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TEXTO 4.

A GLOBALIZAÇÃO
PENSADA A PARTIR DO ESPAÇO
GEOGRÁFICO
ARROYO, Mônica. A globalização pensada a partir do
espaço geográfico. In: Anais ANPEGE (Associação
Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia),
Curitiba, 2009.

REGIONALIZAÇÃO DO ESPAÇO MUNDIAL.


PROFESSOR IAPONY RODRIGUES GALVÃO
 A Globalização, segundo Milton Santos, é a interação de três
dados históricos sistematizados por Milton Santos (1994;
1996; 2000): a) A unicidade do tempo ou convergência de
momentos; b) a unicidade da técnica pelo espaço mundial; c)a
unicidade do motor (mais-valia é mundial);

 E para a Geografia, o atual momento histórico faz parte de


uma Unicidade Empírica, pois pela primeira vez pode-se
enxergar o mundo sem precisar sair do lugar, unindo o
universal e o particular, uma vez que em qualquer lugar pode-
se perceber a simultaneidade de eventos que acontecem no
mundo e entender interdependente o significado.

 E isso tudo acontece pela hegemonia do atual meio técnico-


científico-informacional, onde há uma integração eletrônica
dos territórios (CASTILLO, 1999; DIAS, 2005). Se a Internet
permite um acesso ao mundo, embora de forma fracionada,
teremos o mundo no lugar através de objetos como o celular,
que o ser humano carrega aonde ele estiver.
 Para Milton Santos (2002, p.99), “a constituição do território é um dado
essencial na produção da história, nessa era da globalização (...) não
basta proclamar que o espaço (...) existe como um dado inseparável da
vida social.

 E para Milton Santos (2002, p.99), “lugares e regiões tornam-se tão


fundamentais para explicar a produção, o comércio, a política, que se
tornou impossível deixar de reconhecer seu papel na elaboração do
destino dos países e do mundo”.

 Hoje há grandes possibilidades de discutir as dinâmicas atuais do


espaço geográfico, havendo três tendências: (1) O aprofundamento do
processo de concentração e centralização do capital intensifica o uso
corporativo do território; (2) O processo de financeirização tornam mais
vulneráveis os territórios e (3) Uma divisão do trabalho baseada na
regulação;

1. O aprofundamento do processo de concentração e centralização do


capital intensifica o uso corporativo do território

 As mudanças tecnológicas e transformação institucional dos grandes


grupos tornaram comuns fusões e associações de empresas de
 E essa expansão de grandes firmas oligopólicas nos setores
produtivo e financeiro modificaram a geografia mundial, com a
consolidação de um espaço integrado da empresa além das
fronteiras nacionais, tornando mais difícil associar claramente
o nome de uma empresa a um país de origem.

 Mas há uma interdependência das empresas com os Estados.


Em vez de diminuir o poder dos estados, as empresas
possuem uma relação simbiótica com os mesmos.

 Os estados precisam da acumulação de capital em seu


território que garantam aos mesmos a base material de seu
poder e as empresas precisam que o Estado proporcione
condições para que as mesmas possam reproduzir o capital.

 A competitividade das empresas, além de incluir os atributos


inerentes aos lugares, depende das diferenças nas legislações
nacionais, apoio governamental para a produção, como
subsídios, diminuição de impostos, pesquisas da Universidade.
 E sobre a pesquisa universitária, é evidente que na maioria das
nações capitalistas os institutos de pesquisa são, em geral,
ligados ao estado (Brasil, Estados Unidos, Coréia do Sul, etc).

 As empresas multinacionais, hoje muito mais transnacionais


ou mesmo globais, não poderiam operar uma economia
mundial diretamente sem o financiamento e apoio do estado.

 Assim, há uma economia internacional, aberta e


interdependente, com uma crescente força política dos
grandes grupos econômicos para definir o uso do território. E
como afirma Santos (1994, p.148), “ as firmas hegemônicas,
com sua influência no Estado, mudam as regras do jogo e da
economia e mesmo da sociedade de acordo com sua imagem”.

 Hoje, a Divisão do trabalho entre os territórios se confunde


com a divisão do trabalho das transnacionais. E a divisão
internacional do trabalho que os estados tratam de modelar
segundo seus interesses específicos superpõe-se a divisão
 A Empresa-rede é uma forma organizativa que é contrária a da
grande empresa estruturada de acordo com os princípios da
integração vertical (estrita divisão técnica e social do trabalho
dentro da firma e gestão funcional hierárquica).

 E a organização da rede pode ser visualizada no Toyotismo, na


terceirização, nas franquias, na subcontratação de serviços em
uma grande empresas (CASTELLS, 1999).

 Mas as multinacionais ainda existem, em meio as


transnacionais, pois as redes se organizam a partir de alianças
e colaboração entre grandes empresas. Mesmo hoje as
empresas inseridas em diferentes territórios não quer dizer
que deixaram de exercer controle sobre os mercados.

 E Milton Santos destaca que a unicidade técnica, por ser


característica da atual globalização, leva as empresas globais a
fragmentarem a produção, uma vez que a técnica hegemônica
e única está presente por todo o planeta.
 Assim, se a produção é fragmentada tecnicamente, há, por outro lado,
unicidade política de comando, pois as empresas comandam as
respectivas operações dentro de sua respectiva topologia, isto é,
conjunto de lugares de sua ação, pois a ação dos estados e instituições
supranacionais não bastam para impor uma ordem global (SANTOS,
2000, p.26).

 Logo, o mapa econômico atual é a justaposição entre a dinâmica das


empresas globais e dos territórios nacionais, com novas hierarquias
instaladas sobre as antigas.

 O PROCESSO DE FINANCEIRIZAÇÃO TORNA MAIS VULNERÁVEL OS


TERRITÓRIOS

 Na atual fase do capitalismo, a acumulação de capital advém da


centralização do capital financeiro na própria esfera financeira, fazendo
com que os títulos financeiros possam garantir rentabilidade e liquidez
em curto prazo.

 E o Meio Técnico-Científico-Informacional faz com que o sistema


financeiro possa ser operado e comandado a qualquer distância. E os
grupos industriais investem na bolsa para, além de reservar capital,
 E mesmo os funcionários públicos e privados passam a investir em
diferentes fundos (financeiros, de pensão, aposentadoria), para
aumentar suas rendas financeiras e sua riqueza.

 Assim, a transferência efetiva das riquezas para a esfera financeira, seja


em investimento em bolsa, fundos financeiros ou compra de dívida
pública, leva a operações completamente baseada em lucros puramente
financeiros, não havendo, entretanto, investimentos produtivos. Assim,
há uma riqueza especulativa, parasitária, que não gera um valor real.

 E com a redução do dinheiro real para investimento real, há retração do


emprego e do mercado interno, tornando os territórios nacionais mais
vulneráveis ao capital financeiro global. Quando se retira do território
esses investimentos financeiros, retira-se também a possibilidade de
investir em infraestrutura, saúde, educação, saneamento, crédito
agrícola.

 E essa força do capital financeiro tornou-se mais evidente nos anos


1990, com o auge do período neoliberal (“estado mínimo”), inserindo os
territórios latino-americanos nos fluxos do grande capital.

 E crises, como as ocorridas em 2008, tornaram-se mais frequentes,


UMA DIVISÃO DO TRABALHO NA REGULAÇÃO

O enfraquecimento dos Estados territoriais significaria,


aparentemente, uma vitória total da economia sobre a política.
Entretanto, há vários agentes econômicos fazendo política, em
especial as grandes empresas, cuja política se impõe sobre as
dos estados (a bancada ruralista no congresso, por exemplo).

E para entender a ação política das grandes empresas, é


importante entender a influência das mesmas para produzir
normas (as leis no congresso, por exemplo). Há uma parcela
técnica da produção que é influenciada pela parcela política da
produção (SANTOS, 1994a, 1996).

As normas externas que expressam a política dos grandes


grupos empresariais se redefinem de forma permanente. E as
tensões nos territórios decorrem de um complexo processo de
relação entre empresas e Estados (relações políticas e
econômicas).
 É nesse contexto que se definem as relações de cooperação e
conflito no território, como a Guerra Fiscal, a qual representa
uma “Guerra de lugares”. Esses incentivos as empresas nem
sempre atraem os empregos e a renda prometidos ao lugar.

 Em resumo, a regulação do território nacional depende de uma


ação interelacionada entre Estados e Empresas, num processo
que também interelacionada o econômico e o político.

 A política, na atualidade, está em diferentes formas de


Governabilidade em diferentes níveis (internacional, nacional e
regional), erodindo o monopólio da função de governabilidade
por parte do Estado-Nação (regulação hibrida do território,
realizada pelo Estado e pela Empresa, simultaneamente).

 Os blocos econômicos (MERCOSUL, ALCA, União Europeia) são


propostas políticas de origem intergovernamental que ampliam
os mercados nacionais, num espaço configurado a partir das
relações de cooperação e conflito, com a política, a moeda, o
mercado financeiro e as leis se territorializando além das
 Já as organizações governamentais são agências que operam como
regimes de regulação internacional e, embora criadas por grupos de
Estados, possuem suas redes de influência e seus meios de ação
próprios (Ex: ONU, FMI).

 As Organizações Não-Governamentais (ONGs) não estão atribuídos a


Estados, se autogovernando por regras próprias, possuindo
organização e mobilização que vai além do que é realizado pelo
próprio estado, pressionando o mesmo para determinadas ações, em
especial nas politicas sociais.

 E David Harvey (2008, p.199), afirma que há o surgimento de


culturas opositivas dentro e fora do sistema de mercado, rejeitando
as práticas neoliberais, como sindicatos, federações, cooperativas,
que lutam pela terra, como é o caso do Movimento dos
Trabalhadores sem Terra (MST) ou possuem atuação urbana, como é
o caso do Movimento dos Trabalhadores sem teto (MTST), lutando
por seus direitos.

 E essas forças sociais, em suas diferentes expressões e formas de


organização, possuem ligações territoriais por debaterem, em suas
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A construção dessa base material sofisticada, é possível na


atualidade dado a intensa cientifização, tecnificação e
informatização de cada fração do território, promovida
fundamentalmente pela busca de maiores lucros a escala
planetária por parte das empresas transnacionais, favorecendo o
uso corporativo do território.

E na atual sociedade pluralizada, onde a economia política do


espaço vira o espaço político da economia, que acumula sobre a
diferença, a regulação espacial deve falar a linguagem da
diferença e do hibrido (hibrido = diferentes combinações)

E a negociação permanente com a reivindicação dos direitos das


pessoas podem levar a pensar em uma outra globalização.

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