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História do Direito do

Brasil Colonial
Prof.ª Francilda mendes
HISTÓRIA DO DIREITO NO BRASIL
COLONIAL
HISTÓRIA DO DIREITO NO BRASIL
COLONIAL
Lembremos que:

É por meio da História que os homens se constroem,


conhecem e chegam à plena consciência do que são no
presente e do que podem vir a ser no futuro. A realidade
atual não está no vácuo, ela está vinculada a raízes
históricas intensas, as quais devem ser difundias e
afrontadas para uma melhor compreensão do presente
para uma efetiva transformação do futuro ( CUNHA;
DAZZANI, 2016)
HISTÓRIA DO DIREITO NO BRASIL
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Nos primeiros séculos após o descobrimento, o Brasil, colonizado
sob a inspiração doutrinária do mercantilismo e integrante do
Império Português, refletiu os interesses econômicos da
Metrópole e, em função deles, articulou-se;

Para Portugal, o Brasil deveria servir seus interesses; existia para


ele e em função dele.
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O país se edificou como uma sociedade agrária baseada no latifúndio,
existindo, sobretudo, em função da Metrópole, como economia
complementar, em que o monopólio exercido opressivamente era
fundamental para a burguesia mercantil lusitana;

a organização social define-se, de um lado, pela existência de uma elite


constituída por grandes proprietários rurais, e de outro, por pequenos
proprietários, índios, mestiços e negros, sendo que entre os últimos pouca
diferença havia, pois sua classificação social era quase a mesma.
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Na verdade, como assinala Darcy Ribeiro, o Brasil nasceu como
se fosse “um proletariado externo das sociedades européias,
destinado a contribuir para o preenchimento das condições de
sobrevivência de conforto e de riqueza destas e não das suas
próprias”. O correto é que o sistema aglutinava certas práticas de
base feudal com uma incipiente economia de exportação centrada
na produção escravista
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Já no que se refere à estrutura política, registra-se a consolidação
de uma instância de poder que, além de incorporar o aparato
burocrático e profissional da administração lusitana, surgiu sem
identidade nacional, completamente desvinculada dos objetivos
de sua população de origem da sociedade como um todo
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Alheia à manifestação e à vontade da população, a Metrópole
instaurou extensões de seu poder real na Colônia, implantando um
espaço institucional que evoluiu para a montagem de uma
burocracia patrimonial legitimada pelos donatários, senhores de
escravos e proprietários de terras
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A aliança do poder aristocrático da Coroa com as elites agrárias
locais permitiu construir um modelo de Estado que defenderia
sempre, mesmo depois da independência, os intentos de
segmentos sociais donos da propriedade e dos meios de produção.
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O aparecimento do Estado não foi resultante do amadurecimento
histórico-político de uma Nação unida ou de uma sociedade
consciente, mas de imposição da vontade do Império colonizador.
Instaura-se, assim, a tradição de um intervencionismo estatal no
âmbito das instituições sociais e na dinâmica do desenvolvimento
econômico
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Na sua globalidade, a compreensão, quer da cultura brasileira,
quer do próprio Direito, não foi produto da evolução linear e
gradual de uma experiência comunitária como ocorreu com a
legislação de outros povos mais antigos. Na verdade, o processo
colonizador, que representava o projeto da Metrópole, instala e
impõe numa região habitada por populações indígenas toda uma
tradição cultural a1ienígena e todo um sistema de legalidade
“avançada” sob o ponto de vista do controle e da efetividade
formal.
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Analisando as raízes culturais da legislação brasileira, escreve A.
L. Machado Neto que, dos três grupos étnicos que constituíram
nossa nacionalidade, somente a do colonizador luso trouxe
influência dominante e definitiva à nossa formação jurídica. Se a
contribuição dos indígenas foi relevante para a construção de
nossa cultura, o mesmo não se pode dizer quanto à origem do
Direito nacional, pois os nativos não conseguiram impor seus
“mores” e suas leis
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o Direito vigente no Brasil-Colônia foi transferência da legislação
portuguesa contida nas compilações de leis e costumes
conhecidos como Ordenações Reais, que englobavam as
Ordenações Afonsinas (1446), as Ordenações Manuelinas (1521)
e as Ordenações Filipinas (1603).
a insuficiência das Ordenações para resolver todas as
necessidades da Colônia tornava obrigatória a promulgação
avulsa e independente de várias “Leis Extravagantes”, 32
versando, sobretudo, sobre matérias comerciais
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A experiência político-jurídica colonial reforçou uma realidade
que se repetiria constantemente na história do Brasil: a
dissociação entre a elite governante e a imensa massa da
população. O governo português ultramar evidenciava pouca
atenção na aplicação da legislação no interior do vasto espaço
territorial, pois seu interesse maior era criar regras para assegurar
o pagamento dos impostos e tributos aduaneiros, bem como
estabelecer um ordenamento penal rigoroso para precaver-se de
ameaças diretas à sua dominação.
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Numa administração de cunho neofeudal e patrimonialista, o
direito da elite agrária não era o Direito da maior parte da
população, porém existia para proteger os interesses do governo
real e manter o poder dos fazendeiros proprietários de terras
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Operadores do Direito no Brasil colonial

Capitães Donatários
possuidores soberanos da terra, exerciam as funções de
administradores, chefes militares e juízes
detendo os mais amplos poderes para organizar seus domínios,
não dividiam “com outros o Direito de aplicar a lei aos casos
ocorrentes, dirimindo os conflitos de interesses e direitos entre
os habitantes a capitania
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Operadores do Direito no Brasil colonial
Governadores Gerais
criação de uma justiça colonial para a formação de uma pequena
burocracia composta por um grupo de agentes profissionais

Ouvidores Gerais
resolvia as questões de justiça e os conflitos de interesses,
detinha um poder quase sem limites, sujeito ao seu próprio
arbítrio pessoal; de suas decisões, na maioria das vezes, não
cabia apelação nem agravo
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Operadores do Direito no Brasil colonial
O crescimento das cidades e da população aumentou os conflitos,
determinando o alargamento do quadro de funcionários e
autoridades da justiça.

A organização judiciária, reproduzindo na verdade a estrutura


portuguesa, apresentava uma primeira instância, formada por juízes
singulares que eram distribuídos nas categorias de ouvidores, juízes
ordinários e juízes especiais
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Operadores do Direito no Brasil colonial
A segunda instância, composta de juízes colegiados, agrupava os
chamados Tribunais de Relação que apreciavam os recursos ou
embargos. Seus membros designavam-se desembargadores, e suas
decisões, acórdãos
Já o Tribunal de Justiça Superior, de terceira e última instância,
com sede na Metrópole, era representado pela Casa da Suplicação,
uma espécie de tribunal de apelação
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Operadores do Direito no Brasil colonial
DESEMBARGO DO PAÇO
não tinha função específica de julgamento, mas sim de
“assessoria para todos os assuntos de justiça e administração
legal, embora causas de mérito especial que houvessem exaurido
todos os outros meios de acordo pudessem ser levadas até esse
órgão

De igual modo, cabiam lhe a elaboração e correção da


legislação, a designação, promoção e avaliação do desempenho
de magistrados
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É certo que tais tribunais superiores (Desembargo do Paço e Casa
da Suplicação), mesmo sendo transferidos para o Brasil em 1808,
seguiram sendo sempre “instituições remotas para a maioria dos
brasileiros
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Os magistrados revelavam lealdade e obediência enquanto
integrantes da justiça criada e imposta pela Coroa, o que explica
sua posição e seu poder em relação aos interesses reais, resultando
em benefícios nas futuras promoções e recompensas. Na verdade,
a magistratura lusa, de cujo núcleo nasceu a brasileira, ainda que
tenha emergido de estrutura burocrática, adquirira condição de
organização moderna e profissional, habilitando-se a tarefas de
natureza política e administrativa
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Por tratar-se da “espinha dorsal” do governo real, o acesso à
magistratura, enquanto função privilegiada, impunha certos
procedimentos de triagem, com critérios de seleção baseados na
origem social. Ainda que o apadrinhamento e a venda clandestina
não fossem descartados, impunha-se um processo de recrutamento
que assegurasse padrão mínimo de eficiência, organização e
profissionalismo
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Para ingressar na carreira, além da origem social, era condição
indispensável ser graduado na Universidade de Coimbra, de
preferência em Direito Civil ou Canônico, ter exercido a profissão
por dois anos e ter sido selecionado através do exame de ingresso
ao serviço público (a “leitura de bacharéis”) pelo Desembargo do
Paço em Lisboa
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Em síntese, o delineamento dos parâmetros constitutivos da
legalidade colonial brasileira, que negou e excluiu radicalmente o
pluralismo jurídico nativo, reproduziria um arcabouço normativo,
legitimado pela elite dirigente e por operadores jurisdicionais a
serviço dos interesses da Metrópole e que moldou toda uma
existência institucional em cima de institutos, idéias e princípios
de tradição centralizadora e formalista.

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