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História Social da criança e

da família
Philippe Ariès
Visão geral do livro
• Prefácio

• Parte 1. O Sentimento da Infância

• 1 As Idades da Vida

• 2 A Descoberta da Infância

• 3 O Traje das Crianças

• 4 Pequena Contribuição à História dos Jogos e Brincadeiras

• 5 Do Despudor à Inocência

• Conclusão: Os Dois Sentimentos da Infância


1 As Idades da Vida
• P. 33: As idades da vida ocupam um lugar importante nos tratados pseudocientíficos da Idade
Média. As idades da vida eram também uma das formas comuns de conceber a biologia humana, em
relação com as correspondências secretas internaturais. Essa noção, destinada a se tornar tão
popular, certamente não remontava às belas épocas da ciência antiga. Pertencia às especulações
dramáticas do Império Bizantino, ao século Vl.

• Os textos da Idade Média sobre esse tema são abundantes. “Le grand propriétaire de totes choses”
(enciclopédia, compilação latina, datada do século XVII, que retomava todos os dados dos escritores
do Império Bizantino) trata das idades em seu livro Vl. Aí, as idades correspondem aos planetas, em
número de 7. (Ver página 12).

• A popularidade das "idades da vida" tornou este tema um dos mais frequentes da iconografia
profana. [...] foi sobretudo no século XIV que essa iconografia fixou seus traços essenciais, que
permaneceram quase inalterados ate o século XVIII; reconhecemo-los tanto nos capitéis do palácio
dos Doges como num afresco dos Eremitani de Pádua. (Ver página 39).

• Ausência de um vocabulário específico em francês para designar a criança como hoje a


consideramos. (Ver páginas 41 e 42). Somente no século XIX o francês importou do inglês a palavra
“baby” (bebé) para designar crianças bem pequenas e do italiano a palavra “bambino” (bambin)
para crianças pequenas.
2. A Descoberta da Infância
• Até por volta do século XII, a arte medieval desconhecia a infância ou não
tentava representá-la. É difícil crer que essa ausência se devesse à
incompetência ou à falta de habilidade. E mais provável que não houvesse lugar
para a infância nesse mundo.

• 3 tipos de representações na arte medieval. 1ª: adultos em miniatura (Páginas


50 e 51). 2ª: o modelo e o ancestral de todas as crianças pequenas da história da
arte: o menino Jesus, ou Nossa Senhora menina, pois a infância aqui se ligava ao
mistério da maternidade da Virgem e ao culto de Maria (página 53); 3ª (fase
gótica): a criança nua (exceto Jesus, que aparecia enrolado em cueiros).

• Na iconografia leiga, a criança não era representada sozinha. Aparecia em cenas


com família, companheiros, etc. (Página 55)
• Nas efígies funerárias, a criança só apareceu muito tarde, no século XVI. Fato
curioso, ela apareceu de inicio não em seu próprio túmulo ou no de seus pais,
mas no de seus professores. (Página 56).

• Alto índice de mortalidade infantil, devido as condições demográficas da época.


Não se pensava que a criança já contivesse a personalidade do homem. (p. 57).

• Foi somente no século XVII que a ideia do “desperdício necessário”


desapareceu.
3 O Traje das Crianças
• Na idade média as crianças eram vestidas indiferentemente de idade, nada na roupa
medieval a separava do adulto, era o período do traje longo. No século XVII a criança
de boa família passou a não ser mais vestida como os adultos, mais precisamente o
menino, pois as meninas do momento em que deixavam os cueiros eram vestidas
como mulherzinhas, mas comportava um ornamento singular, duas fitas largas
presas ao vestido atrás dos dois ombros.
• No século XVIII o traje da criança torna-se mais leve, mais folgado, deixasse mais à
vontade. De acordo com os costumes, o primeiro traje era o vestido das meninas e
depois o vestido comprido com golas, também chamados de jaquette. Nos colégios o
vestido por cima das calças justas até o joelhos era utilizado. Essas fitas nas costas
havia tornado signos da infância que distinguia as crianças, fosse meninos ou
meninas. Últimos restos das falsas mangas. No fim do século XVIII o traje das
crianças se transforma e nos subúrbios populares, homens começaram usar traje
mais específico, calças compridas, que equivaleriam ao avental. No século XIX o
costume de efeminar os meninos só desapareceria após a Primeira Guerra Mundial.
• “Se nos limitarmos ao testemunho fornecido pelo traje, concluiremos que a
particularização da infância durante muito tempo se restringiu aos meninos. O
que é certo é que isso aconteceu apenas nas famílias burguesas ou nobres. As
crianças do povo, os filhos dos camponeses e dos artesãos, as crianças que
brincavam nas praças nas aldeias, nas ruas das cidades ou nas cozinhas das
casas continuaram a usar o mesmo traje dos adultos: jamais são representadas
usando vestido comprido ou mangas falsas. Elas conservaram o antigo modo de
vida que não separava as crianças dos adultos, nem através do traje, nem
através do trabalho, nem através dos jogos e brincadeiras.”
4 Pequena Contribuição à História dos Jogos
e Brincadeiras
• Para entender de forma mais clara como eram as brincadeiras no início do
século XVII Ariès utiliza informações presentes no diário do médico Heroard
sobre o Delfim da França, o futuro Luís XIII.

• Com um ano e cinco meses o menino toca violino e canta ao mesmo tempo,
lembrando que este instrumento não era nobre, também brincava com cavalo de
pau, o catavento e o pião. A dança e o canto tinham uma grande importância
naquela época e ainda com a mesma idade o menino já jogava malha, isso
equivaleria hoje a uma criança praticando golfe.

• Com dois anos e sete meses recebe uma “pequena carruagem cheia de bonecas”,
era normal que meninos e meninas (e até mesmo os adultos) partilhassem deste
brinquedo.
• Na noite de Natal, com três anos e já falando corretamente, o Delfim ganhou uma
bola e algumas quinquilharias italianas, como uma pomba mecânica (eram
brinquedos destinados tanto a ele quanto a Rainha).

• Com quatro a cinco anos já praticava arco, jogava xadrez, jogos de raquetes, rimas,
ofícios, mímicas e inúmeros outros jogos de salão. Luís XIII dançava balé e danças de
meninos de quinze anos.

• Com sete anos inicia-se o processo de abandono aos brinquedos e começa a


aprender a montar a cavalo, a atirar e a caçar, joga jogos de azar e assistia a brigas.

• No século XVIII figuravam-se festas e ritos. O balanço também surgiu nesse


momento. Por volta de 1600, as brincadeiras apareciam apenas na primeira infância,
a criança jogava os mesmos jogos e participava das mesmas atividades dos adultos.
• Sob as influências sucessivas dos pedagogos humanistas, dos médicos do Iluminismo
e dos primeiros nacionalistas, passamos dos jogos violentos e suspeitos da tradição
antiga à ginástica e ao treinamento militar, das pancadarias populares aos clubes de
ginástica.

• Essa evolução foi comandada pela preocupação com a moral, a saúde e o bem comum.
Uma evolução paralela especializou segundo a idade ou a condição os jogos que
originariamente eram comuns a toda a sociedade.

• Partimos de um estado social em que os mesmos jogos e brincadeiras eram comuns a


todas as idades e a todas as classes. O fenômeno que se deve sublinhar é o abandono
desses jogos pelos adultos das classes sociais superiores, e, simultaneamente, sua
sobrevivência entre o povo e as crianças dessas classes dominantes. É verdade que na
Inglaterra os fidalgos não abandonaram, como na França, os velhos jogos, mas
transformaram-nos, e foi sob formas modernas e irreconhecíveis que esses jogos
foram adotados pela burguesia e pelo "esporte" do século XIX.

• É notável que a antiga comunidade dos jogos se tenha rompido ao mesmo tempo
entre as crianças e os adultos e entre o povo e a burguesia. Essa coincidência nos
permite entrever desde já uma relação entre o sentimento da infância e o sentimento
de classe.
5 Do Despudor à Inocência
• Século XVI inicio XVII: A infância era ignorada. As crianças eram tratadas com liberdades
grosseiras e brincadeiras indecentes. Não havia sentimento de respeito e nem se acreditava na
inocência delas. Nos dias de hoje isso nos choca, diferente daquela época, pois era
perfeitamente natural.

• A pedofilia fazia parte dos costumes daquele período, brincadeiras sexuais entre crianças e
adultos. Elas ouviam e viam tudo que se passava no mundo dos adultos. Acreditavam que se as
crianças fossem muito pequenas, esses gestos não teriam consequências e neutralizariam a
“maldade” ou “malícia”, e se fossem maiores esses jogos não seriam feitas com segundas
intenções, uma vez que eram apenas brincadeiras.

• Surge na França e na Inglaterra, entre Católicos e Protestantes no fim do século XVI, uma
preocupação sobre o respeito da infância. Certos educadores começaram a se preocupar com
as linguagens utilizadas em livros; preocupação também com o pudor e cuidados com a
castidade.

• A grande mudança nos costumes se daria durante o século XVI. Um grande movimento moral
refletia com uma vasta literatura pedagógica. A criança adquire dentro da família importância
e torna-se brinquedinho do adulto. Começa a se falar sobre a sua fragilidade, comparando-as
com os anjos. A concepção moral da infância associava a fraqueza com a inocência, pois refletia
a pureza divina da criança.
Conclusão
Os Dois Sentimentos da Infância
• Na sociedade medieval: o “Sentimento da infância” não existia - o que não quer
dizer que as crianças fossem negligenciadas, abandonadas ou desprezadas. O
sentimento da infância não significa o mesmo que afeição pelas crianças,
corresponde à consciência da particularidade infantil, essa particularidade que
distingue essencialmente a criança do adulto, mesmo jovem.

• O primeiro sentimento da infância - caracterizado pela "paparicação" - surgiu no


meio familiar, na companhia das criancinhas pequenas.

• O segundo, ao contrário, proveio de uma fonte exterior à família: dos


eclesiásticos ou dos homens da lei, raros até o século XVI, e de um maior
número de moralistas no século XVII, preocupados com a disciplina e a
racionalidade dos costumes.
• Esses moralistas haviam-se tornado sensíveis · Ao fenômeno outrora
negligenciado da infância, mas recusavam-se a considerar as crianças como
brinquedos encantadores, pois viam nelas frágeis criaturas de Deus que era
preciso ao mesmo tempo preservar e disciplinar. Esse sentimento, por sua vez,
passou para a vida familiar.

• Havia também uma grande preocupação com sua saúde e até mesmo sua
higiene. Tudo o que se referia às crianças e à família tornara-se um assunto sério
e digno de atenção. Não apenas o futuro da criança, mas também sua simples
presença e existência eram dignas de preocupação - a criança havia assumido
um lugar central dentro da familia.
Referência
ARIÈS,
Philippe. História social da criança e da família. 2. ed. Rio de Janeiro:
LTC, 2015.

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