Ao produzir arte com o propósito de servir as comunidades cristãs, seja com um objetivo evocativo ou cultual, os artistas buscam as fontes de informação primordiais para criar de acordo com a narrativa mais segura. As fontes para a criação artística cristã são, em primeiro lugar, as escrituras consideradas sagradas pelos crentes, a Bíblia. Além da literatura bíblica, há múltiplas exegeses dos escritores que interpretam os textos para compreender sua relevância e importância em cada época. Os escritos dos Padres da Igreja são considerados a época de ouro desse tipo de interpretação e são fontes importantes para o estudo das narrativas descritas na Bíblia, fornecendo imagens plásticas para os artistas. No entanto, é importante destacar que a forma de ler as escrituras influenciou profundamente a representação das histórias sagradas nos quadros, tornando a arte frequentemente um reflexo da pregação de cada momento. Embora mais visível em alguns contextos do que em outros, a forma tradicional de interpretar as escrituras baseia- se na leitura cristológica, que é diretamente aplicada às páginas da Bíblia, incluindo as passagens do Antigo Testamento. Assim, a leitura tipológica que prevalecia nos sermões é a mesma que se percebe na pintura e escultura, ou seja, o Antigo Testamento é lido em relação ao Novo Testamento, pois Cristo é o novo Adão, o novo Moisés, o novo Davi, o novo Jonas, etc. Além das referências aos quadros do Antigo Testamento, a arte cristã enfatiza, obviamente, os temas neotestamentários relacionados ao mistério da encarnação, à vida pública de Cristo, ao ciclo da Paixão, morte e ressurreição, e aos momentos pós-pascais. Além dessas passagens, os artistas também se dedicaram à representação da vida da Virgem Maria, estabelecendo paralelos constantes entre a narrativa cristológica e a narrativa mariana. A figura de Maria, com diversos títulos, foi representada em diferentes cores e atributos, de acordo com as características que se desejava enfatizar. Depois dessa figura, vêm os santos, especialmente os mártires, apóstolos, evangelistas e evangelizadores, fundadores religiosos, cavaleiros, educadores e outros, que ocupam grande parte das representações artísticas colocadas diante dos fiéis como exemplo a ser contemplado, uma vez que deixaram uma marca na comunidade baseada no evangelho de Cristo. Além dessas fontes, a arte cristã também se baseou nos escritos que registraram as vidas dos santos e interpretaram seu testemunho como exemplo a ser contemplado pelos fiéis. As "vitae", consideradas até mesmo um gênero literário inaugurado por Atanásio de Alexandria (c. 296-373), ao escrever sobre a vida de Santo Antão, são importantes compilações dos episódios mais significativos dos homens e mulheres que a Igreja considera expoentes da história cristã. Um dos pontos mais interessantes nesse tipo de narrativa, não tanto por ser um repositório de fatos históricos, mas por ser uma compilação que obteve grande sucesso, muitas vezes baseada em explicações alegóricas a partir de intuições despertadas pela etimologia dos conceitos, é a "Legenda Aurea" ou "Lenda Dourada", que popularizou milagres e tradições associadas aos santos durante a Idade Média. O estudo rigoroso da vida dos santos caminha junto com o desenvolvimento das próprias ciências históricas, e muitos trechos das vidas dos santos foram registrados por tradições, algumas delas baseadas nos registros de martírios escritos por Jacobus de Voragine (c. 1230-1298).