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POBREZA POLÍTICA

Demo (2006) começa criticando as metodologias e métodos utilizados pelos economistas


positivistas para definir pobreza, amparando-se apenas no que se pode medir, como a renda
como “evidência empírica” por excelência. Um dos seus principais argumentos é o seguinte:
• Ora, “dados empíricos são produtos teóricos e ideológicos, filtrados por métodos por vezes
convenientes (Besson, 1995), renda é tomada como indicador de transparência, quando, na
prática, esconde acordos de toda sorte e origens discutíveis (há rendas que não são
declaradas nem declaráveis, porque escusas, além daquelas difíceis de computar.)” (p.05)

Desdobramentos dessa forma de definir a pobreza:

• Desdobramento ideológico: definição de pobreza como “mau jeito do mercado, produto


eventual, fortuito, não questão estrutural, parte integrante do capitalismo (p.06)
• Desdobramento econômico: elaboram-se políticas sociais de cunho assistencialista,
transferindo renda (sempre residuais)na tentativa de dar conta do problema. (bolsa família)
• Desdobramento político: o “pobre” não é sujeito ativo da solução do problema. Ele não
participa das decisões que dizem respeito à sua condição. Fica “como beneficiário, de quem se
espera que se acomode e vote.” (p.06)
POBREZA POLÍTICA
Definição de pobreza em Demo (2006): “Repressão do acesso às vantagens
sociais”. Ser pobre não é somente não ter, mas ser coibido de ter.” (p.06)
Pergunta: Como você pensa essa definição se, ao menos até agora, há muita gente
que concebe a pobreza como resultado da preguiça ou da falta de talento de
grande contingente da população?

Demo vai enfatizar o poder político no conceito de pobreza, que até agora
achávamos que era apenas um conceito de natureza econômica. O poder é
intrínseco nas relações humanas e até entre os animais, “denotando que é o
ambiente natural da convivência dialética, ao mesclar, solidariedade e
agressividade (Godelier, 2001), Repressão e apoio (Godbout, 1999), vida e morte
(Demo, 2005).” (DEMO, 2006, P.08).
Mas, o que é o poder? Por que o poder existe? Pode haver uma sociedade sem
poder? Quais os principais tipos de poder que existem na sociedade?
POBREZA POLÍTICA: O fenômeno do poder
Vamos considerar o conceito de poder por Norberto Bobbio no seu Dicionário de Política?
Capacidade que um indivíduo, grupo ou instituição tem de modificar o comportamento de outro
indivíduo, grupo ou instituição, segundo os seus interesses.
O poder é essa capacidade em ação. Ele é intrínseco na sociedade. Onde existem relações
humanas o poder está presente. Nas relações pais e filhos, marido e esposa, homem e mulher
(Ver, a esse respeito, comentários do autor nas páginas 20-21), patrão e empregado, polícia e
cidadão, padre/pastor e fiel, motorista e passageiro, professor e aluno, diretor e professor, pais
de alunos e professores, político e Ministério Público, Poder legislativo e Poder jurídico, poder
jurídico e poder executivo, poder legislativo e poder político, religiões cristãs e religiões afro,
homossexuais e heterossexuais (vejam o caso da França hoje), etc.
Professor Zelitin, vocês podem retrucar: então o poder é negativo. Algo ruim a ser evitado? Ao
que respondo: NÃO! Retomando...
O poder é intrínseco nas relações humanas e até entre os animais, “denotando que é o ambiente
natural da convivência dialética, ao mesclar, solidariedade e agressividade (Godelier, 2001),
repressão e apoio (Godbout, 1999), vida e morte (Demo, 2005).” (DEMO, 2006, P.08).
POBREZA POLÍTICA: TIPOS DE PODERES
PODER ECONÔMICO - É a capacidade que um indivíduo, grupo ou instituição tem de modificar o
comportamento de outro indivíduo, grupo ou instituição segundo os seus interesses, utilizando,
para isso, favorecimentos e vantagens econômicas. Acontece muito no Congresso Nacional
brasileiro.
PODER IDEOLÓGICO* - É a capacidade que um indivíduo, grupo ou instituição tem de modificar o
comportamento de outro indivíduo, grupo ou instituição segundo os seus interesses, utilizando,
para isso, um “conjunto de concepções, ideias, representações, teorias, que se orientam para a
estabilização, ou legitimação, ou reprodução, da ordem estabelecida.” (LÖWY, 1989, p.13)
“Toda relação de poder é periclitante, precisa ser cuidada, preservada, dissimulada, usando-se
para tanto sobre tudo a artimanha ideológica.” (THOMPSON, 1995 apud Demo, 2006, p.23)
PODER POLÍTICO - É a capacidade que um indivíduo, grupo ou instituição tem de modificar o
comportamento de outro indivíduo, grupo ou instituição segundo os seus interesses, utilizando,
para isso, o uso da força, da coerção. É o poder, em última instância, que indica a hegemonia de
um grupo político.
Vamos analisar, brevemente o que está acontecendo na Síria, utilizando estas três categorias
teóricas acima? Ver Revoluções burguesas na França e na Inglaterra.
DEMOCRACIA
• A TRADIÇÃO CLÁSSICA ARISTOTÉLICA DE DEMOCRACIA É DEFINIDA COMO
“GOVERNO DA MAIORIA” OU “DA MULTIDÃO”. ARISTÓTELES CHAMA A
DEMOCRACIA TAMBÉM DE “GOVERNO DE VANTAGEM DO POBRE”, EM
OPOSIÇÃO AO GOVERNO PARA O MONARCA – MONARQUIA – E, TAMBÉM, AO
GOVERNO DE VANTAGEM PARA OS RICOS – OLIGARQUIA.

PODER
AUTORITÁRIO LICENCIOSO

“Não parece viável eliminar o fenômeno do poder – algo histórico-estrutural -, mas


é viável democratizar, pela introdução de regras igualitárias no jogo.” (Demo, 2006,
p.19)
Diálogo em Paulo Freire
• O diálogo é o “lugar de encontro entre os homens.”

MUNDO

DIÁLOGO

EU OUTRO

A B A B A B A B
POBREZA POLÍTICA: Trechos dialógicos em Demo
Todo processo educacional é um processo de influência, um jogo de poder, no qual
o educador influencia, comumemente, bem mais que o aluno; não é possível
educar sem influenciar;

No entanto, se há uma influência que sufoca, pode haver outra que liberta: no
outro lado da relação pedagógica é mister encontrarmos um aluno que não diga
amém na condição de objeto, mas possa reagir e emergir como sujeito.

Entre as habilidades pedagógicas mais eminentes está aquela que consegue obter
do aluno seu desenvolvimento cada vez mais autônomo, à medida que ele se
expressa como sujeito capaz de história própria. (DEMO, 2006, p.09)
POBREZA POLÍTICA: Sugestões de atividade extra sala
Um conceito que Demo (2006) apresenta como intrínseco ao conceito
de política e de poder é “autonomia” e o outro é “participação”.

AUTONOMIA E PARTICIPAÇÃO

Examinem, discutam e sistematizem esses conceitos à luz de três


autores (as) diferentes, trazendo-os para a próxima aula a fim de
aprofundarmos a compreensão dos mesmos.
POBREZA POLÍTICA: Atividade 2
Observe a citação abaixo, e, a partir dela, defina o que é educar.

A questão fundamental é que tais seres “se desenvolvem”, ou seja, possuem dentro de si um
mecanismo dialético de autoformação, uma habilidade natural de construir-se, de tal sorte que,
mantendo o mesmo durante o período da vida, nunca é o mesmo em cada fase. Constrói uma
identidade dinâmica que, sempre alimentada do passado inevitável, se mantém aberta para um
futuro incerto e aberto. Por isso se desenvolve enquanto houver vida, de dentro pra fora. [...]
Assim, o organismo vivo não pode ser propriamente “instruído” (de fora, de cima), porque seu
gesto próprio é de autoformação (de dentro). O que entra nele entra por dentro, por mais que
seja premido de fora. É por isso que cada ser vivo possui individualidade, resultando disso a
magia da igualdade na espécie e na diferença do indivíduo. (DEMO, 2006, p.11-12)
POBREZA POLÍTICA: Politicidade em Demo
De forma geral, a politicidade em Demo é a capacidade do indivíduo de exercer poder, através de
suas possibilidades de aprender e conhecer, em busca da conquista de sua cidadania com
autonomia, sempre relativa, mas nunca relativista. Demo mesmo define sua compreensão
quando afirma que “Entende-se, assim, como politicidade a habilidade humana de, dentro das
circunstâncias dadas, tomar o destino em suas mãos e construir a autonomia relativa possível
como sujeito.” (DEMO, 2006, p.10)

Embora o autor supracitado assinale que é preciso estar atento para que a “habilidade política de
atrapalhar a cidadania dos outros.” (p. 24)
POBREZA POLÍTICA: Síntese do “lugar do político”
a) O ser humano, sempre no contexto de estruturas dadas, é capaz de interferir
nelas em si mesmo, constituindo-se como sujeito da história;

b) O ser humano afronta seus limites em todos os sentidos, sendo caracterizado


pela soberba e arrogância. Destrói a natureza, cria monstros e não mede as
consequências de suas ambições;

c) Este ser detém a maior potencialidade de construção da autonomia entre os


seres vivos conhecidos usando sua capacidade cognitiva;

d) Uma das maiores habilidades é saber pensar: gosta de transformar limites em


simples desafios e não para diante de nenhum desafio: a diferença entre
criatividade e loucura vai desaparecendo;
POBREZA POLÍTICA: Síntese do “lugar do político”
e) No aspecto positivo sabe convencer sem vencer, “vencer com”. “um gesto
democrático dos mais profundos” (DEMO, 2006, p.25) com base na autoridade do
argumento, não no argumento de autoridade. Permite a solidariedade sem
prepotência ou submissão;

f) No aspecto negativo aparece a “pobreza política no cenário, como resultado de


pessoas, grupos, instituições e sociedade que não conseguem tomar o destino
em suas mãos, atuando como massa de manobra, sujeitos secundários da
história;

g) Reconhecendo a dubiedade das qualidades humanas, a politicidade que


promove a emancipação também promove, por outro lado, a imbecilização.
POBREZA POLÍTICA
JUSTIFICATIVA DO AUTOR: Ao lado da pobreza material existem outras dimensões importantes
que devem ser discutidas e apreendidas, mas que são metodologicamente mais difíceis de
reconstruir, mas, nem por isso, menos relevantes para a vida das sociedades e pessoas. (p.25-26)
SUPOSIÇÃO DO AUTOR: “Sugere-se que a pobreza política tem seu fulcro mais renitente na
dinâmica política que a envolve, por mais que, à primeira vista, pareça reduzir-se a carências
materiais já bem conhecidas nos estudos recorrentes. Cada vez mais se aceita que a pobreza
tem, por trás, o problema da desigualdade social, o que implica reconhecer que se trata
substancialmente, de dinâmica política.” (DEMO, 2006, p.26)

IGUALDADE versus IGUALITARISMO

Não disputamos apenas bens materiais escassos, disputamos, sobretudo, o poder, o prestígio, as
vantagens, a liderança e as oportunidades. Não é a abundância dos recursos naturais que elimina
a desigualdade, afinal “[...] para resolver esse problema, sequer bastaria “fazer chover”, porque,
mesmo havendo água para todos, alguns saberiam tornar seu acesso um privilégio social.
Teríamos que mudar também e, possivelmente sobretudo, as relações de acesso ao poder.”
DEMO, 2006, p.27)
POBREZA POLÍTICA
INÍCIO DA POBREZA POLÍTICA: a ignorância. Não se trata de ignorância cultural mas de
ignorância historicamente cultivada, por meio da qual se mantêm grandes maiorias
como massa de manobra.

Politicamente pobre é o escravo que se vangloria da riqueza do seu


patrão, não atinando que essa riqueza lhe é devida, pelo menos em
parte; é o oprimido que espera sua libertação do opressor; é o ser
humano reduzido a objeto e que mendiga direitos; é quem faz a história
do outro, a riqueza do outro, os privilégios do outro e, com isso, é
coibido de história própria. Não é só destituído de ter, é principalmente
destituído de ser, ainda que seja o caso de interpor qualquer dicotomia
entre ser e ter. (DEMO, 2006, p.31)

POBREZA POLÍTICA tem o seu contrário em Demo que é a QUALIDADE POLÍTICA


QUALIDADE POLÍTICA
1. CONSTRUIR CONSCIÊNCIA CRÍTICA HISTÓRICA;

2. ORGANIZAR-SE POLITICAMENTE PARA EMERGIR SUJEITO CAPAZ DE HISTÓRIA PRÓPRIA;

3. ARQUITETAR E IMPOR PROJETO ALTERNATIVO DE SOCIEDADE

CAPACIDADE CRÍTICA

CONDIÇÃO: HABILIDADE DE SABER PENSAR


CAPACIDADE PRÁTICA: CONCEBER E REALIZAR
ALTERNATIVAS E OPORTUNIDADES
QUALIDADE POLÍTICA

4. ACESSO À INFORMAÇÃO;

5. ACESSO À COMUNICAÇÃO SOCIAL;

6. CULTIVO DE IDENTIDADES E OPORTUNIDADES CULTURAIS;

7. PARTICIPAÇÃO NA ESFERA PÚBLICA DE DISCUSSÃO E NEGOCIAÇÃO DEMOCRÁTICA;

8. ASSESSORIA DO PAPEL DO ESTADO COMO INSTÂNCIA DELEGADA DE SERVIÇO PÚBLICO COM


CONTROLE DEMOCRÁTICO*
DIMENSÕES DA POBREZA POLÍTICA
• IGNORÂNCIA CULTIVADA DO POBRE;

• MASSA DE MANOBRA DO POBRE;

• AUSÊNCIA DE CIDADANIA;

• DESTRUIÇÃO DO SUJEITO. ASSUJEITAMENTO DO POBRE;

• NATURALIZAÇÃO DA POBREZA E RESIGNIÇÃO DIANTE DE SUA CONDIÇÃO


DESUMANA;

• CIDADANIA TUTELADA E ASSISTIDA


POBREZA POLÍTICA: Conclusão do capítulo
NÃO SE COMBATE A POBREZA SEM O PPOBRE NO COMANDO DESSE PROCESSO. QUANDO FEITA
DE CIMA AS POLÍTICAS SOCIAIS ACABAMEM COISA POBRE PARA O POBRE.
“QUANDO O POBRE É FIGURA CENTRAL E COMANDA A FOCALIZAÇÃO, PODE TER COMO
RESULTADO INICIAITIVAS REDISTRIBUTIVAS E DE RENDA E PODER.” (p.36)
DIMENSÕES HIERÁRQUICAS E ESSENCIAIS:
a) ASSISTÊNCIA SOCIAL PARA GARANTIR O DIREITO À SOBREVIVÊNCIA;
b) CAPACIDADE DE INSERÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO;
c) CONSTRUÇÃO E FORTALECIMENTO DA CIDADANIA.
Hierarquicamente a cidadania prevalece, pois sem ela não como o pobre ter capacidade e
oportunidade de transformar as condições estruturais de sua situação de pobreza.
A inserção no mercado vem m segundo lugar, pois o pobre tem de aprender a andar com a
próprias pernas.
A assistência embora seja prioridade imediata não é ação permanente.
REFERÊNCIAS

DEMO, Pedro. Pobreza política. Campinas, SP: Autores Associados,


2006.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 26. ed. Rio de Janeiro: Paz e


Terra, 1999.

LÖWY, Michel. Ideologias e ciência social: elementos para uma análise


marxista. São Paulo: Cortez, 1989.
POBREZA POLÍTICA
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