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FILOSOFIA 10º ANO

O PROBLEMA DA
JUSTIÇA SOCIAL
FILOSOFIA 10º ANO

O PROBLEMA
• O problema da justiça social pode ser formulado da seguinte forma:

Como constituir uma


sociedade justa?
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O QUE É UMA SOCIEDADE?

Uma sociedade é um sistema de cooperação que


visa o bem daqueles que nele participam.
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O QUE É UMA SOCIEDADE JUSTA?


• Imaginemos uma sociedade em que grande parte das pessoas vive em grande
pobreza, apesar de existir uma pequena elite de pessoas multimilionárias. Será
esta sociedade justa?

• Imaginemos uma sociedade em que as pessoas têm exatamente a mesma


riqueza e em que tudo é distribuído igualitariamente. Será justa uma tal
sociedade onde todos têm o mesmo, independentemente do que trabalhem, do
que se esforcem ou dos dons que tenham?

• Que regras ou princípios devem, então, servir de orientação para a organização


de qualquer sociedade?
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ALGUMAS RESPOSTAS POSSÍVEIS


O libertarismo pode ser descrito como uma perspetiva política que identifica
a justiça social com o respeito total pela liberdade de cada um para fazer o que
bem entende com a sua pessoa e com os seus bens.
• O igualitarismo pode ser descrito como uma perspetiva política que
identifica a justiça social com uma distribuição em partes iguais dos bens
sociais primários, como liberdades, oportunidades, rendimentos e riqueza.
• O liberalismo igualitário procura conjugar a prioridade das liberdades
básicas, civis e políticas, com a relevância da igualdade de oportunidades e da
função distributiva do Estado, ou seja, procura articular a justiça civil e
política com a justiça social e económica.
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CONTRATUALISMO
[Os princípios que devem servir de orientação para a
organização de qualquer sociedade] são os que seriam
aceites por pessoas livres e racionais, colocadas numa
posição inicial de igualdade e interessadas em prosseguir
os seus próprios objetivos, para definir os termos
fundamentais da sua associação. […]
Assim, partimos da ideia de que os sujeitos que
estabelecem uma forma de cooperação em sociedade
escolhem em conjunto, num acto comum, os princípios
que devem orientar a atribuição de direitos e deveres
básicos e a divisão dos benefícios da vida em sociedade.
John Rawls (1921-2002)
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CONTRATUALISMO
• Para identificar e justificar os princípios da justiça, Rawls recorre a uma
versão de contratualismo.
• De uma forma geral, o contratualismo recorre à ideia de um «contrato social»,
ou seja, à tentativa de descobrir e justificar o conteúdo da moralidade a partir
da noção de um acordo entre todos (ainda que esse acordo seja hipotético ou
implícito).
• Por outras palavras, num sentido amplo, o contratualismo corresponde à
perspetiva de que as regras da moralidade resultam de uma espécie de contrato
ou acordo hipotético entre agentes racionais e informados.
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CONTRATUALISMO
• Assim, para Rawls os princípios da justiça são aqueles que resultariam
de um acordo (ou contrato) entre decisores igualmente livres e racionais
acerca das estrutura básica da sociedade.

• Que instituições devem existir? Com que funções? Qual o seu alcance e os
seus limites? Como distribuir direitos e deveres, benefícios e prejuízos? Etc.
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A POSIÇÃO ORIGINAL E O VÉU DE


IGNORÂNCIA
Esta posição original não é, evidentemente, concebida
como uma situação histórica concreta […]. Deve ser vista
como uma situação puramente hipotética, caracterizada de
forma a conduzir a uma certa concepção da justiça. Entre
essas características essenciais está o facto de que ninguém
conhece a sua posição na sociedade, a sua situação de
classe ou estatuto social, bem como a parte que lhe cabe na
distribuição dos atributos e talentos naturais, como a sua
inteligência, a sua força e mais qualidades semelhantes.

John Rawls (1921-2002)


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A POSIÇÃO ORIGINAL E O VÉU DE


IGNORÂNCIA
Parto inclusivamente do princípio de que as partes
desconhecem as suas concepções do bem ou as suas
tendências psicológicas particulares. Os princípios da
justiça são escolhidos a coberto de um véu de ignorância.
Assim se garante que ninguém é beneficiado ou
prejudicado na escolha daqueles princípios pelos
resultados do acaso natural ou pela contingência das
circunstâncias sociais.

John Rawls (1921-2002)


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A POSIÇÃO ORIGINAL E O VÉU DE


IGNORÂNCIA
• Habitualmente, num contrato, acordo, ou negociação, as várias partes têm
conhecimento daquilo que têm a ganhar ou a perder, daquilo que pretendem
obter e daquilo que estão dispostas a oferecer em troca.
• Contudo, a originalidade de Rawls, relativamente a outras versões de
contratualismo, consiste em supor que na posição original, as várias partes
contratantes estão a coberto daquilo que ele designa «véu de
ignorância». Mas o que é o véu de ignorância?
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A POSIÇÃO ORIGINAL E O VÉU DE


IGNORÂNCIA
• Quando Rawls afirma que as várias partes contratantes devem estar cobertas por um
véu de ignorância, o que ele quer dizer é que para que os princípios da justiça
sejam escolhidos com total imparcialidade, evitando a tentação de cada um propor
princípios que beneficiem a sua situação
particular (aquilo que popularmente se chama «puxar a brasa à sua sardinha»), as
várias partes contratantes devem desconhecer por completo:
• o lugar que ocupam na sociedade;
• as suas características individuais;
• a sua situação socioeconómica;
• os seus talentos naturais;
• as suas características psicológicas; e
• os seus projetos de vida.
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A JUSTIÇA COMO EQUIDADE


Uma vez que todos os participantes estão em situação
semelhante e que ninguém está em posição de designar
princípios que beneficiem a sua situação particular, os
princípios da justiça são o resultado de um acordo ou
negociação equitativa.

John Rawls (1921-2002)


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A JUSTIÇA COMO EQUIDADE


• A teoria da justiça de Rawls é, por vezes, designada pela expressão «justiça
como equidade», pois todos partem de uma posição semelhante para a
negociação dos princípios que devem orientar a organização da sociedade.
• Os indivíduos que se encontram na posição original têm as seguintes
características:
• são racionais;
• são razoáveis;
• desconhecem os lugares que ocupam na sociedade e as probabilidades a eles
associadas;
• têm aversão ao risco; e
• desejam de garantir a exclusão de resultados absolutamente inaceitáveis.
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A JUSTIFICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA JUSTIÇA


Consideremos o ponto de vista de alguém na posição
original. Não há qualquer meio que lhe permita obter
vantagens especiais para si próprio. Por outro lado,
também não há justificação para que consinta em sofrer
desvantagens particulares. Dado que não lhe é razoável
esperar obter mais do que uma parte igual à dos outros na
divisão dos bens sociais primários, e na medida em que
não é racional aceitar receber uma parte menor, a melhor
solução será a de reconhecer como primeiro passo um
princípio da justiça que exija uma distribuição igual. […]

John Rawls (1921-2002)


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A JUSTIFICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA JUSTIÇA


Assim, os intervenientes partem de um princípio que exige
iguais liberdades básicas para todos, bem como uma
igualdade equitativa de oportunidades e a divisão igual dos
rendimentos e da riqueza.

John Rawls (1921-2002)


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A JUSTIFICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA JUSTIÇA


Mas, […] [s]e houver desigualdades de rendimento e de
riqueza, bem como diferenças de autoridade e de graus de
responsabilidade, que permitam que todos estejam em
melhor situação, por comparação com o padrão da
igualdade, porque não permiti-las? […] [A] estrutura
básica deve admitir estas desigualdades desde que elas
melhorem a situação de todos, incluindo a dos menos
beneficiados, contanto que sejam compatíveis com a igual
liberdade e com a igualdade equitativa de oportunidades.

John Rawls (1921-2002)


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A JUSTIFICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA JUSTIÇA


Como as partes têm como ponto de partida uma divisão
igual de todos os bens sociais primários, os que beneficiam
menos têm, por assim dizer, um poder de veto. […]
Tomando a situação de igualdade como base da
comparação, os sujeitos que ganharem mais devem fazê-lo
em termos que sejam justificáveis para os que ganharem
menos.

John Rawls (1921-2002)


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A JUSTIFICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA JUSTIÇA


• Numa situação em que as partes em negociação partem todas do mesmo
ponto, parece razoável supor que só aceitariam uma distribuição igual daquilo
que Rawls chama de «bens sociais primários» como liberdade,
oportunidades, rendimento e riqueza.

• Contudo, é de admitir que, estando salvaguardas as suas liberdades e


oportunidades, estas poderiam muito bem admitir uma distribuição
desigual de rendimento e riqueza desde que isso deixasse todos
numa situação melhor.
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A JUSTIFICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA JUSTIÇA


• Por exemplo, imagina que te encontras na posição original a tentar decidir que
princípios devem orientar a organização da sociedade para que esta seja mais
justa. Sabendo que A, B e C correspondem a diferentes classes sociais e que os
valores apresentados correspondem ao rendimento médio anual (em milhares
de euros) de cada uma dessas classes em três sociedades possíveis, em qual
das sociedades preferias viver?

A B C Total
Sociedade 1 32 16 6 54
Sociedade 2 8 8 8 24
Sociedade 3 18 14 12 44
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A JUSTIFICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA JUSTIÇA


• Não estamos a perguntar a que classe preferias pertencer. A melhor classe seria,
sem dúvida, a classe A, na Sociedade 1. A pergunta é, uma vez que não sabes a
que classe pertences, em que sociedade preferias viver?
• Na sociedade mais próspera? Nesse caso seria a Sociedade 1, mas assim
arriscarias viver numa situação pior do que em qualquer uma das alternativas.
• Na sociedade mais igualitária? Nesse caso optarias pela Sociedade 2, mas
se reparares bem, independentemente da classe, toda a gente ficaria pior na
Sociedade 2 do que na Sociedade 3.
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A JUSTIFICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA JUSTIÇA


• Assim, de acordo com Rawls, sem mais informação (como é característico da
posição original), teríamos boas razões para preferir a Sociedade 3 e para
eleger princípios da justiça que permitissem concretizar este tipo de sociedade.
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A REGRA MAXIMIN
É] útil […] pensar nos […] princípios [da justiça]
como a solução maximin para o problema da justiça
social. […] A regra maximin diz-nos para ordenar as
alternativas em função das piores de entre as
respectivas consequências possíveis: devemos adoptar
a alternativa cuja pior consequência seja superior a
cada uma das piores consequências das outras.

John Rawls (1921-2002)


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A REGRA MAXIMIN
• A regra maximin é um princípio de escolha a aplicar em situações de
ignorância, isto é, em situações com as características da posição original.
• Segundo esta regra, se as partes não sabem quais serão os resultados que podem
obter ao nível dos bens sociais primários, nem conhecem as probabilidades
associadas a cada um desses resultados, então é racional supor que esses
resultados são todos igualmente prováveis e jogar pelo seguro.
• Ou seja, escolher como se o pior nos fosse acontecer.
• Mas, então, que princípios seriam adotados, nessas circunstâncias?
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A REGRA MAXIMIN
Primeiro
Cada pessoa deve ter um direito igual ao mais extenso
sistema de liberdades básicas que seja compatível com
um sistema de liberdades idêntico para as outras.
[Princípio Igualdade de Liberdades]

John Rawls (1921-2002)


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A REGRA MAXIMIN
Segundo
As desigualdades económicas e sociais devem ser
distribuídas por forma a que, simultaneamente: a)
decorram de posições e funções às quais todos têm
acesso [Princípio da Oportunidade Justa]; e b) se
possa razoavelmente esperar que elas sejam em
benefício de todos (especialmente, dos membros
menos favorecidos da sociedade) [Princípio da
Diferença].

John Rawls (1921-2002)


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OS PRINCÍPIOS DA JUSTIÇA
1.
1. Princípio da igualdade de liberdades: A sociedade deve
assegurar a máxima liberdade para cada pessoa, compatível com uma
liberdade igual para todos os outros.
2.
2a. Princípio da oportunidade justa: As desigualdades económicas e
sociais devem estar ligadas a postos e posições acessíveis a todos em
condições de igualdade de oportunidades.
3.
2b. Princípio da diferença: A sociedade deve promover a distribuição
igual da riqueza, exceto se a existência de desigualdades económicas e
sociais gerar o maior benefício para todos, em especial para os menos
favorecidos.
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O PRIMEIRO PRINCÍPIO: IGUALDADE DE


LIBERDADES
• De acordo com o princípio da igualdade de liberdades, cada um
deve ter o maior conjunto de liberdades básicas que é possível ter sem impedir
que todos os outros tenham acesso ao mesmo conjunto de liberdades.
• Entre o conjunto de liberdades básicas encontra-se a liberdade de expressão,
de religião, de reunião, de pensamento, de votar e ser eleito, de deter
propriedade, etc.
• Isto significa que a sociedade deve assegurar a máxima liberdade para cada
pessoa, compatível com uma liberdade igual para todos os outros.
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O PRIMEIRO PRINCÍPIO: IGUALDADE DE


LIBERDADES
• Uma vez que as várias partes na posição original não sabem qual é o lugar que
vão ocupar na sociedade ou a que grupo irão pertencer, seria irracional
prejudicar um determinado grupo (por exemplo, os pobres) ou tirar a liberdade
a um certo setor da sociedade, uma vez que poderiam estar a prejudicar-se a si
mesmas.
• Assim sendo, é racional querer uma sociedade em que todos têm a maior
quantidade de liberdades possível sem prejudicar as liberdades dos outros.
• Por exemplo, para que alguém ter a liberdade de possuir escravos, alguém
teria de abrir mão da sua liberdade de se autodeterminar, por isso, ninguém
pode ter a liberdade de ter escravos.
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O PRIMEIRO PRINCÍPIO: IGUALDADE DE


LIBERDADES
• Mas a liberdade de eleger os seus representantes políticas não implica uma
diminuição das liberdades dos outros membros da sociedade, por isso, todos
devem ter direito a essa liberdade.
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O PRIMEIRO PRINCÍPIO: IGUALDADE DE


LIBERDADES
• Imagina que estás a organizar sacos com guloseimas para distribuir pelos teus
amigos no final da tua festa de aniversário.
• Tens ao teu dispor as seguintes guloseimas:
• 50x rebuçados • 30x gomas
• 20x chupa-chupas • 10x chocolates
• Sabendo que tens 10 convidados e que todos eles são apreciadores de
guloseimas, mas supondo que não sabes quais são as suas preferências
individuais, qual seria a melhor forma de distribuir os doces para garantir que
ninguém ficava chateado?
• Uma sugestão óbvia é a seguinte: colocar 5 rebuçados, 2 chupa-chupas, 3
gomas e 1 chocolate em cada saco.
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O PRIMEIRO PRINCÍPIO: IGUALDADE DE


LIBERDADES
• Ou seja, oferecermos a cada convidado a máxima quantidade de cada doce
(não deixamos nenhum por distribuir) em partes absolutamente iguais (não
colocamos uma quantidade menor de nenhum deles num dos sacos para
podermos incluir uma quantidade maior do mesmo num outro).
• No caso dos princípios da justiça, o que está em causa não são guloseimas,
mas sim liberdades básicas.
• Assim sendo, o que o primeiro princípio nos diz é que cada pessoa deve ter no
seu pacote de liberdades tantas liberdades quanto é possível, sem que isso
implique que haja pessoas com menos liberdades do que outras.
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O SEGUNDO PRINCÍPIO
• O segundo princípio da justiça sustenta que nem todas as
desigualdades económicas são erradas.
• Numa sociedade perfeitamente igualitária não haveria razões sociais e
económicas para os indivíduos desenvolverem carreiras que implicam muito
investimento, estudo, preparação, desgaste ou responsabilidade.
• Afinal de contas, se todos ganham o mesmo porque haveremos de nos esforçar
mais que os outros?
• Mas, isso seria prejudicial para a sociedade e todos acabariam por ficar numa
situação pior do que ficariam se permitissem alguma desigualdade.
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O SEGUNDO PRINCÍPIO
• Assim, certas desigualdades económicas justificam-se, pois podem
beneficiar toda a sociedade, funcionando como um sistema de
incentivos no que diz respeito a carreiras particularmente exigentes.
• Contudo, essas desigualdade só são aceitáveis se satisfizerem conjuntamente o
princípio da oportunidade justa e o princípio da diferença.
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O PRINCÍPIO DA OPORTUNIDADE JUSTA


• O princípio da oportunidade justa sustenta que as desigualdades na
distribuição da riqueza são aceitáveis apenas na medida em que resultam de
uma efetiva igualdade de oportunidades.
• Isto significa que se existirem cargos e funções que exigem mais investimento
e que, por conseguinte, são melhor remunerados (como um incentivo à sua
prossecução), então esses cargos e funções devem estar igualmente acessíveis
a todos (mesmo àqueles que nasceram em condições socioeconómicas
desfavorecidas).
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O PRINCÍPIO DA OPORTUNIDADE JUSTA


• Por exemplo, um médico ou um juiz podem receber mais do que um limpa-
chaminés, apenas na condição de esses cargos estarem acessíveis a qualquer
pessoa (independentemente da sua situação socioeconómica de partida).

• Mas para isso é necessário que, entre outras coisas, o Estado garanta a todos o
acesso à educação e à cultura, bem como aos cuidados
básicos de saúde.
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O PRINCÍPIO DA OPORTUNIDADE JUSTA


• A ideia básica por detrás deste princípio é a de que algumas pessoas nascem
numa família rica, outras nascem numa família pobre, mas ninguém é
moralmente responsável pelas circunstâncias do seu nascimento – ou seja,
existe uma espécie de lotaria social.

• Assim sendo, certos indivíduos podem ficar impedidos de aceder a funções e


cargos por falta de oportunidade de educação e cultura.

• Contudo, este tipo de contingências sociais é arbitrário do ponto de


vista moral, pois os indivíduos que nascem nesses contextos não são
responsáveis por isso.
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O PRINCÍPIO DA OPORTUNIDADE JUSTA


• Assim, precisamos do princípio da oportunidade justa para
minimizar os efeitos negativos dessa lotaria social.

• Isto significa que o Estado deve, entre outras coisas, garantir a todos o acesso
à educação, à cultura e aos cuidados básicos de saúde (independentemente do
seu contexto social).
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O PRINCÍPIO DA OPORTUNIDADE JUSTA


(1) A lotaria social é moralmente arbitrária e fonte de injustiças sociais.

(2) Se a lotaria social é moralmente arbitrária e fonte de injustiças sociais, então


há um dever moral de minimizar essa lotaria social.

(3) Se há um dever moral de minimizar essa lotaria social, então deve adotar-se
o princípio da oportunidade justa.

(4) Logo, deve adotar-se o princípio da oportunidade justa.


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O PRINCÍPIO DA DIFERENÇA
• O princípio da diferença afirma que a distribuição de riqueza e de
rendimento, na sociedade, deve ser igual, a menos que a desigualdade traga
benefícios para todos (em especial, para os mais desfavorecidos).

• Este princípio indica, assim, uma certa conceção distributiva da


justiça identificando-a com uma redistribuição de riqueza pelos que
estão em pior situação.

• Isto significa que a justiça social é vista por Rawls como uma maximização da
situação dos que estão na pior situação à partida.
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O PRINCÍPIO DA DIFERENÇA
• Com isso, e uma vez satisfeito o princípio da oportunidade justa,
Rawls aceita a afirmação condicional de que se é preciso uma desigualdade para
melhorar a condição de todas as pessoas e, em especial, para tornar as condições
dos mais desfavorecidos melhores do que seriam de outra forma, então essa
desigualdade deve ser permitida.
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O PRINCÍPIO DA DIFERENÇA
• A ideia básica por detrás deste princípio justifica-se é a de que as pessoas nascem
com diferentes talentos naturais, algumas nascem com boas capacidades
cognitivas, outras com deficiência mental, umas têm boas capacidades motoras,
outras nascem com algum tipo de limitação física, ou seja, existe uma espécie de
lotaria social.

• Mas estes talentos naturais são desigualmente remunerados pelo mercado.

• Além disso, nenhuma forma de igualdade de oportunidades permite minimizar ou


retificar os efeitos negativos desta lotaria natural.
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O PRINCÍPIO DA DIFERENÇA
• Porém, estas contingências naturais que conduzem a grandes
desigualdades de riqueza são arbitrárias do ponto de vista moral, pois os
indivíduos não são moralmente responsáveis por elas.

• Logo, precisamos do princípio da diferença para minimizar os efeitos


negativos da lotaria natural.

• Isto significa que o Estado deve garantir redistribuir a riqueza (através da


cobrança de impostos, por exemplo) para garantir um mínimo para os mais
desfavorecidos.
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O PRINCÍPIO DA DIFERENÇA
(1) A lotaria natural é moralmente arbitrária e fonte de injustiças sociais.

(2) Se a lotaria natural é moralmente arbitrária e fonte de injustiças sociais, então há


um dever moral de minimizar essa lotaria natural.

(3) Se há um dever moral de minimizar essa lotaria natural, então deve adotar-se o
princípio da diferença.

(4) Logo, deve adotar-se o princípio da diferença.


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A ORDEM DOS PRINCÍPIOS DA JUSTIÇA


• De acordo com Rawls, o primeiro princípio tem uma prioridade sobre o
segundo princípio e, dentro deste segundo princípio, o princípio da
oportunidade justa tem prioridade sobre o princípio da diferença.

• Isto significa que uma melhoria na igualdade de oportunidades não pode ser feita
à custa de uma menor liberdade e, por sua vez, a promoção da posição dos mais
desfavorecidos não pode implicar sacrifício nas oportunidades.

• A ideia geral é que atingindo um nível de bem-estar acima da luta pela


sobrevivência, a liberdade tem uma prioridade absoluta sobre o
bem-estar económico ou a igualdade de oportunidades.
FILOSOFIA 10º ANO

A ORDEM DOS PRINCÍPIOS DA JUSTIÇA


• Por exemplo, ainda que trouxesse vantagens económicas, não se pode defender a
escravatura, dado que esta seria incompatível com o reconhecimento da liberdade
igual.
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A REJEIÇÃO DO UTILITARISMO
• Mas será que as partes não poderiam escolher na posição original um outro
princípio, como por exemplo, o princípio utilitarista da maior
felicidade?

• De acordo com um tal princípio, a melhor situação social é aquela em que há um


maior número agregado de bem-estar, independentemente da forma
como este se encontra distribuído.

• Assim, considerando que a posse de bens sociais se traduz de alguma forma em


bem-estar ou felicidade, o utilitarismo iria procurar estabelecer a sociedade mais
próspera possível, isto é, aquela com um maior total de riqueza,
independentemente da forma como esta se encontra distribuída.
FILOSOFIA 10º ANO

A REJEIÇÃO DO UTILITARISMO
• Contudo, uma vez que o utilitarismo é, à partida, compatível com a ideia de haver
um conjunto de indivíduos que veja as suas liberdades sacrificadas, como no caso
da escravatura, para gerar um maior total de riqueza e
bem-estar, o princípio da maior felicidade poderia dar origem a uma sociedade em
que existem grandes desigualdades.
• Assim, de acordo com este princípio, as oportunidades ou os níveis de
rendimentos e de riqueza de alguns podem ser significativamente
prejudicados em nome do bem-estar geral.
• Mas isso seria um resultado inaceitável para quem está a acordar os princípios da
justiça do ponto de vista da posição original.
FILOSOFIA 10º ANO

A REJEIÇÃO DO UTILITARISMO
• Portanto, nessas circunstâncias não seria racional adotar o princípio da maior
felicidade, pois este não garante condições mínimas para ninguém.
FILOSOFIA 10º ANO

OBJEÇÃO LIBERTARISTA (R. NOZICK)


• O libertarismo caracteriza-se pela importância que atribui à liberdade
negativa, ou seja, à liberdade entendida como o direito à não interferência
externa, intencional e coerciva.
• A liberdade é assim entendida como a possibilidade de cada um fazer o que
quiser consigo mesmo e com as suas posses.
• Assim, o libertarismo económico foca-se na existência de um mercado livre
e da sua proteção.
• A ideia básica por detrás desta perspetiva é a de que os mercados livres tendem a
tornar-se mais eficientes (sem interferência externa, as empresas mais eficientes
acabam por prevalecer, ao passo que as outras não) e, por conseguinte, conduzem
a uma maior prosperidade económica.
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OBJEÇÃO LIBERTARISTA (R. NOZICK)


• Assim, para um libertarista, como Robert Nozick (1938-2002), o padrão de
redistribuição de riqueza, imposto pelo princípio da diferença, implica
uma interferência constante e inaceitável do estado na propriedade privada
legitimamente adquirida por cada um de nós.

• Deste modo, Nozick critica a teoria da justiça de Rawls, pois sustenta que não é
possível defender consistente e simultaneamente o princípio da liberdade
e o princípio da diferença.
FILOSOFIA 10º ANO

OBJEÇÃO LIBERTARISTA (R. NOZICK)


• Proporcionar liberdade às pessoas implica que não se pode impor
restrições às posses individuais de propriedade.

• Mas limitar aquilo que as pessoas podem adquirir e o que podem fazer com isso,
tal como defendido no princípio da diferença, é uma forma de restringir a
liberdade individual.

• Assim, um respeito apropriado pela liberdade implica que se elimine o princípio


da diferença ou uma qualquer outra conceção padronizada da justiça.
FILOSOFIA 10º ANO

OBJEÇÃO LIBERTARISTA (R. NOZICK)


• Para Nozick, a teoria da justiça de Rawls é um exemplo de uma conceção
padronizada da justiça, dado que para Rawls uma sociedade justa é uma
sociedade que obedece a um determinado padrão na distribuição de
bens sociais ou da propriedade – o princípio da diferença.

• Dado esse princípio, será injusta uma sociedade em que a riqueza e a propriedade
não estejam distribuídas segundo um determinado padrão.

• O problema é que, de acordo com Nozick, uma tal conceção padronizada da


justiça viola a liberdade individual e os direitos de
propriedade.
FILOSOFIA 10º ANO

OBJEÇÃO LIBERTARISTA (R. NOZICK)


[S]uponhamos que se realiza uma distribuição favorecida
por uma destas concepções não baseadas na titularidade
[…] e chamemos D1 a esta distribuição […]. Agora
suponhamos que Wilt Chamberlain é muito procurado
pelas equipas de basquetebol, sendo um grande atracção
nas bilheteiras. […] Wilt assina um contrato do seguinte
género com uma equipa: por cada jogo em casa vinte e
cinco cêntimos do bilhete vão para ele. […]

Robert Nozick (1938-2002)


FILOSOFIA 10º ANO

OBJEÇÃO LIBERTARISTA (R. NOZICK)


A época começa e as pessoas assistem alegremente aos
jogos da sua equipa; compram os seus bilhetes, de cada
vez deixando de lado vinte e cinco cêntimos do bilhete
numa caixa especial com o nome Chamberlain. Estão
empolgados por vê-lo jogar; para eles vale bem o preço do
bilhete. Suponhamos agora que numa época um milhão de
pessoas assiste aos jogos da equipa em casa e que Wilt
Chamberlain acaba por ganhar €250 000, quantia muito
maior do que o rendimento médio e mesmo maior do que
o rendimento de qualquer outro. Tem ele direito a este
rendimento? Será que esta nova distribuição D2 é injusta?
Robert Nozick (1938-2002)
FILOSOFIA 10º ANO

OBJEÇÃO LIBERTARISTA (R. NOZICK)


• De acordo com Rawls, se D2 não coincidir com o tipo de distribuição exigida pelo
princípio da diferença, será necessário redistribuir o dinheiro para se
voltar ao padrão inicial D1.
• Mas para voltar a esse padrão inicial D1, de forma a respeitar o princípio da
diferença, será necessário o Estado redistribuir o dinheiro de Chamberlain, por
exemplo, através de impostos.
• Contudo, para Nozick, isso constitui uma interferência inaceitável do
Estado, pois viola direitos de propriedade e desrespeita a
liberdade individual de cada um gerir o seu rendimento e riqueza como
bem entender.
• Por outras palavras, seguindo a ética deontológica de Kant, o Estado estaria a
FILOSOFIA 10º ANO

OBJEÇÃO LIBERTARISTA (R. NOZICK)


2
D1 Ações livres dos indivíduos D2

1
Padrão
Padrão quebrado
(Princípio da diferença)

Interferência do Estado 3
(Impostos)

Eticamente Inaceitável 4

Interferência do Estado viola direitos de propriedade e desrespeita a liberdade individual


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OBJEÇÃO LIBERTARISTA (R. NOZICK)


1. O princípio da diferença é uma conceção padronizada da justiça: a propriedade
deve ser distribuída de forma que os mais desfavorecidos fiquem o melhor
possível. De acordo com Rawls, se não se respeitar este padrão, então a
sociedade será injusta.

2. Mas, uma vez dado o rendimento e a riqueza às pessoas segundo o princípio da


diferença, algumas gastá-los-ão, outras obterão mais, e assim a sociedade acaba
por se afastar do princípio da diferença. Portanto, algumas ações livres (trocas,
ofertas, apostas, seja o que for) conseguem quebrar o padrão.
FILOSOFIA 10º ANO

OBJEÇÃO LIBERTARISTA (R. NOZICK)


3. Para que o padrão inicial seja reposto, a propriedade terá de ser redistribuída. O
Estado terá de intervir através de meios como a cobrança de impostos. Deste
modo, para se concretizar o padrão do princípio da diferença, o Estado tira a
alguns indivíduos parte daquilo que possuem legitimamente, para beneficiar os
mais desfavorecidos.

4. Porém, de acordo com Nozick, esta redistribuição interferirá consideravelmente


com a liberdade e os direitos de propriedade de que as pessoas deviam gozar.
Segundo Nozick, esta interferência do Estado é eticamente inaceitável, pois viola
os direitos de propriedade dos indivíduos e desrespeita a liberdade individual.
Para além disso, Nozick defende claramente que «a tributação dos rendimentos é
equiparável ao trabalho forçado».
FILOSOFIA 10º ANO

OBJEÇÃO COMUNITARISTA (M. SANDEL)


• O comunitarismo, em geral, surge como uma oposição ao
liberalismo: quer na versão libertarista de Nozick, quer na versão liberal
igualitária de Rawls.
• O problema reside na noção abstrata e individualista de ser
humano subjacente a ambas as teorias.
• Pelo contrário, no comunitarismo advoga-se uma tese social sobre o ser humano,
de acordo com a qual os indivíduos não existem de forma isolada e autónoma,
são constituídos por um conjunto de relações e interações
sociais, ou seja, pelo facto de fazerem parte de uma comunidade, daí a
designação «comunitarismo».
FILOSOFIA 10º ANO

OBJEÇÃO COMUNITARISTA (M. SANDEL)


• De acordo com os comunitaristas, como Michael Sandel (n. 1953), a forma
como Rawls argumenta a favor dos princípios da justiça, através da posição
original caracterizada pelo seu véu de ignorância, não é
bem-sucedida.
• Em primeiro lugar, porque pretende abstrair-se de uma determinada
conceção concreta do bem, mas, ao pressupor que na posição original seria
irracional abrir mão de um certo tipo de bens primários, está Rawls está já a
comprometer-se com uma certa perspetiva acerca do bem.
FILOSOFIA 10º ANO

OBJEÇÃO COMUNITARISTA (M. SANDEL)


• Em segundo lugar, porque a avaliação dos princípios da justiça é uma
escolha moral, mas com o «véu de ignorância», tais escolhas são realizadas
apenas de forma egoísta e por interesses pessoais (pois, as partes na
posição original só se preocupam individualmente em maximizar a sua situação e
em não ficarem na pior situação possível).
FILOSOFIA 10º ANO

OBJEÇÃO COMUNITARISTA (M. SANDEL)


• Dessa forma, as deliberações e as decisões realizadas a coberto do «véu de
ignorância» na posição original são moralmente cegas, dado que o «véu
de ignorância» implica que as escolhas sejam feitas por indivíduos totalmente
desenraizados e desligados de qualquer laço social, interessados no seu próprio
bem e sem se guiarem por qualquer noção de bem comum ou sequer de
vida boa.

• De acordo com Sandel, as escolhas morais devem decorrer de laços


comunitários que nos moldam e onde temos as nossas raízes. Ou seja, os
princípios da justiça também devem ser justificados a partir de uma ideia
completa de bem comum.
FILOSOFIA 10º ANO

OBJEÇÃO COMUNITARISTA (M. SANDEL)


Como Rawls faz notar, a justiça como equidade, como
outras abordagens contratualistas, é composta por duas
partes, a primeira corresponde à interpretação da situação
inicial e ao problema que aí se coloca, a segunda
corresponde aos princípios da justiça que, alegadamente,
seriam acordados nessas circunstâncias. […] Mesmo antes
de considerar os princípios da justiça que Rawls acredita
que seriam escolhidos, é possível identificar dois tipos de
objeções que se podem levantar a propósito da passagem
da primeira parte para a segunda.

Michael Sandel (n. 1953)


FILOSOFIA 10º ANO

OBJEÇÃO COMUNITARISTA (M. SANDEL)


Um conjunto de objeções questiona se a posição original
consegue efetivamente abstrair-se dos quereres e dos
desejos em jogo. Este tipo de objeção foca-se na conceção
de bens primários […] e argumenta que ela não é
imparcial pois favorece certas conceções do bem em
detrimento de outras.
Pondo, assim, em causa pretensão de Rawls de que a lista
de bens primários é igualmente válida […] para todos os
estilos de vida.

Michael Sandel (n. 1953)


FILOSOFIA 10º ANO

OBJEÇÃO COMUNITARISTA (M. SANDEL)


Pode […] defender-se que [a teoria do bem pressuposta]
inviabiliza a justiça da situação inicial, introduz
pressupostos que não são universalmente partilhados, mas
sim profundamente enraizados nas preferências
contingentes, associadas ao projeto de vida de um burguês
liberal ocidental, e os princípios que daí resultam são,
afinal de contas, o produto dos valores prevalecentes.

Michael Sandel (n. 1953)


FILOSOFIA 10º ANO

OBJEÇÃO COMUNITARISTA (M. SANDEL)


Um segundo tipo de objeção sustenta que a posição
original atinge uma abstração tal em relação às
circunstâncias humanas, que a situação inicial que ela
descreve é demasiado abstrata para conduzir aos princípios
da justiça que Rawls defende, ou, até mesmo, para
conduzir a quaisquer princípios em concreto. Essa objeção
vê como problemático o véu de ignorância, uma vez que
este exclui informação moralmente relevante, informação
essa que é necessária para qualquer resultado significativo.

Michael Sandel (n. 1953)


FILOSOFIA 10º ANO

OBJEÇÃO COMUNITARISTA (M. SANDEL)


Esta sustenta que a noção de pessoa subjacente à posição
original é demasiado formal e abstracta, demasiado
desligada das contingências, para que possa dar conta das
motivações adequadas.

Michael Sandel (n. 1953)


FILOSOFIA 10º ANO

OBJEÇÃO COMUNITARISTA (M. SANDEL)


• Assim, de acordo com Sandel, dado que somos seres incorporados e inseridos na
comunidade, a conceção rawlsiana de pessoa, enquanto ser
individual, desincorporado, situado fora da comunidade, está errada.

• Com isso, Sandel critica não só a metodologia que Rawls utiliza para encontrar
esses princípios da justiça, mas também a prioridade do primeiro
princípio sobre o segundo, dado que também as liberdades devem ser
interpretadas em função da conceção de bem comum.

• Em suma, para Sandel, deve haver uma prioridade do bem comum na


definição do justo.
FILOSOFIA 10º ANO

OBJEÇÃO COMUNITARISTA (M. SANDEL)


Em Uma Teoria da Justiça, Rawls estabelece um vínculo
entre a prioridade do justo e uma conceção voluntarista,
genericamente, kantiana, da pessoa humana. De acordo
com esta conceção, não somos definidos pela soma dos
nossos desejos, como os utilitaristas assumem, nem somos
seres cuja perfeição consiste na realização de certos fins
ou propósito naturais que nos são atribuídos por natureza
[…]. Em vez disso, somos “ seres livres e independentes,
não constrangidos por laços morais prévios, capazes de
escolher os nossos próprios fins.

Michael Sandel (n. 1953)


FILOSOFIA 10º ANO

OBJEÇÃO COMUNITARISTA (M. SANDEL)


É esta conceção de pessoa que se traduz numa ideia de
Estado como um enquadramento neutro. É precisamente
porque somos seres livres e independentes, capazes de
escolher os nossos próprios fins, que precisamos de um
enquadramento de direitos que seja neutro no que diz
respeito aos fins. Fundar os direitos numa qualquer
conceção do bem seria uma imposição sobre os valores
dos outros e, por isso, implicaria desrespeitar a capacidade
de cada um escolher os seus próprios fins.

Michael Sandel (n. 1953)


FILOSOFIA 10º ANO

OBJEÇÃO COMUNITARISTA (M. SANDEL)


Em contrapartida, aqueles que contestam a prioridade do
justo questionam a conceção rawlsiana de pessoa,
enquanto ser livre e independente, não constrangido por
laços morais prévios. Argumentam que uma conceção do
eu anterior aos seus propósito e às suas ligações não é
capaz de dar conta de certos aspetos importante da nossa
experiência moral e política. Certas obrigações morais e
políticas que comummente reconhecemos – obrigações de
solidariedade, por exemplo, ou deveres religiosos –podem
impor-se-nos por razões que nada têm a ver com uma
escolha.
Michael Sandel (n. 1953)
FILOSOFIA 10º ANO

OBJEÇÃO COMUNITARISTA (M. SANDEL)


Tais obrigações são difíceis de afastar como meras
confusões e, no entanto, são difíceis de acomodar se nos
encararmos como seres livres e independentes, que não
são constrangido por laços morais que não escolheram.

Michael Sandel (n. 1953)

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