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Ruy Belo

Poema
«E tudo era possível»
2

Na minha juventude antes de ter saído


da casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido

Chegava o mês de maio era tudo florido


o rolo das manhãs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida como se ela houvesse acontecido

E tudo se passava numa outra vida


e havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer

Só sei que tinha o poder duma criança


entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível era só querer
3

«E tudo era possível»

INFÂNCIA/JUVENTUDE
Pretérito

imperfeito
POSSIBILIDADE

Passado
Ausência de limites impostos

à imaginação: o sonhador vivia
INFÂNCIA
a vida que sonhava
E JUVENTUDE

Dicotomia evidenciada «era só ouvir o sonhador falar /


no poema: da vida como se ela houvesse
PASSADO ≠ PRESENTE acontecido» (vv. 7-8)

«Na minha juventude» Depois «de ter saído /


(v. 1) da casa de meus pais» (vv. 1-2)
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«Na minha juventude antes de ter


saído da casa de meus pais […]» VIDA ADULTA
(vv. 1-2)
INFÂNCIA/ PRESENTE
JUVENTUDE 
PASSADO
O eu Tempo

contactava desencantado
Felicidade
com o mundo e nostálgico
Harmonia
através 
Entusiamo
dos livros A felicidade
Sonho
e do sonho e a confiança
Confiança
desapareceram

POSSIBILIDADE A vontade e a realidade


«e tudo
 estavam mais próximas:
era possível»
AUSÊNCIA DE LIMITES «era só querer» (v. 14)
5

Thomas Cole, A viagem da vida: juventude, pormenor (1842).

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