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“Os extremos acabam por agredir a todos aqueles que buscam um

entendimento e uma razão para viver através do Qohélet. Sendo assim


melhor é pautar nossas esperanças no equilíbrio: “Não sejas
demasiadamente justo, nem demasiadamente sábio...””

José Alencar
A DOR DE QUEM ACORDA PARA AS REALIDADES DA VIDA,
SABENDO QUE A MORTE É INEVITÁVEL.
O livro de Eclesiastes faz parte dos livros poéticos e sapienciais do Antigo
Testamento da Bíblia cristã e judaica, vem depois do Livro dos Provérbios e antes
de Cântico dos Cânticos. O Livro tem seu nome emprestado da Septuaginta, e na
Bíblia hebraica é chamado Kohelet (‫ )קהלת‬ou Qohelet (um pregador). O livro não
aponta autoria, mas nalguns versos, deixa entender que a escrita foi feita por
Salomão (com um tom humanista, político/social, materialista (ateista), hedonista
(se não houver prazer não há valor), solitário (distante de Deus)), mesmo, essa
autoria, sob a contestação de vários estudiosos arqueológicos.
POLÍTICA – DEUS E JESUS VERSUS BARRABÁS
VIDA – HEDONICA E EPICÚRICA VERSUS A MORTE

Lutero – Comentário abrangente


Para ele o desprezo ao mundo não condizia com a
tradição bíblica, principalmente, com a tradição de que
Deus criou tudo bom. Assim, ele afirma que as idéias
do Qohélet não se refere ao mundo, mas, ao coração
humano. (MAUSSION, Marie, Le mal, le bien et le
jugement de Dieu dans le livre de Qohélet, p. 6 )
Samuel de Jesus Duarte – Contradizendo Lutero, sob o ponto de
vista da escrita ser apenas pessoal, o autor de Eclesiastes é um homem que
andou longe de Deus e que agora faz um grande esforço para entender o
que é a vida de forma holística. E ele conclui: a vida é um absurdo.
Esta não é a visão de Deus e nem, tampouco, a indicação de Deus para que
você e eu encaremos a vida tal como ele, o autor, a vê.
“Se a sua visão é somente esta visão, de quem está feliz na mágoa(V3) ou
no luto(V1, 2), você precisa pedir a Deus que lhe traga a visão d’Ele, de
quem está acima do sol, para lhe mostrar o que realmente a vida é, o que
torna esta vida uma vida perfeita e agradável aos olhos de Deus.”
(DUARTE, Samuel de Jesus. Carpe Diem: o sentido da vida em Qohélet 9,7-
10. Rio de Janeiro: Maxwell – Biblioteca Digital, PUC-RJ, 2005)
Eclesiastes 7:1-29

1 - Melhor é a boa fama (bom nome) do que o melhor ungüento, e o dia da morte do que o
dia do nascimento de alguém. 2 - Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há
banquete, porque naquela está o fim de todos os homens, e os vivos o aplicam ao seu
coração. 3 - Melhor é a mágoa do que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o
coração. 4 - O coração dos sábios está na casa do luto, mas o coração dos tolos na casa da
alegria. 5 - Melhor é ouvir a repreensão do sábio, do que ouvir alguém a canção do tolo. 6 -
Porque qual o crepitar dos espinhos debaixo de uma panela, tal é o riso do tolo; também isto
é vaidade. 7 - Verdadeiramente que a opressão faria endoidecer até ao sábio, e o suborno
corrompe o coração. 8 - Melhor é o fim das coisas do que o princípio delas; melhor é o
paciente de espírito do que o altivo de espírito. 9 - Não te apresses no teu espírito a irar-te,
porque a ira repousa no íntimo dos tolos. 10 - Nunca digas: Por que foram os dias passados
melhores do que estes? Porque não provém da sabedoria esta pergunta.
Eclesiastes 7:1-29

11 - Tão boa é a sabedoria como a herança, e dela tiram proveito os que vêem o sol.
12 - Porque a sabedoria serve de defesa, como de defesa serve o dinheiro; mas a
excelência do conhecimento é que a sabedoria dá vida ao seu possuidor. 13 - Atenta
para a obra de Deus; porque quem poderá endireitar o que ele fez torto? 14 - No dia
da prosperidade goza do bem, mas no dia da adversidade considera; porque também
Deus fez a este em oposição àquele, para que o homem nada descubra do que há de
vir depois dele. 15 - Tudo isto vi nos dias da minha vaidade: há justo que perece na
sua justiça, e há ímpio que prolonga os seus dias na sua maldade. 16 - Não sejas
demasiadamente justo, nem demasiadamente sábio; por que te destruirias a ti
mesmo? 17 - Não sejas demasiadamente ímpio, nem sejas louco; por que morrerias
fora de teu tempo?
Eclesiastes 7:1-29

18 - Bom é que retenhas isto, e também daquilo não retires a tua mão;
porque quem teme a Deus escapa de tudo isso. 19 - A sabedoria fortalece
ao sábio, mais do que dez poderosos que haja na cidade. 20 - Na verdade
que não há homem justo sobre a terra, que faça o bem, e nunca peque. 21 -
Tampouco apliques o teu coração a todas as palavras que se disserem, para
que não venhas a ouvir o teu servo amaldiçoar-te. 22 - Porque o teu coração
também já confessou que muitas vezes tu amaldiçoaste a outros. 23 - Tudo
isto provei-o pela sabedoria; eu disse: Sabedoria adquirirei; mas ela ainda
estava longe de mim.
Eclesiastes 7:1-29

24 - O que já sucedeu é remoto e profundíssimo; quem o achará? 25 - Eu apliquei


o meu coração para saber, e inquirir, e buscar a sabedoria e a razão das coisas, e
para conhecer que a impiedade é insensatez e que a estultícia é loucura. 26 - E eu
achei uma coisa mais amarga do que a morte, a mulher cujo coração são redes e
laços, e cujas mãos são ataduras; quem for bom diante de Deus escapará dela,
mas o pecador virá a ser preso por ela. 27 - Vedes aqui, isto achei, diz o pregador,
conferindo uma coisa com a outra para achar a razão delas; 28 - A qual ainda busca
a minha alma, porém ainda não a achei; um homem entre mil achei eu, mas uma
mulher entre todas estas não achei. 29 - Eis aqui, o que tão-somente achei: que
Deus fez ao homem reto, porém eles buscaram muitas astúcias.
Dentro desta estrutura de sofrimento e pecado,
Michael A. Eaton destaca a seguinte composição:

7:1 a 9 - Aprendizado mediante sofrimento - a morte ensina diante da vida;


7:7 a 10 – Perigos do viver - Ira, Presunção, Suborno/corrupção, Altivez;
7:11-12 e 19 - 22 - A necessidade de Sabedoria – Vale mais que a força;
7:13-14 – A vida sob a mão de Deus – Atentar para Obra de Deus como um todo;
7:15 – 18 - Perigos ao longo do caminho – Mas quem teme a Deus escapa;
7:23 – 24 – Sabedoria inacessível – Por mais que busquemos sabedoria, nunca atingiremos
plenitude;
7: 25 – 29 - A pecaminosidade do homem - Julgamento.
4 Blocos menores
7:1–8 - Frases Proverbiais;
7:5 - Melhor é ouvir a repreensão do sábio, do que
ouvir alguém a canção do tolo.

7:9–10 - Conselho ou Parecer;


7:9 - Não te apresses no teu espírito a irar-te,
porque a ira repousa no íntimo dos tolos.

7:11–14 e 19–24 - Sabedoria;


7:19 - A sabedoria fortalece ao sábio, mais do que
dez poderosos que haja na cidade.

7:15–18 e 25–29 - Relato ou Experiência.


7:26a - E eu achei uma coisa mais amarga do que a
morte, a mulher cujo coração são redes e laços, e
cujas mãos são ataduras.
Derek kidner afirmou com relaçação ao capítulo 7:
Nada da primeira parte do versículo 1 nos prepara para o
golpe da segunda metade. Eclesiastes já se recusou a
pressupor a existência de uma vida futura, ou então,
temos que continuar lendo, na esperança de que haja
esclarecimentos a seguir. E não há. (KIDNER, 1976, p.52)

Ainda em Derek, com relação ao último versículo, 29,


Qohélet conclui que a natureza humana é mais firme do
que a que ele poderia ter adquirido por sua simples
experiência. (KIDNER, 1976, p.59)
Antonio N. Mesquita – Com relação a crítica
da razão pura, abordando o verso 23:

O sábio declara tudo haver experimentado


pela sabedoria, afirmando: Torna-me-ei sábio,
mas a sabedoria estava longe de mim. É o homem
lutando consigo mesmo procurando soluções sem
as poder encontrar e, se as consegue, não as
pode realizar. (MESQUITA, 1960, p.85)
Flavio T. Barbeitas - Em literatura, especialmente em poesia, esta
mesma ideologia que mitifica a obra, atribuindo-lhe os predicados da
perfeição e irretocabilidade, coloca o autor numa relação de extrema
superioridade em relação ao tradutor, este sendo considerado um elemento
secundário, um mal necessário. O que o autor de Qohelet quis dizer... Só ele
sabe.
(BARBEITAS, Flavio T. Reflexões sobre a prática da transcrição... Per Musi.
Belo Horizonte, v.1, 2000. p. 89-97 )

Roland Barthes - Sabemos agora que um texto não é feito de uma linha
de palavras a produzir um sentido único, de certa maneira teológico (que
seria a “mensagem” do Autor-Deus), mas um espaço de dimensões
múltiplas, onde se casam e se contestam escrituras variadas (BARTHES,
Roland. O rumor da língua. Trad. Mário Laranjeira. São Paulo: Brasiliense,
Ponto básico – EM BUSCA DA FELICIDADE

1 - Felicidade em meio a morte, maldade


e insegurança;
A morte como objeto de reflexão e não de
prazer.
2 - O que satisfaz o homem;
Para Qohelet não há satisfação para o homem a
não ser no comer, beber e gozar da felicidade
graças ao próprio trabalho.
Ponto básico – EM BUSCA DA FELICIDADE

3 - A morte versus uma rápida passagem na terra;


Uma única oportunidade de ser feliz.

4 - Retrato para homens que se privam


totalmente da felicidade.
Qohelet viu a infelicidade esmagando o
homem, não nos deixemos esmagar pelos
mesmos problemas.
BARBEITAS, Flavio T. Reflexões sobre a prática da transcrição... Per Musi. Belo
Horizonte, v.1, 2000.
 
BARTHES, Roland. O rumor da língua. Trad. Mário Laranjeira. São Paulo: Brasiliense,
1988.
 
DUARTE, Samuel de Jesus. Carpe Diem: o sentido da vida em Qohélet. Rio de
Janeiro: Maxwell – PUC-RJ, 2005.
 
EARTON Michael A. Eclesiastes e Cantares. Trad. Oswaldo Ramos. Inter-Varsity
Press, Inglaterra, 1989.
 
KIDNER, Derek. A mensagem de Eclesiastes. Trad. Yolanda M. Krieven. ABU, São
Paulo, 1976.
 
MESQUITA, Antonio Neves de. Livro de Eclesiastes: Comentários. Casa Publicadora
Batista, Rio de Janeiro, 1960.
 
MAUSSION, Marie. Le mal, le bien et le jugement de Dieu dans le livre de
Qohélet. Fribourg: Editions Universitaires Fribourg / University Press, 2003.
 
VÍLCHEZ LÍNDEZ, José. Eclesiastes ou Qohélet, 1989.

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