You are on page 1of 23

Madeira, do século XV ao século XIX -

uma visão global da sua história (1.ª parte)


CRONOLOGIA
1419 1425 1451 1497 1498 1508

Reconhecimento Introdução da Elevação do D. Manuel sobe Alvará de A vila do


oficial da ilha da cana-de- Funchal a vila ao trono e faz permissão aos Funchal é
Madeira. açúcar na ilha. e doação reverter para a estrangeiros elevada a
desta Coroa o para fixar cidade.
Capitania Arquipélago da residência na
a João Madeira. ilha.
Gonçalves
Zarco.
CRONOLOGIA
1533 1552 1641 1664 1690 1724 1748 1751

Construção Cerca de Aclamação Autorização Ataques Aluvião. Sismo. Aclamação do


da igreja de 3000 do rei para a de rei D. José no
São escravos D. João VI cunhagem corsários Funchal.
Salvador trabalham na da moeda franceses.
do Mundo, na Madeira. em ouro e
em Santa produção prata na
Cruz. de açúcar. Madeira.
CRONOLOGIA
1772 1794 1807 1834 1846 1878 1900

Criação de Início da Presença de A Madeira Início do Instalação Visita dos


escolas criação de tropas assume o serviço de do 1.º reis D.
primárias. estufas. inglesas na estatuto de iluminação comissário Carlos e D.
ilha da província e pública no de polícia, Amélia ao
Madeira. colónia Funchal. Pedro arquipélago.
ultramarina e Góis.
o de provedoria
para efeitos de
administração.
O arquipélago da Madeira
situa-se no Atlântico Norte,
a cerca de 1000 Km de Portugal
Continental e a 600 Km de
Marrocos.
Esta área do Atlântico era, desde
o século VII a.C., percorrida por
navegadores fenícios, gregos,
romanos e árabes.

Atlas Catalão, c. 1375


O arquipélago da Madeira surge, já, assinalado
em cartas e portulanos italianos do século XIV.
Por isso, é provável que fosse do
conhecimento dos portugueses ainda antes de
ter sido descoberto oficialmente em 1419-20:
João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira
chegaram a Porto Santo (1419) e, juntamente,
com Bartolomeu Perestrelo, alcançaram a
Madeira (1420).

João Gonçalves Zarco


Cerca de 1420-1425, iniciou-se o
povoamento da Madeira. Em 1433, o rei D.
Duarte doou as ilhas ao infante D. Henrique,
com o direito de exercer justiça e cobrar
impostos. A nível religioso, a Madeira ficou
sobre a alçada da Ordem de Cristo.

Infante D. Henrique
O Infante D. Henrique criou três
capitanias com carácter
hereditário: João Gonçalves
Zarco recebeu metade da ilha
da Madeira (parte ocidental),
Tristão Vaz Teixeira a metade
oriental da ilha e Bartolomeu
Perestrelo a ilha de Porto Santo.

As capitanias das ilhas da Madeira e de Porto Santo


Os poios (socalcos) As levadas

Os primeiros colonos da ilha da Madeira debateram-se com vários problemas, que tiveram de
resolver: a extensa floresta, a que foi preciso deitar fogo (queimadas) para abrir espaço para as
terras de cultivo e habitações; o transporte de água para regar os campos, o que exigiu a abertura
de canais (as levadas); a criação de terrenos para agricultura, o que levou à construção de muros
de pedra para a retenção da terra (os poios ou socalcos).
O povoamento de Porto Santo
não foi fácil. A pouca chuva e
os solos arenosos e salgados
dificultaram a fixação de
colonos e o desenvolvimento
da ilha. Foi um processo lento e
irregular.

Ilha de Porto Santo


Engenho de açúcar (século XVII)

Produção de açúcar da Madeira


(1465-1521)

Em meados do século XV, começa a desenvolver-se a cultura da cana do açúcar, rapidamente


exportada para vários mercados europeus. Mas, no final do século XVI, dá-se uma grave crise
na produção açucareira madeirense.
Os ataques dos piratas do Atlântico

No final do século XVI, coincidindo com a crise do açúcar, o arquipélago da Madeira é alvo de saques de bandos de piratas
franceses, ingleses e holandeses. Foi o resultado da perda de independência de Portugal em 1580, a favor de Espanha.
Nos séculos XV e XVI definiu-se a
estrutura social da comunidade
madeirense. Com base na
propriedade da terra distinguiam-se
os mais ricos e poderosos membros
da sociedade local. Era uma
estrutura social hierarquizada, de
acordo com a da Europa dessa
época.

O trabalho nas terras


A estes primeiros séculos da história da Madeira
remontam edifícios relevantes, como:

-a capela de Santa Catarina, mandada construir pela


mulher de João Gonçalves Zarco (século XV);

-a capela do Corpo Santo (século XV), ligada a uma


confraria de apoio a pescadores;

-a igreja matriz do Machico (concluída em 1517);

Sé do Funchal -as fortalezas de São Lourenço e São Tiago, ligadas à


defesa da ilha, face aos ataques de piratas e corsários
(século XVII);

-Paço Episcopal, o Seminário e o Colégio dos Jesuítas


(século XVII);

-a casa onde hipoteticamente residiu Cristóvão


Colombo (cerca de 1479-1481), hoje tornado museu,
na ilha de Porto Santo.

Casa-Museu Cristóvão Colombo


Vinho da Madeira Videiras na costa norte da ilha da Madeira

No século XVII afirma-se o crescimento da produção do vinho na Madeira. Em particular, após


o casamento de Catarina de Bragança (filha de D. João VI) com o rei Carlos II de Inglaterra, o
comércio do vinho tornou-se o mais importante da ilha. Assim continuou nos séculos seguintes.
O comércio do vinho, muito ligado á Inglaterra, levou a pouco e pouco à fixação e crescimento da
comunidade inglesa na Madeira. Em 1765, estabeleceu-se uma feitoria no Funchal para
representar os interesses ingleses e, em 1822, foi inaugurada uma igreja anglicana. Então, havia já
cerca de 700 britânicos residentes na ilha da Madeira.

A igreja anglicana da Holy Trinity (Igreja da Santíssima Trindade)


Nesta época, a presença
inglesa na Madeira está,
também, associada à expansão
militar de Napoleão Bonaparte.
Com efeito, em virtude das
guerras napoleónicas, forças
militares inglesas instalaram-se
na ilha em 1801 e aí
permaneceram até 1814,
quando as tropas francesas
foram derrotadas na Europa. Napoleão a bordo de barco de guerra
A partir de meados do século XIX, cresceu a emigração
dos madeirenses para a América, sobretudo para as
Antilhas, Brasil e Havai. Foi o resultado de várias crises
agrícolas (1852 e 1872) e de distúrbios religiosos ligados
ao movimento protestante do médico escocês Robert
Kalley (1846-1855).

Anúncio no Jornal Diário de Notícias da


Madeira de 15 de julho de 1886 Robert Kalley
Ukelele, instrumento musical tradicional Rum Fernandes
no Havai

Os madeirenses introduziram no Havai um instrumento musical, hoje tradicional – o ukulele. De


igual modo, os descendentes dos protestantes madeirenses fugidos para as Antilhas criaram o
famoso rum Fernandes da Trinidad (Trindade e Tobago, junto às costas da Venezuela).
Ainda no século XIX, surgiram alguns meios de transporte curiosos: os carros de cesto para a
ligação entre o Funchal e o Monte (em 1846) e as corças (espécie de carro sem rodas, puxado
por bois) para o transporte de mercadorias. Em 1893, foi inaugurado o comboio, entre o
Funchal e o Monte.

Comboio e carro de cestos no Monte (Madeira)


Ao longo dos séculos XVIII e XIX, o Funchal assumiu-se como um importante posto de
abastecimento nas rotas de África e das Antilhas-Américas. Nessa época, comerciantes e
proprietários agrícolas construíram casas rodeadas de belos jardins nos arredores do Funchal
e casas apalaçadas com vários pisos e torres avista-navios no centro da cidade.

Barcos de comércio ancorados no Funchal

Belos jardins
Barco de navegação (século XIX) A imperatriz austro-húngara, Sissi

No século XIX acentuou-se a presença de estrangeiros na Madeira. Muitos vinham fazer negócios,
outros procuravam o clima ameno para resolver as suas doenças pulmonares e outros vinham,
também, para simplesmente passar os seus tempos de ócio. Grande parte era oriunda da
Grã-Bretanha e outros de França, Itália, Alemanha e Áustria. Os primeiros hotéis da Madeira
são dessa época; em 1891, havia já catorze.
Fim da 1.ª parte

You might also like