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Autopsicografia

Fernando Pessoa
Autopsicografia
(esquema interpretativo)

AUTOPSICOGRAFIA

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,


Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda


Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Fernando Pessoa, Poesia 1931-1935 e não datada,


(ed. Manuela Parreira da Silva, Ana Maria Freitas, Madalena Dine), Lisboa, Assírio &
Alvim, 2006, pp. 45-46.
Autopsicografia
(esquema interpretativo)

Poema teorizador do fingimento poético cujo título significa


descrição da própria alma

A obra nasce
do real do intelectualizado
(sentido) (fingido)

Coração Razão
(sentimento / engano) (intelecto)

Ponto de partida para Criação / fingimento /


a criação artística imaginação

O que se sente é intraduzível e, ao tentar traduzir por palavras


entendíveis, adultera-se o sentimento; a nova realidade acaba
por ser mais verdadeira do que aquela que a originou.

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