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História do Direito

Prof. Matheus Camy Duarte


@mcamyduarte
*4º Semestre de Direito – Faculdade INSTED
Cronograma das aulas

 29/07: Introdução à historicidade do  14/10: A Magna Carta e a Declaração


direito e povos ágrafos e legislação de dos Direitos do Homem e do Cidadão;
Hamurabi;  28/10: Dos Delitos e das Penas e o
 19/08: Retrospectiva da Introdução à direito das ordenações português;
História do Direito e Código de Hamurabi; 
11/11: História do Direito Pátrio;
Código de Manu e Lei das XII Tábuas;
Código de Manu e Lei das XII tábuas;  25/11: 2ª prova institucional;
 02/09: Direito Romano;  09/12: 2ª chamada;
 16/09: 1ª prova institucional;
 30/09: O Alcorão e as influências do
islamismo no direito;
Livros consultados fora do sistema SAGAH

 ALTAVILA, Jayme. Origem dos Direitos dos Povos. 9ª Ed. São


Paulo: Icone. 2001. Pág. 9;

 MACIEL, José Fábio Rodrigues & AGUIAR, Renan. Manual de


História do Direito. 9ª ed. São Paulo: Saraiva. 2019;

 WOLKMER, Antônio Carlos. Fundamentos da história do direito.


Belo Horizonte: Ed. Del Rey. 1996.
A importância da História do Direito

 Desnaturalização da permanência ou evolução (tradição - “sempre foi assim” ou


modificação sempre necessária, desqualificando o que é antigo);
 A história do direito não é uma ciência dogmática, mas zeetética, que questiona o
objeto do estudo sem qualquer limite de normas jurídicas; No entanto, estuda
comumente ordenamentos jurídicos dogmáticos, sendo que não existe
metodologia específica;
 Contexto histórico pode ser dividido em temporal e espacial, referindo-se
respectivamente momento histórico em que o objeto de estudo está inserido, e a
sociedade, cultura e grupo social circunscrito;
“Entender a instituição histórica do positivismo, da racionalidade jurídica, da
propriedade e de tantos outros temas históricos pode proporcionar ao estudioso do
direito visão diferenciada da dogmática jurídica e do direito contemporâneo. Uma
visão livre para refletir sobre os dogmas do direito contemporâneo sem torna-los
amarras à compreensão do fenômeno jurídico.”

 MACIEL, José Fábio Rodrigues & AGUIAR, Renan.


Pág. 33;

“Um povo que não conhece sua História está fadado a repeti-la”

 Edmund Burke;
Povos ágrafos (sem escrita)
 Direito não escrito por definição: necessária memorização das normas para a aplicação
imediata, sem complexidade, o que implica na simplicidade e pouca quantidade de normas;
 Numerosidade: várias sociedades isoladas geograficamente, com direitos distintos
(abstratividade);
 Relativamente diversificados: “numerosas diferenças ao lado de numerosas parecenças”
(Joe Gilissen), pequenas divergências culturais, com soliedariedade clânica e ausência de
responsabilidade individual;
 Impregnados de religião: temor constante dos Deuses, com julgamentos por meio de
ordálias (água envenenada);
 Direitos em nascimento: Sem distinção entre as ciências jurídicas (direito, moral, filosofia,
sociologia, etc.), sem qualquer estrutura jurídica e sem conceitos claros sobre justiça ou
responsabilidade individual;
 Arqueoastronomia;
Outras características

 Costumes: em detrimento de todas as outras fontes de direito – leis, costumes,


jurisprudência, doutrina, analogia, princípio geral do direito e equidade – o costume era a
principal fonte de direito da época, as práticas reiteradas possuíam força normativa (ex.
liderança dos mais velhos ou fortes);
 Normas de caráter geral e permanente: formuladas pela autoridade local, propagadas ou
decoradas por meio de cânticos ou adágios (boi da cara preta – cada macaco no seu galho);
 Sistema precedental: precedentes muito utilizados após o resultado positivo de uma
decisão ou julgamento, de forma repetitiva;
 Organização social por clãs: agrupamento de pessoais vinculadas por meio de um ancestral
em comum, com normas próprias; a vingança poderia ser exercida contra ou por qualquer
membro do clã (solidariedade clânica)
Frutos do direito dos povos ágrafos – Instituições do direito
privado

 Emancipação;
 Casamento;
 Sucessão;

Consequências históricas
 Desenvolvimento social e desigualdade de bens;
 Nascimento do absolutismo e sistema piramidal de hierarquia;
 Origem dos agrupamentos e das primeiras cidades (Nilo: Civilização egípcia, Tigre e Eufrates:
Mesopotâmia);
Código de Hamurabi
(XVIII a.C)
 Criado na Babilônia, cidade mesopotâmica, entre os rios
Tigre e Eufrates;
 Exemplo mais antigo de Leis publicadas;
 Estritamente religioso, com citação direta dos Deuses e
mandamentos divinos (Deus Sol, Schamasch),
conferindo poder ao Imperador Hamurabi;
 Forte influência na doutrina e bíblia cristã;
 Positivação da pena direta ao dano (olho por olho, dente
por dente), que invadia a esfera de terceiros;
 Penas se alternavam de acordo com o nível das castas
(padrinhos do imperador; servidores e escravos);
Código de Manu
(Séc. II a.C e II d.C)

 Manu: Filho de Brahma, o 1º Deus da Trindade do Hinduísmo; considerado por eles como
o mais antigo legislador do mundo; Adão do paraíso indiano;
 Brâmares: que é uma doutrina religiosa que defende transmigração da alma e
reencarnação, tendo como principal exemplo o hinduísmo;
 Coleção de livros bramânicos escrita em sânscrito “védico”, dividida em quatro
compêndios (Mahabharata, o Ramayana, os Puranas e as Leis Escritas de Manu);
 Composto de mais de cem mil dísticos (grupo de dois versos), tendo sido reduzidas e
simplificadas ao longo dos séculos; Leitura inacessível, exaustiva e copiosa;
 Todos os preceitos religiosos estão inscritas no Código
Vedas (sânscrito védico):
Código de Manu
(Séc. II a.C e II d.C)

 Vedas (sânscrito védico): impunha a divisão da sociedade em quatro castas:


*Brâmanes: Sacerdotes;
*Xátrias: Governantes e Guerreiros;
*Vaixás: Mercadores e Artesãos;
*Sudras: Estava a serviço dos demais (servos);
*Párias ou Dálit (subclasse): marginalizados na sociedade (fontes históricas) –
“tarefas que mexem com excrementos. Eles não são nem tocados pelos membros das outras
castas (...)” (Maciel, pág. 84).
Código de Manu
(Séc. II a.C e II d.C)

 Ascenção social completamente vedada socialmente; Casamento fora das castas


impossibilitado;
 Miscigenação entre castas: “A miscigenação aconteceu porque os povos dessa época
acreditavam que o sangue ra transmitido apelas pelo pai, portanto, os homens de castas
superiores podiam desposar livremente as mulheres das castas inferiores, com a recíproca
não sndo verdadeira e cosaionando a pena capital àquele que não respeitasse essa regra”
(MACIEL, pág. 84); (Raça ariana – irã);
 O código previa vida após a morte (reencarnação): no caso se a pessoa cumprisse os
preceitos da Lei de Manu, na próxima vida poderia ascender de casta, mas se caso não
cumprisse as leis poderia reencarnar como um bicho escroto (tabuísmo), como hipótese
desse descumprimento;
Código de Manu
(Séc. II a.C e II d.C)

 Do adultério: Crime de Defloração (art. 364): “O homem que, por orgulho, macula
violentamente uma rapariga pelo contato de seu dedo, terá dois dedos cortados
imediatamente, e merece, além disso, uma multa de seiscentos panas”;
 Do divórcio: Art. 497: “Uma mulher dada aos licores inebriantes tendo maus constumes,
sempre em contradição com o marido, acatada de uma moléstia incurável, como a lepra,
ou de um mau gênio, dissipa o bem, deverá ser substituída por outra mulher”.
Apenas o marido decidia o fim do casamento na sociedade hindu. O homem era o único
titular do direito ao repúdio, e o divórcio ocorreria caso a deficiência fosse somente da
esposa. Como exemplo: desobediência, mau caráter, serventia, tagarelice (takallam),
enfermidade incurável, esterilidade;
Diferença da legislação hamurábica: Privilégio masculino
absoluto; invasão ariana; Superação das ordálias;
Código de Manu
(Séc. II a.C e II d.C)

 Aspectos econômicos (juros): Art. 140: Que ele receba dois por cento de juro por mês
(porém nunca mais) de um brâmane, três de um xátria, quatro de um vaixá e cinco de um
sudra, segundo a ordem direta das classes; (pátrias ou dálit não era mencionados)
Uma pessoa física poderia emprestar dinheiro a juros para outra pessoa física. Esse
empréstimo, porém, deve seguir a ordem direta de suas castas da seguinte forma: a casta
mais poderosa (minoria) paga menos juros e a casta inferior (maioria)paga mais juros;
Da administração da Justiça do Ofício dos Juízes: Concepção do processo administrativo judicial;
Crimes contra a propriedade;
Código de Manu
(Séc. II a.C e II d.C)

 Principais características: delitos sexuais são severamente punidos para se evitar a


miscigenação; mulher sem qualquer liberdade (invasão ariana); castas;
 Características jurídicas: Casamento (encomendado); Divórcio; Adultério; Herança
dividida por castas (Bramares e sudras); Injúria; previsão da coisa julgada e prova
testemunhal; superação das ordálias;
 Privilégios brâmares e institutos do direito: Herança vacante; penas severas contra
ofensores e amenas como réus; “O simples fato de olhar mulher brâmane acarretava pena
de morte para os indivídios das castas inferiores” (MACIEL, pág. 86);
 Curiosidade e aplicabilidade: Como é embasado na sociedade religiosa hindu, o Código de
Manu aborda toda espécie de assunto, desde os puramente legais até os religiosos, receitas
de cozinha e regras sobre como se vestir (cada casta deve utilizar determinada cor de
roupa); Também se puniam as doenças (tuberculose, elefantíase, epilepsia, cegueira, etc).
Budismo
(560 a 480 a.C)

 Budismo: (560 a 480 a.C); Siddhãrta Gautama, pertencente às castas dos brâmanes, originou o
movimento contra o sistema de castas, pregando a igualdade de todos os homens perante Deus;
batizando de homem “Buda”, desperto, iluminado;
 Dharma: doutrina do Carma; tudo que se mantém elevado; doutrina consuetudinária, não escrita;
 Reencarnação em diferentes espécies;
 “Quatro verdades nobres” do Budismo:
1. A vida é sofrimento;
2. O sofrimento é fruto do desejo;
3. Ele acaba quando termina o desejo;
4. Ele é alcançado quando se segue os ensinados pelo Buda;
Egito
(3.000 a.C)

 História de quarenta séculos;


 Absolutismo faraônico, concentração de todo poder político e religioso, divindade
encarnada;
 “apesar de nenhum código ter sido até hoje encontrado, os costumes parecem ter sido
rapidamente superados pelo direito escrito, promulgado pelos faraós, como a principal
fonte do direito egípcio” (MACIEL, pág. 19);
 Tutela administrativa do reino: Funcionalismo considerável; “Conselho de Ministros”
(visir) visando governar cidades distantes, descentralizando o poder – “Os funcionários
eram agrupados em departamentos específicos, como finanças, registros, domínios, obras
públicas, irrigação, culto, intendência militar, etc.”
Egito
(3.000 a.C)

 Organização do “Judiciário” considerável: Tribunais organizados pelo rei, com processos


escritos parcialmente em hieróglifos (olho de hórus); Junto a cada Tribunal estava instalada
uma chancelaria, encarregada da conservação dos atos judiciários e dos registros de estado;
Egito
(3.000 a.C)

 Direito consuetudinário: “Vale ressaltar que nenhum texto legal do período natigo do Egito
chegou ao conhecimento do homem moderno. No entanto, são inúmeros os excertos de
contratos, testamentos, decisões judiciais e atos administrativos encontrados até o
momento. Some-se a isso a grande quantidade de referências indiretas às normas jurídicas
em textos sagrados e narrativas literárias” (MACIEL, Pág. 69).
Egito
(3.000 a.C)
 Principais institutos:
a) Códigos não escritos (“Conselho da legislação” – família real, sacerdotes, nobres e
escribas):
b) Contratos: direito privado; celebrados livremente entre os cidadãos; necessariamente
escritos; os escribas validavam os documentos publicamente, percursores da nossa atual
escritura pública; conservação de docs. de venda, arrendamento, doação e fundação
conservados até hoje;
c) Família: Não havia solidariedade clânica entre os egípcios, apesar da divisão entre classes
sociais; núcleo familiar bem preservado; marido e mulher eram colocados em pé de igualdade;
sem direito a primogenitura entre os filhos; emancipação;
Egito
(3.000 a.C)
 Testamento: a liberdade de testar era total, salvo a reserva hereditária a favor dos filhos;
 Coisas: todos os bens, imóveis e móveis, eram alienáveis, com o predomínio da pequena
propriedade e grande mobilidade de bens;
 Penal: amenização de penas cruéis e da pena capital, visando preservar a mão-de-obra;

*Regime Senhorial (V dinastia): grande retrocesso do sistema organizacional; regime


economia fechada instalado; separação das províncias; ingerência no sistema administrativo
(corrupção dos sacerdotes); reforço do poder paternal e marital e desigualdade no domínio das
sucessões;
Questão 1

 3. Nas Sociedades Antigas o Direito era intimamente ligado às crenças espirituais, por isso ___.
Marque a opção que melhor completa o enunciado.
A. o Direito de algumas sociedades se tornou Religião;
B. esse Direito encontra-se ainda em uso;
C. o Direito delas fracassou e não evoluiu;
D. as Sociedades atuas abandonaram a influência da Religião;
E. Temos atualmente tantos conflitos religiosos;

JUSTIFICATIVA: Os Direitos Islâmico, Hebraico e Hindú tanto deram certo que se transformaram em
religiões que são seguidas até os dias de hoje. Não evoluíram modernamente como Direito devido aos
eventos políticos que ocasionaram na separação entre Estado e Religião, mas não devido ao fato de seus
preceitos divinos terem lhes levado ao fracasso. Tanto é que continuam influenciando fortemente o Direito
atual, que na prática não consegue uma total desvinculação da Religião.
Questão 2
A história do Egito Antigo é dividida em diferentes períodos e essa periodização reproduz uma tabela de dinastias
encontrada em escavações arqueológicas. Ainda que tenha havido algumas mudanças sociais durante o Antigo, o
Médio e o Novo Império, outras estruturas permaneceram as mesmas.Sobre a sociedade egípcia, assinale V
(verdadeiro) ou F (falso) para as seguintes afirmações:
( F ) A sociedade egípcia era matriarcal, pois as mulheres tinham os mesmos direitos que os homens e havia faraós
mulheres.
( F ) O faraó tinha um mandato de quatro anos e todos os cidadãos homens e livres podiam votar e se candidatar ao
cargo máximo na estrutura política egípcia.
( V ) O poder político se concentrava na figura do faraó, mas os nomarcas também eram figuras importantes na
administração política e tiveram protagonismo durante os períodos de enfraquecimento do poder faraônico.
( V ) Os deuses e os rituais religiosos faziam parte do cotidiano dos egípcios, que acreditavam na vida após a morte e
na sacralidade de alguns animais.
RESPOSTA: A) Ainda que as mulheres tivessem um status diferenciado na sociedade egípcia, em comparação com
outros povos da antiguidade, esse fato não é suficiente para afirmar que se tratava de uma sociedade matriarcal. O
faraó tinha mandato vitalício e não era um cargo elegível. Durante os períodos em que o poder faraônico se viu
enfraquecido, os nomarcas readquirem prestígio em suas comunidades. Por fim, a religião tinha um papel estruturante
na antiguidade egípcia, sociedade que acreditava na vida após a morte e considerava certos animais sagrados.
Questão 3

 Qual a justificativa para se dividir a sociedade hindu em castas, e qual a volatilidade do


referido regime?

RESPOSTA: “Foi principalmente a necessidade de consolidar o poder que levou os arianos a


instituir o regime de castas, o mais rígido da humanidade, que divide as pessoas em classes
sociais específicas, não havendo de modo algum mobilidade social”;
Questão 4

 Quais as principais diferenças entre a legislação hamurábica e a hinduísta? As alterações podem


ser tratadas como evolução?

RESPOSTA: As três basilares diferenças recaem: i) no tratamento dado à mulher que, depois da
conquista ariana do território atual da Índia, foi submetida completamente aos caprichos do sexo
masculino, sobretudo a culpabilidade em razão do divórcio e adultério; ii) na confiança às penas
estatais e na extinção das ordálias, com punição aplicada diretamente pelo reis e os delegados
brâmanes; iii) a positivação poética e esdrúxula dos termos legais, que dificultavam a sua aplicação
prática;
Ambos os direitos não podem ser correlacionados no quesito de superioridade, não havendo qualquer
evolução ou retrocesso entre os referidos ordenamentos, em razão da natureza zeetética da história do
direito. Não evoluíram ao conceito hodierno do direito em razão da falta de separação entre Estado e
Religião durante a história;

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