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CRÔNICA

Letícia Coleone Pires


“A crônica não é um “gênero maior”. Não se imagina uma literatura
feita de grandes cronistas, que lhe dessem o brilho universal dos
grandes romancistas, dramaturgos e poetas. Nem se pensaria em
atribuir o Prêmio Nobel a um cronista, por melhor que fosse.
Portanto, parece mesmo que a crônica é um gênero menor. “Graças
a Deus”, seria o caso de dizer, porque sendo assim ela fica mais
perto de nós. E para muitos pode servir de caminho não apenas para
a vida, que ela serve de perto, mas para a literatura (...).
(...) Ora, a crônica está sempre ajudando a estabelecer ou
restabelecer a dimensão das coisas e das pessoas. Em lugar de
oferecer um cenário excelso, numa revoada de adjetivos e períodos
candentes, pega o miúdo e mostra nele uma grandeza, uma beleza
ou uma singularidade insuspeitadas. Ela é amiga da verdade e da
poesia nas suas formas mais diretas e também nas suas formas mais
fantásticas, sobretudo porque quase sempre utiliza o humor. Isto
acontece porque não tem pretensões a durar, uma vez que é filha do
jornal e da era da máquina, onde tudo acaba tão depressa. Ela não
foi feita originalmente para o livro, mas para essa publicação
efêmera que se compra num dia e no dia seguinte é usada para
embrulhar um par de sapatos ou forrar o chão da cozinha.”
A crônica é um gênero híbrido, ou seja,
tem características do texto informativo e
do texto literário.

A palavra crônica possui origem grega,


derivada de “chronos” (tempo) e, por essa
razão, uma de suas maiores características
é o caráter contemporâneo, sendo muito
relacionada com a ideia de tempo e
relatando os fatos cotidianos de seu
registro numa linguagem conotativa e
literária.
A crônica é uma narração curta, feita especialmente para
a veiculação na imprensa, em jornais ou revistas –
primordialmente em jornais.

A crônica é uma forma textual no estilo de narração que


tem por base fatos que acontecem em nosso cotidiano.
Por este motivo, é uma leitura agradável, pois o leitor
interage com os acontecimentos e por muitas vezes se
identifica com as ações tomadas pelas personagens.

Portanto, elas estão extremamente conectadas ao


contexto em que são produzidas, por isso, com o passar
do tempo ela perde sua “validade”, ou seja, fica fora do
contexto.
CARACTERÍSTICAS
GERAIS
Narração curta;

Descreve fatos da vida cotidiana;

Pode ter caráter humorístico, crítico, satírico e/ou irônico;

Possui personagens comuns;

Segue um tempo cronológico determinado;

Uso da oralidade na escrita e do coloquialismo na fala das personagens;

Linguagem simples.
Tanto o repórter quanto o
cronista constituem suas
escritas com base em
PROXIMI acontecimentos diários. No
DADE entanto, o repórter apenas
COM repassa as informações,
TEXTOS enquanto o cronista tem a
liberdade de conferir à
JORNALÍS crônica, toques próprios,
TICOS incluindo-lhe fantasias,
ficção e outros elementos que
um artigo meramente
informativo não possui.
Geralmente, a crônica é narrada em
primeira pessoa, de forma que o
próprio cronista “dialogue” com seu
leitor.

LINGUA
GEM
É importante que a crônica seja
transmitida numa linguagem
espontânea e simples, situada entre
a linguagem literária e a oral, o que
gera uma identificação entre o leitor
e o cronista.
Fernando Sabino, Rubem Braga, Luis
Fernando Veríssimo, Carlos Heitor Cony,
Carlos Drummond de Andrade, Fernando
Ernesto Baggio, Lygia Fagundes Telles,
Clarice Lispector, Machado de Assis,
Max Gehringer, Moacyr Scliar, Pedro
Bial, Arnaldo Jabor, dentre outros.

PRINCIPAIS
CRONISTAS
CRÔNICA
NARRATIVA
A crônica narrativa é um tipo de crônica
que relata as ações de personagens num
tempo atual e um espaço determinado.
Uma crônica narrativa pode ser definida
como uma história em que há personagens,
cenários e um conflito. Além disso, deve
possuir introdução, clímax e conclusão.
São textos experimentais e pessoais,
permitindo que o escritor expresse sua
criatividade.
Enredo: história da trama, onde
temos o tema ou o assunto que será
COMO narrado.
Personagens: pessoas presentes na
FAZER história e que podem ser principais
UMA ou secundários.

CRÔNIC Tempo: indica o tempo no qual a


história está inserida.
A Espaço: determina o local (ou
NARRAT locais) onde se desenvolve a história.
Foco narrativo: é o tipo de narrador
IVA? que pode ser um personagem da
trama, um observador ou ainda
onisciente.
Além disso, devemos observar que os
fatos são narrados em ordem cronológica
e sua estrutura está dividida em:
introdução, clímax e conclusão.
É importante destacar que diferente de
outros textos narrativos longos, como uma
novela ou um romance, a crônica narrativa
é um texto mais curto.
Em geral, na crônica a narração capta um
momento, um flagrante do dia a dia; o desfecho,
embora possa ser conclusivo, nem sempre
representa a resolução do conflito, e a imaginação
do leitor é estimulada a tirar suas próprias
conclusões. Os fatos cotidianos e as personagens
descritas podem ser fictícias ou reais, embora
nunca se espere da crônica a objetividade de uma
notícia de jornal, de uma reportagem ou de um
ensaio.
Elementos que não funcionam
na crônica: grandiloquência,
enrolação, arrogância,
DICA!!! prolixidade. Elementos que
funcionam: humor, intimidade,
lirismo, surpresa, estilo,
elegância, solidariedade
APRENDA A CHAMAR A POLÍCIA (LUÍS
FERNANDO VERÍSSIMO)
Eu tenho o sono muito leve, e numa noite dessas notei que
havia alguém andando sorrateiramente no quintal de casa.
Levantei em silêncio e fiquei acompanhando os leves
ruídos que vinham lá de fora, até ver uma silhueta
passando pela janela do banheiro.
Como minha casa era muito segura, com grades nas
janelas e trancas internas nas portas, não fiquei muito
preocupado, mas era claro que eu não ia deixar um ladrão
ali, espiando tranqüilamente.
Liguei baixinho para a polícia, informei a situação e o
meu endereço.
Perguntaram-me se o ladrão estava armado ou se já estava
no interior da casa.
Esclareci que não e disseram-me que não havia nenhuma viatura por perto para ajudar,
mas que iriam mandar alguém assim que fosse possível.
Um minuto depois, liguei de novo e disse com a voz calma:
— Oi, eu liguei há pouco porque tinha alguém no meu quintal. Não precisa mais ter
pressa. Eu já matei o ladrão com um tiro de escopeta calibre 12, que tenho guardada em
casa para estas situações. O tiro fez um estrago danado no cara!
Passados menos de três minutos, estavam na minha rua cinco carros da polícia, um
helicóptero, uma unidade do resgate, uma equipe de TV e a turma dos direitos humanos,
que não perderiam isso por nada neste mundo.
Eles prenderam o ladrão em flagrante, que ficava olhando tudo com cara de
assombrado. Talvez ele estivesse pensando que aquela era a casa do Comandante da
Polícia.
No meio do tumulto, um tenente se aproximou de mim e disse:
— Pensei que tivesse dito que tinha matado o ladrão.
Eu respondi:

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