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CORPO E ALMA/ESPÍRITO

NO PENSAMENTO ANTIGO
1º Paradigma: Corpo/Mente/Alma

A antropologia ternária entende o ser


humano e sua vida como participantes de três
diferentes ordens de realidade: Corpo, mente e
alma.
 ARISTÓTELES distingue a alma da mente em seu tratado De
anima (408 b 18 a 414 b). A parte da alma que é distinta
dela é chamada de intelecto ativo. O intelecto ativo é
impassível, imóvel, incorruptível, eterno, simples e
primordial.

 MARCO AURÉLIO também adota uma concepção ternária


do ser humano. Ele escreve: “Existem três coisas das quais
você é composto: corpo, respiração e mente. Destes, os
dois primeiros são seus, na medida em que é seu dever
cuidar deles; mas apenas o terceiro é seu em sentido
pleno” (Meditação 12.3).
 No esquema ternário, a alma é:

 A alma, de acordo com a etimologia latina da palavra, é


‘anima’. O equivalente grego é ‘psukhê’. A ‘alma’ nada mais
é do que a psique. Devemos ser claros sobre isso: a ‘alma’ é
esse conjunto de funções ou faculdades que tornam um ser
vivo, que os animais são dotados de mobilidade, instintos,
sensibilidade, e que os seres humanos podem pensar, falar,
sonhar e imaginar. Este significado de “alma” é
completamente desprovido de qualquer ideia de
espiritualidade e imortalidade.
 Externamente, a alma humana se apresenta como um
sistema de faculdades: cognitivas (percepção, inteligência),
afetivas (emoções, sentimentos) e instintivas (pulsões,
necessidades). A partir de dentro, a alma é o lugar da nossa
interioridade, o lugar onde nos vivemos como sendo ‘nós’,
ou seja, a consciência que temos de nós mesmos. A alma se
abre para as almas de outros seres humanos e nos permite
“ler” as almas de outros seres humanos, ou seja, entender
suas emoções, mostrar empatia.
 No esquema ternário, a mente é:

 Por exemplo, Platão diz que o noûs é 'o guia da alma’


(Fédon, 247 c) ou 'o olho da alma' (República 533 e).

 Michel Fromaget, no entanto, tenta uma definição. A mente


é “uma interioridade misteriosa que só pertenceria ao ser
humano e da qual dizem os sábios e os santos que é nele
onde se enraíza em Deus e onde Deus se entrega a ele”.
 CÍCERO:

 A ‘mente’ (noûs) pode se abrir para algo maior que o ser


humano que o transcende. Conhecer a nós mesmos
significa antes de tudo reconhecer que carregamos algo
divino dentro de nós, ‘uma partícula de Deus’.
 Cícero em seu tratado escreve: “Pois aquele que conhece a
si mesmo pensará primeiro que tem algo divino e que suas
próprias habilidades naturais dentro de si são como uma
espécie de imagem consagrada. E ele sempre fará e sentirá
algo digno de tão grande presente dos deuses” (De Legibus,
livro I, 59).
 EPICTETO:

 Epicteto muitas vezes lembra a seus alunos que eles


carregam um fragmento de Deus dentro de si. Ele diz:
“Você, por outro lado, é uma criatura colocada no comando
e uma partícula do próprio Deus; há um pouco de Deus
dentro de você (Discursos, II, 8.11).
2º Paradigma: Corpo/Alma/Espírito
 1 Ts 5, 23: Tudo aquilo que sois espírito, alma e corpo (ὑμῶν
τὸ πνεῦμα , καὶ ἡ ψυχὴ, καὶ τὸ σῶμα).

A antropologia ternária aparece no Novo Testamento


substituindo noûs por pneûma. Enquanto, a psukhê é a
dimensão da vida, das faculdades mentais, pneûma é a
dimensão espiritual / divina.
Dualismo

O dualismo transcorre toda a história desde


a antiguidade.
Platão (427-347) foi o primeiro a escrever
extensamente sobre a alma e a considerava pré-
existente e pós-existente à vida no corpo. As
qualidades atribuídas a alma no Fedro são a
indissolubilidade e a imortalidade (MASLIN,
2009).
No Timeu 87E, Platão chamou o ser vivo de
composto dual. As atividades do corpo e da alma
se influenciam mutuamente. A saúde depende de
uma harmonia de movimentos entre os dois.
Apesar do paradigma tripartite, o dualismo
platônico-cristão influenciou a história do
Ocidente. Por vezes, encontramos autores
tentando equilibrar o dualismo.
A obra De Resurrectione do Pseudo-Justino
faz esse exercício:

O que é, pois, o homem, a não ser um ser racional composto de alma e de


corpo? Por acaso, a alma sozinha é um homem? Não, mas a alma de um
homem. Por acaso seria um corpo chamado de homem? Não, mas é chamado
de corpo de um homem. Com efeito, se nenhum desses dois é propriamente
um homem, a não ser na combinação de ambos é que pode ser chamada de
“homem” (DR, 8). Tradução nossa.
O dualismo platônico-cristão trouxe
consequências culturais, religiosas e morais. Mas
o maior debate será suscitado pelo dualismo
cartesiano.

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