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Tatuagem Lombroso
Tatuagem Lombroso
ROSÁLIA MOURÃO
TATUAGEM
Destes homens que concentram no organismo humano tantas
anomalias, como nos crimes, tanta constância nas reincidências,
pretendo estudar a biologia e a psicologia. E começarei da
característica que é mais psicológica do que anatômica: a tatuagem.
Nos delinquentes, pela grande frequência, constitui um novo e
especial caráter anatômico-legal.
Estudo de 9.234 indivíduos dos quais 3.886 soldados honestos e
5.348 criminais, ou meretrizes ou soldados deliquentes, entre eles
200 mulheres, 378 franceses e isso graças a paciência de uma
dezena de médicos.
Olhando os verdadeiros símbolos, a que as tatuagens aludem,
ocorreu-me distinguir tatuagem sobre o amor, religião, guerra e
profissão.
Tatuagens de amor: são o nome ou as iniciais da mulher
amada, escritos em letras maiúsculas; ou a época do
primeiro amor, ou um ou mais corações trespassados por
uma flecha, ou duas mãos que se apertam.
Tatuagens de guerra: são mais frequentes nos militares
e é natural, como os que concernem à profissão do
tatuado, e são desenhados com tal finura e realismo nas
minúcias, que trazem à mente a minuciosa precisão da
arte egípcia e mexicana.
Depois dos símbolos profissionais, os predominantes são
os da religião, e é natural a quem conhece o espírito
devoto do nosso povo. Ex: conjunto de três letras IHS
com uma cruz no alto.
Desenhos pouco significativo: flor, árvore, anel ou as
próprias iniciais.
Desenho bizarro(ora tarântula ou rã): possível de
pertencerem a Camorra. Reconhecimento.
TATUAGEM – HOMEM DELINQUENTE
É especialmente na triste classe do homem delinquente
que a tatuagem assume um caráter particular, e estranha
tenacidade e difusão.
“porque são coisas que fazem os condenados”
Em quatro sobre 162 deles a tatuagem exprimia
estupendamente o ânimo violento, vingativo ou traço de
despudorados propósitos. Um tinha no peito, no meio de
dois punhais, inscrito o triste chiste: “juro vingar-me”,
um ladrão tinha “mísero eu, como deverei acabar?”,
Felipe, o estrangulador de meretrizes tinha “ nascido sob
má estrela”, marinheiro preso “sem esperança”.
O delinquente tem gravado na própria carne presságio
de seu fim.
OBSCENIDADE
Tatuagem nas partes íntimas (pênis). Esses fatos revelam
não só a impudícia, mas a estranha insensibilidade deles,
por ser uma das regiões mais sensíveis a dor.
No ventre, embaixo do umbigo preferem sempre
assuntos lúbricos, com inscrições como: “torneira do
amor”, “prazer das mulheres”, “venham senhoritas, à
torneira do amor”, “ela pensa em mim”.
Os pederastas, tendo maior tendência que os outros para
agradar a outrem, têm mais tatuagens, e talvez das
especiais. “amigo do contrário”, “a amizade une dois
corações”
MULTIPLICIDADE
Outra característica dos delinquentes, que têm em
comum com os selvagens e os marinheiros é o de
imprimir desenhos não só nos braços e no peito, como é
de uso geral, mas em todas as partes do corpo.
O lugar da tatuagem, e sobretudo o número, são de
grande importância antropológica, porque provam a
vaidade instintiva que é característica no criminoso.
Toda essa multiplicidade é nova prova da pouca
sensibilidade à dor, que os delinquentes têm em comum
com os selvagens.
PRECOCIDADE
A tatuagem não se observa na França, antes dos 16 anos
em pessoas normais. Entretanto, encontramos tatuados a
partir de 5 até 20 anos; entre 378 criminosos, havia 95
tatuados nessa faixa etária.
ASSOCIAÇÃO. IDENTIDADE
Os estudos da tatuagem podem conduzir algumas vezes
nos traços de associações criminosas; notei que muitos
camorristas traziam sinal particular, um tinha num braço
um alfabeto misterioso que deveria servir para
comunicar-se secretamente.
CAUSAS
Seria curioso ao antropólogo pesquisar a causa pela qual
se mantém nas classes baixas e nas criminosas este uso
tão pouco vantajoso e até prejudicial da tatuagem.
A- Religião – Aqueles que sejam devotos de um santo
acreditam que, tendo-o na própria pele, dão-lhe prova de
afeto.
Entre os membros da Igreja Ortodoxa, a mulher que não
tenha tatuagem não gozará da eterna santidade.
B- Imitação “Veja, nós somos como as ovelhas, não
podemos ver um de nós fazer uma coisa, que não o
imitemos logo, ainda que com o risco de prejudicar”.
C- Espírito de vingança.