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HEIDEGGER

HEIDEGGER
Heidegger chama a atenção para um modo de pensar que foi sendo esquecido
paulatinamente na história da humanidade.
A grande questão para ele foi o esquecimento do ser.
Para melhor compreendermos a proposta do filósofo vamos retroceder para o século
IV AC, na Grécia Antiga.
Naquele tempo os homens não acreditavam que podiam conhecer, que era portanto
um privilégio dos deuses.
Influenciado pela civilização oriental Parmênides desafiou tal paradigma propondo
então uma fórmula.
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Um grande desafio para Parmênides era explicar essa possibilidade mesmo quando
as coisas mudavam a sua forma.
Afinal tudo que está na natureza nasce, cresce e morre, e nesse processo vai
alterando a sua forma.
O filósofo então propôs que em todas as coisas existe algo que muda ( o ente), e algo
que permanece sempre igual a si mesmo (o ser).
Em nossa experiência de conhecimento com as coisas do mundo, o Ente é dado
para os órgãos do sentido e o Ser , como manifestação ao nosso Logos.
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A matemática da época não tinha ainda noção de conjunto, portanto a cada Ente o
seu Ser.
Poderíamos assim representar:
P= Ente+Ser, em uma união indissolúvel.
Ente é o que se modifica, sofre a ação do tempo, das doenças, nos é dado em uma
relação imediata com nossos órgãos dos sentidos, é o de que falamos.
Ser é manifestação ao nosso Logos, ou seja, a nossa condição humana.
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É o que não se modifica, permanece sempre igual a si mesmo, não sofre a ação do
tempo nem das doenças, nada o macula.
Portanto, é o que diz da verdade do Ente, o que o Ente realmente é.
Entretanto por estar indissoluvelmente ligado ao Ente desaparece quando este
encerra a sua existência.
Para Parmênides o Ser compreendido como sempre igual a si mesmo, se apresenta
estático.
Outro filósofo da época, Heráclito, pensava do mesmo modo, entretanto entendia o
Ser como movimento.
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É o autor da seguinte reflexão:
Um homem não se banha no mesmo rio duas vezes, nem o homem nem o rio são os
mesmos.
Posteriormente seu pensamento inspirou Hegel em sua concepção de dialética.
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Platão , a princípio, concordou com Parmênides/Heráclito, porém foi tomado por
ansiedade ao concluir que desaparecendo o Ente também desapareceria o Ser e
com ele a verdade e a beleza.
Concluiu que o Ser não pode morrer porque a verdade e a beleza não podem
desaparecer para sempre.
Portanto, o Ser teria que se eternizar para que com ele também se eternizassem a
verdade e a beleza.
Logo, Platão propôs uma mudança na equação:
P= Ser+Ente.
HEIDEGGER
O filósofo então pensou que mantendo o Ser na Terra ele fatalmente teria o mesmo
destino que todos os outros que aqui habitam: nascer, crescer e morrer.
Assim, ele pensa o Ser como habitando um lugar logo acima da Terra, afastando-o
do Ente.
A equação então ficou da seguinte forma:
 P=Ente.
Entretanto sem o Ser o Ente ficou reduzido a mera aparência, além do mais
enganosa.
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O Ser passou a habitar um lugar criado pelo Demiurgo, o Ser dos Seres, aquele que
nunca tocou a Terra.
Lá estão os verdadeiros representantes de tudo o que existe na Terra, em sua forma
pura, verdadeira, sem falsidade.
Ou seja o que está na Terra é uma mera cópia da verdade.
O Ser do homem antes de transmigrar, ou seja, encarnar, acompanhado do Demiurgo
veria todas as verdades em sua forma mais pura, chamadas pelo filósofo de “idea”.
HEIDEGGER
Ao transmigrar o Ser do homem passaria pelo rio Lethe, ou seja , o rio cujas águas ,
uma vez ingeridas levam ao esquecimento.
Como ao sentir muita sede nessa travessia o Ser do homem ingeri muita água, isso o
faria esquecer tudo que o sabe, sem entretanto perdê-lo.
Como então recuperar o saber?
Platão propõe um método de quatro passos, que se inicia com o estudo da
matemática e conclui com o da ética.
Fundou inclusive uma escola, a Academia, muito famosa em seu tempo.
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Heidegger comenta que Platão ao afastar o Ser de nossa experiência mais imediata
e lança-lo em outro lugar, distante da Terra.
Terminou por nos condenar por caminhar na escuridão distante de qualquer
encontro com a verdade.
Cria outra questão com prejuízo evidente ao introduzir o método como única
possiblidade de acesso ao Ser, ou seja, ao conhecimento.
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Aristóteles, discípulo de Platão, criador por sua vez do Liceu, afirma não ser
necessário toda a argumentação platônica a respeito do Demiurgo e desse
distanciamento do Ser.
Propõe então que o pensar correto, o olhar correto, depende do desenvolvimento de
uma habilidade: a Lógica.
A lógica que o filósofo propõe é conhecida como Lógica Formal, porque propõe
construir o conhecimento a partir de relações formais.
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Exemplo dado pelo próprio filósofo:
Sócrates é um homem, os homens são mortais logo Sócrates é mortal.
É uma lógica que tem seus equívocos porque não examina o conteúdo de suas
afirmações.
Entretanto persistiu como principal referência do pensar humano durante séculos.
Aristóteles é considerado um pensador entre dois mundos, a antiguidade e um
mundo que se anunciará como moderno.
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Heidegger criticará não só a construção do modo lógico de pensar como também o
tratamento que Aristóteles dará a questão do Ser.
Aristóteles não acredita ser necessário o Demiurgo e tudo o mais relativo ao mundo
das essências ou das “ideas”.
Então como fica a questão do Ser?
Ele reintroduz o Ser na Terra, entretanto em um movimento que o localizará no
centro da matéria , afinal o materializando.
Heidegger caracteriza esse momento histórico como o da “entificação do Ser”
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Logo o Ser perde todas as suas características, ser manifestação e não materialidade.
Lembrando o pensamento original de Parmênides e Heráclito quem é conhecido em
sua materialidade é o Ente.
 Segue a longa história de “esquecimento do Ser”.
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Depois do longo período da Idade Média onde o pensamento grego foi “parcialmente
esquecido”, substituído pela referência teísta, encontramos outro dos grandes
pensadores, construtores do modo moderno de pensar: Descartes.
Como já comentamos sobre ele em nossa introdução a Husserl , lembraremos apenas
a questão da técnica , desenvolvida pelo filósofo, visando afastar o homem da
descoberta da verdade.
A técnica, na concepção de Heidegger levará ao duplo esquecimento do Ser, dito de
outra forma, “esquecemos que o esquecemos”.
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Heidegger tem uma longa reflexão sobre a técnica.
O pensador observa com agudeza que acreditamos ser a técnica um instrumento que
utilizamos a nosso serviço.
Entretanto não percebemos como pouco a pouco a racionalidade e a técnica foi
moldando o nosso pensar.
De modo que ele foi paulatinamente se transformando em um modo calculante de
pensar.
O filósofo propõe o modo meditante em contraponto ao anterior, que nos
aproximaria da verdade do Ser.
HEIDEGGER
Como se dá a questão do Ser?
O filósofo questiona as verdades construídas durante a história da filosofia e da
ciência.
O homem não seria um animal racional, nem animal e menos ainda racional.
Tampouco filho de Deus seria a resposta adequada.
Uma consciência auto fundante , um sujeito como subiectum, como subjetividade
radical, igualmente não responderia satisfatoriamente a questão.
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A obra de Husserl, que inicialmente impactou Heidegger, seguiu caminhos que ele
discordou radicalmente ( como a proposta do Ego Transcendental).
Desenvolveu então seu próprio modo de responder a questão, proposta inicialmente
em sua obra Ser e Tempo.
O autor propõe em sua reflexão os seguintes pontos:
Todos os seres vivos, inclusive os animais, tem um lugar na natureza, onde sua
“semente” é recebida, nasce, cresce e se desenvolve sempre sob a proteção da Mãe
Natureza.
HEIDEGGER
O autor então questiona o que aconteceria com o homem nesse movimento/momento.
Como já colocado anteriormente Heidegger não acredita ser o homem um animal racional,
portanto com vínculos íntimos com a natureza.
Logo a “semente” do ser do homem, lançada, não encontra acolhida na natureza, vive então a
experiência radical de ser lançada no vazio, sem mundo, em angústia e liberdade.
Como o ser do homem não é acolhido no Mundo da Natureza e tal experiência de radical
angústia e liberdade não é suportável, necessita ser ancorada em um mundo, o autor propõe o
que se pode chamar de mundo do homem.
HEIDEGGER
Como seria a constituição desse mundo?
O autor propõe então que o ser do homem é afinal acolhido , no que será o mundo
do homem, o ser-no-mundo-com-os-outros, concepção que se sobrepõe a de trama
de sentidos ou simplesmente de mundo.
Portanto são três concepções que se sobrepõe.
A partir daí se pode chamar Homem, em sua constituição ontológica-ôntica.
Ontológico diz respeito ao estudo do ser, fundamento de toda experiência ôntica.
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Ôntico diz respeito ao que experimentamos, sentimos e falamos.
Entretanto, é importante sublinhar, é o Ontológico, entendido como manifestação do
Ser, que fundamenta tudo o que diz respeito ao Ôntico.
Essa manifestação considera o que o autor chama de existenciários, sem que
possamos considerar estruturas ou essências.
Afirma que a única essência do homem é não ter essências.
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SER-NO-MUNDO-COM-OS-OUTROS
MUNDO
TRAMA DE SENTIDOS
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ONTOLÓGICO ÔNTICO
Amor
Cuidado Ternura
Amizade
Carinho
Des-cuido
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Existenciários:
Existência: ser para fora de si, tendo diante de si as suas possibilidades, circunvisão.
Ser-no-mundo: “ser-em-situação”, entretanto não está “preso” a situação em que se
encontra, ou melhor, sempre disponível para tornar-se algo novo.
Transcendência: existir é ek-sistir, existir sempre para fora de si projetar-se para a
mundanidade do mundo, para a trama dos sentidos.
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Temporalidade: o ser do homem, logo o homem, existe porque está
fundamentalmente ligado ao tempo. Existir é lançar-se ao futuro, “caminhando” nas
possibilidades da trama de sentidos até que o Ser se encontra com a última
possibilidade: a morte. Diante da angústia que isso provoca, há então um movimento
de retorno ao passado e, enfim de presentificação.
A temporalidade vincula os sentidos do existir.
É o que possibilita a unidade da existência.
Existir é temporalizar-se.
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Permite a compreensão que comentaremos mais adiante.
Logo o Ser-no-mundo vive as três ek-estases temporais em sua existência, o que
ressalta a importância da concepção de ser-para –a-morte.
Ser-para-a-morte: é a maior das certezas humanas.
O Ser está sempre nessa possibilidade, na antecipação.
Ao mesmo tempo em que o limita, lhe permite ser completo.
Está ligado ao que o autor chama do mais próprio ( minhas possibilidades mais
próprias).
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Afinal, de todas as possibilidades humanas, de tudo o que um homem pode viver, a
sua morte é o que ninguém pode viver por ele, é o seu mais próprio.
Ao citarmos acima a compreensão, acreditamos ser importante seguirmos
comentando sobre essas importantes disposições do ser-no-mundo: disposição
afetiva, compreensão, interpretação e rede (discurso).
O autor propõe que a abertura do ser-no mundo (Dasein) se dá pela disposição
afetiva, dito de outra, sempre estamos no mundo em um determinado colorido
afetivo, nunca em uma racionalidade construída a partir de uma cognição.
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Compreensão: ao sermos lançados em uma disposição afetiva na trama de sentidos
compreendemos as possibilidades que estão diante de nós.
Interpretação: ao unificarmos nossas compreensões, realizamos o que o autor chama
de interpretação.
O que vai nos permitir duas outras realizações : ocupar e pré-ocupar.
Nos dirigimos as coisas do mundo como ocupação, nos ocupamos delas de modo
maniforme compreendidas em uma trama utensiliar.
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Quanto aos outros Dasein nos preocupamos em nosso mundo comum.
Portanto, vivemos juntos nossa impropriedade , que pode ter seus momentos mais
“decadentes” no escritório, no falatório, no modismo e na curiosidade.
Segundo o autor é importante lembrar que essas fortes expressões não se referem a
nenhuma conotação moral e sim as disposições do Dasein.
Cuidado: o homem cuida de seu ser, como somos ser-no-mundo-com-os-outros,
cuidamos igualmente do outro. Importante unificador de nossa condição.
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Posteriormente a obra do autor considerou outros elementos, no chamado segundo
Heidegger.
Importante para nós destacar a linguagem que ocupa um lugar especial.
Através da linguagem se dá a aparição do Ser.
Linguagem original:
 Exprime o Ser ,mostra-o, revela-o, o traz para a luz.
Densidade ontológica fundamental (soar sem som).
 Fundamento do ser de todas as coisas.
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Linguagem derivada:
É a linguagem da comunicação humana, que o implica o escutar , o responder.
Conecta a linguagem original e a humana.
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Referências:
CASANOVA, Marco Antônio. Compreender Heidegger. Petrópolis: Vozes, 2009.
HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Petrópolis: Vozes, 2005.
HEIDEGGER, Martin. A caminho da Linguagem. Petrópolis: Vozes, 2003.
INWOOD, Michael. Heidegger. São Paulo: Loyola, 2004.

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