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A CONQUISTA DA AMÉRICA

“IGUALDADE E DESIGUALDADE”

 Dr. Laércio Fidelis Dias


 Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho”
 DSA-Unesp/Marília
 Março de 2023
Introdução
 Há dois pares de conceitos cruciais nesta sessão
do livro:

 1) Igualdade e Desigualdade;
 2) Identidade e Diferença.
Introdução

 Toda a sessão orbita em torno desses dois pares de


conceitos.

 Através deles Todorov procura dar conta de


como se operou a conquista ou a dominação dos
ameríndios pelos espanhóis.
Introdução
 O primeiro parágrafo do texto deixa explícita a questão:

 “O desejo de enriquecer e a pulsão de domínio, essas


duas formas de aspiração ao poder, sem dúvida
nenhuma motivam o comportamento dos espanhóis;

 mas este também é condicionado pela idéia que fazem


dos índios, segundo a qual estes lhes são inferiores, em
outras palavras, estão a meio caminho entre os homens
e os animais. Sem esta premissa essencial, a destituição
não poderia ter ocorrido”.
Introdução
 No excerto anterior algumas premissas podem ser
extraídas:
 1) A de que os espanhóis são mais evoluídos do

que os ameríndios, em especial no trecho: “estão a


meio caminho entre os homens e os animais.”;

 2) Um traço marcante da cultura espanhola seria o


desejo de enriquecer e dominar;
Cultura e Evolução
 Evolução - descendência como modificação, ou
seja, mudança na frequência gênica ao longo do
tempo.

 Seleção natural - processo pelo qual essas


modificações que melhoram a sobrevivência e
reprodução tornam-se ou permanecem mais
comuns em sucessivas gerações.
Cultura e Evolução

 Adaptação - estruturas ou comportamentos que


melhoram uma função específica dos organismos,
aumentando sua chance de sobreviver e
reproduzir.

 Fonte: Kormondy, E.J. & Brown, D.E. Ecologia Humana. São Paulo:
Atheneu Editora São Paulo, 2002.
Introdução

 3) A idéia de que os ameríndios seriam iguais,


porque são seres humanos, mas, também, seriam
não apenas diferentes, mas desiguais.
Igualdade e Desigualdade
Identidade e Diferença

 Quando se considera o par Igualdade x Diferença


(ou igual x diferente), tem-se à vista algo da
ordem das essências: uma coisa ou é igual à outra
(pelo menos em um determinado aspecto) ou
então dela difere.
Igualdade e Desigualdade
Identidade e Diferença

 Pode-se, no âmbito de certo número de


indivíduos, considerar sua igualdade ou diferença
em relação: ao aspecto sexual, ao aspecto
profissional, ao aspecto étnico, e assim por diante.
Igualdade e Desigualdade
Identidade e Diferença

 A oposição entre Igualdade e Diferença é da


ordem dos contrários: de duas essências que se
opõem.
Igualdade e Desigualdade
Identidade e Diferença

 O contraste entre Igualdade e Desigualdade


refere-se quase sempre não a um aspecto
essencial, mas a uma circunstância associada a
uma forma de tratamento;

 mesmo que essa circunstância aparentemente se


eternize no interior de determinados sistemas
políticos ou situações sociais específicas.
Igualdade e Desigualdade
Identidade e Diferença

 Tratam-se dois ou mais indivíduos com


igualdade ou desigualdade relativamente a algum
aspecto ou direito.

 Conforme sejam concedidos mais privilégios ou


restrições a um e a outro; isso pode ocorrer
independentemente de serem eles iguais ou
diferentes no que se refere ao sexo, à etnia ou à
profissão.
Igualdade e Desigualdade
Identidade e Diferença

 Se for verdade, por exemplo, que as mulheres


podem receber tratamento desigual em relação
aos homens no que concerne às oportunidades de
trabalho, aqui se fala na desigualdade entre os
sexos.
Igualdade e Desigualdade
Identidade e Diferença

 Por outro lado, será, também, possível tratar


desigualmente dois homens, ou duas mulheres,
que em nada difiram em relação a alguns de seus
aspectos essenciais (idade, sexo, profissão etc.).

 Por exemplo, considerem os professores ou as


professoras em seus diferentes estágios da
carreira: Associado Doutor; Livre-Docente;
Adjunto; Titular.
Igualdade e Desigualdade
Identidade e Diferença

 Desigualdade e Diferença não são noções


necessariamente interdependentes, embora
possam conservar relações bem definidas no
interior de determinados sistemas sociais e
políticos.

 Ou seja, nem toda diferença é sinal de


desigualdade.
Igualdade e Desigualdade
Identidade e Diferença
 Por exemplo:

 1) as mulheres podem receber licença


maternidade e os homens;
 2) Terceira idade para as mulheres começa ao 60

anos e para os homens aos 65 (ao menos no


Brasil);
Igualdade e Desigualdade
Identidade e Diferença

 3) O tempo de serviço exigido para se aposentar


entre homens e mulheres é diferente; maior para
os homens;

 4) Considerem todas as discriminações com


relação a atendimentos prioritários e uso de
assentos.
Igualdade e Desigualdade
Identidade e Diferença

 Assim, distintamente da oposição por


contrariedade que se estabelece entre Igualdade e
Diferença,

 a oposição entre Igualdade e Desigualdade é da


ordem das contradições.
Igualdade e Desigualdade
Identidade e Diferença

 Apenas para lembrar reforçar:

 As contradições são sempre circunstanciais. São


geradas no interior de um processo; têm uma
história; aparecem num determinado momento ou
situação; e pode-se dizer que os pares
contraditórios integram-se dialeticamente dentro
dos processos que os fizeram surgir.
Igualdade e Desigualdade
Identidade e Diferença

 Por seu turno, os contrários opõem-se ao nível das


essências. Contrários não se misturam: amor e
ódio; verdade e mentira; igual e diferente; vida e
morte; animal e vegetal; homem e mulher. Dessa
forma fixam muito claramente o abismo de sua
contrariedade.
Igualdade e Desigualdade
Identidade e Diferença

 Cabe ressaltar que, primeiramente, as diferenças


são inerentes ao mundo humano; e também ao
mundo natural.
Igualdade e Desigualdade
Identidade e Diferença

 A ocorrência de diferenças de toda a ordem não


pode ser evitada por meio da ação humana.

 Óbvio, porém não desnecessário, dizer: nem todas


as diferenças são naturais e, muitas, são
construídas culturalmente.

 Por exemplo: preferências alimentares; preferência


por determinadas atividades esportivas etc.
Igualdade e Desigualdade
Identidade e Diferença

 Vale ainda dizer que a ocorrência de diferenças no


mundo social está atrelada à própria diversidade
inerente ao conjunto dos seres humanos.

 Seja no que concerne a características pessoais: sexo,


etnia, idade.
 Seja no que se refere a questões externas:
pertencimento por nascimento a esta ou àquela
localidade, ou cidadania vinculada a este ou àquele
país, por exemplo.
Igualdade e Desigualdade
Identidade e Diferença

 De um modo ou de outro, pode-se prever que


sempre existirão homens e mulheres,
diversificadas variações étnicas, indivíduos de
várias faixas etárias, bem como profissões o mais
diversas.
Igualdade e Desigualdade
Identidade e Diferença

 Mas se pode sonhar que um dia essas diferenças


serão tratadas socialmente com menos
desigualdade.

 Por isso, as lutas sociais não se orientam para


abolir as diferenças, mas sim para abolir ou
minimizar as desigualdades.
Postulado da Desigualdade

 No texto de Todorov, tal Postulado é explícito no


seguinte trecho:

 “a diferença se degrada em desigualdade”.

 É justamente tal postulado que justifica a


dominação dos ameríndios.
Jared Diamond
Postulado da Desigualdade
 Um primeiro documento é o Requerimiento, de
1514.

 A própria existência desse documento já indica


que os espanhóis achavam os índios inferiores, e
Las Casas ao analisar esse documento diz:
 não sabemos “se devemos rir ou chorar diante do

absurdo” do Requerimiento.


Postulado da Desigualdade

 O texto era lido para os habitantes da região que


eles conquistavam e continha uma breve história
da humanidade, com o aparecimento de Jesus
Cristo, o soberano supremo que continha o
universo inteiro sob sua jurisdição, e como ele
transmite seu poder até chegar a um dos últimos
papas, que doou o continente americano aos
espanhóis.
Postulado da Desigualdade
 Os índios ficavam com duas opções de inferioridade: ou
aceitavam uma interpretação de sua própria historia, e a
situação de inferioridade, ou a guerra estava justificada.

 Muitas vezes nem se traduzia o texto para a língua local


e outras vezes, quando se traduzia , não se dava tempo
para os índios responderem e já os levavam prisioneiros.

 Os espanhóis não entendiam como os índios não


compreendiam o texto, pois para os espanhóis aquilo era
uma verdade universal.
Postulado da Desigualdade
 Sepulveda (jurista):

 ”Aqueles que superam os outros em prudência e


razão, mesmo que não sejam superiores em força
física, aqueles são, por natureza, os senhores; ao
contrário, porém, os preguiçosos, os espíritos
lentos, mesmo que tenham as forças físicas para
cumprir todas as tarefas necessárias, são por
natureza servos.
Postulado da Desigualdade

 E é justo e útil que sejam servos, e vemos isso
sancionado pela própria lei divina. Tais são as
nações bárbaras e desumanas, estranhas à vida
civil e aos costumes pacíficos.
Postulado da Desigualdade

 E será sempre justo e conforme o direito natural


que essas pessoas estejam submetidas ao império
de príncipes e de nações mais cultas e humanas,
de modo que, graças à virtude destas e à
prudência de suas leis, eles abandonem a barbárie
e se conformem a uma vida mais humana e ao
culto da virtude.
Postulado da Desigualdade

 E se eles recusarem esse império, pode-se impô-lo


pelo meio das armas e essa guerra será justa, bem
como o declara o direito natural que os homens
honrados, inteligentes, virtuosos e humanos
dominem aqueles que não têm essas virtudes”.
Postulado da Igualdade

 Em Todorov encontramos o expoente do


postulado da igualdade em Las Casas
(dominicano), que vê no indígena (o outro) um ser
com natureza cristã.

 Las Casas vê os índios a partir de um prisma


imediatamente contrário ao de Sepulveda, e por
isso, será seu crítico contundente.
Postulado da Igualdade
 Las Casas é, sobretudo, um cristão-católico.

 Se Sepúlveda podia ser colocado sobre o


patronato de Aristóteles, Las Casas é apresentado
sobre o patronato direto de Jesus Cristo.

 E assim mesmo se apresentou, como é constatável


na citação onde Aristóteles é negado e,
consequentemente, todo o pensamento de
Sepúlveda:
Postulado da Igualdade

 “Adeus, Aristóteles! O Cristo, que é a verdade


eterna, deixou-nos este mandamento: ‘Amarás ao
próximo como a ti mesmo.’ (…) Apesar de ter sido
um filósofo profundo, Aristóteles não era digno
de ser salvo e de chegar a Deus pelo conhecimento
da verdadeira fé”.
Postulado da Igualdade

 Sepulveda defendia uma dominação baseando-se


na inferioridade natural dos índios.

 Ao contrário, Las Casas via os índios como


cristãos em potencial.
Postulado da Igualdade

 A nada podemos atribuir esta visão de igualdade


entre índios e espanhóis senão à intenção destes
de converter os índios.
Postulado da Igualdade
 A percepção um tanto quanto ingênua de Las
Casas quanto aos índios pode ser observada na
forma como ele descreve os nativos.

 Vale-se não-raro de descrições apologéticas,


regadas a idealismos; chegando mesmo a
comparar os índios com o próprio Adão.

 Aos índios imputa adjetivos como: “meigos”,


“pacíficos”.
Postulado da Igualdade

 Faz descrições meramente restritivas como: “são


gente sem defeitos, nem assim nem assado…”.

 Também não faz menção à cultura ou organização


social dos nativos, de forma que, ao descrever
populações muito distintas, espalhadas desde a
Flórida até o Peru, dá-lhes semelhante
caracterização.
Postulado da Igualdade

 Poder-se-ia entender que Las Casas via os índios


como iguais em potencial, o que não significa que
houvesse uma compreensão do outro.

 Mas, muito pelo contrário, demonstra uma,


grande ignorância, no sentido estrito do termo.
Postulado da Igualdade
 Las Casas:
 ”Àqueles que pretendem que os índios são

bárbaros, responderemos que essas pessoas têm


aldeias, vilas, cidades, reis, senhores e uma ordem
política que, em alguns reinos, é melhor que a
nossa. (...)

 Esses povos igualavam ou até superavam muitas


nações e uma ordem política que, em alguns
reinos, é melhor que a nossa. (...)
Postulado da Igualdade

 Esses povos igualavam ou até superavam muitas


nações do mundo conhecidas como policiadas e
razoáveis, e não eram inferiores a nenhuma delas.
Assim, igualavam-se aos gregos e os romanos, e
até, em alguns de seus costumes, os superavam.

 Eles superavam também a Inglaterra, a França, e


algumas de nossas regiões da Espanha. (...)
Postulado da Igualdade
 Pois a maioria dessas nações do mundo, senão
todas, foram muito mais pervertidas, irracionais e
depravadas, e deram mostra de muito menos
prudência e sagacidade em sua forma de se
governarem e exercerem as virtudes morais.

 Nós mesmos fomos piores, no tempo de nossos


ancestrais e sobre toda a extensão de nossa
Espanha, pela barbárie de nosso modo de vida e
pela depravação de nossos costumes”.
Postulado da Igualdade

 Todorov mantém-se razoavelmente isento durante


sua exposição.

 Sua opinião, contudo, emerge a certa altura no


seguinte parágrafo:
Postulado da Igualdade

 “Se é incontestável que o preconceito da


superioridade é um obstáculo na via do
conhecimento, é necessário também admitir que o
preconceito da igualdade é um obstáculo ainda
maior, pois consiste em identificar, pura e
simplesmente, o outro a seu próprio ‘ideal do eu’
(ou a seu eu)”.
Documentos Eclesiásticos Condenando
a escravidão (índios e Negros) [acesso].

 1 - Em 13 de Janeiro de 1435, através da bula Sicut


Dudum, o papa Eugénio IV mandou RESTITUIR À
LIBERDADE os cativos das ilhas Canárias. [acesso].

2- Em 7 de setembro de 1462, o papa Pio II (1458-


1464) deu instruções aos bispos contra os
tratamentos dos negros proveniente da Etiópia
condenando o comércio de escravos como magnum
scelus (grande crime).
Documentos Eclesiásticos Condenando
a escravidão (índios e Negros)

3- Em 1537, o papa Paulo III (1534-


1549), através da bula Sublimus Dei (23


de Maio) e da encíclica Veritas ipsa (9 de
Junho), lembrava aos cristãos que os
índios “das partes ocidentais, e os do
Vencedor ou Victor meio-dia, e DEMAIS GENTES”, eram
SERES LIVRES POR NATUREZA.

4- Em 1571 Tomás de Mercado,


TEÓLOGO DE SEVILHA, declarava
DESUMANA E ILÍCITA A
TRAFICÂNCIA DE ESCRAVOS. Em
sua Summa de TRATOS Y CONTRATOS
, este autor afirmava não haver
justificativa para negócio tão infame.
Documentos Eclesiásticos Condenando
a escravidão (índios e Negros)

 5- O papa Gregório XIV (1590-1591)


publicou a CUM SICUTI (1591)
condenando a escravidão. [acesso p. 108]

6- O papa Urbano VIII (1623-1644),


também se pronunciou contra a
escravidão na COMMISSUM NOBIS
(1639). [acesso pp. 53-54].
 7. COSTA, Ricardo da. A Igreja

Católica e a escravidão Negra. In:


Gazeta do Povo, 02 de fevereiro de
2013 (http://www.ricardocosta.com/artigo/igreja-catolica-e-escravidão) .
Documentos Eclesiásticos Condenando
a escravidão (índios e Negros)
 7- O papa Bento XIV (1740-1758) na Bula IMMENSA
PASTORUM escreveu:

“...recebemos certas notícias não sem gravíssima tristeza de nosso


ânimo paterno, depois de tantos conselhos dados pelos mesmos
Romanos Pontífices, nossos Predecessores, depois de Constituições
publicadas prescrevendo que aos infiéis do melhor -modo possível
dever-se-ia prestar trabalho, auxílio, amparo, não descarregar injúrias,
não flagelos, não ligames, NÃO ESCRAVIDÃO, não morte violenta,
sob gravíssimas penas e censuras
eclesiásticas...”
 [acesso]
Documentos Eclesiásticos Condenando
a escravidão (índios e Negros)

 8- O papa Gregório XVI (1831-1846) ao publicar a


bula IN SUPREMO (1839) condenou a escravidão
da seguinte forma:
 “Admoestamos os fiéis para que se abstenham do

desumano tráfico dos negros ou de quaisquer outros


homens que sejam...”
 [acesso]
Documentos Eclesiásticos Condenando
a escravidão (índios e Negros)

 9- Em 1888, o Papa Leão XIII, na encíclica IN


PLURIMIS, dirigida aos bispos do Brasil, pediu-
lhes apoio ao Imperador (Dom Pedro II) e a sua
filha (Princesa Isabel), na luta que estavam a
travar pela abolição definitiva da escravidão. [
acesso].
Documentos Eclesiásticos Condenando
a escravidão (índios e Negros)

 Detalhe: Houve três papas africanos que vieram


de uma região do norte da África, onde os povos
eram predominantemente negros. Embora não
haja nenhum retrato autêntico destes papas, há
desenhos e referências na Enciclopédia Católica a
respeito de serem africanos. Os nomes dos três
papas africanos são Vencedor ou Victor,
Gelasius, e Melquiades ou Miltiades.
Carta de Pero Vaz de Caminha

 A "Carta do Achamento do Brasil" foi escrita por


Pero Vaz de Caminha em Porto Seguro, entre 26
de abril e 2 de maio de 1500.
Carta de Pio VII a Dom João VI
 “Dirigimos este ofício paterno à Vossa Majestade, cuja
boa vontade nos é plenamente conhecida, e de coração
a exortamos e solicitamos no Senhor, para que,
conforme o conselho de sua prudência, não poupe
esforços para que (…) o vergonhoso comércio de
negros seja extirpado para o bem da religião e do
gênero humano”.
Bula Veritas Ipsa de Paulo III, 1537
 “Pelo teor das presentes determinamos e declaramos
que os ditos índios e todas as mais gentes (…), ainda
que estejam fora da fé cristã, não estão privados, nem
devem sê-lo, de sua liberdade, nem do domínio de seus
bens, e não devem ser reduzidos a servidão”.
Carta de Pio VII a Napoleão Bonaparte
 “Proibimos a todo eclesiástico ou leigo apoiar como
legítimo, sob qualquer pretexto, este comércio de
negros ou pregar ou ensinar em público ou em
particular, de qualquer forma, algo contrário a esta
Carta Apostólica”
Pero Vaz de Caminha
O Manuscrito da Carta de Pero Vaz de
Caminha
22 de Abril de 1500
 22 de abril de 1500 – Descobrimento do Brasil.
 "Neste mesmo dia, a hora de véspera, houvemos

vista de terra! A saber, primeiramente de um


grande monte, muito alto e redondo; e de outras
serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com
grandes arvoredos; ao qual monte alto o capitão
pôs o nome de O Monte Pascoal e à terra A Terra
de Vera Cruz!"
 (Trecho de A Carta de Pero Vaz de Caminha ao

Rei Dom Manuel).


22 de Abril de 1500
 Em 22 de Abril de 1500, Pero Vaz de Caminha conta
em sua famosa carta a El-Rei D. Manoel que Pedro
Álvares Cabral e sua tripulação teriam avistado a
primeira porção de terra da América, chamada de
Monte Pascoal por ter sido vista à época da Páscoa. O
Novo Mundo recebeu o nome de Terra da Santa
Cruz, atualmente conhecida como Brasil.
 Sequer é feriado no país, na data. A forma apagada e,
por que não, esquecida, com a qual a data é vivida
mostra o quanto se quer dar as contas ao nosso
passado. Mas, quem não sabe donde veio, caminha na
vida como barata-tonta, sem eira nem beira.
A Carta de Pero Vaz de Caminha
Encontro com Ameríndios
Carta de Pero Vaz de Caminha
 Parte 1: portugueses e indígenas se encontram pela primeira vez, no
litoral sul da Bahia.

 Parte 2: depois de momentos de hesitação, os dois grupos trocam


objetos, prática que se tornaria uma das mais emblemáticas ao longo
da colonização portuguesa. Os episódios são narrados por Pero Vaz
de Caminha (1450-1500), escrivão da esquadra de Pedro Álvares
Cabral (1467/68-1520) no primeiro registro escrito do país. Ele inclui
muitos outros detalhes da chegada dos portugueses ao Brasil e
revela episódios do cotidiano de personagens que ficaram para a
História, como Cabral e o próprio autor da carta, e de pessoas
comuns - tripulantes dos barcos, por exemplo - à época do
descobrimento.
Carta de Pero Vaz de Caminha

 Enquanto o restante da armada seguiu para a Índia, o


navio de Gaspar de Lemos foi despachado por Cabral
para Lisboa, ao fim da estadia no Brasil, em 2 de
maio. Por meio dele, a carta chegou ao seu
destinatário.

 Das mãos de Dom Manoel 10 passou à secretaria de


Estado como documento secreto, pois se queria evitar
que chegasse aos espanhóis a notícia do
descobrimento.
Em 22 de Abril de 1500
 Em 22 de Abril de 1500, Pero Vaz de Caminha conta em sua
famosa carta a El-Rei D. Manoel que Pedro Álvares Cabral e
sua tripulação teriam avistado a primeira porção de terra
da América, chamada de Monte Pascoal por ter sido vista à
época da Páscoa. O Novo Mundo recebeu o nome de Terra
da Santa Cruz, atualmente conhecida como Brasil.

 Sequer é feriado no país, hoje. A forma apagada e, por que


não, esquecida, com a qual a data é vivida mostra o quanto
se quer dar as contas ao nosso passado. Mas, quem não
sabe donde veio, caminha na vida como barata-tonta, sem
eira nem beira.
A Primeira Missa no Brasil, 26/04/1500 -
quadro de Victor Meirelles. 1860.
 “Nunca será demasiado lembrar que, ao
partir de Lisboa para a Índia, no dia 9 de
março de 1500, Pedro Álvares Cabral não
contava com a eventualidade de descobrir
novas terras a oeste da África e, por esta
simples razão, não trazia consigo nenhum
marco de pedra com os castelos e as
quinas das armas de Portugal. Foi à falta
deste, como narra Pero Vaz de Caminha
em sua carta, que Cabral assinalou o
inesperado descobrimento do dia 22 de
abril com uma enorme cruz, que mandou
confeccionar e erguer no solo onde nasceu
a Terra de Santa Cruz” (Sérgio de
Carvalho Pachá, ex-Lexicógrafo-Chefe
da Academia Brasileira de Letras).
Abertura ao outro: portuguesa e indígena

 Abertura portuguesa,
indígena ao outro – No
caso português, esta
abertura é impulsionada
pela expansão marítima,
conquistas e evangelização
dos povos originários
locais, na África, Ásia e,
principalmente, na
América.

Este expansionismo criou novas


configurações econômicas e novas
configurações histórico-culturais, a
partir dos povos e regiões
conquistados. (Ribeiro, 1995: p.65).
Abertura ao outro: portuguesa e indígena
 No caso indígena, esta
abertura está representada
no cunhadismo, instituição
social indígena que
consistia em incorporar
estranhos à comunidade ao
dar-lhes uma moça índia
como esposa. Deste modo, o
estrangeiro assumia e
estabelecia vários laços que
o aparentavam com todos
os membros do grupo.
Abertura ao outro: portuguesa e
indígena
Exemplos desta abertura, já no século
XVI são: os casos dos portugueses João
Ramalho, que se casou com a índia
Bartira, filha do poderoso cacique
Martim Afonso Tibiriçá (imagem ao
lado), o primeiro índio a ser
catequizado pelo padre José de
Anchieta;
e António Rodrigues, que se casou com

uma filha do cacique Piquerobi, irmão


de Tibiriçá.
As famílias paulistas mais antigas,

chamadas de “quatrocentonas”, têm


ligações com os descentes nascidos dos
Acima, a foto da Estátua de Tibiriçá,
em Santana de Parnaíba/ SP - casamentos apontados anteriormente.
Monumento aos Bandeirantes
Abertura ao outro: portuguesa e indígena

Imagem: Vila São Paulo de Piratininga, 25 de janeiro de 1554.


“A formação de São Paulo e suas personagens” A
“Em 25 de janeiro de 1554, instala-se oficialmente a Casa dos Meninos de São Paulo, assim chamada
por ser o dia da conversão do santo, simbolizada por uma missa regida por Manuel da Nóbrega e
celebrada pelo padre Manuel de Paiva. Era uma choupana humilde, construída pelos índios
tupiniquins, que servia ao mesmo tempo de dormitório, refeitório, cozinha, dispensa, enfermaria e
espaço para realização dos serviços religiosos, comportando cerca de 20 pessoas. Aquecida pelo fogo
sempre aceso no inverno, obrigava, pelo excesso de fumo, a realização das atividades educacionais
com os catecúmenos ao ar livre, onde se tomavam também as refeições à base de farinha de
mandioca, sobre folhas de bananeiras.
A chegada dos jesuítas ao planalto desagradou João Ramalho e os seus. Comprometia seu prestígio e

de sua prole sobre os índios. Viu muito de seus seguidores transladarem de Santo André para as
proximidades do Colégio, inclusive lideranças indígenas importantes. O cacique Tibiriça, batizado
Martin Afonso, instalou-se nas proximidades do Colégio, lá “veio a levantar suas casas onde hoje
está o Mosteiro de São Bento [que] por ele aqui morar chamavam os antigos Rua Martim Afonso, a
que agora se denomina de São Bento”. Exemplo seguido pelo cacique Caiubi, que se instalou pelo
Abertura ao outro: portuguesa e indígena

 A escolha do local foi fundamental para que as populações se


agregassem ao novo sítio por sua localização estratégica. Entre o rio
Tamanduateí (“rio do tamanduá verdadeiro”) e o Ribeirão do
Anhangabaú (“rio do espírito mau”), o planalto de Piratininga (“peixe
seco”) formava uma verdadeira mesopotâmia, completada pelos rios
Pinheiros (recebeu esse nome devido à grande ocorrência de araucárias
nessa região) e Tietê (“caudal volumoso”). O Colégio, berço da futura
vila, “nasceu todo voltado para o leste, para a várzea do Tamanduateí”,
daí descortinando-se um amplo panorama “das planícies, colinas e
distantes serranias floreadas, desde o Cambuci até a Cantareira”. De seu
promontório, acrópole, um lugar livre e descoberto de arvoredos,
poder-se-iam facilmente divisar “as marchas dos exércitos contrários”.

 ARRUDA, José Jobson de Andrade. “A formação de São Paulo e suas


personagens”. In: São Paulo nos Séculos XVI e XVII. São Paulo - Imprensa
Oficial do Estado de S. Paulo: Poiesis, 2011, pp.69-70.
Leitura da Carta
Esquadra de Cabral
Monte Pascoal
Referências Bibliográficas
 BARROS, José D´Assunção. “Igualdade, desigualdade e diferença:
contribuições para uma abordagem semiótica das três noções”. In:
Revista de Ciências Humanas. Florianópolis: EDUFSC, n. 39, p. 199-
218, Abril de 2006.

 CASTRO, Silvio (org.). A Carta de Pero Vaz de Caminha. O


Descobrimento do Brasil. Porto Alegre, L&PM, 1996.

 RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro. A formação e o sentido do


Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

 TODOROV, Tzvetan. A conquista da América. A questão do outro. São


Paulo, Martins Fontes (Cap. III: "Igualdade ou desigualdade": p.175-
201).
Muito Obrigado!

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