You are on page 1of 8

 

DESDOBRAMENTOS DA TEORIA
PSICANALÍTICA
MÓDULO 5
MÓDULO 8
CLÍNICA WINNICOTTIANA - O MÉTODO PSICANALÍTICO:
OBSERVAÇÃO DIRETA DA CRIANÇA
REGRESSÃO
CONTRATRANSFERÊNCIA

• Bibliografia: 

• WINNICOTT , D. W. Sobre a contribuição da observação direta da criança para a psicanálise (1957). In O ambiente e
os processos de maturação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1983.
• ______. Os objetivos do tratamento psicanalítico (1962). In  Da pediatria à psicanálise. Rio de Janeiro: Imago Editora,
1993.
• ______. Aspectos clínicos e metapsicológicos da regressão no contexto analítico (1954). In  Da pediatria à
psicanálise. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1993.
• ______. Retraimento e regressão (1954), In  Da pediatria à psicanálise. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1993.
• ______, Contratransferência (1960). In:  O ambiente e os processos de maturação. Porto Alegre: Artes Médicas,
1983.
• ______. Formas clínicas da transferência (1955). In  Da pediatria à psicanálise. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1993.
• ______. Retraimento e regressão (1954). In  Da pediatria à psicanálise. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1993.
• ______. O ódio na contratransferência (1947). In: Da pediatria à psicanálise . Rio de Janeiro: Imago Editora, 1993.
• Como pediatra, Winnicott tinha vasta experiência no trato com bebês e crianças de tenra
idade, o que lhe propiciou desenvolver uma acurada análise, a posteriori com fins
psicanalíticos, dos comportamentos do bebê. Interessava-lhe as reações e a direção de
seus interesses (do bebê) quando a ele era apresentado algum objeto, pois os gestos que
daí eram originados - apreensão, repúdio, manipulação, exploração - seria reveladores da
qualidade da interação e da adaptação da criança ao meio circundante, ao ambiente. 
• Estas observações do Winnicott pediatra serviram de base para aquilo que ele, já como
psicanalista, desenvolveu e apresentou como objetos transicionais. E como se faz esta
passagem? Os gestos do bebê, seus comportamentos em relação ao ambiente e seus
objetos reais são oportunidades para um olhar cuidadoso e atento ver revelada a atitude
do bebê diante do mundo, atitude subjetiva, que comporta sua realidade psíquica, suas
pulsões agressivas e suas pulsões criativas, revelaria, em suma, a avidez da criança
diante do mundo.
• Este apreço de Winnicott pelo método de observação como um meio de se chegar a uma
interpretação dos conteúdos do psiquismo humano, está intimamente, inalienavelmente
associado à ideia de que a importância reside numa detida e detalhada análise de como o
bebê interage com o objeto e isto permitiria ter acesso “virtual” aos elementos do mundo
subjetivo do bebê e de sua organização, de sua dinâmica interno - externo. Portanto, esta
observação tem uma dupla conotação: ao mesmo tempo refere-se à criança real e àquela
que é reconstituída na experiência analítica. Nas palavras de Winnicott (1941, p.126): “Na
situação-padrão, o bebê que está sendo observado oferece-me importantes indicações
sobre o seu desenvolvimento emocional.”

A clínica winnicottiana
• A clínica em Winnicott tem princípios diferentes daqueles que regem a
clínica psicanalítica tradicional, pois seu enquadre deve dispor as
condições emocionais para o acontecer humano.
• O que guia a ação terapêutica é a teoria do amadurecimento, segundo
esta teoria a natureza do distúrbio estará relacionada com as condições
da criança na etapa de ocorrência que surgiu o fracasso
ambiental. Winnicott (1955) distingue três variedades de clínica, tendo
como base os diferentes momentos de falhas no processo maturacional e
que demandam modos distintos e específicos de trabalho clínico.
• 1. A primeira clínica é relativa aos pacientes que funcionam como pessoas
inteiras, suas dificuldades situam-se no âmbito dos relacionamentos
interpessoais. Para estes, a técnica de trabalho é a mesma desenvolvida
por Freud, o setting é o clássico freudiano, uso da interpretação da
transferência buscando revelar o material inconsciente recalcado.
• 2. A segunda clínica refere-se aos pacientes que iniciaram seu processo
de integração, mas ainda são instáveis enquanto unidade, apresentando
dificuldades na vivência amor - ódio e reconhecimento da dependência.
Para Winnicott, a técnica aqui não é diferente da primeira categoria, com
cuidados de manejo.
• 3. A terceira clínica relaciona-se aos pacientes que vivenciaram traumas,
intrusões e falhas ambientais em momentos anteriores ao
estabelecimento da personalidade como uma entidade, numa estrutura
pessoal não integrada como unidade pessoal em espaço e tempo. Nesta
forma clínica de tratamento o manejo clínico e o estabelecimento
do setting são indispensáveis e necessários, caracterizados numa
delicada organização de holding, que ofereça um ambiente/setting que
sustente e permita o processo de integração do sujeito.
•  
• Regressão
• A clínica winnicottiana valoriza vários aspectos no processo de análise, como
o holding, a regressão à dependência e o uso de objetos, destacando a
importância do papel do analista para além da interpretação. 
• A ocorrência da regressão na relação transferencial só se dá depois de
estabelecido holding no setting analítico, o que significa que o paciente é
capaz de confiar no analista, como alguém presente, mas não intrusivo,
aguardando e respeitando o tempo do paciente.
• Para ele, em análise, quando o paciente apresenta-se regredido, sua
capacidade de regressão representa a vívida esperança de que seja realizada
uma nova maternagem, para que enfim possa viver esta “falha”
num setting amparado por um analista que forneça o holding necessário. Pelo
fato de que a regressão não representa um problema que obstrui o progresso
do paciente em análise, nesta abordagem, caberá ao analista mais do que
interpretar, buscar uma aproximação do paciente mostrando-lhe sua
capacidade de compreendê-lo, para que na situação analítica possa reviver os
momentos angustiantes que o impediram de desenvolver-se.
• Transferência e contratransferência
• A transferência e a contratransferência na clínica winnicottiana, assim
como muitos outros aspectos desta forma de trabalhar, estão
estreitamente vinculadas aos princípios e conceitos que tratam da
possibilidade da criação do objeto subjetivo (dentro e fora da análise),
portanto a base do trabalho clínico encontra-se na elaboração de
Winnicott sobre as relações mãe-criança, a saber, o movimento vital da
criança quando “cria” sua mãe, ou em outras palavras, do surgimento do
fenômeno de ilusão. Este é o ponto de partida do analista, será preciso
que ele reconheça, a partir daí, qual a busca única, singular de cada
paciente; ele precisará realizar um trabalho, desde o começo, desde as
primeiras entrevistas que leve em conta a organização única do self do
paciente, que lhe é transmitido no modo como ele - paciente - se
apresenta na sua fala, no seu modo de agir e viver nos detalhes
idiossincráticos de sua existência.
• Portanto, a transferência diz respeito ao movimento do paciente em
direção ao analista que, por sua vez, deixar-se-á encontrar por este
paciente em particular, em sua singularidade, nos modos próprios de
seu viver/existir. É, por assim dizer, uma forma de brincar, tal como
compreendida por Winnicott: instaura-se a possibilidade de brincar, o
analista deixa-se usar, aceita ser “criado” pelo paciente, assim como,
ser destruído, coloca-se, em suma, no lugar de objeto subjetivo. 
• Sendo a relação mãe-bebê o lugar privilegiado no pensamento
winnicottiano onde se desdobram as possibilidades de existir e de
constituição do psiquismo, a clínica psicanalítica beneficia-se disto e da
ideia de “holding”: a atenção do analista e o trabalho interpretativo
criam o ambiente que propiciará a evolução do tratamento, em outras
palavras, reproduz-se em certa medida o ambiente de holding dos
cuidados maternos tal como apresentado por Winnicott.
• FIM

You might also like