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A influência da organização do

trabalho nas vivências de prazer


e sofrimento de feirantes da
Feira de São Joaquim

Salvador,
2016
Objetivos
Geral
• Analisar à luz da Psicodinâmica do Trabalho
os fatores da organização do trabalho que
influenciam na dinâmica de prazer e
sofrimento dos feirantes da Feira de São
Joaquim.
Específicos
• Identificar as vivências de prazer e sofrimento
relacionadas à organização do trabalho do
feirante de São Joaquim
• Identificar as estratégias de enfrentamento
utilizadas pelos feirante para lidar com
fatores relacionados a organização do
trabalho.
Metodologia
• Estudo descritivo
• Abordagem qualitativa
• Embasamento teórico-prático a partir da
Psicodinâmica do Trabalho
Local de pesquisa
• A pesquisa foi realizada na Feira de São
Joaquim, localizada em Água de Meninos,
Salvador.
• Maior feira da região.
• Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, pelo
instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN).
• Aproximadamente 7500 comerciantes
(Salvador, 2015).
Instrumentos de pesquisa
• Entrevista semiestruturada
– Gravadas
– Não gravadas
• Observação
• Diário de campo
Participantes
• Feirantes proprietários de barracas em São
Joaquim.
• Número determinado pelo ponto de
saturação.
– Oito feirantes fornecerem entrevista gravada.
– Outros não permitiram gravar, mas
concordaram em conversar sobre a temática.
Análise de Dados
• Feita com base no processo de análise dos
núcleos de significação, ou análise dos núcleos
de sentidos (ANS).
• “A ANS consiste no desmembramento do
texto em unidades, em núcleos de sentido
formados a partir da investigação dos temas
psicológicos sobressaltantes do discurso”
(MENDES, 2007).
Conteúdo das falas organizado em
três grandes categorias de análise:
1. Organização do Trabalho do Feirante
– Hierarquias
– Ritmo de trabalho
– Intensidade
– Relações interpessoais
– Divisões de tarefas
– Horários de trabalho
– Rotina de trabalho
2. Sentimentos relacionados ao trabalho
• Sofrimento e trabalho
o Sofrimento relacionado às hierarquias
o Sofrimento relacionado ao ritmo e intensidade de trabalho
o Sofrimento relacionado à desvalorização do trabalho
o Sofrimento relacionado ao momento econômico do país
• Prazer e trabalho
o Gosto, apesar de...
o Orgulho e superação
o Gratidão
o Outros indícios de prazer associado ao trabalho
3. Formas de Enfrentamento
• Individuais
• Coletivas
o Recorrência à coletividade
o Esquiva quando o tema se relacionava às hierarquias
Resultados e Discussão
Organização do Trabalho do
Feirante
• Horários de trabalho
• Dias de trabalho
• Férias
• Atividades executadas
• Influência de outras instituições
Sentimentos relacionados ao
trabalho
Sofrimento e Trabalho

Sofrimento
Sofrimento relacionado à
relacionado desvalorizaçã
às o do trabalho
hierarquias

Sofrimento
Sofrimento
relacionado
relacionado
ao ritmo e
ao momento
intensidade
econômico
de trabalho
do país
Sofrimento relacionado às hierarquias
• “Dialogar para poder abrir a mente dos próprios
feirantes, porque hoje não tem espaço para fazer
assembleia, essas coisas, porque os governantes não se
dedicam. A gente é esquecido.” (Pessoa 4)

• “Essa é uma realidade firmada e ninguém vai mudar


isso. Isso só muda se houver, realmente, interesse das
autoridades públicas. Vontade política para mudar a
coisa para melhor. Se houver isso, se muda, caso
contrário é daqui para pior.” (Pessoa 7)
Sofrimento relacionado ao ritmo e
intensidade de trabalho
• “Não sento, é correria, almoço em pé e 17h estou
saindo.” (Pessoa 1)

• “Hoje a feira deu boa, então tudo certo.


Amanhã deu ruim, então depois eu vou mais
cedo para poder cobrir. Então, ao decorrer do
tempo, faz com que a gente se prenda ao
trabalho e que a gente siga sem férias, porque é
um dia cobrindo o outro. A gente se apega, fica
preso ao trabalho.” (Pessoa 4)
• “Almoço trabalhando . E seis da noite, vou
embora. De segunda a sábado, e domingo é
minha folga. Merecido, não é?” (Pessoa 5)

• “Eu mudaria, talvez, o dinamismo no


trabalho. Porque comparado ao trabalho
que eu exercia, é mais parado. Eu trabalhava
em uma coisa mais ágil.” (Pessoa 3)
Sofrimento relacionado à
desvalorização do trabalho
• “A feira é muito grande, deveria ser mais valorizada.”
(Pessoa 1)
• “Se pudesse, eu mudaria a justiça, dava um salário
digno melhor ao pessoal que trabalha, os
trabalhadores, entendeu? (aponta para a feira).”
(Pessoa 2)
• “A gente é esquecido. O feirante não precisa de uma
festa, precisa de uma sede para assentar, bater um
papo, se conhecer, porque no meio de 4000 e tantas
pessoas, os feirantes não se conhecem.” (Pessoa 4)
• “A gente se apega, fica preso ao trabalho, então na
nossa atividade a gente não quer parar, porque o
ganho é pouco para o nosso esforço.” (Pessoa 4)
• “muita gente pensa que a gente trabalha no
ramo de candomblé (isso acontece com
quase todas as pessoas), nem sempre as
pessoas que trabalham com isso aí são
envolvidas. Então, para isso, a gente... para
suprir as nossas necessidades, nós não
devemos ter escolha, porque trabalhar é
sempre uma honra, entendeu?” (Pessoa 2)
Sofrimento relacionado ao momento
econômico do país
• "A gente tem que segurar com as duas mãos, porque
a crise que o país está enfrentando está afetando
todos nós, principalmente a gente que é comerciante
pequeno" (Pessoa 2).

• "Na verdade, ultimamente a gente fica um pouco


triste por essa crise." (Pessoa 8)

• "No meu trabalho eu não mudaria nada. Faço o que


eu gosto. Na verdade o que mais me preocupa é a
crise, independente do trabalho." (Pessoa 8)
Prazer e Trabalho

Gosto, Gratidão
apesar de...

Outros
Orgulho e indícios de
prazer
superação
associado ao
trabalho
Gosto, apesar de...
• “É correria! Mas é daqui que eu tenho o meu sustento,
daqui que eu tenho minha casa própria, daqui que eu
tenho o meu carro, meus cartões de crédito – é daqui que
eu vivo. [...] Gosto! Gosto! Gosto, mas não deixa de
desgastar. Mas gosto.” (Pessoa 1)

• “Trabalho sábado e domingo. Geralmente, domingo foi


feito para a gente descansar, mas ao invés de sair e gastar
50, eu prefiro vir trabalhar e ganhar 20.” (Pessoa 2)

• “O meu trabalho é isso aqui mesmo que você está vendo.


Não é estressante, trabalho com vendas, coisas da
fazenda[...] Eu queria era ir trabalhar, viu menino.
Ganhar dinheiro. Em casa é mais trabalho do que aqui,
né?” (Pessoa 8)
Orgulho e superação
• “É meio difícil falar assim, mas... sei lá... de superar
algumas dificuldades, porque é uma coisa diferente do
meu cotidiano e a gente está sempre fazendo coisa nova.”
(Pessoa 3)

• “P5: Sentimentos? O de... como é a palavra? Esqueci.


Fugiu da mente, agora.
Entrevistador: Explica de outra forma.
P5: Assim, você pode pagar a sua conta com seu próprio
dinheiro. Seu dinheiro é suado...
Entrevistador: Orgulho?
P5: É. Orgulho.” (Pessoa 5)
Gratidão
• “Sentimento bom, porque graças a Deus eu
venho trabalhar, tenho um local de
trabalhar. Só em você saber... de
agradecimento.” (Pessoa 6)

• “Para mim, é um sentimento de alegria. É


tudo o que eu tenho. É o meu lazer, a minha
alegria, é tudo meu.” (Pessoa 7)
Formas de enfrentamento
Individuais
• “É vir trabalhar com fé, com vontade e determinação e não
desistir. Mesmo que o cansaço chegue, é não desistir.” (Pessoa 1)
• “Eu não tenho dificuldades, não. Não, não, não. Trabalho
normalmente, graças a Deus.” (Pessoa 7)

• “Sempre tem que ter uma estratégia, né. De pano para manga.
Sempre, né? E se multiplicar, pois hoje em dia você não pode ser
um.” (Pessoa 8)

• “Não podemos ter preconceito nesses termos, de tal tipo de


trabalho: esse ou aquele trabalho . Acho que quem trabalha Deus
ajuda e é sempre uma honra poder trabalhar, ter saúde, chamar
por Deus para alcançar um objetivo na vida, não é verdade?”
(Pessoa 2)
Coletivas
• Recorrência à coletividade:
– “Gosto! Gosto! Gosto, mas não deixa de
desgastar. Mas gosto. Aqui as pessoas são unidas,
um ajuda o outro.” (Pessoa 1)
– “Rapaz, é todo mundo compartilhando. Um
ajudando o outro.” (Pessoa 5)
• Esquiva quando o tema se relacionava
às hierarquias:
– “Essa é muito difícil de comentar, sabe? Eu prefiro
não comentar, porque eu não sei até que ponto
vai chegar essa procedência.” (Pessoa 6)
Considerações Finais
Referências Bibliográficas
• ALVES, Giovanni. Trabalho e subjetividade: o espírito do toyotismo na era
do capitalismo manipulatório. São Paulo: Boitempo, 2011.
• Brasil. Ministério do Trabalho e Emprego. Cadastro Brasileiro de
Ocupações. Trabalhadores de comércio e trabalhadores assemelhados
não-classificados sob outras epígrafes. Disponível em:
<http://consulta.mte.gov.br/empregador/cbo/procuracbo/conteudo/tabel
a3.asp?gg=4&sg=9&gb=0>. Acesso em 22 mai, 2015.
• GONDIM, Sônia Maria Guedes et al. Carteira de Trabalho, artigo de luxo: o
perfil psicossocial de trabalhadores informais em Salvador, Bahia. Estud.
psicol. (Natal), Abr 2006, vol.11, no.1, p.53-64.
• Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Trabalhadores por
Conta Própria: Perfil e Destaques. Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de
Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. Pesquisa Mensal de Emprego, Rio de
Janeiro: IBGE, 2008.
• MENDES, A. M. Psicodinâmica do Trabalho: teoria, método e pesquisas.
São Paulo: Casa do Psicólogo, 2007.
• Salvador. Secretaria de Ordem Pública. Localização Feiras. Disponível em
<http://www.ordempublica.salvador.ba.gov.br/images/SEMOP/docs/LOCA
IS_FEIRAS.PDF>. Acesso em 02 de junho, 2015.

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