quotidiana.
Bibliografia
• A Grécia Antiga, em 04/08/2010,
http://members.tripod.com/~everton_herzer/grecia.htm
• Gotquestions?org, em 04/08/2010, http://www.gotquestions.org/portugues/origem-
Igreja-Catolica.html
• GUIMARÃES, Carlos. O Espiritualismo Ocidental, em 04/08/2010,
http://sites.google.com/site/oespiritualismoocidental/indice-dos-textos/hipacia
• Locus Latinus, em 04/08/2010, http://latim.blogspot.com/2005/06/mulher-na-roma-
antiga.html
• O mundo dos filósofos, As Características Filosóficas do Cristianismo,
• em 04/08/2010, http://www.mundodosfilosofos.com.br/pencristao.htm
• Paróquias de Portugal, em 04/08/2010, http://www.paroquias.org/noticias.php?n=3798
• PERNOUD, Régine. O mito da Idade Média. Publicações Europa-América, S/D, pp.95-99)
• RECHARTE, Joana. Alternativa Equal, em 04/08/2010,
http://alternativaequal.blogspot.com/2009/03/mulher-na-epoca-medieval.html
• WIEDERSPAHN, Henrique. Arte Antiga, em 04/08/2010,
http://www.arteantiga.org/magali/

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