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UNIDADE 6

Uma explicação racionalista


do conhecimento
O projeto filosófico de Descartes

Uma filosofia primeira é uma perspetiva básica prévia e


independente da investigação científica. Descartes defende
que é a partir dela que a ciência terá de ser construída e
avaliada.
Só as certezas mais sólidas podem ser os fundamentos de
algo genuinamente estável e duradouro nas ciências.

Modificar A perspetiva básica do mundo que


a perspetiva Descartes irá propor só poderá ser
básica acerca compreendida se o sujeito, na sua
do mundo
Finalidades relação cognitiva com o mundo, se
do projeto de Modificar a
libertar do domínio dos sentidos.
Descartes perspetiva acerca das
capacidades do Para educar o sujeito a libertar-se
sujeito para desse domínio, é preciso um novo
entender o mundo método.

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O projeto filosófico de Descartes

 O método da dúvida

Princípio forte da dúvida:


Devemos recusar o nosso assentimento a opiniões que não são completamente
certas e indubitáveis, isto é, àquelas em que descobrimos alguma razão de dúvida.

A dúvida opõe-se à certeza. Isto quer dizer que teremos de suspender o nosso
assentimento a uma opinião perfeitamente razoável mas não absolutamente
certa.

Este método serve apenas o propósito de adquirir conhecimento, que é como


que um jogo que decorre num plano inteiramente diferente da vida prática.

O conhecimento envolve um estado cognitivo melhor do que uma crença


razoável. Para Descartes, este é o estado de certeza, proporcionado pelo que é
claramente percebido.

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O projeto filosófico de Descartes

E perceber claramente é ter ideias claras e distintas.


• Clareza: a ideia capta o que as coisas realmente são (a sua natureza).
• Distinção: a ideia não contém quaisquer características que só por acidente
pertencem às coisas.

As ideias claras e distintas são indubitáveis. Assim, nasce um novo princípio:

Princípio forte do assentimento:


Devemos dar o nosso assentimento apenas às ideias claras e distintas, que são
aquelas para as quais não há qualquer razão de dúvida.

A certeza que Descartes quer para a filosofia é a que encontrava na matemática.


O conhecimento requer certeza, que requer a exclusão de qualquer razão de
dúvida.

Esta motivação está associada à estratégia de demolir todas as opiniões e de


descobrir as ideias que o método da dúvida é incapaz de abalar. Estas ideias
devem fundamentar o conhecimento e a ciência.

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O projeto filosófico de Descartes

Destas considerações extraem-se as características da dúvida cartesiana:

Características da dúvida cartesiana


É um método para alcançar a verdade que recomenda o exame das nossas crenças e
Metódica
opiniões segundo um princípio forte de dúvida e um princípio forte de assentimento.
Exagera a ponto de fazer de uma razão ligeira de dúvida um motivo para
Hiperbólica
suspendermos o assentimento a uma opinião, mesmo que muito razoável.
É calculada para servir a finalidade de destruir a perspetiva básica da Natureza em
Estratégica
que assentava a física medieval.
Não é uma extensão do tipo de dúvida que naturalmente levantamos na vida prática,
Artificial
nem a esta se aplica.
Incide sobre crenças muito básicas para averiguar se podem ser ideias claras e
Radical
distintas e servir como fundamentos do conhecimento.
Sistemática Afeta todo o sistema de crenças construído a partir das ideias básicas.

Descartes vai imaginar situações — hipóteses céticas — que testem crenças


básicas ao aplicar o princípio forte da dúvida, verificando se essas crenças têm
de ser suspensas ou se são certezas inabaláveis.

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O projeto filosófico de Descartes

 A viagem da dúvida

Método da dúvida
Uma hipótese cética é uma possibilidade de
erro incompatível com o que pensamos leva Descartes a apresentar
saber, mas que a nossa experiência
subjetiva não consegue distinguir das Hipóteses céticas
circunstâncias normais; essas possibilidades
de erro são razões de dúvida radicais.
Sonho Génio maligno

As hipóteses céticas, de que as de Descartes são um exemplo, caracterizam-se por:


• oferecer uma explicação sobre como certos tipos de crença surgem no sujeito,
segundo a qual as crenças são falsas;
• o sujeito não poder afirmar se essa explicação para as suas crenças é correta ou não;
• o sujeito suspender o assentimento a crenças e opiniões que antes considerava
verdadeiras.

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O projeto filosófico de Descartes

□ A hipótese cética do sonho

Nada na experiência subjetiva que Descartes tem quando parece


acordado lhe permite distinguir que sonha que está sentado à
lareira da experiência de estar realmente sentado à lareira.
Isto força-o a concluir que não é capaz de saber que nesse
momento não está a sonhar.

Quais são as consequências desta argumentação?

Se não tivermos uma boa razão para recusarmos o argumento


(e Descartes neste momento não tem), segue-se que não
devemos confiar no conhecimento adquirido pelos sentidos
sobre qualquer aspeto do nosso ambiente.

Temos de deixar de acreditar em toda a informação sobre o nosso


ambiente adquirida por meio dos sentidos.

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O projeto filosófico de Descartes

□ A hipótese cética do génio maligno

Descartes concebe uma hipótese que explica como as estruturas mais básicas do
nosso mundo surgem em nós: uma hipótese segundo a qual podem ser falsas.

O génio maligno, que tem a omnipotência de Deus, mas não a


sua bondade, é um Deus enganador, a ponto de nem os
raciocínios mais básicos serem fiáveis. Não são apenas os
sentidos que podem enganar-nos nas coisas mais simples; são
também os nossos raciocínios mais básicos.

Quais são as consequências desta argumentação?

O Deus enganador fez-nos de maneira que nos enganássemos


também quando raciocinamos.

Podemos suspeitar que a nossa relação cognitiva com o mundo seja um logro
e estarmos impedidos de o corrigir. Terá Descartes chegado a um impasse?

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O projeto filosófico de Descartes

Progressão da dúvida cartesiana

Primeira fase:
Hipótese cética do sonho

Resultado da primeira fase: suspensão do assentimento às perceções dos sentidos,


incluindo as mais básicas.
Exemplos de perceções em que temos de deixar de acreditar: ver ao longe o mar; ouvir um
carro a passar; ver um braço esticado; sentir que a cabeça se move.

Segunda fase:
Hipótese cética do génio maligno

Resultado da segunda fase: suspensão do assentimento às noções que formam a estrutura


básica do mundo; suspensão do assentimento aos raciocínios, incluindo os mais simples.
Exemplos de noções em que temos de deixar de acreditar: noção de que há um espaço que
as coisas ocupam; noção de que há um tempo ao longo do qual as coisas existem; noção de
que há coisas extensas.
Exemplos de raciocínios em que temos de deixar de acreditar: raciocínio de que 7 – 5 = 2;
raciocínio de que os ângulos de um triângulo equilátero são iguais; raciocínio de que
multiplicar 2 por 2 tem como resultado 4.

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O projeto filosófico de Descartes

 O benefício da dúvida

Se o impasse for o resultado final, isso não retira mérito ao processo de dúvida.
A condução do pensamento pelo método da dúvida vale por si mesma.

Afastando a mente dos sentidos, a dúvida permite libertar-nos de preconceitos.

O efeito da dúvida sobre a mente é


terapêutico: quebra o hábito de apoiarmos
as nossas ideias acerca do mundo material e
acerca da nossa própria natureza na
experiência fornecida pelos sentidos.

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O projeto filosófico de Descartes

 A viagem da descoberta

A viagem da descoberta é a viagem pelas verdades que Descartes assegura serem


os fundamentos do conhecimento e de uma nova perspetiva científica do mundo.
Este é o momento construtivo da filosofia de Descartes.

□ O cogito: «Penso, logo existo.»

O cogito é o primeiro princípio da filosofia e também


um dos fundamentos do conhecimento.

É no momento mais radical da dúvida, aquele em que Descartes está sob o poder
e a astúcia do Deus enganador, que ele sabe indubitavelmente que é e existe.

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O projeto filosófico de Descartes

Se esse Deus procura enganá-lo, isso reforça a sua convicção de que é alguma
coisa. E é alguma coisa justamente enquanto pensa que é alguma coisa, por
mais que esse Deus se esforce para que ele pense que é nada. E quanto maior
for esse esforço, mais isso implica que Descartes pense que é alguma coisa.
A hipótese cética do génio maligno parece condenada a derrotar-se a si mesma,
gerando uma verdade imune à dúvida.

Cogito
Porém, falta a Descartes definir o que é.
Ele sabe que existe, mas não diz o que é. constitui uma

Ele apenas sabe que é uma mente


enquanto pensa, porque só pode estar Certeza Ideia
absolutamente certo de que pensa.
Absoluta Indubitável

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O projeto filosófico de Descartes

Descartes descobre a certeza de que existe enquanto pensa. Nesta situação,


desenvolve as seguintes atividades:
• considera a hipótese que explica as suas crenças;
• reconhece que não pode saber se essa hipótese é correta;
• alimenta a dúvida sobre o que antes acreditava.

A proposição «Penso, logo existo.» é necessariamente verdadeira sempre que


expressa ou concebida por ele, pois duvidar dela é verificar mais uma vez a
sua verdade.

O cogito é uma certeza absoluta, algo de que Descartes tem uma ideia clara e
distinta, uma ideia imune à dúvida.
Mas o cogito é também o primeiro princípio da filosofia, o que significa que é
um fundamento do conhecimento.

O que faz do cogito um dos fundamentos que Descartes tanto procura?

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O projeto filosófico de Descartes

É no momento em que duvidamos da nossa existência que a provamos.


Provamos, portanto, que a crença é verdadeira. Isso significa que esta crença
tem a característica especial de se justificar a si mesma, não tendo necessidade
de uma outra crença que a justifique. Nela, a cadeia das justificações chega ao
fim. Daí a sua condição tão importante de fundamento.

É possível distinguir dois tipos de fundacionalismo:

O fundacionalismo defende que algumas crenças podem estar justificadas


sem se apoiarem noutras crenças. A cadeia das justificações termina em
crenças que fornecem a fundamentação de outras crenças.

O fundacionalismo clássico, sustentado por Descartes, defende ainda que as


crenças que são fundamentos (crenças fundacionais) são capazes de ter esse
papel por se justificarem a si mesmas.

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O projeto filosófico de Descartes

□ Deus enquanto fundamento do conhecimento

O autoconhecimento contido no cogito é um sucesso limitado. Falta ainda a


Descartes o conhecimento da realidade independente do sujeito.

Descartes pensa que talvez Deus responda a essa


necessidade de um fundamento ainda Fundamentos
mais sólido do que o cogito. do conhecimento

Mas como pode provar que Deus existe?


Provavelmente, da ideia que tem dele Eu existo Deus existe

e que encontrou na sua mente.

Um dos conteúdos da sua mente é, então, uma ideia clara de Deus. Esta ideia,
como qualquer outra, não basta para provar que o que ela representa existe.
Uma outra ideia é que a causa de uma ideia deve ter tanta realidade como o
que ela representa.

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O projeto filosófico de Descartes

Se assim é, ele, que é finito e imperfeito, não pode ser a causa


da ideia de Deus, que está reservada para um ser infinito e
perfeito. Segue-se que Deus existe, pois é a causa da ideia de
Deus.

Mas não se percebe ainda como pode Deus dar um


fundamento mais sólido ao conhecimento. Alguma garantia
terá de dar para que Descartes passe a confiar inteiramente
nas ideias claras e distintas que encontra na sua mente depois
de sobreviverem ao método da dúvida.

Essa garantia é, na verdade, a sua perfeição. Um ser perfeito não é enganador, e


sabemos agora que esse ser perfeito existe. Se Deus existe e não é enganador, o
que Descartes percebe clara e distintamente é verdadeiro. Estão reunidas assim as
condições para confiarmos nas ideias claras e distintas.

A ideia clara e distinta de Deus oferece certeza num grau maior do que a ideia,
também clara e distinta, de uma mente — uma certeza completa.

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□ O mundo material

Para alcançar outras verdades, Descartes terá de dar a atenção devida às coisas
que compreende clara e distintamente, distinguindo-as daquelas que são
obscuras e confusas. Desse modo poderá saber se o mundo material existe e
clarificar a sua perspetiva acerca dele.

A sua certeza de que os corpos existem como coisas extensas apoia-se na ideia
de que Deus é um ser perfeito e na garantia divina de que as ideias claras e
distintas são verdadeiras. Seria estranho que um Deus sumamente bom nos
fizesse de maneira a estarmos enganados quando não podemos senão acreditar.

A ideia de que a Natureza é extensão, uma espécie de quantidade contínua, é


decisiva para uma perspetiva básica da Natureza diferente da medieval, já não se
dando crédito às ideias pré-refletidas acerca dos objetos dos sentidos.

A atitude apropriada é suspender o assentimento à ideia de que as qualidades


captadas pelos sentidos estão presentes nos objetos.

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O esquema seguinte resume os fundamentos do conhecimento para Descartes:

Fundamentos do conhecimento

1. A característica essencial da mente humana é o pensamento,


e a mente é uma substância diferente do corpo humano.

2. Devemos dar o nosso assentimento apenas ao que compreendemos


clara e distintamente.

3. Deus, que se define por ser perfeito, existe.

4. A característica essencial do mundo material é a extensão, que é a


quantidade contínua estudada na matemática.

5. As mudanças na nossa experiência dos sentidos refletem mudanças nas coisas


materiais que nos afetam, mas não devemos atribuir às coisas materiais as
qualidades de que a experiência dos sentidos nos informa diretamente.

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O projeto filosófico de Descartes

 O que faz de Descartes um filósofo racionalista?

Diz-se que Descartes é um filósofo racionalista justamente por não ter recorrido
à experiência para adquirir conhecimento básico  por exemplo, o de que as
qualidades captadas pelos sentidos não são realmente propriedades dos
objetos, ou ainda de que Deus existe.

Compreende-se melhor a teoria racionalista do conhecimento se ela for vista


em contraste com a teoria empirista. Para tal, convém perceber como cada uma
das teorias considera que as verdades são conhecidas.

As verdades podem ser:


• analíticas ou sintéticas  distinção semântica (diz respeito ao significado dos
termos);
• a priori ou a posteriori  distinção epistemológica (diz respeito ao modo
como são conhecidas).

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O projeto filosófico de Descartes

O quadro seguinte apresenta a distinção entre os dois tipos de verdades.

Definição Exemplos

São verdadeiras por definição; • Todos os triângulos têm três lados.


Verdades a sua verdade é garantida pelo • A raposa fêmea não é a raposa
macho.
analíticas significado dos termos usados
• Se o Tiago é irmão da Rita, então ela
Distinção para as afirmar. é sua irmã.
semântica São verdadeiras não apenas • O núcleo da Terra é quente.
Verdades devido ao significado dos • O Porto fica a norte de Lisboa.
• Os melros comem bagas.
sintéticas termos, mas também aos
factos.
Pode ser conhecida sem • Alguém que compreenda a
Verdades recurso à experiência dos afirmação «Os quadrados têm
quatro lados.» não precisa de
Distinção a priori factos.
recorrer à observação de quadrados
epistemológica físicos para saber que é verdadeira.
Apenas pode ser conhecida • As verdades de que os melros
Verdades comem bagas e de que o Porto fica
com recurso a experiências
a posteriori a norte de Lisboa só podem ser
relevantes.
conhecidas fazendo observações.

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O projeto filosófico de Descartes

Uma verdade a priori satisfaz alguns requisitos:

• Pode ser conhecida sem recurso à experiência, mas não tem de ser conhecida
desse modo.
Por exemplo, podemos saber que 4 × 7 = 28 recorrendo à experiência de
contar o número de bolas dispostas em quatro filas de sete bolas cada
uma; no entanto, essa verdade pode ser conhecida sem fazer quaisquer
observações. Por isso é a priori.

• Caso se tenha experiência suficiente para compreender a afirmação, não é


necessária experiência adicional para saber que é verdadeira.
Por exemplo, podemos precisar de alguma experiência para adquirir os
conceitos de triângulo e de lado; mas, adquiridos os conceitos, podemos
saber que os triângulos têm três lados sem experiência adicional. No
entanto, podemos dominar os conceitos de melro e baga, mas não saber
que os melros comem bagas.

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O projeto filosófico de Descartes

O racionalismo e o empirismo defendem que as verdades analíticas são


conhecidas a priori. No entanto, enquanto os empiristas defendem que
todas as verdades sintéticas são conhecidas a posteriori, os racionalistas
defendem que algumas verdades sintéticas são conhecidas a priori.

No caso de Descartes, a verdade de que a característica essencial do


mundo material é a extensão e a verdade de que Deus existe são dois bons
exemplos de verdades sintéticas conhecidas a priori.

O que caracteriza o racionalismo é a ideia de que algumas verdades


sintéticas podem ser conhecidas a priori.

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O projeto filosófico de Descartes

□ Evitar o erro
Na sua relação cognitiva com o mundo, o sujeito deve apoiar-se apenas em
certezas, pois só a certeza é suficiente para justificar as suas crenças.
Não basta a probabilidade de que as suas crenças são verdadeiras.
Dado que, para Descartes, a justificação envolve certeza, e portanto a
consciência de que se sabe, a sua posição é conhecida como internalista.

O internalismo defende que o sujeito deve ter algum tipo de acesso aos factos
que determinam a justificação. Geralmente, este acesso é a priori.

Por exemplo, a minha crença percetiva de que um oásis


está à minha frente é determinada por factos a que
acedo pela reflexão, como o de me parecer que um
oásis está à minha frente.

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Uma avaliação crítica da epistemologia de Descartes

 Críticas à epistemologia de Descartes


□ O círculo cartesiano Ideias claras
e distintas

O raciocínio de Descartes acerca da relação entre a


implica implicam
existência de Deus e as ideias claras e distintas comete
a falácia da circularidade. Esse erro lógico de Existência
Descartes é conhecido como círculo cartesiano. de Deus

A falácia da circularidade consiste em admitir o que se tenta provar.

Descartes afirma que o facto de as ideias claras e distintas serem verdadeiras se segue da
existência de Deus, mas prova a existência de Deus usando esse facto como premissa.

□ Suspender e dar o assentimento


Para Descartes, se suspendemos o assentimento a uma opinião, é porque a nossa
vontade assim o quer. E se o damos, é também por decisão autónoma da nossa vontade.
O problema é que não podemos simplesmente deixar de acreditar naquilo que temos
razões para achar que é claramente o mais razoável. Isso é psicologicamente falso.

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Uma avaliação crítica da epistemologia de Descartes

 Méritos da epistemologia de Descartes


□ A prioridade do sujeito: «Sou, logo Deus existe.»
No processo de conhecimento, o sujeito estabelecido pelo cogito tem prioridade
sobre Deus. A via agora não é, como até aí, do conhecimento de Deus para o
conhecimento do eu, mas do conhecimento do eu para o de Deus. O sujeito ganha
assim importância e autonomia na atividade cognitiva.
Esta prioridade do sujeito contribui indiretamente para afirmar a independência
do conhecimento e da ciência perante a teologia, numa altura em que isso era
sentido como necessário.

□ A atitude cética preventiva


Descartes descobre verdades e defende estar certo de que tem conhecimento.
Supera desse modo os argumentos céticos que apresentou para testar
preventivamente as suas ideias e opiniões. No entanto, esses argumentos são um
dos seus mais importantes legados. Eles ajudaram a promover uma atitude de
exame cuidadoso do conhecimento estabelecido, clarificando as exigências a que
se deve submeter. Isso implicou, entre outras coisas, que o sujeito desenvolvesse
uma saudável desconfiança perante a informação fornecida pelos sentidos.

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Esquema-síntese

Teoria racionalista do conhecimento

foi impulsionada por

René Descartes Fundador da filosofia moderna


Princípio forte da dúvida
a quem se deve a
Devemos recusar o nosso
Dúvida cartesiana envolve dois
Método da dúvida assentimento a opiniões nas quais
princípios
descobrimos alguma razão de dúvida.

Princípio forte de assentimento

tem como Radical, hiperbólica, metódica, Só devemos dar o nosso


características ser estratégica, artificial e sistemática assentimento às ideias claras e
distintas, pois elas são indubitáveis.

leva-o a apresentar
Hipótese cética do sonho
Hipóteses céticas

Hipótese cética do génio maligno

conduzem aos fundamentos Cogito: «Penso, logo existo.» Primeiro princípio da filosofia; constitui uma verdade absoluta
do conhecimento

Argumento da marca
fundamento
Existência de Deus
apoiado por dois
argumentos Argumento ontológico A perfeição divina é a garantia
mais sólida para o conhecimento.

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