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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO INTERDISCIPLINAR EM DIREITOS HUMANOS


DISCIPLINA: TÓPICOS IV

ANÁLISE DO DISCURSO:
Fundamentos Teórico-Metodológicos

Pós-doutoranda: Fernanda Borges


O QUE É?
1.1.

ANÁLISE DO 2.2. PARA QUÊ


SERVE?
DISCURSO

3.3. COMO SE FAZ?


“ A Análise do Discurso, como seu próprio nome indica, não trata da
língua, não trata da gramática, embora todas essas coisas lhe
interessem. Ela trata do discurso. E a palavra discurso,
etimologicamente, tem em si a ideia de curso, de percurso, de correr
por, de movimento. discurso é assim a palavra em movimento, prática
de linguagem.

-ENI ORLANDI
NOÇÕES
INTRODUTÓRIAS
BREVE PERCURSO HISTÓRICO
 A chamada “Análise do discurso francesa" (AD) filia-se a uma certa tradição intelectual
europeia (sobretudo da França);

 A conjuntura intelectual francesa da década de 60 propiciou uma articulação entre três


campos distintos: a Linguística, a Psicanálise e a História;

 Nesse sentido, a AD nasceu tendo como base a interdisciplinaridade, pois o discurso


passa a ser preocupação não só de linguistas como de historiadores e de alguns
psicólogos;

 No Brasil, a AD prolifera no final da década de 1970, travando, desde o início, embate


com a linguística. A prof.ª Eni Orlandi foi pioneira na área da análise do discurso, com
base nos trabalhos de Michel Pêcheux.
REFERÊNCIAS
FUNDADORAS DA AD
E PRINCIPAIS
AUTORES
Michel Pêcheux
(1938-1983)
Considerado uma das figuras mais importantes
da Análise do Discurso Francesa (AD),
concebe o discurso como efeito de sentidos
dentro da relação entre linguagem e ideologia.
Pêcheux reflete sobre a história da
epistemologia e a filosofia do conhecimento
empírico, visando transformar a prática das
ciências humanas e sociais.
 Publicação, em 1969, da obra Analyse Automatique du Discours, livro
que inaugura uma abordagem transdisciplinar convocando uma teoria
linguística, uma teoria da história e uma teoria do sujeito.

 3 áreas do conhecimento vão balizar a proposta de Pêcheux:

• LINGUÍSTICA – problematização do corte saussureano, noção de


sistema (língua/fala);
• MATERIALISMO HISTÓRICO – releitura althusseriana de Marx,
sujeito assujeitado pela ideologia.
• PSICANÁLISE – releitura lacaniana de Freud;
• Pêcheux situa o discurso entre a linguagem e a ideologia.
Todo discurso é uma construção social, não individual, só
podendo ser analisada considerando seu contexto histórico-
social, suas condições de produção;

• Critica a evidência do sentido e o sujeito intencional como


origem do sentido. O sujeito da AD não é, portanto o
indivíduo, sujeito empírico, é antes o sujeito do discurso
produzido historicamente;

• A partir da discussão althusseriana, Pêcheux desenvolve


uma teoria do sujeito e da sua interpelação pela ideologia.
Não há sujeitos individuais, no discurso, há “formas-
sujeito” produzidas pelo assujeitamento à ideologia.
- 1ª FASE: Caracterizada pela influência de
Althusser - com sua releitura das teses
marxistas; e de Lacan – com sua leitura das
teses de Freud sobre o inconsciente, e a
formulação de que ele é estruturado por uma
linguagem;

- 2ª FASE: Noção de formação discursiva (FD)


SÍNTESE DAS 3
em Michel Foucault, isto é, aquilo que
determina o que pode/deve ser dito a partir de
ÉPOCAS (FASES)
um dado lugar social que o sujeito ocupa.
DA AD
- 3ª FASE: Interdiscurso e heterogeneidade
constitutiva do discurso.

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Pêcheux nos deixa como legado, não um modelo
fechado, mas estabelece novas formas de entender a
linguagem, em uma tensão entre a linguística e as
ciências sociais e humanas, a partir de sua relação
sujeito/sentido/ideologia.
Michel Foucault
(1926-1984)
Filósofo, historiador das ideias, teórico social,
filólogo, e professor da cátedra História dos
Sistemas do Pensamento, no célebre Collège de
France, de 1970 até 1984. Um intelectual que
exerceu influência em vários ramos do saber: na
filosofia, na psiquiatria, na psicologia, na
história, na sociologia, na antropologia, nas
artes e na política.
CONTRIBUIÇÕES PARA AD
● De Michel Foucault vem a problematização sobre as ciência histórica, suas
descontinuidades, sua dispersão, que resultará na abertura do conceito de formação
discursiva, na discussão das relações entre saberes e os (micro)poderes, na
preocupação com a questão da leitura e da interpretação, da memória discursiva.

● O projeto foucaultiano tinha forte relação com as problemáticas da História e da


Filosofia, seu objetivo imediato não foi construir uma teoria do discurso, mas “criar
uma história dos diferentes modos pelos quais, em nossa cultura, os seres humanos
tornaram-se sujeitos”. Porém, no desenrolar das investigações uma teoria do discurso
vai-se delineando e encontra um lugar central.
Principais obras
- Doença Mental e Psicologia (1954)
- História da Loucura na Era Clássica (1961) – sua tese de doutorado
- O Nascimento da Clínica (1963)
- As Palavras e as Coisas (1966)
- Arqueologia do saber (1969)
- Em defesa da sociedade (1975-1976)
- Segurança, território e população (1977-1978)
- Nascimento da biopolítica (1978-1979)
- Do governo dos vivos (1979-1980)
- Subjetividade e verdade (1980-1981)
- A hermenêutica do sujeito (1981-1982)
- O Governo de Si e dos Outros (1983)
- Vigiar e Punir (1975)
- História da Sexualidade (1984)
Concepção de discurso
ARQUEOLOGIA DO DISCURSO – livro publicado em 1969.

• Na maioria das formulações sobre o tema discurso, Foucault refere-se ao


enunciado – discurso como “domínio geral de todos os enunciados”,
como “grupo individualizável de enunciados” ou como prática regulada
que daria conta de um certo número de enunciados.

“Um discurso é constituído de um número limitado de enunciados para os


quais podemos definir um conjunto de condições de existência”
(FOUCAULT, 2004).
• A tarefa do analista do discurso, na perspectiva foucaultiana, é descrever
enunciados, ou melhor, investigar as condições que puderam legitimar aquilo que foi
dito naquele lugar, visto que os discursos circulam de acordo com as possibilidades
de sua existência. Por isso, a questão que o analista do discurso deve se fazer é: POR
QUE ESTE ENUNCIADO E NÃO OUTRO EM SEU LUGAR?

• Analisar discursos significa basicamente dar conta de relações históricas, de pensar


como eles circulam, como lhes é atribuído este e não aquele valor de verdade, de
que modo os diferentes grupos e culturas deles se apropriam e como se dão as
rupturas nas “coisas ditas”. Trata-se de considerar o discurso como prática, mais que
isso, como acontecimento.
“ Por mais banal que seja, menos importante que o imaginemos em
suas consequências, por mais facilmente esquecido que possa ser
após sua aparição, por menos entendido ou mal decifrado que o
suponhamos, um enunciado é sempre um acontecimento que nem
a língua nem o sentido podem esgotar inteiramente.

(FOUCAULT, 2004)
Observações
• Não confundir discurso com fala e depoimento, ao contrário, a proposta é que
afirmações feitas oralmente ou por escrito, sejam tratadas na condição de
diferentes enunciações, relacionada a um certo tipo de discurso – o discurso
pedagógico, o discurso político, o discurso feminista, o discurso religioso, por
exemplo.

• Não buscar nas coisas ditas, aquilo que estaria “por trás”, escondido,
manipulado, distorcido. Não procurar verdades “por baixo” dos panos ou dos
textos.

• Não confundir discurso com representação - discurso, no sentido foucaultiano,


é mais abrangente, diz respeito ao conjunto de enunciados de determinado
campo de saber;
• Não cabe ao analista do discurso procurar significados que estão por trás do
que é dito, um eu escondido dentro dos enunciados.

• Um analista de discurso que se apoie em Foucault é alguém que se ocupa


com multiplicidades de coisas ditas, de enunciações, de posições sujeito, de
relações de poder, implicadas em um certo campo de saber. Ou seja, significa
aceitar a raridade das coisas ditas (ou dos enunciados).
• A problematização sobre os discursos (e os saberes), assim como as
relações de poder e os diferentes modos de constituição do sujeito estão no
centro de sua obra. É difícil separar forma de conteúdo, teoria de método,
temáticas específicas das possíveis formas de investiga-las.

• Procedimento foucaultiano: arque-genealógico - diferentes formas de


observar o objeto.

.
“ O tipo de análise que pratico não trata do problema do sujeito falante, mas
examina as diferentes maneiras pelas quais o discurso desempenha um papel no
interior de um sistema estratégico em que o poder está implicado, e para o qual o
poder funciona. Portanto, o poder não é nem fonte nem origem do discurso. O
poder é alguma coisa que opera através do discurso, já que o próprio discurso é
um elemento em um dispositivo estratégico de relações de poder.

FOUCAULT
Patrick Charaudeau

É professor emérito da Universidade de Paris-


Nord (Paris XIII) e fundador do Centre
d’Analyse du Discours (CAD) dessa mesma
universidade. Criador de uma teoria de análise
do discurso, denominada Semiolinguística, é
autor de diversas obras dedicadas aos estudos
discursivos.
• Em sua Gênese dos Discursos – publicada na França em 1984 – apresenta uma
caracterização geral do que são discursos, definindo-os “como integralmente
linguísticos e integralmente históricos”, isto é, objetos que se constituem através de
uma dupla restrição: a do dizível na língua e a do dizível num dado tempo-espaço
histórico.

• O trabalho teórico da proposta de Maingueneau se pautará por dar relevância a esses


dois aspectos do discurso. A análise da materialidade da linguagem é o que permite a
compreensão dos sentidos que derivam da inscrição da língua na história.

• O discurso é considerado, pelo autor, como linguagem em interação, “uma dispersão


de textos cujo modo de inscrição histórica permite definir como um espaço de
regularidades enunciativas”. O sujeito é um espaço cindido por discursos e a língua um
processo semântico e histórico.
Dominique
Maingueneau
Professor de Linguística no Departamento
de Língua Francesa da Universidade Paris
IV-Sorbonne. Inscreve-se na tradição
francesa de análise do discurso,
privilegiando as abordagens de Michel
Foucault, da pragmática e das teorias da
enunciação linguística.
• O autor constrói o discurso como objeto de estudo e adapta seu modelo de análise
do discurso à análise do discurso político.

• Instrumental teórico-metodológico capaz de analisar a complexidade dos


fenômenos discursivos que ocorrem no campo político.

• Destacam-se os conceitos de: contrato de comunicação, instância política e


instância cidadã, estratégias discursivas.
Indicações
ANÁLISE CRÍTICA DO DISCURSO
• Nomes que destacam-se no quadro das teorias da ACD – Teun Adrianus van Dijk e
Norman Fairclough.

• ACD sustenta-se na noção de que o discurso constitui e é constituído por práticas sociais,
sobre as quais se podem revelar processos de manutenção e abuso de poder.

Bases epistemológicas da ACD são:

- os estudos anglo-saxões sobre discurso na década de 70 – principalmente a Linguística


sistêmico-funcional de Halliday;
- as teorias neomarxistas;
- os estudos da Escola de Frankfurt.
Norman Fairclough

Linguista britânico, professor emérito na


Universidade de Lancaster. Um dos fundadores da
Análise crítica do discurso (ACD), área de estudos
que analisa a influência das relações de poder
sobre o conteúdo e a estrutura dos textos,
sobretudo os midiáticos. Seu trabalho de pesquisa
foca-se sobre o lugar da linguagem nas relações
sociais e sobre a linguagem como parte integrante
de processos de mudança social.
• Fairclough entende discurso como uma prática social reprodutora e transformadora
de realidades sociais. Desse modo, a língua é uma atividade dialética que molda a
sociedade e é moldada por ela;

• Perspectiva tridimensional do discurso – cada evento discursivo deve ser analisado


sob três dimensões ou ângulos interdependentes: a análise das práticas sociais toma
por base a descrição (análise textual) e a interpretação (práticas sociais) dos eventos
discursivos.

• A ACD concebe a linguagem como um elemento da prática social, e, portanto,


responsável pela criação, manutenção e transformação das significações de mundo..
• Os pesquisadores são julgados de acordo com sua parcialidade em relação ao objeto
analisado. Fairclough assume que a neutralidade, diante das estruturas sociais, numa
pesquisa, torna o pesquisador cúmplice de tais estruturas.

• Para ele, o discurso deve ser visto como um modo de ação, como uma prática que altera
o mundo e altera os outros indivíduos no mundo, desse modo os analistas da ACD
devem formular pesquisas que exerçam ações de contrapoder e contraideologia, práticas
de resistência à opressão social. Fazer da análise do discurso um instrumento político
contra as injustiças sociais.
Concepção tridimensional do discurso em Fairclough
Teun A. van Dijk
É um dos fundadores dos Estudos Críticos do
Discurso. Linguista neerlandês conhecido por
suas contribuições aos campos da linguística
textual e da análise crítica do discurso. Com
livros sobre pragmática do discurso,
psicologia cognitiva do discurso, discurso
racista, análises de notícias, ideologia e
história do discurso antirracista. Diretor-
fundador do Centre of Discourse Studies,
Barcelona, desde 2017.
Indicações
Indicações
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE LINGUÍSTICA (Abralin) – canal no YouTube

• Teun A. Van Dijk - Discurso Antirracista no Brasil


https://www.youtube.com/watch?v=4yQyRSnfxZ8

• Dominique Maingueneau – Análise do Discurso e a crise do Coronavírus


https://www.youtube.com/watch?v=rXzRl0UdvKk&t=1551s

• Patrick Charaudeau – Três modos de apreensão do sentido nas Ciências da Linguagem.


https://www.youtube.com/watch?v=lFx6z9h8Az8

LEDIF (Laboratório de Estudos Discursivos Foucaultianos) -UFU


http://www.foucault.ileel.ufu.br/

GEADA (Grupo de Estudos de Análise do Discurso) – UNESP/Araraquara


http://geadaararaquara.blogspot.com/p/sobre-o-geada.html
EXPERIÊNCIA DE
PESQUISA
● OBJETIVO GERAL:
Compreender as lógicas envolvidas no processo de construção da visibilidade do Supremo Tribunal
Federal a partir das mudanças institucionais, políticas e sociais advindas do pós Constituição de 1988.

● PERGUNTA DE PESQUISA
O julgamento da Ação Penal 470 e a superexposição dos ministros dos meios de comunicação provocou
que tipo de transformação na imagem pública do STF?

● QUADRO TEÓRICO (síntese das principais teorias)

Michel Foucault (noção de enunciado)


John Thompson (noção de escândalo político)
Guy Debord (noção de sociedade do espetáculo)
Pierre Bourdieu (noção de campo)
● PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

- Diálogo entre os campos do Direito, da Sociologia, da Comunicação e da Análise do Discurso.


- Ferramentas conceituais e metodológicas: Análise do Discurso francesa (em especial, os
trabalhos do filósofo Michel Foucault - categorias do visível e do enunciável).
- Descrever uma rede de enunciados efetivamente produzidos, a partir do julgamento da Ação
Penal 470, com foco nas estratégias, nos enquadramentos, interesses e mecanismos que
contribuíram para o processo de visibilidade midiática do STF e dos ministros.
● RECORTE EMPÍRICO:

Corpus de análise Enunciados e Imagens que puderam ser extraídos do campo midiático
durante o julgamento da Ação Penal 470 (2012 2014)

Fontes: Capas de revistas, manchetes de jornais (versão impressa e digital), fragmentos


de notícias, charges, editoriais, entrevistas, fotos e montagens.
Fonte: Veja, dez de 2012.

Fonte: Veja, outubro de 2012.


Fonte:R7 Notícias , out. 2012.

Fonte: Facebook , out..2012


Fonte: Humor político. (2012)
REFERÊNCIAS
CHARAUDEAU, P; MAINGUENEAU. D. Dicionário de análise do discurso. São Paulo: Editora
Contexto.

FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Tradução Luiz Baeta Neves. 7. ed. Rio de Janeiro:
Forense Universitária, 2004.

GREGOLIN, Maria do Rosário. Foucault e Pêcheux na Análise do Discurso diálogos e duelos. São
Carlos: Claraluz, 2004.

OLIVEIRA, Luciano Amaral (Org). Estudos do discurso: perspectivas teóricas. 1ª ed. São Paulo:
Parábola Editora, 2013.

ORLANDI, Eni Puccinelli. Análise de discurso: princípios e procedimentos. 2. ed. Campinas, SP:
Pontes, 2010.
Obrigada pela atenção!

Dúvidas estou à disposição


fsilvaborges@hotmail.com
+62 98401 6243

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