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INTOXICAÇÃO POR

Rodolfo Nunes

MERCÚRIO
MERCÚRIO
• O mercúrio é um metal pesado, de cor branco-prateada, de número atômico 80 na tabela periódica,
sendo o elemento que vem logo após o ouro, localizado no grupo 12, 6º período.
• É o único metal líquido em temperatura ambiente, sendo um bom condutor de eletricidade – mas não de
calor.
• Se solidifica a -38,83 °C e ferve a 356,73 °C (é bastante volátil), possuindo uma densidade de 13,69
g/cm3 no estado líquido – mais de 13 vezes mais denso que a água!
• O símbolo Hg vem da palavra em latim, Hydrargyrum, em si uma forma da palavra hydrargyros em
grego antigo.
• Essa palavra significa “água-prata”, uma alusão ao fato de ser um líquido de cor prateada.
• O nome mercúrio foi dado pelos antigos romanos em homenagem ao deus Mercúrio, por conta de sua
velocidade e mobilidade
MERCÚRIO
• O mercúrio, único metal que se apresenta em estado líquido sob condições normais de temperatura e
pressão no ambiente, apresenta-se em três formas, denominadas “espécies”: mercúrio elementar, mercúrio
inorgânico e mercúrio orgânico.
• O mercúrio metálico é um líquido a temperatura ambiente usado em termômetro, amálgama
odontológico, lâmpada fluorescente, interruptor elétrico, mineração e em alguns processos industriais.
• Os compostos inorgânicos de mercúrio são formados quando o mercúrio combina-se com outros
elementos, como cloro, enxofre e oxigênio, formando compostos ou sais, e podem ocorrer naturalmente
no ambiente.
• Os compostos orgânicos de mercúrio são formados quando o mercúrio combina-se com carbono.
• Em decorrência de suas características como lipossolubilidade, possibilidade de atravessar as barreiras
hematoencefálica e placentária, e efeito teratogênico, os compostos organomercuriais são os mais
relevantes do ponto de vista toxicológico.
COMPORTAMENTO NO AMBIENTE
• As atividades antropogênicas são as principais fontes de contaminação do ambiente.
• Uma vez liberado, o mercúrio permanece no ambiente, onde assume diversas formas químicas.
• As emissões para o ar ocorrem principalmente na forma de mercúrio elementar, que é muito estável e
pode permanecer na atmosfera por muito tempo, possibilitando seu transporte a longas distâncias.
• O vapor de mercúrio presente na atmosfera pode se depositar ou ser convertido na forma solúvel
retornando à superfície terrestre nas águas da chuva.
• O metal pode ser convertido novamente em vapor de mercúrio e retornar à atmosfera, ou ser
"metilado" por microrganismos presentes nos sedimentos da água, se transformando em metilmercúrio
(MeHg), o qual pode ser bioconcentrado em animais e acumular-se na cadeia alimentar.
APLICAÇÕES DO MERCÚRIO
• Fabricação de instrumentos científicos de medição com termômetros, barômetros e manômetros, além
de ser empregado em dispositivos eletroeletrônicos como relays, chaves (switches), válvulas, sinais
luminosos e lâmpadas fluorescentes e de vapor de mercúrio.
• Na produção de produtos químicos como o hidróxido de sódio e o cloro, e na fabricação de amálgamas
(ligas de mercúrio) para restauração dentária.
• Por se ligar facilmente a outros metais, constituindo amálgamas, é empregado também na mineração
de ouro e prata, pois dissolve os metais nobres contidos em minérios, permitindo sua fácil extração.
• Infelizmente esse uso contribui em muito para a contaminação do meio ambiente, principalmente
corpos d´água e do solo.
• É extremamente corrosivo para o alumínio, sendo inclusive proibido seu transporte em aeronaves, por
conta do risco de vazamento que pode levar à corrosão de partes da fuselagem!
APLICAÇÕES DO MERCÚRIO
• Também encontra uso como antisséptico e agente antifúngico, na forma de Tiomersal ou Timerosal
(C9H9HgNaO2S), que era comercializado como Mertiolate.
• Usado como conservante em vacinas e em outros produtos, como testes de alergia e tintas para
tatuagens.
• O mercúrio forma diversos compostos úteis combinado com outros elementos.
• Por exemplo, o cloreto de mercúrio (HgCl2) é um sal (muito venenoso) que já foi bastante empregado
para desinfetar feridas.
• O sulfeto de mercúrio (HgS) é usado desde os tempos antigos para fabricar um pigmento vermelho
para tintas chamado vermelhão.
• Finalmente, o óxido de mercúrio (HgO) é empregado na construção de baterias de mercúrio.
MINERAÇÃO E PRODUÇÃO DO MERCÚRIO
• O mercúrio é um metal raro na crosta
terrestre, podendo ser encontrado em
forma pura (metal nativo, muito raro), ou
em minérios como o cinábrio, esfalerita,
corderoíta, livingstonita e outros.
• O minério mais comum é o cinábrio, um
sulfeto de mercúrio de fórmula HgS, que
contém 86,21% de mercúrio por peso.
• O nome cinábrio vem do Persa e significa
“sangue de dragão”, uma alusão à sua cor
vermelha profunda.
MINERAÇÃO E PRODUÇÃO DO MERCÚRIO
O metal é obtido aquecendo o minério cinábrio em uma corrente de ar e condensando o vapor
liberado.
As reações envolvidas no processo são:
2HgS + O2 → 2HgO + 2SO2
Nesta etapa são formados dióxido de enxofre e óxido de mercúrio, que na próxima etapa se
decompõe espontaneamente na temperatura em que ocorre a reação, liberando gás oxigênio e
deixando para trás o mercúrio metálico:
2HgO → 2Hg + O2
MINERAÇÃO DE OURO
• Um dos processos mais antigos de separação do ouro é o processo de amalgamação. Esse processo se baseia
no fato de que o mercúrio forma ligas metálicas facilmente com alguns outros metais, principalmente com o
ouro.
MINERAÇÃO DE OURO
• Nos tempos dos antigos Romanos o minério cinábrio, era empregado para obtenção do mercúrio por meio
de destilação. O mercúrio assim obtido era misturado com minério de ouro triturado, e a amálgama
formada era retirada da mistura. Logo após, a amálgama era destilada, com o mercúrio evaporando e
deixando para trás o ouro puro.
• O mesmo era feito com a extração de prata e platina.
• Não é necessário ressaltar que esse é um método inacreditavelmente perigoso de extração do ouro, por
envolver a criação deliberada de grandes quantidades de vapor quente de mercúrio.
• E essa técnica foi extensivamente usada pelos espanhóis no Novo Mundo, que forçavam os Incas e outros
nativos do Peru, Bolívia e outros locais na América do Sul a trabalharem no “refino” do ouro e prata – e
deixando muitos mortos no processo.
PROIBIÇÃO DE USO
A partir de 1º de janeiro de 2019, estará proibida, em todo o território brasileiro, a
fabricação, importação e comercialização dos termômetros e medidores de pressão que
utilizam coluna de mercúrio para diagnóstico em saúde, assim como o uso desses
equipamentos em serviços de saúde, que deverão realizar o descarte dos resíduos sólidos
contendo mercúrio, conforme as normas definidas pela Anvisa (RDC nº 306/2004) e
Órgãos Ambientais (Federal e Estadual). Essa proibição é resultado da Convenção de
Minamata, tratado internacional que visa a eliminação do uso de mercúrio em
diferentes produtos como pilhas, lâmpadas e equipamentos para saúde, entre outros, do
qual o Brasil é signatário .
PAPEL BIOLÓGICO E TOXICIDADE DO MERCÚRIO
• O mercúrio não possui papel biológico em animais, incluindo seres humanos, e na verdade pode ser
extremamente tóxico se ingerido, principalmente na forma de sais ou compostos orgânicos
(organometálicos), ou se seus vapores forem inalados, podendo causar intoxicações graves, problemas
neurológicos e até mesmo a morte.
• O metal pode inclusive ser absorvido pela pele, e portanto seu manuseio deve ser feito com muita
cautela e usando EPIs adequados.
• O metal age como um veneno cumulativo, e níveis perigosos podem ser atingidos em um organismo a
partir da exposição contínua.
• Isso ocorre comumente na cadeia alimentar marinha, onde peixes contaminados por mercúrio são
consumidos por peixes maiores, e assim sucessivamente, até que sejam consumidos por seres
humanos, podendo se acumular no nosso organismo também e causar doenças graves.
EXPOSIÇÃO HUMANA E EFEITOS À SAÚDE
• Alguns microrganismos e processos naturais podem alterar o mercúrio no ambiente
de uma forma para outra. A alteração de compostos orgânicos de mercúrio para o
metilmercúrio merece destaque devido à sua característica de bioacumulação em
peixes de água doce e salgada, além de mamíferos marinhos atingindo níveis
superiores aos encontrados no ambiente.
• A maioria das pessoas tem quantidades-traço de mercúrio nos tecidos, porém a
quantidade de metilmercúrio (MeHg) é a de maior interesse para a saúde humana já
que é rapidamente e muito absorvido (cerca de 95%) no trato gastrointestinal, sendo
distribuído no corpo e atravessando facilmente as barreiras placentária e
hematoencefálica.
EXPOSIÇÃO HUMANA E EFEITOS À SAÚDE

• O consumo de grandes quantidades de metilmercúrio (MeHg) durante semanas ou meses


pode causar dano no sistema nervoso, em áreas sensoriais e de coordenação, com o
surgimento de formigamento nas extremidades e ao redor da boca, falta de coordenação e
diminuição do campo visual.
• Crianças nascidas de mães contaminadas com MeHg apresentaram anormalidades no
desenvolvimento e paralisia cerebral.
• A inalação de altas concentrações de vapor de mercúrio metálico pode causar rápido dano
aos pulmões. A inalação crônica de baixas concentrações dos vapores pode produzir
distúrbios neurológicos, problemas de memória, erupções cutâneas e insuficiência renal.
POPULAÇÃO DE RISCO

• Determinados grupos populacionais merecem especial atenção no que se refere à


exposição ao mercúrio pelo fato de possuírem maiores probabilidades de exposição a
níveis perigosos do mercúrio ou, em função de serem portadoras de condições
biológicas ou patológicas, podem exacerbar os efeitos da intoxicação.
• Entre eles estão os trabalhadores expostos ocupacionalmente ao mercúrio; as
populações vizinhas a fontes de poluição por mercúrio; as populações de regiões com
contaminação por mercúrio (em especial as ribeirinhas e indígenas) que têm o
pescado como fonte principal de proteínas; as gestantes, lactantes e crianças.
POPULAÇÃO DE RISCO
• A exposição ocupacional está ligada ao ambiente de trabalho, como mineração e
indústrias geralmente associadas aos garimpos, fábricas de cloro-soda e de lâmpadas
fluorescentes. Trata-se de uma contaminação pelas vias respiratórias, que atinge o
pulmão e o trato respiratório, podendo ser identificada e quantificada pela dosimetria
do mercúrio na urina.
• A exposição ambiental, por sua vez, é provocada pela dieta alimentar, comumente
pela ingestão de peixes, e afeta diretamente a corrente sanguínea, provocando
problemas no Sistema Nervoso Central.
POPULAÇÃO DE RISCO
• Dentre as populações que sofrem o maior impacto relacionado à contaminação
ambiental por mercúrio estão aquelas que se alimentam de peixes contaminados por
mercúrio, especialmente as comunidades ribeirinhas, incluindo aí as indígenas.
• Merecem destaque as populações ribeirinhas da Bacia Amazônica, dependentes do
consumo de peixe, que pode ser de aproximadamente 200 gramas por dia.
• O limite máximo de mercúrio total estabelecido pela WHO em peixes (0,5 µg/g) deve
ser usado considerando uma ingestão máxima de 400 gramas semanais de peixe e/ou
produtos de pescado.
POPULAÇÃO DE RISCO
• Gestantes, lactantes e recém-nascidos apresentam determinadas particularidades. Por atravessarem
a barreira placentária, os compostos orgânicos de mercúrio da mãe são transportados ao feto.
• Oxidam-se no sangue do embrião e, sem possibilidade de eliminação, podem causar sérios danos,
principalmente em nível neurológico.
• Durante a lactação, o mercúrio transportado pelo leite materno sofre intensa absorção pelo
organismo dos bebês. Seu rim imaturo promove uma baixa excreção do contaminante que atinge
altas taxas de concentração.
• O desenvolvimento incompleto da barreira hematoencefálica faz com que grande proporção do
contaminante atinja o cérebro, perturbando o desenvolvimento do Sistema Nervoso Central.

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