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Meros Quirógrafos

Explicação Direito Executivo


SOLUÇÃO ATUAL DO 703º71/c) última parte |
• A lei entende que quem passou um cheque está a confessar-se devedor de
uma dívida, nos termos do artigo 458º do código civil.
• Onde é que isso está e o que quer isso dizer?
• Primeiro, isso está na expressão “ainda que meros quirógrafos” na al. c) do
artigo 703º - significa escritos à mão.
• Diz que os títulos de crédito também valem como documentos de
reconhecimento de dívida, desde que estejam assinados manualmente pelo
devedor.
• São, portanto, confissões manuscritas de dívida – este é o pressuposto da lei. A
lei pressupõe que quem passa um cheque está-se a confessar devedor.
SOLUÇÃO ATUAL DO 703º71/c) última parte |
• Mas qual dívida?
Muito cuidado: com o título de crédito, estamos a executar a relação
cambiária.
• Se o cheque perde a força executiva, pergunta-se que obrigação é que pode
mesmo executar?
A obrigação que se vai executar quando o cheque perde a força executiva é a
obrigação subjacente.
Por exemplo: se a entidade patronal passa um cheque de 1.000 ao empregado, não
se está a executar a obrigação cambiária de 1.000, mas está-se sim a executar a
obrigação de pagar o salário.
SOLUÇÃO ATUAL DO 703º71/c) última parte |
• Há aqui uma grande diferença:
– Na relação cambiária, a fonte da obrigação é o saque do cheque;
– Na relação subjacente, a fonte da obrigação é a celebração do contrato de trabalho

Os dois valores são iguais, mas a fonte é diferente.


A. O cheque é um título de crédito abstrato, autónomo;
Mas agora nós perdemos o cheque, perdemos aquele documento para efeitos
executivos. Agora, queremos executar o contrato de trabalho, a obrigação de
pagar.
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• A dívida que é executada em sede de título de crédito não é a mesma dívida
que é executada em sede de quirógrafo.
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1.   2.   3. 4.
       
Era necessário que houvesse um Era necessário que se indicasse a causa da Tinha de ser no domínio de relações imediatas, e não no domínio de relações O negócio tem de ser não solene.
documento assinado pelo devedor em dívida, ou no próprio título ou no mediatas.  
que este confessasse a dívida requerimento executivo.   Ou seja, tem de ser um negócio que possa ser comprovado apenas
    o Tinha de ser entre A e B, em que um tinha passado o cheque e o outro ia ser por documento particular.
 é o próprio quirógrafo pago através do mesmo.  
  o Mas já não se o B, que tivesse recebido o cheque, tivesse endossado ao C. Se for necessário EP, já não tem aqui para a causa de pedir que vão
o A tal alegada confissão de dívida que a lei que entende que existe foi feita do invocar uma EP.
A perante o B, e não do A perante o C. Portanto, se o título crédito tiver  
entrado em circulação, já não havia esta força executiva do quirógrafo, Num certo entendimento, não dá para executar uma dívida de CV
porque não havia confissão de dívida oponível a terceiro. de uma casa só com um cheque prescrito, porque se trata de um
  documento particular.
Neste momento, a lei nada diz.  
 
Rui Pinto entende que continua a ser necessário que isto se passe no domínio de
relações imediatas – no domínio das partes primitivas da relação cartular.
 
SOLUÇÃO ATUAL DO 703º71/c) última parte |

 A não satisfação destes requisitos determina


indeferimento liminar nos termos dos
artigos 726º/2/a) e 855º/2/b).

O exequente que queira usar o mero quirógrafo


enquanto título executivo, deve fazê-lo logo no
requerimento executivo, sobre ele
construindo os fundamentos e o pedido
executivo, nos termos do artigo 724º/1/e) e f)
e nº4/a).
SOLUÇÃO ATUAL DO 703º71/c) última parte |
Se o credor quiser executar o título de crédito enquanto tal, apesar de já estar desprovido
de força executiva:
 O tribunal e o AE poderão conhecer da falta de cumprimento do requisito formal do
protesto, nos termos do artigo 726º/2/a) e 855º/2/b), mas não podem conhecer dos
prazos prescricionais de acionabilidade nos termos dos artigos 70º da LULL e 52º da
LUC, nos termos do artigo 303º do código civil.
 
 O executado terá o ónus de invocar a inexequibilidade do título, na oposição à
execução, nos termos do artigo 731º, conjugado com o artigo 729º/a), e de cumular o
facto extintivo da prescrição da própria obrigação cambiária, nos termos do artigo
729º/g) e 731º.
Notas finais
O artigo 703º/1/c) consagra dois títulos executivos diferentes, atinentes a
dívidas diferentes.
Como já se viu:
• o título de crédito serve para execução da obrigação cambiária
• o quirógrafo para execução da relação subjacente
Notas finais – RUI PINTO
• A consagração da tese do quirógrafo coloca o devedor numa situação de desequilíbrio
negocial.
• Uma vez que o devedor se sujeita a prazos prescricionais substantivos com que não
contava, acaba por ser esmagado pela solução legal que beneficia o credor
descuidado.
• Na prática, o credor passa a poder optar a que título material vai executar o mesmo
valor de dívida.
• No plano do sistema dos títulos executivos, o resultado desta alteração é paradoxal
quanto à admissibilidade dos documentos particulares
• Continua a ser possível executar documentos particulares assinados pelo devedor
como confissão de dívida, apesar de afastados pela al. c) do nº1 do artigo 703º.
Caso Prático Nº 5

Pedro vendeu um barco a Raquel, por 20.000 euros, no dia 3 de abril. No dia 5
de abril, Pedro dirigiu-se ao Banco X para apresentar a pagamento o cheque que
Raquel lhe entregara. Contudo, o pagamento foi-lhe recusado por falta de
provisão.
Pode Pedro intentar um ação executiva contra Raquel, anexando ao
requerimento executivo o cheque sem provisão?
ENQUADRAMENTO DA QUESTÃO:

Esta questão levanta a aplicação do Artigo 703º/1/c)/1ª parte CPC, ou seja,


importa analisar os títulos de crédito enquanto títulos executivos.
Títulos de Crédito:

Os títulos de crédito correspondem a documentos que incorporam certo


direito de crédito e, por isso, o crédito não existe sem o título.
Dispõem de 3 características: a literalidade (que corresponde à ideia supra
referida), a autonomia (a sua validade não depende do negócio subjacente) e a
abstração (não precisam de enunciar a causa subjacente).
Cheque:

O cheque constitui um título executivo, seguindo o regime previsto na Lei


Uniforme relativa aos Cheques (LUC).
Corresponde a um meio de pagamento que se materializa numa ordem pura
e simples dada por uma pessoa (sacador- neste caso, Raquel) a um banco
(sacado) para que pague determinada quantia, por conta da provisão bancária
à disposição do sacador.
Problema da Falta de Provisão:

Nos termos do A.3º LUC, a falta de provisão de um cheque não prejudica a


validade do mesmo, o que significa que Pedro podia intentar a ação executiva
contra Raquel, anexando ao requerimento executivo o cheque sem provisão.

Para considerar que há titulo executivo, há que considerar que há protesto


formal. Não havendo protesto formal, não há titulo executivo – declaração
formal do banco.
Tínhamos um Título Executivo?

Aqui tínhamos título executivo - Título de crédito – art. 703.º/1, c) 1.ª aparte.

Cheque = foi apresentado dentro dos 8 dias, recusado o pagamento, protestado dentro daquele prazo e não decorridos mais de 6 meses.

1) Em primeiro lugar, Pedro (portador) tem 8 dias para apresentação do cheque a pagamento, contados da data de emissão nele

aposta (29º/1 e 4, LUC).

2) Apresentado dentro desse prazo, uma vez que o cheque não foi pago, só tem força executiva contra os endossantes, sacador e outros

cooobrigados, se a recusa de pagamento for verificada por um ato formal (protesto – ele verifica/atesta a recusa de pagamento) ou

declaração equivalente e se tal ato tiver lugar antes de expirado aquele prazo, conforme os 40º e 41º LUC.
1- Imagine que Pedro se dirigia ao Banco X no dia 24 de abril do mesmo ano. Manteria a sua
resposta?

A  PRAZO DE 8 DIAS

Nos termos do A.29º/1/4 LUC, o portador (Pedro) dispõe de oito dias para a apresentação do cheque a pagamento, contados da data de
emissão nele aposta, e não da data da oposição em si mesma.

B  Levanta-se, assim, a hipótese de saber o que acontece quando o cheque é apresentado esgotado o prazo de oito dias:

Trata-se de abordar a chamada “Tese do mero quirógrafo”.


A TESE DO MERO QUIRÓGRAFO

A Jurisprudência maioritária propugnava que o credor pudesse executar, já não a obrigação


cartular, mas a obrigação subjacente, fazendo uso do mesmo documento, mas como simples
reconhecimento particular de dívida, nos termos do artigo 458º, CC.
A TESE DO MERO QUIRÓGRAFO

Exigiam-se para tal certos pressupostos:

A) PRESSUPOSTO FORMAL |

B) DOIS PRESSUPOSTOS MATERIAIS OBJETIVOS:

- Enunciação da concreta e determinada relação causal ou subjacente de onde decorre a obrigação


exequenda, i.e., que contenha ou represente um ato jurídico por virtude do qual alguém se tenha
constituído em obrigação de pagar determinada quantia a outrem.

- Natureza não formal da relação subjacente – uma vez que sendo a causa do negócio jurídico um
seu elemento essencial se o título prescrito não seguir a forma devida não poderá constituir título
executivo.

C) + PRESSUPOSTO MATERIAL SUBJETIVO | O valor de reconhecimento da dívida só pode


valer nas relações imediatas, no caso dos títulos de crédito, já que o putativo reconhecimento teria
sido entre sacador e sacado.
A TESE DO MERO QUIRÓGRAFO

Há doutrina que entende que, passados estes 8 dias, o cheque perde a força
executiva enquanto título de crédito, podendo valer enquanto mero quirógrafo,
desde que reunidos os pressupostos devidos.
Efetivamente, o artigo 32º, LUC estabelece que o sacado, i.e., o Banco, pode pagar
mesmo depois de findo o prazo, mas não estabelece que deve pagar. Em qualquer
caso, o sacador pode ainda revogar unilateralmente o cheque (32º/1, LUC).
A TESE DO MERO QUIRÓGRAFO

Para Rui Pinto esses pressupostos são:


A) Exequente e Executado têm que estar no domínio das relações imediatas, já que
o putativo reconhecimento tê-lo-á sido entre sacador e o beneficiário;
B) O negócio não pode ser solene.
A TESE DO MERO QUIRÓGRAFO

• A não satisfação destes pressupostos determina indeferimento liminar, nos


termos dos artigos 726º/2, al. a) e 855º/2, b).
• Há doutrina que entende que o cheque apenas poderá valer como mero
quirógrafo a partir do momento em que se passa o prazo dos 6 meses de
prescrição (até aos 6 meses, valeria como título de crédito) – cf. Acórdão STJ
4/12/2007.
• Ainda estava dentro dos 6 meses – a ação cambiária do portador contra os
endossantes, prescreve decorridos 6 meses, contados do termo do prazo de
apresentação – artigo 52º, LUC.
• O CHEQUE ENQUANTO CHEQUE DEIXA DE SER TÍTULO
EXECUTIVO.
Em termos legais, A.703º/1/c) CPC estabelece expressamente que
constituem títulos executivos os títulos de crédito, ainda que meros
quirógrafos, desde que os factos constitutivos da relação subjacente
constem do próprio documento ou sejam alegados no requerimento
executivo.

Assim sendo, na hipótese de estarem preenchidos estes requisitos,


cuja regra geral já consta do A.724º/1/e) CPC (ou seja, o exequente
tem o ónus de alegação dos factos constitutivos da concreta relação
causal), então o cheque constituiria título executivo.

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