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Período histórico que vai desde o século

XVI até às revoluções liberais (sécs. XVIII-


XIX).
Caracteriza-se:
Economicamente: Capitalismo Comercial;
Politicamente: absolutismo;
Socialmente: Sociedade de ordens.
Uma Sociedade Estratificada: As três
Ordens
 Durante o Antigo Regime (séc. XVI a XIX) a maior parte
das sociedades europeias estavam organizadas como
sociedades de ordens, ou seja, como sociedades
estratificadas em três grandes grupos sociais;
 Juridicamente diferenciados segundo o nascimento e/ou o
prestígio da função que desempenhavam,
independentemente da sua condição económica ou do seu
papel na produção dos bens materiais.
 Herdada da Idade Média, esta concepção assentava na
valorização e estima social que certas funções adquiriram
em relação ao bem comum.
 Estas tradições foram assumindo o estatuto de leis e
institucionalizaram-se nas leis escritas através do
estabelecimento de estatutos jurídicos próprios que Os três estados: o clero (esquerda), a
diferenciava de modo rígido e quase inalterável a condição
nobreza (centro) e o “resto” (direita),
ou seja, todos os que não eram
de cada ordem nas sociedades.
membros do clero ou da nobreza.
“É preciso que uns mandem e outros obedeçam. Os que mandam
dividem-se em vários graus: os soberanos mandam em todos que vivem
nos seus estados e dão as suas ordens aos grandes; os grandes aos
médios; os médios aos pequenos e os pequenos ao povo (…)
Uns dedicam-se particularmente do serviço de Deus; Outros a defender
o Estado pelas armas; os outros a alimentá-lo e a mantê-lo através de
actividades pacíficas. São estas as três ordens ou Estados. “

Charles Loyseau, Traité Des Ordres et simples


dignitez, 1613
“Foi para felicidade dos homens que Deus quis que eles estivessem
todos subordinados uns aos outros; foi a providência divina que
estabeleceu a desigualdade de condições; desta maneira, uns nascem
para comandar e outros para obedecer. Os primeiros têm necessidade
de criados, os segundos são obrigados a servi-los nessa qualidade.”

Froger( cura da paróquia de Mayet, em França), Instruções de


moral, Agricultura e e Economia para os Habitantes dos campos), 1769
A sociedade de ordens impunha aos indivíduos um conjunto de valores e
comportamentos geralmente definidos para toda a vida

 Fazia depender a posição social da


condição do seu nascimento ou do seu
estado

 Estabelecia os privilégios e deveres de


cada uma das ordens, atribuindo a cada
uma leis civis e penais próprias

 Determinava os códigos de actuação


pública de cada ordem e as relações de
umas com as outras

 Definia formas de tratamento, as honras,


as condecorações, pensões, insígnias e
distintivos

 A mobilidade social era pouco frequente

“O Terceiro Estado carrega o clero e a nobreza",


1788
Composição e
funções das
ordens sociais
 Estatuto adquirido não pelo nascimento mas pela tonsura

 Considerado o estado mais digno porque mais próximo de Deus

 Dependia directamente do Papa de Roma , entidade superior e exterior aos


estados –” Um estado dentro do Estado”

 Rege-se por leis (foro) próprias e tribunais privativos – Direito canónico

 Isento do serviço militar

 Gozava de direito de asilo

 Grande proprietário de todo o tipo de bens( mobiliários e imobiliários)

 Ordem não tributária

 Cobrava dizimo e desfrutava de outras doações e dádivas


 Ocupava altos cargos no ensino, na Corte e na administração pública
 Vive folgadamente e desempenha altos cargos na administração da corte aos
quais junta o prestígio que lhe advinha das letras e da ciência
Alto Clero
 Constitui-se pelos filhos segundos da nobreza que encontram privilégios e
rendimentos compatíveis com a sua categoria social
 Cardeais, bispos, arcebispos, abades dos mosteiros mais ricos

 Padres das paróquias


 Oriundos de estratos sociais inferiores, partilhavam da vida simples dos mais
Baixo Clero desfavorecidos
 Competia-lhes oficiar os serviços religiosos, orientar espiritualmente os
paroquianos e também as escolas locais

 Integravam as ordens religiosas nos Mosteiros


 Agentes de desenvolvimento económico
Clero Regular  Desenvolvimento irregular durante o Antigo Regime
Nobreza
 Representava 2% da população da época

 Desfrutava de regime jurídico próprio

 Isenta do pagamento de contribuições


excepto em caso de guerra)

 Desempenhava os mais altos cargos


políticos e administrativos, a função
militar e o controlo fundiário

 Regia-se por foro próprio


Nobreza de Sangue
 Pertencentes às velhas famílias cuja origem nobre mergulha no passado. Desde sempre dedicada à
carreira das armas, a espada é o seu símbolo .
 Apesar de unidos pelo mesmo orgulho das suas linhagens e no mesmo apego aos seus privilégios,
os membros deste grupo subdividem-se.

No topo ficam os príncipes, duques e pares do


reino na corte convivem de perto com o monarca

No pólo oposto, situa-se a pequena nobreza rural,


respeitada localmente, mas que só a custo
consegue viver, com dignidade, dos rendimentos
do seu pequeno senhorio.
Nobreza de Toga

Categoria nobiliárquica constituída por elementos do Terceiro Estado que haviam


nobilitados por concessão dos monarcas: por mérito pessoal, por favores ou serviços
prestados, ou por inerência dos cargos desempenhados (certos cargos do funcionalismo
público – diplomatas, judiciais e administrativos podiam nobilitar).
 Constituía 80 a 90% da população

 Era a ordem tributária por excelência

 Ordem mais heterogénea na sua composição, sendo possível distinguir no seu seio
situações económicas, sociais e profissionais muito diferenciadas.
 Grupo muito heterogéneo, constituíam o segundo estrato em número
Burguesia

 Nas camadas superiores estavam os mercadores, os


financeiros, empresários e os letrados
 Nas camadas inferiores estavam os artesãos, pequenos
comerciantes, lojistas e vendedores ambulantes

 Estrato maioritário em número ( 80%)


 Constituído por alguns agricultores com terra própria, rendeiros de Nobres
Camponeses e eclesiásticos
 Jornaleiros e outros trabalhadores rurais; artesãos

Trabalhadores  Executam o seu trabalho no campo ou na cidade


assalariados não regra geral, são mal remunerados
qualificados

 Constituíam o grupo mais desprezado. Constituído por mendigos,


vagabundos, indigentes e outros grupos étnicos, nomeadamente judeus e
Marginalizados ciganos
Diversidade de comportamentos e valores

A diferenciação social reflectia-se, de forma clara, no comportamento dos


indivíduos e no tratamento que outros lhes dispensavam.

No quotidiano, os três grupos sociais distinguiam-se :

 Pelos trajes
 Pela forma como se apresentavam em público
 Pela forma de tratamento e de saudação
 Pela maneira como se relacionavam uns com os outros
Francisco Zurbaran, O funeral de São Boaventura 1629. Paris,
Louvre
(Património da Moda,
Hogarth,1745)
A Visita do Charlatão(1743)
O maestro de baile, obra de
Pietro Longhi, 1741
O passeio matinal, de Gainsborough
(1785, National Gallery, Londres
Rembrandt, A anatomia
Os síndicos dos têxteis , por Rembrandt (1662)
Cena de mercado (Jan, Victors)
Louis Le Nain, 1642
Antoine LE NAIN, Família de 1640/45,
Museu do Louvre.
Os Jovens na caça, Mathieu Le Nain, 1645
Louis Le Nain, A charrette, 1641, Louvre
Jan Vermeer, The Milkmaid, 1658-60
Os fundamentos do Poder Real
L´état, c
´est moi!!

Declaração proferida perante o


Parlamento de Paris
Obra de Hyacinthe Rigau, este quadro de Luís
XIV tornou-se a imagem oficial do Rei – Sol,
quer pela riqueza extraordinária das suas vestes ,
quer pela pose sobranceira do Monarca, que se
fez representar junto ao trono, investido das
insígnias da sua condição:

O manto azul, traje reservado aos grandes


sacerdotes no antigo testamento, gravado com a
flor-de-lís, símbolo solar e emblema dos reis de
França;

2 A Ordem do1 Espírito Santo, que o torna membro


da cavalaria;
4
A espada de França, representação
2 do poder
militar do defensor da igreja;
5 3
O ceptro, símbolo da autoridade; 3
6
1 A coroa, em referência à coroação de 4Carlos
Magno Imperador;

A mão da justiça, sinal do seu poder


5 de condenar
ou perdoar as faltas.

6
Foi o clérigo francês Bossuet que melhor teorizou os
fundamentos e atributos da monarquia absoluta que, segundo
ele, conjuga quatro características básicas:
 É sagrado, porque provém directamente de Deus que o conferiu aos reis
para que estes o exerçam em seu nome. Daqui decorre que atentar contra o rei
é atentar contra Deus. Mas esta origem divina também lhe impõe limites: “ Os
reis devem respeitar o seu poder e só o usar para o bem público”;

 É paternal, por este ser o poder mais conforme à natureza humana: “ A


primeira ideia do poder que existe entre os homens é a do poder paterno e
fizeram-se os reis pelo modelo dos pais. ”Por isso, o rei deve satisfazer as
necessidades do seu povo, proteger os fracos e governar brandamente,
cultivando a imagem de “ pai do povo”.

 É Absoluto, o que significa independente. Por isso, o “príncipe não deve


prestar contas a ninguém do que ordena e não está coagido de forma
nenhuma;
Clérigo francês, Preceptor de
Luís XIV e autor do Livro” A  Está submetido à razão, isto é, a sabedoria que “salva mais os
Política tirada das quatro
escrituras”.
estados que a força”. É esta inteligência, esta percepção superior das coisas
inerente ao príncipe que faz o povo feliz. O rei, escolhido por Deus, possui
certas características intrínsecas: firmeza, força de carácter, bondade,
prudência, capacidade de previsão. São elas que asseguram o bom governo.
Factores que favoreceram o surgimento do Regime
absoluto na Europa
 Florescimento económico e o alargamento geográfico dos
países, que implicavam uma organização mais complexa;

O crescimento da Burguesia, associado às actividades


comerciais e à ocupação de cargos político-administrativos,
que está na origem de uma mentalidade mais capitalista;

 O desenvolvimento cultural e o renascimento do direito


romano, que influenciou decisivamente o pensamento jurídico
e político, reforçando a noção de estado centralizado.
O Exercício da Autoridade
– Só ao Rei competia promulgar ou revogar leis;

- Todas as decisões da governação estavam dependentes de si:

 Chefia do exército;
 Cunhagem de moeda
 Decisão da Declaração de guerra e paz;
 Chefe superior de todas as instituições e órgãos político – administrativos
(nomeia de juízes, oficiais e funcionários e controla os tribunais)
 Lançamento de Impostos

- Era o juiz supremo no seu reino e as suas decisões nunca estavam sujeitas a apelação.
Quais são os limites ao poder do rei?
Limites ao poder do Rei
 As leis de Deus - às quais o Rei, como seu representante, devia jurar
obediência;

 As leis da justiça natural dos Homens -


(direito à propriedade, à justiça, à liberdade, à vida…);

 As Leis fundamentais de cada Reino – Leis não escritas, definidas


pelo costume e pela tradição ao longo dos tempos – fixavam a forma
jurídica do Estado e determinavam a forma de governo.
Acção dos monarcas absolutos
Medidas/ Reforço do Poder do Rei
 Conferiram carácter meramente Datas das Datas das reuniões
Séculos
consultivo aos conselhos de Estado; reuniões na principais em
França Portugal

 Reduziram a frequência das reuniões


1560
das cortes ou Estados Gerais; 1579
XVI 1576
1581
1588
 Apoiaram-se numa máquina
administrativo - burocrática controlada 1641
directamente por ele; XVII 1614 1679
1697
 Conferiram carácter temporário e
amovível das delegações do poder;
XVIII 1789 Não houve

Reuniões dos Estados Gerais em França e das Cortes


em Portugal entre séc. XVI e XVIII
“Enganam-se grosseiramente aqueles que pensam que
as regras de etiqueta não passam de questões de
cerimónia. Os povos os quais reinamos, não podendo
penetrar no âmago das coisas, fazem os seus juízos pelo
que vêem de fora e é quase sempre a partir das
precedências e das posições hierárquicas que medem o
seu respeito e obediência. Como é importante para o
público ser governado por uma só pessoa, também é
importante para ele que aquela que desempenha essa
função esteja de tal modo acima dos outros que
ninguém se possa confundir ou comparar com ele e não
se pode, sem lesar todo o corpo do ESTADO, retirar á
sua cabeça os sinais de superioridade, e mesmo os mais
ínfimos, que a distingue dos seus membros. “

Luís XIV, Memórias, II, XV


O Rei utilizava as inúmeras festas, passeios e
excursões como meios de recompensa ou
punição, convidando determinada pessoas, não
convidando outras. Como se apercebera que não
tinha possibilidade de conceder mercês em
número suficiente para impressionar, substituiu
as recompensas reais por recompensas
imaginárias pelos ciúmes que despertava, por
pequenos favores, pela sua benevolência.
Ninguém tinha mais imaginação do que ele para
este género de coisas. (…)

O desejo do Rei de saber tudo quanto se passava


à sua volta nunca abrandava; encarregou o seu
primeiro criado de quarto e o governador de
Versalhes de contratar alguns suíços. Tinham por
missão ( …) observar as pessoas, segui-las, ver
onde iam, e quando voltavam, ouvir todas as
conversas e, sobretudo, vir contá-las.
Saint- Simon, Memoires
A vida na Corte era estritamente regulada pela etiqueta.
Luís XIV elaborou regras de etiqueta que incluíam o seguinte:

 As pessoas que queriam falar com o Rei não podiam  As mulheres e os homens não tinham permissão
bater à sua porta. Em vez disso, usando o dedo para cruzar as pernas em público;
mindinho da mão esquerda, tinham que arranhar
suavemente a porta, até que lhes fosse dada
permissão para entrar. Como resultado, muitos  Quando um cavalheiro passava por um conhecido na
cortesãos deixaram crescer mais as suas unhas que rua, tinha que tirar o chapéu da cabeça até que a
outros; outra pessoa passasse;

 Uma dama nunca segura as mãos ou abraça um  Um cavalheiro não tinha que fazer outro trabalho
cavalheiro. Além de ser de mau gosto, esta prática além de escrever cartas, dar discursos, praticar
seria impossível devido às largas saias que as esgrima ou dança. Por prazer ocupava-se no
rodeavam. Em vez disso, punha a mão no topo do arqueirismo, ténis em recinto fechado ou caça.
cotovelo do cavalheiro quando passeavam pelos
jardins e salas de Versalhes. Também era
mencionado que às damas só era permitido tocar os  Os vestidos das damas não deviam permitir muito
homens com as pontas dos dedos. mais que sentar e caminhar. De qualquer forma, elas
passavam o tempo costurando, tricotando,
escrevendo cartas, pintando, fazendo as suas
 Quando um cavalheiro se senta, desliza o seu pé próprias rendas e criando os seus próprios
esquerdo em frente do outro, pousa as mãos dos cosméticos e perfumes.
lados da cadeira e suavemente desce para a cadeira.
Havia uma razão muito prática para este
procedimento. Se um cavalheiro se sentasse
rapidamente, as suas calças apertadas podiam rasgar;
Implantação do absolutismo em Portugal
 Com vista a implementar o absolutismo em Portugal, os reis
portugueses publicaram várias leis:

 Lei Mental (1434), D.Duarte, determinava que os bens doados


pela coroa só podiam ser transmitidos por herança ao filho mais
velho
 Ordenações Afonsinas (meados do século XV), conjunto de
leis mandadas coligir por D.João I, trabalhadas na regência de
D. Pedro e promulgadas por D. Afonso V

 Ordenações Manuelinas (1521)

 Reforma dos forais (1497-1520), ordenada por D.Manuel I


para reorganizar a administração central e local.
 Participação da Coroa na expansão marítima

 D. João II, nos finais do século XV, subordinou a Nobreza e


lançou os fundamentos do estado absoluto português

1698- D. Pedro II, reuniu as Cortes pela última vez

1ª metade do século XVIII, D. João V, graças ao ouro vindo


do Brasil, reforçou o seu prestígio e autoridade
Convento de Mafra

D. João V

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