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A História da Saúde Mental: Do antigo

ao contemporâneo
PABLO VALENTE 6 COMENTÁRIOS
OUTROS TÓPICOS DA SAÚDE MENTAL
Engana-se quem pensa que a saúde mental data apenas do período que
conhecemos como período contemporâneo/atual.
Desde muitos anos, antes mesmo de conhecermos a ciência que se desenvolveu
sob o nome de psicologia, tem-se que diferentes sociedades já pensavam sobre
isso, discutiam sobre essas questões, na medida em que observavam pessoas
apresentando comportamentos distintos daqueles considerados “comuns”.
Várias coisas mudaram desde então, dentre elas a maneira de se olhar para estes
em estado de sofrimento psicológico, a forma como se lidar com eles e como
trata-los de acordo com suas necessidades, experiências, objetivos e
pertencimento dentro da sociedade.
As nuances da saúde mental dentro da história do mundo e da humanidade foram
muitas – suas mudanças – e são sobre estas raízes históricas que iremos conversar
um pouco no texto da matéria de hoje.
PERÍODO NEOLÍTICO e
MESOPOTÂMICO (8000 a.C. –
5000 a.C.)

• Inicialmente, aquilo que se sabe a respeito da


saúde mental dos nossos mais antigos
antepassados seria que suas hipóteses sobre
questões mentais estariam frequentemente
caracterizadas como o resultado de crenças de
que causas sobrenaturais como possessões
demoníacas, maldições, feitiçaria e até mesmo
deuses vingativos, estariam por trás dos
incomuns sintomas.
• Descobertas antropológicas datadas de 5000 a.C.
mostraram evidências de que os humanos do
período neolítico acreditavam que a abertura de
um buraco no crânio permitiria que o espírito
maligno (ou espíritos) que habitava a cabeça dos
enfermos mentais fosse libertado, curando-os
assim de suas aflições.
PERÍODO NEOLÍTICO e
MESOPOTÂMICO (8000 a.C. –
5000 a.C.)

• Notavelmente, o processo não era fatal. Como


alguns crânios teriam mostrado sinais de
recuperação, os pesquisadores acreditariam que
esses indivíduos poderiam ter sobrevivido aos
processos de “cura”, vivendo anos mais depois.

• Apesar da técnica rude, a abertura duraria


séculos, usada como tratamento para uma série
de condições diferentes: fraturas de crânio,
enxaquecas e enfermidades mentais.

• Com o tempo, as ferramentas seriam


gradativamente aprimoradas para serras de crânio
e os exercícios, desenvolvidos com a finalidade
exclusiva de “tratamento”.
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• Os xamãs, por outro lado, recorreriam a ameaças e até


punições caso os métodos ritualísticos não tivessem
sucesso em mudar o comportamento de um membro
da tribo, dado o reconhecimento social da efetividade
de seus métodos.
• Quando a violência não era usada, os médicos-
sacerdotes (como os da antiga Mesopotâmia) usavam
rituais baseados em religião e superstição, pois
acreditavam também que a possessão demoníaca era a
razão por trás dos distúrbios mentais.
• Tais rituais incluiriam orações, expiação, exorcismos,
encantamentos e outras formas de expressões tribais
da espiritualidade.
EGÍPICIOS
(3100 a.C. – 31
a.C.)
• Os xamãs, por outro lado, recorreriam a ameaças e até
punições caso os métodos ritualísticos não tivessem sucesso
em mudar o comportamento de um membro da tribo, dado o
reconhecimento social da efetividade de seus métodos.
• Quando a violência não era usada, os médicos-sacerdotes
(como os da antiga Mesopotâmia) usavam rituais baseados
em religião e superstição, pois acreditavam também que a
possessão demoníaca era a razão por trás dos distúrbios
mentais.

• Tais rituais incluiriam orações, expiação, exorcismos,


encantamentos e outras formas de expressões tribais da
espiritualidade.

• Os xamãs, por outro lado, recorreriam a ameaças e até


punições caso os métodos ritualísticos não tivessem sucesso
em mudar o comportamento de um membro da tribo, dado o
reconhecimento social da efetividade de seus métodos.
Foram os antigos egípcios que tiveram as
ideias mais progressistas da época sobre
como tratar as pessoas que entre eles
aparentavam ter dificuldades envolvendo
a saúde mental.
• Os curandeiros do Nilo recomendavam que os pacientes se
envolvessem em atividades recreativas, como a música, a dança ou
a pintura, na tentativa de que se aliviassem seus sintomas,
trabalhando para que houvesse alguma retomada de
“normalidade” – algo estranhamente semelhante a algumas das
vias de tratamento oferecidas nas instalações de tratamento mais
recentes.
• A antiga civilização egípcia também foi notavelmente avançada
para o seu tempo nos campos da medicina, da cirurgia e do
conhecimento da anatomia humana – algo que viria a calhar na
preservação e mumificação de seus mortos.
• Dois papiros, datados do século VI a.C., foram chamados de “os
livros médicos mais antigos do mundo”, visto que estariam entre os
primeiros documentos desse tipo a identificar, por exemplo, o
cérebro como a fonte do funcionamento mental.
GREGOS (500 a.C. –
146 a.C.)
• Uma crença padrão em muitas dessas culturas antigas, mas
especialmente dentro da cultura grega, era a de que a dificuldade
mental seria vista como algo de origem divina, geralmente como
resultado de uma deusa ou deus raivoso.
• Na tentativa de atribuir isso a uma causa compreensível, as
pessoas daquelas civilizações acreditavam que uma vítima ou um
grupo de pessoas havia, de alguma forma, transgredido contra sua
divindade e estariam sendo punidas como consequência disso.
• Teria sido necessária a influência dos primeiros filósofos europeus
para levar adiante as ideias de “doença” e saúde mental em
detrimento da hipótese dos deuses.
• Em algum lugar entre o V e III séculos a.C. , o médico grego
Hipócrates rejeitou a ideia de que a instabilidade mental era o
resultado da ira sobrenatural.
• Sobretudo, impressionantemente, ele teria escrito que os
desequilíbrios no pensamento e no comportamento seriam
elementos de “ocorrência natural do corpo”, em particular, vindos
do cérebro.
IDADE MÉDIA
(SÉCULO V – XV)
• A crença grega de que os desequilíbrios mentais teriam sua origem como
“ocorrências naturais do corpo” persistira durante mesmo o longo período
da Idade Média.
• Os médicos daquela época fariam uso de laxantes, eméticos (substâncias
que induziriam vômitos) e sanguessugas na tentativa de restaurar as
proporções de “equilíbrio do corpo” de seus pacientes.
• Receitas que consistiam em aloés e heléboro negro, por exemplo, teriam a
capacidade de curar um indivíduo em depressão.
• O tabaco importado das Américas era usado para fazer com que os
pacientes vomitassem os excessos do corpo.
• Outros tratamentos fizeram com que os médicos extraíssem sangue da
testa ou das veias das pessoas, na tentativa de drenar também os males
interiores para longe do cérebro.
• Normalmente, a família era responsável pela custódia e cuidado da pessoa
em dificuldades, visto que intervenções externas e instalações para
tratamento residencial eram raras na época.
• Somente no final do século VI, em Bagdá, é que o primeiro hospital
psiquiátrico seria fundado.
• Na Europa, as famílias que possuíam a guarda de indivíduos apontados
como portadores de alguma dificuldade mental eram vistas como fontes
de vergonha e humilhação; muitas delas recorreriam a esconder seus
entes em porões, às vezes prendendo-os, delegando-os aos cuidados dos
empregados ou, simplesmente, abandonando-os, deixando-os nas ruas
como mendigos.
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• Nesse período, ter uma pessoa mentalmente considerada debilitada na
família sugeriria um defeito hereditário e desqualificador na linhagem, de
maneira a lançar dúvidas quanto à posição social e a viabilidade de toda a
família, tamanho era o estigma.
• A prisão perpétua não estava fora de questão. Durante a Idade Média na
Europa, pessoas com dificuldades mentais poderiam ser sujeitas a
punições físicas, geralmente espancamentos, como uma forma de
represália por seu comportamento antissocial e indesejado. Algumas
• No entanto, as casas de trabalho e os mosteiros não
conseguiriam acompanhar o alcance total da população que
precisava de cuidados em saúde mental, o que abriria as portas
CASAS DE TRABALHO, CLERO E
ASILOS PARA “DOENTES” MENTAIS
para os asilos, que assumiriam o controle da maior parte destes
casos com o passar dos anos. (SÉCULO XVI – XVIII)
• Sabe-se que os asilos, mesmo o primeiro fundado em Valência
(1406), não ofereciam nenhum tratamento ou conforto real aos
necessitados, forçando seus então pacientes a viverem em
condições desumanas, submetendo-os a abusos cruéis.
• Essas instalações, na verdade, eram prisões exceto em seus
nomes. Não havia o conceito de cuidar ativamente de
indivíduos com dificuldades mentais, isolando-os apenas de
suas famílias e da sociedade em geral, de forma a minimizar
dentro da mentalidade da época aquilo que poderia ser
percebido como risco de dano a comunidade.
• Acreditava-se que a perturbação mental ainda era uma escolha,
por isso os funcionários usavam restrições físicas, camisas de
força e até mesmo ameaças para tentar “curar” os indivíduos.
Às vezes, drogas eram dadas aos pacientes considerados mais
“perigosos” e “difíceis”.
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• Um exemplo disso foi o caso do médico holandês que chegou a
S RAÍZES DA REFORMA E OS desenvolver uma “cadeira giratória” que deveria literalmente sacudir a
NOVOS TRATAMENTOS (SÉCULO anatomia e o sangue do corpo para tentar restaurar seu equilíbrio –
técnica que nunca conseguiu apresentar qualquer melhora real e
IX) significativa nas pessoas.
• Quando a notícia se espalhou sobre os ambientes subsumamos dentro
dos asilos, um apelo por reformas surgiria na Europa na última parte do
século XIX.
• Um reflexo do movimento ocorreria em um asilo na cidade de Devon, na
Inglaterra, que abandonou os métodos de tratamento baseados na
contenção e agressividade para com as pessoas.
• Apesar do exemplo inglês, o movimento de reforma começaria mesmo em
Paris, no ano de 1792, sob os estudos do Dr. Philippe Pinel, desenvolvedor
da tese de que pessoas psicologicamente enfermas precisariam de
cuidados gentis para melhorar suas condições de saúde mental ao
contrário da recorrente violência.
• Ele ordenaria que as instalações sob seus comandos fossem limpas, que
os pacientes fossem desencadeados e colocados em quartos com luz solar,
autorizados a se exercitarem livremente dentro do hospital e que sua
qualidade de cuidado fosse melhorada.
• O tratamento moral evitava os tratamentos médicos tradicionais
comumente encontrados nos manicômios, como a sangria terapêutica e
as restrições físicas, e em vez disso, concentrava-se em tornar os
manicômios mais parecidos com um “lar estrito e bem administrado”.
• Ao invés de serem enjaulados e escondidos em porões,
S RAÍZES DA REFORMA
pensava-se em encoraja-los a considerar as
OS NOVOS consequências de seus comportamentos e a participar da
RATAMENTOS (SÉCULO manutenção da instalação.
IX)
• Lá dentro, as pessoas estariam sujeitas a regras e a
vigilância; receberiam recompensas e punições simples,
de acordo com o definido como apropriado.
• No entanto, os críticos – principalmente os norte
americanos – argumentavam que o método não tratava
realmente os pacientes, na medida em que os tornava
dependentes de seus médicos para ter conforto.
• No século XX, historiadores e médicos contemporâneos
argumentariam que o método moral simplesmente não
era funcional como parecia ser.
• Após este período, a conversa sobre tratamentos e saúde
mental estava pronta para dar um grande passo adiante.
Surgia a figura de Sigmund Freud.
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a você!
Sua teoria, baseando-se no diálogo e na livre
associação dos elementos surgidos, encorajava seus
pacientes a falarem sobre o que quer que aparecesse
em suas mentes, analisando através de seus estudos as
atividade psicológicas destas pessoas.

• A teoria de Freud era de que as vias de


conversa, os sonhos, abririam uma porta para a
mente inconsciente do paciente, concedendo
acesso a qualquer tipo de pensamentos e
sentimentos reprimidos que poderiam ter
forçado ou tido influência em sua instabilidade
mental.

• Mesmo com as críticas históricas aos seus


métodos, ainda podemos ver a influência da
teoria freudiana na psicologia, na psicanálise
contemporânea e em muitos dos tratamentos
ainda hoje desenvolvidos.
SAÚDE MENTAL NO MUNDO
CONTEMPORÂNEO – (SÉCULO XX E XXI)

Entre as abordagens e métodos surgidos nos séculos XX e XXI, observar a ascensão e


queda de alguns deles não é tarefa difícil, sendo pouco efetivos e bastante invasivos,
como a terapia electroconvulsiva, a psicocirurgia e alguns tipos de psicofármacos.
• Esse panorama muda no fim da década de 90, quando seria introduzido pela primeira
vez nos tratamentos psicofarmacológicos o componente fármaco conhecido como lítio.
• Naquela altura, o lítio se mostraria bastante eficiente no controle dos sintomas das
psicoses em geral, apresentando resultados diferentes em comparação com qualquer
outro método que já tivesse sido tentado.

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