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DIREITO CONSTITUCIONAL

Licenciatura em Solicitadoria

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CAPÍTULO II – A História Constitucional Portuguesa

9. As Constituições monárquicas : 1822, 1826, 1838

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• A história constitucional portuguesa é anterior à Revolução Liberal de 1820, pois desde que Portugal é um
Estado que se podem encontrar normas que regulam o poder político e as relações que se estabelecem
entre os governantes e governados.

• Estas normas assumem, assim, natureza materialmente constitucional.


• Assim, Portugal desde que é Estado sempre teve uma Constituição em sentido material.

• A criação do Estado Português, segundo a tese maioritária remonta a 1179, altura em que o Sumo
Pontífice da Igreja Católica, Alexandre III, reconheceu a D. Afonso Henriques o título de rex, através da
Bula Manifestum Probatum (embora haja quem fale em datas anteriores).

• Portugal é, portanto, o Estado que tem as fronteiras geográficas mais antigas da Europa.

• Contudo, a época do constitucionalismo português só viria a suceder na Idade Contemporânea, e fora


inspirada pelo movimento constitucionalista que percorria primeiramente a América do Norte e a Europa,
depois dos finais do século XVIII.

• A Revolução Liberal portuguesa abriu caminho à formulação das Constituições, e que eclodiu em 24 de
Agosto de 1820. Após esta, temos a era constitucional em oposição à era não constitucional vigente
anteriormente.

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A evolução histórica do Direito Constitucional Português, deve ser dividida, para efeitos de
análise global, em quatro diferentes períodos:

• o período liberal-monárquico
• o período liberal-republicano
• o período nacionalista-autoritário
• o período democrático-social

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• O período liberal-monárquico:

• Integra os textos constitucionais de 1822,1826,1838


• Teve por traço fundamental a concepção, habitual do século XIX, do Estado de Direito,
na sua modalidade liberal, com a proclamação das liberdades e dos direitos fundamentais
de 1ª geração
• “BG página 408 Nem sempre em termos coincidentes, cada um destes textos
constitucionais defendeu uma separação orgânico-funcional de poderes, à moda de
CHARLES MONTESQUIEU: ao Rei e respectivos ministros, o poder executivo; ao
Parlamento, o poder legislativo; aos tribunais, o poder jurisdicional”
• Tiveram em comum a consagração da monarquia como forma institucional de governo
do Estado, na linha da dinastia de Bragança, iniciada em 1640
• Constituições normativas

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• O período liberal-republicano

• Correspondeu a vigência de um único texto constitucional: a Constituição de 1911,


aprovada na sequência da Revolução Republicana de 5 de Outubro
• Acabaria em 28 de Maio de 1926 com o derrube do regime e a chegada do Estado Novo
• Em matéria de Direitos fundamentais, são mínimas as diferenças que se registam em
relação ao período antecedente, embora tivessem sido aditados direitos de natureza
social, embora muito timidamente
• Consagrou-se a separação de poderes do Estado, separação orgânico-funcional, mas
acentuando-se o papel dos partidos políticos e deu-se a parlamentarização do sistema de
governo
•Constituição normativa

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• O período nacionalista-autoritário:

• Correspondeu também há vigência de um único texto constitucional: a Constituição de


1933,que foi antecedida entre 1926 e 1933 de um período de ditadura militar sem texto
constitucional
• Existência de um Estado com um regime ditatorial
• Como linha fundamental era defendido o nacionalismo de Estado
• Constituição nominal

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• O período democrático-social

• Vigência da actual Constituição de 1976


• Já sofreu 7 revisões constitucionais
• Constituição normativa

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Constituições monárquicas: 1822, 1826,1838
A Constituição Republicana de 1911
A Constituição Corporativa de 1933
A Constituição de 1976

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9. As Constituições monárquicas: 1822, 1826, 1838

A Constituição Liberal de 1922

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9. As Constituições monárquicas: 1822, 1826, 1838

• Primeira Constituição da História do Direito Constitucional Português


• Segundo GOMES CANOTILHO (página 128) “é um dos textos mais importantes do constitucionalismo
português (…) porque ela marca não só o início do verdadeiro constitucionalismo em Portugal, mas
também porque ela é um ponto de referência obrigatório da teoria da legitimidade democrática do poder
constituinte”

• Insere-se no liberalismo politico, económico e filosófico

• Influenciada pela Revolução Liberal que ocorreu em 24 de Agosto de 1820

• Influenciada também pela “súplica da Constituição” de 1808 que fora dirigida a Napoleão Bonaparte,
aquando das invasões francesas:

• Vivia-se sob o domínio francês, sob o governo de Junot em nome dos Imperadores Franceses,
sendo que este ambiciona ser proclamado rei de Portugal
• Como forma de contrariar as suas intenções, um grupo de intelectuais (entre os quais avultavam
os docentes universitários Cortes Brandão e Ricardo Raimundo Nogueira, o Juiz do povo de Lisboa,
tanoeiro Abreu Campos e o desembargador Francisco Coelho), e que eram fieis à Casa de Bragança,
ao rei e ao príncipe Regente, resolveu pedir a Napoleão Bonaparte a outorga de uma Constituição,
tal como este já houvera feito para o Grão-Ducado da Varsóvia, e desta forma impedindo que Junot
subisse ao poder e preservando-se, igualmente, a independência em relação a Espanha.
•Contudo esta tentativa foi infrutífera
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9. As Constituições monárquicas: 1822, 1826, 1838

A instauração do liberalismo trouxe a imediata abolição do regime monárquico de tipo senhorial


anteriormente vigente.

Liberalismo preconizada:

•Aprovação de um texto constitucional, que estabelecesse a regulamentação do poder


politico e impusesse uma hierarquização formal da ordem jurídica estadual
•Consagração dos direitos fundamentais dos cidadãos
•Estabelecimento da separação de poderes
•Criação de uma união real entre Portugal e o Brasil

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9. As Constituições monárquicas: 1822, 1826, 1838

• Com o propósito de criar um texto que servisse de esboço à Constituição para Portugal, pouco
tempo depois da Revolução Liberal Portuguesa foram decretadas as “Cortes Gerais, Extraordinárias
e Constituintes da Nação Portuguesa”

• O propósito fundamental dessa pré-Constituição que se denominou de “Bases da Constituição” de


9 de Março de 1821, era a proclamação de vários princípios que se consideravam os mais
adequados à salvaguarda dos direitos individuais dos cidadãos e à organização e limites do poder
político

• O texto de Bases da Constituição compunha-se por duas secções, nelas se resumindo as matérias
principais que iriam ser vertidas no texto constitucional definitivo:

Secção I – Dos Direitos Individuais do Cidadão


Secção II – Da Nação Portuguesa, sua Religião, Governo e Dinastia

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9. As Constituições monárquicas: 1822, 1826, 1838

Secção I – Dos Direitos Individuais do Cidadão


Secção II – Da Nação Portuguesa, sua Religião, Governo e Dinastia

Secção I – Dos Direitos Individuais do Cidadão:


Fixou-se nesta secção o primeiro elenco de direitos fundamentais
Sobressaiam os seguintes: Importância das
• a trilogia da “liberdade, segurança e propriedade” garantias
• a afirmação do principio da liberdade criminais, e
• o principio da culpa no Direito Penal implementação
• a proibição da prisão sem culpa formada dos fundamentos
• a garantia do direito de propriedade da ideologia
• as liberdades de opinião, de expressão e de imprensa liberal
• a humanização das penas, com a proibição das penas infamantes
• o direito de petição e o sigilo de correspondência

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9. As Constituições monárquicas: 1822, 1826, 1838

Secção I – Dos Direitos Individuais do Cidadão


Secção II – Da Nação Portuguesa, sua Religião, Governo e Dinastia

Secção II – Da Nação Portuguesa, sua Religião, Governo e Dinastia

Nova organização politica constitucional:

• carácter constitucional do sistema politico, adoptando-se um texto constitucional


• introdução da monarquia constitucional, assim como da religião católica como religião
oficial do estado Português
• a consagração da separação de poderes, na concepção tripartida dos poderes
legislativo, executivo e judiciário
• principio da soberania nacional

 Contudo não continham todas as matérias que viriam a ser explanadas no texto
definitivo

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9. As Constituições monárquicas: 1822, 1826, 1838

• Em 23 de Setembro de 1822, as “Cortes Gerais, Extraordinárias e Constituintes da Nação Portuguesa”


aprovariam a Constituição de 1822.

• GOMES CANOTILHO (página 128) “ Durante o constitucionalismo monárquico da 1ª fase não existem
forças partidárias puras. O poder constituinte, tal como ele se manifestou nas Cortes Gerais, Extraordinárias
e Constituintes de 1821, foi expressão do confronto e compromisso dos grupos ” (realistas, moderados,
gradualistas e radicais)

• A Constituição tinha 240 artigos

• Sistematização:

Titulo I – Dos direitos e deveres individuais dos portugueses


Título II – Da nação portuguesa e seu território, religião, governo e dinastia
Título III– Do poder legislativo ou das Cortes
Título IV – Do poder executivo ou do Rei
Título V – Do poder judicial
Título VI – Do governo administrativo e económico

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9. As Constituições monárquicas: 1822, 1826, 1838

• A Constituição de 1822 recebeu influências dos primeiros textos constitucionais conhecidos na Europa,
nomeadamente das Constituições Francesas de 1791 e 1795 e da Espanhola de Cádiz de 1812.

• A Constituição teve vários momentos de vigência:

1. Vigorou de 23 de Setembro de 1822 a 2 de Junho de 1823. Nesta data, pela


“Vilafrancada” (restauração do absolutismo) foi revogada e repôs-se a ordem
institucional pré-constitucional.

2. Teria, contudo, uma segunda vigência, depois da Revolução de 9 de Setembro


de 1936, entre 10 de Setembro de 1836 e 4 de Abril de 1838, altura em que
entrou em vigor a Constituição de 1838

• Não sofreu quaisquer alterações, o que se pode justificar pela sua efémera vigência.

• Consagrava um regime de revisão constitucional que tinha um limite temporal de 4 anos,


fundada na maioria qualificada de dois terços. Contudo, a votação teria de acontecer, primeiro na
legislatura em curso, sendo depois respeitada na legislatura seguinte, saída de eleições.

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9. As Constituições monárquicas: 1822, 1826, 1838

Princípios norteadores da Constituição de 1822:

• princípio democrático, dado que “a soberania reside essencialmente na Nação” (artigo 26.º), só à
Nação “livre e independente” pertence fazer a Constituição ou a Lei Fundamental, “sem
dependência do Rei” (artigo 27.º) e a própria “autoridade do Rei provém da Nação” (artigo 121.º)

• princípio representativo, já que a soberania só “pode ser exercitada pelos seus representantes
legalmente eleitos” e só aos Deputados da Nação “juntos em Cortes” pertence fazer a Constituição
(artigos 16.º, 27.º, 32.º, 94.º)

• princípio da separação de poderes (legislativo, executivo e judicial), “de tal maneira


independentes” “ que não poderá arrogar a si as atribuições do outro” (artigo 30.º)

• princípio da igualdade jurídica e do respeito pelos direitos pessoais (artigo 3.º e 9.º)

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Direitos fundamentais:
• A proclamação dos Direitos Fundamentais foi um dos grandes marcos desta Constituição, e que se
deu na esteira da inspiração iluminista e liberal que estimulou a Revolução de 1820

• Os direitos fundamentais eram inseridos no texto constitucional, ao invés do que sucedia com a
Constituição Francesa de 1971 e a Constituição Espanhola de Cádiz de 1812, em que os direitos
fundamentais estavam dispersos

• Encontravam-se logo inseridos no Título I sob a epígrafe “Dos Direitos e deveres Individuais dos
Portugueses”

• BACELAR GOUVEIA (página 422) “ O mais relevante a considerar era o facto de esta ter sido a
primeira vez que no Direito Constitucional Português haveria lugar para a positivação de direitos
fundamentais, sendo certo que, paralelamente, nunca em Portugal se enveredara pela redacção formal
e autónoma de qualquer declaração de direitos”

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9. As Constituições monárquicas: 1822, 1826, 1838

• Tocava vários domínios, a partir da trilogia “liberdade, segurança e propriedade”

• Podemos elencar os seguintes direitos enumerados: a liberdade em geral, a segurança, a propriedade


e o direito de indemnização em caso de expropriação, a proibição da prisão sem culpa formada; a
inviolabilidade do domicilio, a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa, a igualdade juridico-
formal, a necessidade da pena, a proporcionalidade da pena e a proibição das penas desumanas ou
infamantes, a liberdade de acesso a cargos públicos, a responsabilidade por erros de oficio e abusos de
poder por parte dos empregados públicos, o direito a remuneração por serviços prestados à Pátria, o
direito de petição e a inviolabilidade da correspondência.

• Era também possível depararmo-nos com direitos fundamentais não enumerados tais como: direito à
cidadania e a liberdade de culto privado para estrangeiros

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9. As Constituições monárquicas: 1822, 1826, 1838

•Numa síntese dos grandes domínios em que estes direitos fundamentais inovaram em Portugal podemos
referir:

• a humanização do Direito Penal e do Direito Processual Penal


• a consagração do direito de propriedade, bem como da liberdade económica
• a abolição dos privilégios e a proclamação do princípio da igualdade formal
• o reconhecimento de liberdades públicas no domínio da opinião, reunião e associação
• a participação democrática na escolha dos parlamentares, em nome de uma ideia de
representação politica

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9. As Constituições monárquicas: 1822, 1826, 1838

Paralelamente a estes direitos fundamentais o texto ficou conhecido pela preocupação


com alguns objectivos sociais, inscritos na parte final do articulado constitucional:
(imposições constitucionais)

• o ensino da “…mocidade portuguesa de ambos os sexos a ler, escrever e contar, e o catecismo das
obrigações religiosas e civis” (artigo 237.º)

• a “…criação de novos estabelecimentos de instrução pública” ( artigo 238.º)

• a “…fundação, conservação e aumento de casas de misericórdia e hospitais” e de “rodas de


expostos, monte-pios, civilização dos índios, e de quaisquer outros estabelecimentos de caridade”
(artigo 240.º)

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9. As Constituições monárquicas: 1822, 1826, 1838

Prescreveu ainda alguns deveres fundamentais:

• venerar a Religião
• amar a Pátria e defendê-la com as armas
• obedecer à Constituição e às leis
• respeitar as autoridades públicas
• contribuir para as despesas do Estado

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9. As Constituições monárquicas: 1822, 1826, 1838

“PRESIDENCIALISMO” MONÁRQUICO INOPERANTE

• Relativamente à organização politica houve a escolha de uma distribuição clássica dos poderes, em
legislativo, executivo e judicial através de 3 órgãos:

• as Cortes
• o Rei
• os Tribunais

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9. As Constituições monárquicas: 1822, 1826, 1838

As Cortes
• Eram um órgão parlamentar unicameral
• Exerciam os poderes legislativo e de fiscalização politica, numa base representativa e com uma
legislatura de dois anos
•A eleição dos Deputados era indirecta – os cidadãos activos limitavam-se a eleger eleitores de segundo
grau - daí que haja primeiro assembleia primárias (artigo 44.º) e depois assembleias em “junta pública
na casa da Câmara” (artigo 61.º) e finalmente, assembleias na junta de cabeça de divisão eleitoral (artigo
63.º)
• não era universal – excluía o direito de voto às mulheres, aos menores de 25 anos e aos “ filhos de
família que estivessem no poder e companhia dos pais”, aos “criados de servir”, aos “vadios” e aos
“regulares” (artigo 33.º)
• quanto à capacidade passiva estabelecia-se um critério censitário, pois eram inelegíveis, entre outros os
“que não têm para se sustentar renda suficiente, precedida de bens de raiz, comércio, industria ou
emprego” (artigo 34.º)

• Tinha competência politica – tomar juramento do Rei, reconhecer o sucessor da coroa, eleger a
regência, aprovar os impostos e tratados de aliança, etc
• Competência legislativa e controlo politico da constitucionalidade e da legalidade
• A iniciativa das leis cabia aos deputados, embora os secretários de Estado também pudessem fazer
propostas, que depois de examinadas por uma comissão das Cortes, podiam ser convertidas em projectos
de lei

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O Rei

• Poder executivo
• Órgão singular
• Dinastia de Bragança

• Contudo o Rei não agia sozinho: o texto constitucional referia a existência de secretários de Estado, em
relação aos quais atribuía poderes às Cortes para realizarem a respectiva regulação

• Era auxiliado pelo Conselho de Estado, órgão de natureza consultiva, composto por treze cidadãos
eleitos por um mandato de 4 anos e nomeados pelo Rei sob proposta das Cortes. Ele devia ser ouvido
pelo Rei “ nos negócios graves, e particularmente sobre dar ou negar a sanção das leis; declarar a guerra
e a paz e fazer tratados” (artigo 167.º). Competia-lhe igualmente propor ao Rei pessoas para os “lugares
da magistratura e para os bispados”.

• Monarquia limitada

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Os Tribunais

• Poder judicial
• Concepção estrita da sua independência
• No plano da fiscalização da constitucionalidade, tendo sido ela admitida como tal, vigorava, um sistema
de fiscalização parlamentar, na prática totalmente ineficiente

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Sistema de Governo:
BACELAR GOUVEIA (página 426) “A C1822 consagrou, do ponto de vista puramente formal (uma vez que
as suas duas e atribuladas curtas vigências não permitiram tirar ilações do foro da aplicação prática das
normas constitucionais), um sistema de governo “presidencial”, com a excepção de o Chefe de Estado
ser, não um Presidente da República, mas um Rei”

• Fixou-se a independência recíproca dos órgãos do Estado, não sendo admitido ao poder executivo
dissolver o parlamento e não se autorizando o Parlamento a demitir, por razões políticas, os secretários
nomeados pelo Rei

• Confirmou-se essa independência por o poder de veto real ser meramente suspensivo, ultrapassável
pela mesma maioria que aprovasse o decreto legislativo, para além de um largo leque de competências
em que se dispensava essa sanção real

• Optou-se pelo carácter unicameral das Cortes, sem reflexo do principio monárquico, não havendo
assento para os representantes da aristocracia

• escolheu-se a eleição directa como modo de designação dos membros das cortes, prevalecendo uma
presença mais forte do principio democrático

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União real entre Portugal e o Brasil:

• o texto constitucional estabelecia uma união entre Portugal – com todos os seus territórios ultramarinos
- e o Brasil
• as entidades de governo no âmbito desta união real não eram totalmente simétricas, tendo de comum
aos dois reinos o Rei, as Cortes e o Conselho de Estado
• a particularidade afirmava-se no plano executivo, consagrando-se a autonomia institucional no Brasil,
para o mesmo se criando uma Delegação do Poder Executivo, com funções de regência

•A delegação do Poder Executivo era composta por cinco membros com cargos diferenciados, contudo as
suas competências estavam fortemente limitadas

• BACELAR GOUVEIA (página 430) “ A união real entre Portugal e o Brasil apenas se assumia relevante no
plano do poder executivo, sendo assim uma união real imperfeita, restrita que estava a esse tipo de
poder público. Mas esta união real comungaria do destino da própria C1822 e não duraria muito tempo
para este efeito, pois que logo em 7 de Setembro de 1822 o Brasil proclamaria a sua independência
politica, fazendo caducar estas normas daquele articulado constitucional ”

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9. As Constituições monárquicas: 1822, 1826, 1838

A Carta Constitucional da
Restauração de 1826

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• O ambiente político-institucional em Portugal, marcado pela proclamação da independência brasileira


não permitiu que a Constituição de 1822 vigorasse muito tempo, voltando-se, assim, à época pré-
constitucional

• O texto constitucional de 1822 era um texto demasiado liberal para o seu tempo, mas o tempo
também já não era de um Estado Pré-constitucional

• Foi assim que apareceu a Constituição de 1826, nascendo do contexto da Restauração, numa linha
compromissória, reconhecendo-se que a Constituição de 1822 tinha ido longe demais.

• “Daí que tudo se conjugasse para uma solução de equilíbrio, mantendo-se uma ordem constitucional,
mas temperada de alguns excessos cometidos, na tentativa de se fazer a “ponte” entre os legitimistas,
encabeçados por D. Miguel, e os liberais, chefiados por D. Pedro IV, entretanto Imperador do Brasil ”

•Aclamado como rei, o Imperador do Brasil (D. Pedro), perante o inconveniente da união pessoal de
dois reinos outorgou, primeiro, uma Carta Constitucional à Monarquia Portuguesa, abdicando a seguir
em sua filha, D. Maria. A abdicação era, porém, condicionada ao casamento desta com o tio D. Miguel,
e à garantia da vigência da Carta outorgada.

• Influência do texto constitucional de BENJAMIN CONSTANT

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9. As Constituições monárquicas: 1822, 1826, 1838

• O poder constituinte baseia-se, agora, no princípio monárquico: é o monarca que, por livre vontade,
outorga uma lei fundamental, que se designa por Carta.

• Princípios norteadores da Carta Constitucional de 1826:

• principio monárquico

• principio da divisão de poderes, mas sem a completa divisão de poderes

• princípio censitário, pois a participação no exercício do poder é constitucionalmente


limitada a uma pequena minoria

• reconhecimento de Direitos Civis e Políticos dos Cidadãos (artigo 145.º)

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9. As Constituições monárquicas: 1822, 1826, 1838

• O resultado foi a outorga de um texto constitucional, com o nome de “Carta Constitucional para o
Reino de Portugal, Algarve e seus Domínios”, em 29 de Abril de 1826, no Rio de Janeiro, com 145
artigos e a seguinte sistematização:

Título I – Do reino de Portugal, seu território, governo, dinastia e religião


Título II – Dos cidadãos portugueses
Título III – Dos poderes e representação nacional
Título IV – Do poder legislativo
Título V – Do Rei
Título VI – Do poder judicial
Título VII – Da administração e economia das províncias
Título VIII – Das disposições gerais e garantias dos direitos civis e políticos dos
cidadãos portugueses

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9. As Constituições monárquicas: 1822, 1826, 1838

• Foi o texto constitucional que vigoraria mais tempo em Portugal na Idade Contemporânea
• Não foi, contudo, uma vigência contínua
• Foi uma vigência que decorreu em três períodos distintos:

• 1ª VIGÊNCIA – de 31 de Julho de 1826 a 3 de Maio de 1828 – correspondeu a um período


de estabilidade inicial, na sequência do acordo celebrado entre liberais e legitimistas, mas
que seria quebrado a partir de 1828, entrando Portugal num período de governo pré-
constitucional ao que se seguiu a guerra civil

• 2ª VIGÊNCIA - de 26 de Maio de 1834 a 10 de Setembro de 1836 – enquadrou-se no


rescaldo da derrota dos legitimistas e da vitória dos liberais, pondo termo àquela guerra civil,
celebrada na Convenção de Évora-Monte, altura em que a Carta Constitucional seria reposta.
O texto viria a ser vivamente contestado por uma facção liberal que, vitoriosa em 9 de
Setembro de 1836, aboliu o documento cartista e repôs em vigor a Constituição de 1822

• 3ª VIGÊNCIA – de 28 de Janeiro de 1842 a 5 de Outubro de 1910 – aconteceria depois do


Golpe de Costa Cabral em 1842, que poria fim à vigência da Constituição de 1838 e, no
momento, restauraria a vigência da Constituição de 1826, desta vez até à implantação da
República em 1910

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9. As Constituições monárquicas: 1822, 1826, 1838

• São notórias neste texto constitucional as influências da restauração constitucional europeia,


que se seguiu à derrota de Napoleão Bonaparte em Waterloo, seguindo-se por um
constitucionalismo conservador, a partir da Carta Constitucional de 1814-1815, de valorização da
componente monárquica e aristocrática

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Direitos Fundamentais:
• comparativamente ao texto constitucional de 1822, mostrou-se compromissória, com avanços e recuos
do ponto de vista da protecção das pessoas

• foi no seu último, mas mais extenso, artigo 145.º que se deu a consagração dos direitos fundamentais,
assim se evidenciando uma certa desvalorização sistemática dos mesmos

• apesar da desvalorização simbólica dos direitos fundamentais pode-se dizer que o saldo final foi o do
acréscimo da protecção da pessoa

• manutenção de todos os direitos fundamentais anteriormente previstos, tanto os enumerados como os


não enumerados

• o mesmo se pode dizer dos direitos sociais, cuja formulação, ainda que alterada, registou uma contínua
reiteração de vários dos seus tipos: a garantia de “socorros públicos”, de “instrução primária e gratuita a
todos os cidadãos” e de “ Colégios Universitários”

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Houve, igualmente, a preocupação com a adição de novos direitos, com os seguintes novos direitos,
princípios e liberdades:

• o princípio da não retroactividade das leis em geral


• a abertura a uma limitada liberdade religiosa
• a liberdade de deslocação e emigração
• a necessidade da decretação da prisão por uma autoridade legitima
• a independência do poder judicial e o principio do caso julgado
• a liberdade de trabalho e de empresa
• a defesa da propriedade intelectual

• a observação da C1826, através do Acto Adicional de 1885, permitiu verificar o acréscimo de


mais um importante direito: o direito de reunião

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Organização politica:

• manteve a orientação geral de separação de poderes, dentro de uma concepção orgânico-


funcional, mas com a novidade da introdução do poder moderador, a cargo do rei:

• os poderes dividiam-se da seguinte forma:


• o poder legislativo para as Cortes
• o poder moderador e o poder executivo para o Rei e os seus ministros
• o poder judicial para os tribunais

A monarquia cartista é considerada como uma verdadeira diarquia: o poder político é partilhado
pelo Rei e pela oligarquia.
A capacidade eleitoral era apenas reconhecida àqueles que, pelo menos, tivessem ”cem mil réis,
por bens de raiz, indústria, comércio ou emprego”. As condições de elegibilidade eram ainda mais
rigorosas. Abriram-se as portas das Cortes à aristocracia conservadora e legitimista e à burguesia
industrial e financeira.

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Cortes:
• Poder legislativo

• Tinham uma estrutura bicameral, com a Câmara dos Pares e a Câmara dos Deputados

• A Câmara dos Pares era constituída por aristocratas designados pelo Rei, a título vitalício ou hereditário

• A Câmara dos Deputados era composta por parlamentares eleitos, num primeiro momento
indirectamente, mas depois através de sufrágio directo, para um mandato de 4 anos

•A Câmara dos Deputados era electiva e temporária e a Câmara dos Pares era composta por membros
vitalícios e hereditários, nomeados pelo Rei e sem número fixo, a estes acresciam os Pares que tinham
por direito próprio ou em virtude do nascimento.

• “O funcionamento das Cortes adequava-se a um sistema bicameral perfeito, em que ambas as câmaras
podiam intervir na aprovação de diplomas, apesar de algumas competências específicas serem atribuídas
a cada uma delas”

• A iniciativa cabe a qualquer das Câmaras, bem como ao poder executivo. A discussão dos projectos
faz-se também nas duas assembleias, regulando o texto o procedimento a adoptar em caso de
divergências. O Monarca participaria também, através da sanção e do veto. O veto real tinha efeito
absoluto. 39
9. As Constituições monárquicas: 1822, 1826, 1838

O Rei
• era titular de dois distintos poderes, o poder moderador e o poder executivo

• cabia à dinastia da casa de Bragança

• o poder moderador, de exercício individual, incluía a prática de actos necessários ao equilíbrio do


sistema politico, como a dissolução das Cortes, a demissão dos ministros ou o poder de veto

• o poder executivo compreendia a prática de actos de administração, exercido pelos seus ministros e
secretários

•A actividade do rei era auxiliada pelo Conselho de Estado, órgão de consulta composto por membros
vitalícios por ele nomeados, com competência para serem “… ouvidos em todos os negócios graves e
medidas de pública administração, principalmente sobre a declaração de guerra, ajustes de paz,
negociações com as nações estrangeiras; assim como em todas as ocasiões, em que o rei se proponha
exercer qualquer das atribuições próprias do poder moderador…”

40
9. As Constituições monárquicas: 1822, 1826, 1838

Os Tribunais:

• exerciam o poder judicial

• independentes

• composto de juízes e jurados

• preocupação com a especialização funcional e hierárquica na categoria de certos tribunais

41
9. As Constituições monárquicas: 1822, 1826, 1838

Sistema de governo:
• monarquia constitucional

• “a despeito dessa dificuldade, é possível descortinar dois momentos fundamentais na respectiva


evolução”
• “Num primeiro momento, a atribuição específica do poder moderador ao Rei fez deste órgão
unipessoal a figura central do sistema político, até porque se tratava de satisfazer os desejos da ala
legitimista ou anti-liberal da classe politica de então”
•“o fluir dos anos, porém, tornou o sistema progressivamente mais liberal, reduzindo-se bastante a
intervenção régia, cada vez mais difícil à medida que também se chegava ao fim da monarquia e
emergiam todas as causas que estiveram subjacentes a esse mesmo fim, tanto politicas como
económicas”

• “A C1826 estabeleceu um sistema que, apesar de na letra do texto constitucional o Rei ocupar um
papel preponderante, evolui no sentido de semiparlamentar, com equilíbrio entre a componente
monárquica e a componente parlamentar, ainda que com flutuações importantes ”

42
9. As Constituições monárquicas: 1822, 1826, 1838

Actos adicionais:
• foi objecto de diversas revisões constitucionais, que tomaram o nome de actos adicionais

• Foram quatro os actos adicionais:


• Acto Adicional de 5 de Julho de 1852: instituição das eleições directas para a Câmara
dos Deputados, reforço do poder das Cortes em matéria financeira, concessão de poderes
normativos ao Governo em matéria de Ultramar, abolição da pena de morte para crimes
políticos
• Acto Adicional de 24 de Julho de 1885: modificação do estatuto da Câmara dos Pares,
reduzindo o poder aristocrático e aproximando-a do princípio democrático, ao estabelecer
um número de 100 pares vitalícios nomeados pelo rei e 50 pares indirectamente eleitos,
positiviação do direito de reunião
• Acto Adicional de 25 de Setembro de 1895 – 3 de Abril de 1896: reforço da posição
politica do Governo em relação ao poder moderador e ao poder legislativo, ali através de
referenda ministerial de um maior número dos seus actos próprios, aqui pelas menores
restrições do poder de dissolução, sem esquecer a possibilidade de esta a todo o tempo
se exercer
• Acto Adicional de 23 de Dezembro de 1907: a ilimitação do número dos pares vitalícios
e a consagração de foro judicial especial no Supremo Tribunal de Justiça para os delitos
cometidos pelos ministros do Estado 43
9. As Constituições monárquicas: 1822, 1826, 1838

Estes Actos adicionais puderam inserir-se, no plano da actividade politica, em dois grandes períodos
considerados de estabilização constitucional depois de 1842:

• o período da regeneração, desde 1842 até 1890, em que ocorre o rotativismos partidário entre
o Partido Regenerador e Partido Histórico/Progressista, com uma politica de fomento e de
industrialização do país
• o período da crise monárquica, de 1890 até à implantação da república, num tempo em que o
regime definhava, aceleradamente depois do ultimatum britânico

Regime da Revisão constitucional:

• iniciativa de revisão feita por escrito, com origem na Câmara dos Deputados, e apoiada pela sua terça
parte
• leitura por três vezes, com intervalos de seis dias, da proposta
• deliberação da Câmara dos Deputados, segundo a regra geral da aprovação por maioria, seguindo-se a
sanção e a promulgação régia
• nova deliberação da Câmara dos Deputados, no âmbito de uma nova legislatura, após eleição seguinte
dos Deputados
• preceito de auto-desconstitucionalização – “É só Constitucional o que diz respeito aos limites e
atribuições respectivas dos Poderes Políticos, e aos Direitos Políticos e Individuais dos Cidadãos. Tudo o
que não é constitucional pode ser alterado sem as formalidades referidas pelas legislaturas ordinárias”
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9. As Constituições monárquicas: 1822, 1826, 1838

A Constituição Setembrista de 1838

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9. As Constituições monárquicas: 1822, 1826, 1838

• surgiu na sequência de uma revolução, que foi a revolução de Setembro, ocorrida em 9 de Setembro
de 1836, e a qual poria termo à vigência da Constituição de 1826

• “As ideias subjacentes a este projecto revolucionário, de que fez parte Almeida Garrett como
Deputado constituinte e articulista, assentavam na revivescência dos princípios do liberalismo mais
progressivista, em certo sentido postergadores depois da vitória liberal sobre os partidários da ordem
pré-constitucional, ainda que o respectivo contorcionismo politico não pudesse dar um sinal seguro
quanto à coerência de uma ideia condutora”

• influências da Carta Constitucional Francesa de 1830, a Constituição Belga de 1831, a Constituição


Espanhola de 1837

• surge como constituição pactuada entre as Cortes e o Rei e como uma Constituição Compromisso
entre os defensores da soberania nacional e os partidários da monarquia constitucional assente no
principio monárquico

46
9. As Constituições monárquicas: 1822, 1826, 1838

• Sistematização

Título I – Da nação portuguesa, seu território, religião, governo e dinastia


Título II – Dos cidadãos portugueses
Título III – Dos direitos e garantias dos portugueses
Título IV – Dos poderes políticos
Título V – Do poder legislativo
Título VI – Do poder executivo
Título VII – Do poder judiciário
Título VIII – Do governo administrativo e municipal
Título IX – Da fazenda nacional
Título X – Das províncias ultramarinas
Título XI - Da reforma da Constituição

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9. As Constituições monárquicas: 1822, 1826, 1838

• teve uma vigência de 4 anos, entre 4 de Abril de 1838 e 10 de Fevereiro de 1842, com o Golpe de
Costa Cabral
• Não teve nenhuma revisão constitucional

•Regime da revisão constitucional:


• a iniciativa cabia, em exclusivo, à Câmara dos Deputados
• a primeira aprovação ocorria em ambas as câmaras parlamentares, a Câmara dos
Deputados e a Câmara dos Senadores, com o assentimento do Rei, dando-lhe a sua livre
sanção
• a segunda aprovação acontecia nas Cortes, na legislatura seguinte, não sendo aqui já
exigida a sanção régia

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9. As Constituições monárquicas: 1822, 1826, 1838

• elaborada no âmbito de Cortes Constituintes, seria confluído em 1838, alcançando uma dupla
legitimidade constitucional:

• parlamentar, por ter sido aprovado pelas Cortes Gerais, Extraordinárias e Constituintes,
em 20 de Março de 1838
• Régia, por ter sido expressamente sancionado pela Rainha de então, D. Maria II, em 4
de Abril de 1838, data do próprio texto constitucional, ao ter aceitado e jurado o mesmo

• foi um texto pactuado, conciliando duas antagónicas legitimidades, a legitimidade democrática,


titulada pelas Cortes e a legitimidade monárquica, simbolizada pela monarquia

49
9. As Constituições monárquicas: 1822, 1826, 1838

Direitos fundamentais:
• a C1838 retomou a tradicional localização sistemática dos direitos fundamentais, já que a
positivação destes direitos passou a constar de novo da parte inicial do articulado constitucional,
dedicando-se-lhe um titulo especifico – “ Dos Direitos e Garantias dos Portugueses”

• preocupação de manter os mesmos direitos sociais anteriormente garantidos, tanto na C1822 como
na C1826

• aditamento de novos tipos de direitos fundamentais:


• direito de associação
• direito de reunião
• direito de resistência
• direito de propriedade
• Liberdade de ensino publico

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9. As Constituições monárquicas: 1822, 1826, 1838

Organização Política:

• manteve-se a separação orgânico-funcional de poderes

• consagrou-se a independência dos poderes políticos, aliado ao principio da soberania nacional, o


que justifica o desaparecimento do poder moderador e a diminuição dos poderes do monarca
relativamente a outros poderes

• aboliu-se o poder moderador , transferindo-se as respectivas competências para o poder executivo

• o “Poder Legislativo compete às Cortes com a sanção do Rei”


• o “Executivo ao Rei, que o exerce pelos Ministros e Secretários de Estado”
• o” Judiciário aos juízes e Jurados na conformidade da lei”

51
9. As Constituições monárquicas: 1822, 1826, 1838

Cortes:
• poder legislativo

• Estrutura bicameral, com a Câmara de Senadores e uma Câmara de Deputados


• a escolha dos seus membros, expurgado o princípio aristocrático, fazia-se nos dois casos por
sufrágio directo, ainda que limitado

• no plano legislativo, os diplomas careciam da igual aprovação em ambas as câmaras, embora a


câmara dos Deputados tivesse maior peso politico por lhe caber a iniciativa legislativa em matéria de
impostos, assim como a decisão sobre a acusação dos ministros e dos secretários de Estado

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9. As Constituições monárquicas: 1822, 1826, 1838

O Rei:
• poder executivo

• tinha competências de administração e de intervenção noutros órgãos do Estado

• o texto constitucional inovava na autonomização formal e substancial do Ministério, neles se


incluindo os ministros e os secretários de Estado

• “a importância do Ministério não se apresentava unicamente operativa na sua feição governativo-


burocrática como igualmente num plano mais sistémico de limitação politica do Rei através da
referenda, sendo, de resto, por causa dela, que surgiu expressamente referido: “Todos os actos do
Poder executivo com a assinatura do Rei serão sempre referendados pelo Ministro e Secretário de
Estado competente, sem o que não terão efeito”

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9. As Constituições monárquicas: 1822, 1826, 1838

Os Tribunais:
• poder judicial

• estabelecia-se diversas instancias de tribunais em razão da hierarquia e matéria

• introduziu-se um duplo papel ao juiz com uma tarefa relacionada com a aplicação Direito e aos
jurados no plano da comprovação dos factos, não restrita às causas penais e admitindo-se a sua
presença nas causas cíveis

• no plano da hierarquia judiciária, surgia já com alguma nitidez a ideia de três instancias judiciárias

• principio geral da publicidade das audiências nos tribunais

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9. As Constituições monárquicas: 1822, 1826, 1838

Sistema de Governo:
• sistema de governo misto, de carácter orleanista, com equilíbrio entre a componente monárquica e
a componente parlamentar

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10. A Constituição Republicana de 1911

A Constituição Republicana de 1911

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10. A Constituição Republicana de 1911

• Revolução Republicana de 5 de Outubro de 1910, quando pela janela dos Paços do Concelho de
Lisboa foi proclamado o regime republicano

• Teve influencia no programa republicano, datado de 11 de Janeiro de 1891, que se fundava em


três vectores fundamentais e na Constituição brasileira de 1891:

• forma republicana de governo, com a abolição do Rei e da monarquia e a sua


substituição, e em tudo o que daí fosse decorrente, pelo Presidente da Republica, bem
como a propagação do principio democratico
• a laicização social do Estado, com a absoluta separação de actividades entre o poder
temporal e poder espiritual
• o municipalismo, com a conveniência de avivar o poder dos concelhos

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10. A Constituição Republicana de 1911

• Logo que o regime republicano foi proclamado, iniciaram-se os trabalhos conducentes à redacção
do novo texto constitucional, que só seria aprovado em 21 de Agosto de 1911

• Tinha 87 artigos com a seguinte sistematização:

Título I – Da forma do governo e do território da nação portuguesa


Título II – Dos direitos e garantias individuais
Título III – Da soberania e dos poderes do Estado
Título IV – Das instituições locais administrativas
Título V – Da administração das províncias ultramarinas
Título VI – Disposições gerais
Título VII – Da revisão constitucional
Disposições transitórias

58
10. A Constituição Republicana de 1911

• Até ao momento da entrada em funcionamento dos órgãos constitucionais, estabeleceu-se uma


ordem constitucional provisória

• A constituição de 1911 duraria até 1926, momento em que uma outra revolução poria termo à
sua vigência. Ficou, ainda marcada pelo interregno sidonista, pois que o mesmo implicou a quebra
da ordem constitucional formal, com a sua substituição por uma outra ordem constitucional.

• As grandes influências foram os textos constitucionais suíços e brasileiro de 1891 e as leis


constitucionais francesas de 1875

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10. A Constituição Republicana de 1911

Direitos Fundamentais:

• o plano da garantia dos direitos fundamentais seria uma das maiores mudanças trazidas pelo
regime republicano

• reposicionou-se os direitos fundamentais na parte inicial do articulado constitucional

• consagração de novos tipos de direitos

• os direitos fundamentais não estavam num único artigo, mas encontravam-se concentrados em
dois artigos.

• consagração do refendo local, em coerencia com o programa municipalista e localista

• Boa parte dos direitos anteriormente consagrados nos textos constitucionais seriam garantidos,
mas houve a consagração de novos direitos fundamentais

60
10. A Constituição Republicana de 1911

Novos tipos de direitos fundamentais:

• plena liberdade religiosa, consagração da liberdade religiosa e de culto


• a abolição da pena de morte e das penas corporais perpétuas ou ilimitadas
• o direito de revisão das sentenças condenatórias
• o principio da legalidade dos impostos, assim como o direito de resistência contra o
seu pagamento ilicito
• a garantia do habeas corpus
• a garantia do emprego durante o cumprimento do serviço militar obrigatório
• o direito de indemnização no caso de condenação injusta
• a garantia da não privação de liberdade sem prévia autorização judicial no caso de
doentes mentais

• abolição da pena de morte - Acta Adicional de 1852

• escassa mudança introduzida nos direitos sociais, apenas se notando que o ensino primário era não só
gratuito mas também obrigatório
• ausente igualdade política entre homens e mulheres, que, podendo estar formalmente consagrada no
texto constitucional seria drasticamente distorcida ao nível da legislação ordinária eleitoral 61
10. A Constituição Republicana de 1911

• a mudança mais significativa seria a afirmação da separação absoluta entre o Estado e as


confissões religiosas

• “Formalmente concebido de separação absoluta, a prática do sistema constitucional redundaria


num sistema de perseguição religiosa, de que seria naturalmente a Igreja Católica a principal
vítima, a despeito de todas as afirmações de igualdade de tratamento, o que podia ser bem
comprovado por vários factos:
- a extinção das ordens religiosas;
- a imposição do casamento civil, negando-se relevância civil ao casamento religioso;
ou
- a nacionalização dos bens das ordens religiosas”

• Lei da Separação do Estado da Igreja

62
10. A Constituição Republicana de 1911

• outro importante preceito foi o que consagrou a expressa possibilidade de o texto constitucional
conter outros direitos fundamentais de valor constitucional – direitos fundamentais atípicos - para
além dos já positivados

•Consagrava-se assim “ A especificação das garantias e direitos não enumerados, mas resultantes
da forma de governo que ela estabelece e dos princípios que consigna ou constam doutras leis”

• introdução de uma clausula aberta ou de não tipicidade do catálogo dos direitos fundamentais,
através da qual se fazia o reconhecimento explicito dos direitos fundamentais atípicos, com uma
norma que abria o sistema constitucional de direitos fundamentais

•“A operacionalização desta abertura aos direitos fundamentais atípicos, não sendo propriamente
indiscriminada, sujeitava-se às seguintes balizas:
─ a eficácia normativa dos direitos a colher pela sua consagração prévia ao nível de
uma fonte legal;
─ a selecção material dos direitos com base numa concepção republicana, que se
identificava com os princípios constitucionais republicanos, subjacentes À lógica do
sistema político republicano;
─ a aplicação parcial do regime dos direitos fundamentais enumerados aos direitos
fundamentais atípicos, sublinhando-se a particularidade da sua constitucionalização.”
63
10. A Constituição Republicana de 1911

Organização do poder político:

• a alteração fundamental residiu na consagração do princípio republicano na sua vertente


institucional, com a substituição do Rei pelo cargo de Presidente da República, e da afirmação do
carácter unitário do Estado

• “A legitimidade democrática do Chefe de Estado, se considerada indispensável, apenas se


apresentava indirectamente relevante, pois que a sua designação organizava-se no seio de um
colégio especial, não directamente pelo voto dos cidadãos eleitores”

• Carácter ainda limitado desse sufrágio, mantendo-se ainda diversas discriminações em razão da
idade e do sexo.

• Quanto à disposição dos poderes, reafirmava-se a tripartição dos poderes, o poder executivo, o
poder legislativo e o poder judicial, considerados “independentes e harmónicos entre si” (artigo
6.º)

64
10. A Constituição Republicana de 1911

Poder Legislativo:

• competia ao Congresso da República


• estrutura bicameral, composto pela Câmara dos Deputados e pelo Senado, em ambos os casos
os seus membros eram eleitos por sufrágio directo dos seus cidadãos
• com competência legislativa tendencialmente igual, distinguem-se quanto à composição, duração
de mandato e competência privativa

• a legislatura tinha a duração de 3 ano, funcionando em separado e em conjunto, tendo os


Deputados um mandato de três anos e os Senadores um mandato de 6 anos

65
10. A Constituição Republicana de 1911

Poder executivo:

• competia ao Presidente da República e aos Ministros, com funções de representação

• O Chefe de Estado era eleito pelo Congresso em sessão conjunta, por maioria de dois terços dos
votos, para um mandato de 4 anos, sem possibilidade de reeleição para o quadriénio imediato,
havendo a possibilidade de poder ser destituído

• Autonomização pela primeira vez na História Constitucional Portuguesa do Primeiro-Ministro, até


então designado Presidente do Ministério

66
10. A Constituição Republicana de 1911

Poder Judicial:

• estava distribuido por um Supremo Tribunal de Justiça e por tribunais de primeira e segunda
instância

• escalonamento hierárquico do poder judicial

•juízes – vitaliciedade, inamovibilidade e irresponsabilidade

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10. A Constituição Republicana de 1911

Sistema de governo:

•Parlamentarismo absoluto
•sistema de governo republicano de índole parlamentar, na sua vertente de assembleia:

• legitimidade do Presidente da República, por causa da sua eleição pelo Congresso da


República, surgiu logo muitissimo diminuida, o que se agravou mais com o poder do
Parlamento poder destituir o Presidente da República

• o Congresso da República não podia ser, em caso algum, dissolvido pelo Presidente
da República

• o Presidente da República não tinha qualquer poder de veto, nem mesmo suspensivo,
sobre os decretos enviados pelo Congresso da República para serem promulgados,
adoptando-se a solução da promulgação tácita caso não houvesse decisão no prazo de
15 dias

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10. A Constituição Republicana de 1911

• uma novidade extremamente relevante seria a introdução, pela primeira vez na Europa, do
mecanismo da judicial review, oriundo do Direito Constitucional Norte-Americano, recebido por
intermédio da segunda Constituição brasileira de 1891

• consistia ele na faculdade atribuída aos tribunais em geral de suscitarem, e depois resolverem,
dúvidas de inconstitucionalidade nas leis que viessem a aplicar nos litígios que tinham entre mãos

• artigo 63.º “O Poder Judicial, desde que, nos feitos submetidos a julgamento, qualquer das
partes impugnar a validade da lei ou dos diplomas emanados do Poder Executivo ou das
corporações com autoridade pública, que tiverem sido invocados, apreciará a sua legitimidade
constitucional ou conformidade com a Constituição e princípios nela consagrados”

• a defesa da constitucionalidade era um poder difusamente distribuído por todos os tribunais

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10. A Constituição Republicana de 1911

• de acordo com os princípios republicanos e em consonância com uma tradição constitucional


defensora da revitalização e descentralização local o documento constitucional reagiu contra a
centralização administrativa consagrando importantes princípios:

• proibição de ingerência do poder executivo na vida dos corpos administrativos


• anulação contenciosa dos actos ilegais dos corpos administrativos
• distinção dos poderes municipais em deliberativo e executivo
• representação das minorias
• consagração do referendum
• autonomia financeira de corpos administrativos

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10. A Constituição Republicana de 1911

Revisões Constitucionais:

• teve 5 revisões constitucionais

• Lei n.º 635, de 28 de Setembro de 1916 – a manutenção da extinção dos direitos nobiliárquicos,
mas admitindo galardoar feitos cívicos e actos militares com ordens honoríficas, proibição geral da
pena de morte, à excepção da situação necessária e, teatro de guerra

• Lei n.º 854, de 20 de Agosto de 1919 – a fixação de um subsídio conferido aos parlamentares

• Lei n.º 891, de 22 de Setembro de 1919 – atribuição ao Presidente da República da faculdade de


dissolução das Câmaras Legislativas, juntamente com outras medidas, numa lógica de reforço do
seu fraco estatuto, pretendendo-se, in extremis, salvar o regime republicano

• Lei n.º 1005, de 7 de Agosto de 1920 - o reforço dos poderes legislativo e executivo nas
matérias atenienetes ao governo das colónias

• Lei n.º 1154, de 27 de Abril de 1921 – adopção de esquemas de maior funcionalidade para os
trabalhos parlamentares

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10. A Constituição Republicana de 1911

Regime da Revisão constitucional:

• previa dois diversos procedimentos possíveis

• um procedimento normal – sujeito ao limite temporal de 10 anos, tempo necessário para que
uma nova lei de revisão pudesse ser aprovada

• um procedimento antecipado – podendo a revisão ser encurtada em cinco anos, no caso de tal
decisão ser tomada por maioria de dois terços dos membros do Congresso

• em qualquer dos casos não se admitia a abolição da forma republicana de governo

72
10. A Constituição Republicana de 1911

•Instabilidade governamental

•a vigência da Constituição de 1911 sofreu um interregno entre 1917 e 1918, com a assunção de
poderes de Sidónio Pais
• O de Estado de 5 de Dezembro de 1917 foi protagonizado por Sidónio Pais que concebeu um
Estado Corporativo, tento rapidamente elaborado um texto constitucional que duraria apenas um
ano, num tempo conhecido por “República Nova”

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11. A Constituição Fascizante de 1933

A Constituição Fascizante de 1933

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11. A Constituição Fascizante de 1933

• Foi o golpe de 28 de Maio de 1926 que colocou termo à I República, inaugurando um outro
período constitucional, o da II República - “Estado Novo”

• Inspiração autoritária e fascizante

• Aspirações do novo regime:

• anti-liberal: fundava a ordem social, não se fundava no liberalismo e rejeitava a


expressão da vontade individual das pessoas, fundava-se, antes, no corporativismo
• anti-parlamentar: fazia sobressair o poder executivo, menorizando a força política do
Parlamento
• anti-partidário: afastava a existência de formações partidárias
• anti-democrático: repelia o princípio democrático, impondo uma ideia de Estado
autoritário, com a admissão de duras limitações às liberdades fundamentais

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11. A Constituição Fascizante de 1933

• 2 fases distintas:

• 1ªfase – Ditadura Militar, entre 1926 até 1933, com base em textos constitucionais
avulsos e provisórios
• 2ªfase – com a Constituição de 1933, desde 1933 até 1974

• A elaboração do texto constitucional de 1933 foi obra restrita, muito devendo a Oliveira Salazar,
mas com a formal autoria de um Conselho Político Nacional e com a particularidade de ter sido
popularmente votada em 19 de Março de 1933

• viria a ser um plebiscito, e não um referendo, até porque nas respectivas regras se evidenciava
não apenas o voto obrigatório, como o facto de as abstenções serem consideradas como votos a
favor: o resultado foi um sim à nova Constituição, que teria como data de publicação o dia 11 de
Abril de 1933

76
11. A Constituição Fascizante de 1933

• influências:

• Integralismo Lusitano e da Doutrina Social da Igreja


• Experiências fascistas, designadamente a Italiana
• Constituição alemã de Weimar
• Legislação do Estado Fascista Italiano

• Sistematização (142 artigos):


• Parte I – Das garantias fundamentais
• Parte II – Da organização política do Estado
• Disposições complementares

• O texto inicial viria, ainda, a ser complementado pela republicação do Acto Colonial,
um texto com um valor formalmente constitucional, que visava esclarecer a nova
organização política dos territórios ultramarinos

77
11. A Constituição Fascizante de 1933

Direitos Fundamentais:

• artigo 5.º C1933 “O Estado Português é uma República unitária e corporativa, baseada na
igualdade dos cidadãos perante a lei, no livre acesso de todas as classes aos benefícios da
civilização e na interferência de todos os elementos estruturais da nação na vida administrativa
e na feitura das leis”

• os direitos fundamentais ordenavam-se por vários títulos das partes do texto constitucional

• contudo haviam regras que marcariam restrições fortes ao seu exercício

• consagravam-se os tipos de direitos fundamentais anteriormente consagrados, sendo a


qualidade e o número de tipos de direitos fundamentais bastante diversificado e claramente
aceitável do ponto de vista da Teoria do Direito Constitucional

• manteve-se, até, com maior amplitude, pela omissão de um critério material, a clausula de
abertura dos direitos fundamentais

78
11. A Constituição Fascizante de 1933

• Consagração de novos tipos:

• o direito à vida e à integridade pessoal


• o direito ao bom nome e à reputação
• o direito a instrução contraditória no processo criminal
• o direito à reparação de toda a lesão efectiva, sendo pecuniária relativamente às lesões
morais

• nos aspectos de ordem social a C1933 significou uma viragem para uma concepção corporativa do
estado e da sociedade, consagrando-se alguns direitos fundamentais sociais destas vertentes tais como:
• protecção da família
• a associação do trabalho à empresa
• direito à educação e à cultura
• a liberdade de criação de escolas particulares

79
11. A Constituição Fascizante de 1933

• nas relações entre o Estado e a religião, estabeleceu-se a normalidade, segundo um regime de


separação cooperativa
Artigo 46.º C1933 “Sem prejuízo do preceituado pelas concordatas na esfera do Padroado, o Estado
mantém o regime de separação em relação à Igreja Católica e a qualquer outra religião ou culto
praticado dentro do território português, e as relações diplomáticas entre a Santa Sé e Portugal com
recíproca representação”

• não havia qualquer religião oficial, embora não se rejeitasse a possibilidade de tratamento
preferencial à Igreja Católica

• Com a revisão de 1971 veio considerar-se a religião católica como a “religião tradicional da Nação
Portuguesa”

80
11. A Constituição Fascizante de 1933

• contudo, certos mecanismos constitucionais levaram a um esvaziamento da função defensiva que os


direitos fundamentais deveriam conferir às pessoas face ao poder público
Ex: cláusula constitucional de limitação legal das liberdades públicas – “Leis especiais regularão o
exercício da liberdade de expressão do pensamento, do ensino, de reunião e de associação, devendo,
quanto à primeira, impedir preventiva ou repressivamente a perversão da opinião pública na sua
função de força social, e salvaguardar a integridade moral dos cidadãos, a quem ficará assegurado o
direito de fazer inserir gratuitamente a rectificação ou defesa na publicação periódica em que forem
injuriados ou infamados, sem prejuízo de qualquer outra responsabilidade ou procedimento
determinado na lei”

• possibilidade de prisão sem culpa formada nalguns dos crimes mais graves

• caso da limitação geral adveniente da necessidade de, quanto aos direitos os cidadãos fazerem “…
uso deles sem ofensa dos direitos de terceiros, nem lesão dos interesses da sociedade ou dos
princípios da moral”

• a revisão de 1951 consagrou novos direitos sociais, como o direito do trabalho, ao que se juntou a
incumbência geral de o Estado defender a saúde pública

• a revisão de 1971 reforçou os direitos individuais, aperfeiçoando as garantias no processo criminal e


estabelecendo o a garantia do recurso contencioso
81
11. A Constituição Fascizante de 1933

• introduziu-se (diferentemente dos textos constitucionais anteriores) uma visão acerca da sociedade
e da economia, não se regulando apenas o Estado

• “Daí que seja o primeiro texto constitucional português a conferir uma directa relevância à
estruturação da sociedade, embora da óptica de um Estado autoritário de cunho fascizante”

• a opção fundamental foi o corporativismo

• representou uma visão ordenada da sociedade, não de uma óptica individualista, mas numa óptica
grupal, em que os interesses da mesma se projectariam a partir de dimensões sociais, desde a família
às corporações profissionais e sindicais ou os corpos administrativos

• corporativismo de Estado, ao qual se associou o timbre autoritário, acompanhado de um monismo


social e politico

•“a expressão do bem comum através das diversas corporações não surgia livremente, mas de “cia
para baixo”, sendo imposta pela Estado, que o disciplinava e, sobretudo, dirigia”

• regras de controlo da opinião pública

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11. A Constituição Fascizante de 1933

• a visão corporativa fazia-se sentir igualmente na direcção da economia, tanto num plano interno
como num plano externo:

•Internamente – mecanismos de condicionamento do mercado


• Externamente – politicas proteccionistas, de defesa dos interesses nacionais

• Organização politica:

• “ A soberania reside na Nação e tem por órgãos o Chefe de Estado, a Assembleia


Nacional, o Governo e os Tribunais”

• não se podia visualizar uma opção de separação dos poderes, antes uma concentração
dos poderes, formalmente no Chefe de Estado e materialmente no Presidente do COnselho

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11. A Constituição Fascizante de 1933

• Chefe de Estado:

• durante boa parte da vigência da Constituição foi eleito por sufrágio directo, ainda que
bastante restrito, por um mandato, ilimitado quanto à sua renovação, de 7 anos
• consagração de um princípio de irresponsabilidade politica em relação aos outros órgãos

•“O Presidente da República responde directa e exclusivamente perante a Nação pelos actos
praticados no exercício das suas funções, sendo o exercício destas e a sua magistratura
independentes de quaisquer votações da Assembleia Nacional”

• tinha competências que incluíam aspectos de natureza administrativa e politica, nelas se


realçando o poder para nomear os membros do Governo e o poder de dissolução da Assembleia
Nacional

• era auxiliado pelo Conselho de Estado, órgão composto por dez membros e presidido pelo
chefe de Estado, de consulta obrigatória no caso de tomada das mais relevantes decisões de
natureza politica

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11. A Constituição Fascizante de 1933

• Assembleia Nacional

• composta por 90 deputados


• eleitos por sufrágio directo dos cidadãos eleitores para um mandato de 4 anos

• era coadjuvada pela Câmara Corporativa

• tinha competências bastante vastas, mais do foro legislativo

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11. A Constituição Fascizante de 1933

• Governo

• era constituído pelo Presidente do Conselho, pelos Ministros, Subsecretários de estado

• politicamente responsável em face do Chefe de Estado

•As competências integravam a prática de actos de natureza legislativa, administrativa e


politica

• a figura do seu Chefe era o fulcro do sistema politico, dadas as amplas que dispunha e o
controlo exercido pelo Chefe de Estado por intermédio da referenda ministerial

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11. A Constituição Fascizante de 1933

• Tribunais:

• função judicial
• organizados por tribunais ordinários e por tribunais especiais
• estabelecia-se uma hierarquia relevante

• os juízes tinham várias garantias, como a vitalidade a inamovibilidade e a


irresponsabilidade perante outros poderes públicos

• A constituição consagrou um mecanismo de fiscalização da constitucionalidade (que não


teve grande aplicação prática) segundo a distinção entre inconstitucionalidade material e
inconstitucionalidade organizatoria

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11. A Constituição Fascizante de 1933

• Sistema de Governo:

• sistema representativo simples e de Chanceler, com predomínio do Governo – Presidente


do Conselho - sobre o Presidente da República e sobre o Parlamento

• era um governo representativo simples porque os poderes se concentravam no Chefe de


Estado que nomeava livremente os membros do Governo e dispunha dos meios de
controlo do Parlamento

• era um sistema de chanceler porque a concentração dos poderes se dava, não no Chefe
de Estado mas no Primeiro-Ministro

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11. A Constituição Fascizante de 1933

• Revisões constitucionais:

• Lei n.º 1885, de 23 de Março de 1935: aperfeiçoamento de alguns institutos do


corporativismo económico e social, bem como a introdução de novas regras no
funcionamento parlamentar
• Lei n.º 1 900, de 21 de Maio de 1935: incorporação na Constituição do Acto Colonial,
destinado a disciplinar a organização politica das colónias, num sentido muito próprio para
o regime então vigente
• lei n.º 1910, de 23 de Maio de 1935: a indexação do ensino do Estado e aos princípios
da doutrina e moral cristã
• Lei n.º 1945, de 21 de Dezembro de 1936: a abertura à participação politica dos
organismos corporativos, assim como a possibilidade de uma mais efectiva intervenção do
Estado na administração local
• Lei n.º 1636, de 18 de Dezembro de 1937: a adopção de novas regras com o objectivo
de agilizar o funcionamento da Câmara Corporativa para além de outras alterações
pontuais
• Lei n.º 1966, de 23 de Abril de 1938: introdução de novas regras procedimentais no
funcionamento da Assembleia Nacional
• Lei n.º 2 009, de 17 de Setembro de 1945: a revisão geral dos órgãos de soberania, com
realce para o aumento do número de Deputados para 120, assim como o aumento da
competencia legislativa do Governo no uso de decretos-leis fora do âmbito de autorização
parlamentar, não carecendo de confirmação expressa
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11. A Constituição Fascizante de 1933

• Lei 2 048, de 11 de Junho de 1951: adição da liberdade de trabalho, reforço da posição


institucional da Câmara Corporativa, além da incorporação do estatuto político das
províncias ultramarinas no texto constitucional documental
• Lei n.º 2100, de 29 de Agosto de 1959: alteração do sistema de designação do Chefe de
Estado, passando a ser por sufrágio indirecto em colégio eleitoral restrito, em que
participavam os membros da Assembleia Nacional e a Câmara Corporativa, para além de
outros membros, aumento do número de deputados para 130
• Lei n.º 3/71, de 16 de Agosto: reconhecimento da religião católica como a religião
tradicional da Nação Portuguesa, adopção de uma estrutura unitária estadual com regiões
autónomas e o reforço de algumas garantias dos administrados, suavização das medidas
de repressão política

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11. A Constituição Fascizante de 1933

• Revisão constitucional:

• três modalidades distintas


• procedimento geral: e revisão constitucional acontecer ao fim de 10 anos
• procedimento antecipado: a revisão constitucional ser feita logo ao fim de cinco
anos com a necessidade de ser aprovada por dois terços
• procedimento de urgência: revisão constitucional realizar-se em qualquer altura
por decisão do Chefe de Estado quando o bem público assim o exigisse depois de
ouvido o Conselho de Estado e em decreto assinado por todos os Ministros

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Sistematização:

Princípios Fundamentais
Parte I – Direitos e Deveres fundamentais
Parte II – Organização económica
Parte III – Organização do poder político
Parte IV – Garantias e Revisão da Constituição
Disposições finais e transitórias

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94
Revisões constitucionais

1982
1989
1992
1997
2001
2004
2005

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Revisão de 1982:

• incidiu principalmente sobre a organização politica e sobre a fiscalização da


constitucionalidade

•Extinguiu o Conselho da Revolução


•O PR passou a ser auxiliado por um órgão consultivo, o Conselho de Estado
•A AR recuperou toda a competência legislativa respeitante às questões
militares
• Foi extinta a Comissão Constitucional. Criação do Tribunal Constitucional
•Referendo local

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Revisão de 1989:

Organização económica
O pano de fundo foi a adesão de Portugal à CEE

Eliminou-se o princípio da irreversibilidade das nacionalizações


Referendo nacional

Revisão de 1992:

foi mínima
Apenas modificou os preceitos que pudessem ser contrariados pelo TUE,
entretanto aprovado
distinção entre revisão ordinária e revisão extraordinária

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Revisão de 1997:

Foram abundantes as alterações (cerca de metade dos artigos)


Abrangeu todos os domínios da CRP
Inclusão de novos direitos fundamentais
Alargamento do voto aos portugueses emigrantes, na eleição presidencial
Aumento da participação dos cidadãos nos referendos
Libertação do sistema económico dos resquícios de matriz coletivista

Duvidas quanto ao cumprimento dos limites temporais

Revisão de 2001:

•Ratificação do ERTPI
•Possibilidade do sindicalismo policial
•Alargamento dos direitos políticos dos cidadãos de língua portuguesa

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Revisão de 2004:

•Aumento dos poderes das regiões autónomas


•Regulação efetiva da comunicação social. Foi extinta a Alta Autoridade para a
Comunicação Social
•Alteação no que respeita ao direito da União Europeia
•Limitação da renovação dos cargos políticos

Revisão de 2005:

•Foi o de permitir a adesão ao TCE precedida de um referendo popular

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