You are on page 1of 46
Pe i MATEMATICA UNIVERSITARIA 134 — junho 2003 ~ pp. 55-100 Grupos Nilpotentes: Uma Introdugao C. Polcino Milies 1 Introdugao Os grupos nilpotentes constituem uma familia muito importante de gru- pos e sen estudo nos pareceu particularmente adequado para um curso com 0 espirito proposto para a primeira Bienal de Matematica da SBM. Além de se tratar de um tépico que nao é usualmente aprofunda- do nos cursos regulares de graduagao ou de pés-graduagao, ele tem a vantagem de que é possivel exibir belos teoremas de estrutura para os grupos nilpotentes finitos e finitamente gerados. Ainda, como estes gru- pos estdo, de alguma forma, préximos dos grupos abelianos, isto nos dé a oportunidade de comparar os resultados, ver o que se mantérm e o que se perde de informagéio sobre estrutura, quando passamos dos grupos abelianos aos nilpotentes. As notas que aqui apresentamos so apenas uma introducio a este assunto fascinante. Mesmo assim, acreditamos ter coberto, da forma mais clara e didatica que nos foi poss{vel, uma série de temas nem sem- pre explicitos nos textos cldssicos. Ha na literatura excelentes livros basicos sobre teoria de grupos, como os de M. Hall [7], J.J. Rotman [19], W.R. Scott [20] e D.J.S. Ro- binson [18]. Nés tomamos como base para 0 desenvolvimento destas notas a secdo 1.5 de um texto que escrevemos (como pré-requisito para 56 assuntos mais avancados) em co-autoria com o Prof. S.K. Sehgal [16] e utilizamos, como referéncia complementar, o texto cldssico de P. Hall {10}. Como sempre acreditamos que é muito importante para o futuro pesquisador compreender os processos que levaram & introdugéo de de- terminados conceitos ou 4 demonstracao de certos teoremas, procuramos sempre que poss{vel, incluir notas histéricas ao longo do texto. Para is- so usamos como referéncia um artigo de G.A. Miller [15] eo livro de B. Chandler e W. Magnus (3). Nos dois capitulos it ig fazemos uma breve resenha de resultados que serdo titeis para o desenvolvimento do assunto. No primeiro capitulo demonstramos os teoremas de Sylow e enunciamos, sem demonstraciio, varios resultados importante sobre a estrutura dos grupos abelianos fini- tamente gerados. No segundo, tratamos dos grupos soliveis e do calculo de comutadores, que preparam o leitor para o capftulo final, onde tra- tamos do assunto central destas notas. Na primeira segdo do Capitulo III introduzimos as propriedades fun- damentais da nilpoténcia e alguns exemplos particularmente interessan- tes. Na segunda segao descrevemos a estrutura dos grupos nilpotentes finitos ¢ na secéio final estudamos alguns resultados, talvez menos co- nhecidos, sobre a estrutura de grupos nilpotentes infinitos. 2. Preliminares Neste capitulo vamos lembrar alguns resultados fundamentais da teo- ria dos grupos que seréo mecionados mais adiante. Devido as obvias limitagdes de tempo e espaco, alguns destes serio enunciados sem de- monstracio. Apenas aqueles essenciais para o desenvolvimento do assuto central destas notas sero demonstrados cuidadosamente. Na primeira segéo tratamos dos teoremas de Sylow, que séo de re- feréncia constante em qualquer curso sobre Teoria dos Grupos e na segdo seguinte discutimos brevemente os teoremas de estrutura para grupos abelianos finitamente gerados. Uma das preocupagées constantes na Algebra é obter, precisamente, teoremas de estrutura; isto é, descrever PO 57 como determinados objetos de estudo podem ser construidos a partir dos objetos mais simples da mesma categoria. No caso dos grupos abelianos i finitamente gerados, isto pode ser feito de uma forma particularmente sa- tisfatéria. Incluimos aqui estes resultados para servirem de comparagio com teoremas similares que iremos obter para os grupos nilpotentes e que sdo 0 principal objetivo do texto. 2.1 Ages, p-grupos e subgrupos de Sylow O primeiro teorema da teoria abstrata dos grupos é devido a Arthur Cayley [2] ¢ estabelece que todo grupo é isomorfo a um grupo de per- mutagées !. Para demonstrar este teorema, se associa, a cada elemento a de um grupo G, a permutagio fy € Sg definida por fa(g) = ag para todo g € G ¢ logo se prova que a aplicagio a4 f, é um monomorfismo de G no grupo das permutagies Sg = {f : G+ G| f é uma bijecdo}. Esta idéia pode ser formulada de uma forma mais geral. em M via ¢ se existe um homomorfismo ¢:G — Sy. Na demonstracdo do Teorema de Cayley descrita acima, esta se uti- { | | | Definigéio 2.1 Sejam G um grupo e M um conjunto. Diz-se que G age lizando uma acao de G em si mesmo. Um outro exemplo é 0 seguinte. Exemplo 2.2 Seja {v1,...,un} uma base de um espacao vetorial V de dimensao finita sobre um corpo K. Como todo elemento v € V pode-se escrever de modo tinico como uma, combinagao linear v = S>2. kivi, ki € K,1 < i G dada por o,(z) = aza~!,Vz € G. A drbita de um elemento g € G sob esta agado chama-se sua classe de conjugagao e seu estabilizador chama-se o centralizador de g em G e esto dados por: C(g) = {2 tge| x € GI, Calg) = {2 €G| 2g = gz}. Note que é muito facil provar que Cq(g) é um subgrupo de G. Observamos também que dois elementos diferentes 2,y € G definem © mesmo conjugado de g em G se ¢ somente se zgx~! = ygy~}; ie., se 59 (a~ly)g(u™1y)-1 = g 0 que significa que 2-!y € Cg(g). Assim, temos que IC(g)] = I1GI/NCe(g)] = (G : Calg). (2) O mimero de classes de conjugagéio de um grupo G chama-se o nimero de classes de G. Seja a1,...,2¢ um conjunto completo de representantes das classes de conjugagao e seja nj = |C(x,)| = (G : Cg(a:)}. Como estas classes formam um recobrimento disjunto de G, temos a seguinte equagao das classes: [GE = ny tnet---+m. (3) Note que um elemento a; € G é central se e somente se sua classe de conjuga¢ao C(z;) consiste de um tinico elemento, de modo que o mimero de inteiros n; que so iguais a 1 na equagio 3 acima é precisamente igual a |Z(G)|. Assim, também podemos escrever a equagio 3 da seguinte forma. IG] = |24@|+ Yom. @) n>] Seja p um inteiro primo. Um grupo finito G diz-se um p-grupo se sua ordem é uma poténcia de p e um elemento g € G diz-se um p- elemento se o(g) é uma poténcia de p. Note que, num p-grupo finito, todo elemento 6 um p-elemento. Se a ordem de um elemento nado é divisivel por p, entdo ele diz-se um p’-elemento. O seguinte teorema é um resultado fundamental sobre p-grupos fini- tos. Teorema 2.3 Seja G um p-grupo finito ndo trivial. Entio, Z(G) # {1}. Demonstracao. Seja |G| = p", para algumn inteiro positive n. Se Z(G) = {1}, entdo sé existe uma classe de conjugagio de G que contém um tnico elemento. Logo, usando a notagéo acima, terfamos que n, =lenm #1, 2< i < ¢. Como a formula 2 mostra que cada ni,2 < i < t, é divisivel por p, a equacio das classes mostra que p” = 1+ng+---+n = 1+kp, para algum inteiro 4, uma contradigéo. 0 60 Damos a seguir algumas aplicagées deste resultado. Corolario 2.4 Seja p um inteiro primo. Entdéo, todos os grupos de ordem p? séo abelianos. Demonstragéo. Seja G um grupo de ordem p”. Entio, o Teore- ma 2.3 mostra que |2(G)| é igual a p ou a p? e portanto (G : Z(G)) 6 igual a p ow é igual a 1. Logo, o grupo quociente G/Z(G) é ciclico. Se Z(G) 6 um gerador deste grupo, segue facilmente que G = (w, Z(G)) e, como # comuta coi cada elemento de Z(G), temos que G é abeliano. a Proposigdo 2.5 Seja G um p-grupo finito de ordem p". Entéo, existe uma cadeia de subgrupos normais de @ 1=QcQic-- CG=6, tal que cada quociente Gi41/Gi é de ordem p e estd contido no centro de G/G;, 1> p™ > 1 and p™ > ++. > p™ > 1 respectivamente, entdo t=senj=mlSi 2 define- se indutivamente por (21,6665 2pn) = ((21,~--, 8-1), nr). Dados dois subconjuntos H e K de um grupo G, denotaremos por (H,K) 0 subgrupo de G gerado pelo conjunto: {(h,k) | he H, ke K}. Em particular, 0 grupo G’ = (G,G) chama-se subgrupo comuta- dor ou subgrupo derivado de G. Indutivamente, podemos definir agora uma sequéncia de subgrupos da seguinte forma: GO =4. Gt) = (Gg, aM) =", G™ = (GeV, gem), Definigéo 3.2 O subgrupo G definido acima chama-se o n-ésimo grupo derivado de G e a sequéncia G=6% 560 5...54G% 5... chama-se a sequéncia derivada de G. O conceito de comutador de dois elementos aparece pela primeira vez em 1860, ainda no contexto dos grupos de permutagoes, na tese de ©. Jordan (1838-1922) [12], embora ele néo chegasse a levar adiante 0 desenvolvimento da teoria correspondente. JA 0 conceito de grupo co- mutador aparece na literatura perto do fim do século XIX; G.A. Miller [14] publicou pela primeira vex, as propriedades principais destes grupos, embora estas aparentemente jé eram conhecidas de R. Dedekind (1831- 1916) que foi quem introduziu 0 uso do termo comutador em 1897 [4]. As seguintes propriedades dos comutadores sio de demonstracao sim- ples, que deixamos a cargo do leitor. Lema 3.3 Sejam 2,y,z ¢t elementos de um grupo G. Entéo 70 (i) (ay) =1 se ¢ somente se 2y = yr. (#) (@,y) = (y,2). (ii) (a, u)* = (a, y*). (iv) (24,2) = (2, 2)"(y,2) = (2,2) ((@, 2), 9), 2)- (») (yz) = (#,2)(a,y)* = (2,2)(2,y)((,y), 2). (vi) (a, y)z = 2(a",y*). (vii) (09, z) = (a, 2) (x,y, 2). (vidi) (0,2) = (a4, 1)" (a, 2,2). (2) (24,2) = (tu) (e,9)* (x) Seg: G—H é um homomorfismo de grupos, entéo $((x,y)) = (9(@), 6). Note que a parte (é) do Lema 3.3 mostra imediatamente que um grupo G é abeliano se e somente se G’ = {1}. Veremos, a seguir, que o conhecimento de G também permite saber quando um quociente 6 abeliano. Lema 3.4 Seja H um subgrupo normal de um grupo G. Entdo, o grupo quociente G/H 6 abeliano se e sdmente se G’ C H. Demonstragéo. Dados elementos z,y € G, vamos denotar por @,Y as respectivas classes em G/H. Note que ZY = Yx se e somente se (yx)"" (ay) € H; isto é, se e somente se (x,y) € H para todo a,y € G ou, equivalentemente, se e somente se G’ C H. Oo A propriedade (iid) do Lema 3.3 permite deduzir facilmente que G! é um subgrupo normal de G. Na verdade, serd possivel provar que verifica uma condig&o mais forte, que foi introduzida por G. Frobenius em 1895 [6] e que damos a seguir. Definigéio 3.5 Um subgrupo H de um grupo G diz-se um subgrupo caracteristico se ¢(H) =H para todo automorfismo ¢:@— G. Para indicar que H é um subgrupo caracteristico de G escreveremos H car G. 7 Como a conjugagéo por um elemento fixo a de G, z+ a7!xa, é um automorfismo de G, segue que todo subgrupo caracterfstico 6, em particular, um subgrupo normal. Note ainda que, se ¢: G+ G é um i automorfismo e H é um subgrupo caracteristico de G, entdo a restrigio | de ¢ a H é um automorfismo de H. Desta observaciio segue facilmente que se K car H e H car G, entio K car G. Proposic&o 3.6 Seja H um subgrupo de um grupo G. Se H é carac- teristico em G entéo H’ também € caractertstico em G. Em particular, G) € caracteristico em G, para todo inteiro positive n. i Demonstrag&io. Como H' é o subgrupo gerado por todos os ele- mentos da forma (x,y) com 2,y € H, para provar a primeira afirmagio bastard mostrar que para todo automorfismo ¢ : G -> G tem-se que o((z,y)) € A. De fato, ¢((z,y)) = (¢(2), ¢(y)) e, como H car G, segue imediata- mente que $({z,y)) € H’. A segunda afirmagdo do enunciado segue agora trivialmente, da an- terior. o Concluimos esta seg&o com um resultado técnico. Lema 3.7 Sejam x ey elementos de um grupo G ¢ seja Z(G) 0 centro | de G. Se |G/Z(G)| =n entao (2,y)"*"! = (2, 4?)(a2,y)"-!. | Demonstragdo. Como estamos assumindo que |G/Z(G)| = n, temos que (x, y)” € Z(G). Logo: (e,yyrtt = lay(ey)” = ay te(e,y)"y = j = arty tele ty tay), Ty = oty ayy ayy = (ey(o%,y)rt. + o A importancia dos conceitos de comutadores sucessivos e da série derivada foi enfatizada por P. Hall em 1933 num trabalho fundamental [8] ao qual voltaremos a nos referir no préximo capitulo, embora eles jd tivessem sido estudados em conexdo com a teoria de grupos soltiveis, 72 como veremos na segéo seguinte. Ele observa que estes sio grupos ca~ racterfsticos e destaca a importancia deste conceito: “Nés fomos guiados pela idéia de que a estrutura de um grupo deve ser exibida, tanto quanto possivel, pela interrelagio dos seus subgrupos caracteristicos. Um subgrupo é caracteristico, de acordo a Frobenius, se é transformado em si mesmo por todo automor- fismo do grupo; logo os subgrupos caracteristicos representam 0 que poderiamos chamar realmente das qualidades énvariantes da estrutura de grupo.” Os termos da série derivada pertencem, na verdade, & familia ainda mais restrita dos subgrupos totalmente invariantes (veja os exercicios 3, 4e 5 abaixo), que foi introduzida por Levi {17] também em 1933. Exercicios 1. Sejam H, K, L subgrupos normais de uma grupo G. Prove que: (i) (H,K) 6 um subgrupo normal de (HK). (ii) (A, K) = (K, H). (iii) K5. « A Proposigio 2.5 mostra que todo p-grupo finito é soliivel. Damos, a seguir, uma caracterizag&o da solubilidade em termos da sequéncia derivada. Teorema 3.10 Um grupo G é soliivel se ¢ somente se sua série derivada termina; i.e., se existe um inieiro positivo n tal que G = {1}. Demonstragéo. Vamos assumir inicialmente que existe um inteiro positivo n tal que G) = {1}. Entao, obviamente, G5 G%5 GQ) 5...546M = {4 é uma série subnormal abeliana para G. Reciprocamente, suponhamos que G contém uma série subnormal abeliana GoD G12 G2 D+ D Gn = {1 Como todo quociente G;/Gi-1, 0 < i < n—1, é abeliano, segue do Lema 3.4 e de um argumento de indugio que G®) ¢ Gi,1 1 e que o resultado vale para todos os grupos soliveis de ordem menor que n. Notamos que, se |G| é um numero primo, entéo o resultado segue trivialmente pois {1} C G 6 uma série subnormal abeliana para G. Se G 6 soltivel, e no é de ordem prima, entio ele contém pelo me- nos um subgupo normal H. Como tanto |H| como |G/Z/| séo menores que n segue, da hipdtese de indug&o, que ambos os grupos tém séries subnormais abelianas com fatores ciclicos. Denotando G = G/H, sejam {1} = Ho Hy <-++ 4. Hm = {I} = G@o4Gi4---sG, = G séries subnormais abelianas, com fatores cfclicos, para H e G respectiva- mente. Existem subgrupos G; de G que contém H tais que G;/H = Gi, €Gi-14G;,1 J}, o anel das matrices triangulares superiores de grau n sobre K. (ii) J(n, K) = {A = (ay) © Mn(K) | aij = 0 se i > J}, 0 conjunto das matrizes n x n que tém zeros na diagonal principal e em toda posigao abaixo dessa diagonal. (iii) UT(n, K) = {A = (aij) € T(n, K) | a = 1}, 0 grupo linear unitriangular superior de grau n sobre K. 84 E muito fécil verificar que J(n, K) é um ideal bilateral nilpotente do anel T(n, K), cuja classe de nilpoténcia 6 n e que UT(n,K) = 1+ J(n,K), donde UT(n,K) 6 um grupo nilpotente de classe menor ou igual an —1, Se denotamos por Ej,; a matriz que tem zeros em todas as posicées, menos na posigio i,j, onde o coeficiente é igual a 1, tem-se que: (1+ Bi2,1 + B23,---51+Enain) = 1+ Hin #1, © que mostra que a classe de nilpoténcia de UT(n, K) é precisamente nl. Note que este exemplo mostra que ezistem grupos de nilpoténcia de classe arbitréria. Esta familia de grupos pode ser usada para ilustrar outras situacées interessantes de grupos nilpotentes. Veja o exercicio 6 da segéo 5.1. 5 Grupos nilpotentes finitos Nossa intencao nesta seco 6 mostrar que existe, para os grupos nilpo- tentes finitos, um teorema de estrutura semelhante Aquele que vale para grupos abelianos finitos. Definigfio 5.1 Diz-se que um grupo G tem a propriedade do nor- malizador se todo subgrupo préprio de @ estd estritamente contido no seu normalizador. Lembramos que um subgrupo H de um grupo G diz-se subnormal se existe uma, cadeia de subgrupos: H=HyCHyC---CHn=G tal que Hj14Hi, 1Sign. Como consequéncia da proposigaio acima temos o seguinte. Corolério 5.2 Seja G um grupo nilpotente finito. Entao, todo subgrupo de G é subnormal. 85 Demonstracéo. Seja H um subgrupo de G. Definimos Hy = He, indutivamente, H, = No(Hn—1). Da proposic&o anterior segue que se Hy # G ent8o |Hy_1| < |Hnl. Como G € finito, deve existir um indice n tal que Hy = G. a Estamos agora em condigdes de dar um teorema de caracterizagao dos grupos nilpotentes finitos. Teorema 5.3 Seja G um grupo finito. FEnido, as seguintes condigdes sdo equivalentes. (i) G é nilpotente. (ii) G tem a propriedade do normalizador. (iéi) Todo subgrupo de Sylow de G é normal em G. (iv) G é 0 produto direto dos seus subgrupos de Sylow. (v) Todo subgrupo de G é subnormal. (vi} Todo subgrupo masimal de G é normal. Demonstrac&o. Vamos provar inicialmente que (i) + (i) = (iii) > (iv) = (1). O fato de que (i) = (ii) foi provado na Proposigao 4.11. (ii) + (Gi) Seja P um p-subgrupo de Sylow de G e seja H = No(P). Se H # G entao (ii) implica que H G Ne(H), mas o Corolario 2.11 mostra que H = Ng(H), logo deve ser H = G, donde PaG. (iii) = (v) Se cada subgrupo de Sylow é normal, segue ime- diatamente que o seu produto é direto e igual a G (verifique!). (iv) = (i) Como todo p-grupo é nilpotente, o resultado segue da Proposigio 4.8. Vamos mostrar agora que (i) => (v) + (vi) = (i. TIE 86 Novamente, o fato de que (i) = (v) jé foi provado na Proposig&o 5.2. Se vale (v) e H 6 maximal, segue imediatamente que ele deve ser normal, de modo que, claramente, (v) = (vi). Finalmente, para provar que (vi) = (i) mostraremos que, se vale (vi), ent&o todo subgrupo de Sylow de G é normal o que, como vimos acima, implica na nilpoténcia de G. De fato, seja P um subgrupo de Sylow de G. Se Ng(P) é um subgrupo préprio de G, ele deve estar contido num subgrupo maximal H de G que, em virtude da hipdtese (vi), € normal. Isto significa que Ne(H) = G, o que contradiz a Propo- sigao 2.10. Oo Note que o teorema acima mostra que se G é um grupo nilpotente de ordem |G] = pf! ... pj, denotando por S(p;), 1 < i < n os p;-subgrupos de Sylow correspondentes, temos que @ = S{p1) x-+- x Spm). | Observe que este resultado é uma generalizago do Teorema 2.13. 5.1 Grupos nilpotentes infinitos Nesta segdo procuraremos obter resultados sobre a estrutura dos grupos nilpotentes infinitos e estudaremos mais particularmente o caso em que 0s grupos em questao sao finitamente gerados. Tentaremos mostrar que existe um certo paralelo entre estes resultados e aqueles que vimos para o caso dos grupos abelianos. Proposigéo 5.4 Seja G = (a,,...,a,) um grupo finitamente gerado. Entéo, o subgrupo 7,(G) é 0 fecho normal do subgrupo de G gerado por todos os comutadores da forma (bj,...,b;) com bj € {a1,...,a)},1 < 7 Si; isto é, 0 subgrupo gerado por todos os possiveis conjugados desses comutadores. Demonstragio. Vamos provar o enunciado por indugdo em i. Nos- ' sa afirmagéo 6 obviamente verdadeira se i = 1, de modo que vamos assumir, como hipétese de indugio, que 7:(G) é 0 subgrupo WG) = ((b1,--bi)" 10; € (a1... ar}, 1 SF <4, 9 EG). 87 Ent&o, consideramos A = {(b1,..- d:41)9 | by € {an,..- ar}, SF Sit], G EG). Claramente H C 741(G). Para provar a incluso contraria, tendo em vista o Lema 3.3, seré suficiente mostrar que (%(G),bij1) C H, para qualquer elemento 641 € {a1,...,@,}. Mais uma vez, levando em consideracao o Lema 3.3 e a hipdtese de inducdo, é suficiente provar que ((B1,-++s6i)%, Bin) € para b; € {a1,...,¢,},1 1, 0 fator ¥4(G)/vis1(G) € gerado pelo conjunto finito de elementos (b1,...,b:)yi41(G), onde by € {a,...,ar}- Demonstragao. Os elementos de 7;(G) sao produtos de elementos da forma (b1,...,6i)? com 0; € {a1,-..,a,},1< 553, 9EG Lo go, as respectivas classes destes elementos sfo geradores do quociente 7G) /:+1(G)- Como (Bi. 501)% = (b1,- + Be) (bry. Bi) Ig bt, .-- dag = (bi... ,bi)(b1,--- big) e como (b1,..-5bi,9) € Vai (G), 88 temos que (bis. b) 97 (G) = (bry. DH). Isto implica o resultado. a Corolario 5.6 Todo subgrupo de um grupo nilpotente finitamente gera- do é finitamente gerado. Demonstragio. Seja H um subgrupo de um grupo nilpotente fini- tamente gerado G com série central inferior G=7(@) 2wlG) 2+ Dw(G) = {1}. Seja Hy = HN7{G), 1 1. Demonstragao. (i) Segue, da parte (v) do Lema 3.3 que (a, b”) = (a,b)(a,5)(a,b,b). Como (a,b, 6) = (a,b), 5) e (a,8) € yiz1(@) 6 central médulo 7%19(G), temos que (a, b*) = (a,b)? (mod 7+2(G)). Indutivamente, obtemos também que (a, 6%) = (a, b)" (mod i42(G)), o que prova o enunciado. (ii) Vamos provar esta afirmagio por indugdo em i. Supo- nha que G = (a,...,@;), onde cada a; tem ordem finita. Para i = £ temos que 71(G)/72(G) é gerado pelas classes a;772(G), 1 < j 1 um inteiro fio. Entéo G contém somente um mimero finito de subgrupos cujo indice € menor o igual an. Demonstragao. Seja H um subgrupo de G com (G: H) < ne seja {M,,..-, Hm} 0 conjunto de classes laterais a direita de H em G. Dado um elemento g € H, temos que {H,g,..., Hmg} é novamente o conjunto de classes laterais & direita de H em G. Denotamos entio Hig = H,,¢). A aplicagio g + og é um homomorfismo de grupos de G em Sn € claramente Ker(o) C H. Entéo H = o71(W) para algum subgrupo W de Sin. Como a é determinado pelas imagens dos geradores de G, que sao em numero finito, vemos que existe apenas um numero finito de aplicacgdes o:G— Sm e, como Sy, contém apenas um ndmero finito de subgrupos, segue 0 resultado. Definigiio 5.17 Seja X uma classe de grupos. Um grupo G diz-se poli- X se G contém uma série subnormal {1} =G@o 2 10. Seja G um grupo nilpotente. Prove que todo subgrupo maximal proprio H de G é normal e que (@: H) é um ntimero primo. Mostre que, se um grupo G é tal que G/Z(G) é nilpotente, entdo G é nilpotente. . Mostre que um grupo nilpotente finito tem uma série central cujos fatores so de ordem prima. . Seja K um corpo e UT(n, K) 0 grupo linear unitriangular superior de grau n > 1 sobre K, Mostre que: (i) Se K éum corpo infinito, de caracteristica prima p ¢ t é um inteiro positive tal que p' > n, entéo UT(n, K) 6 um grupo infinito, de torcao e todos seus elementos tem ordem divisor de p'. (ii) Se K € de caracteristica 0, entao UT(2, K) é um grupo nilpotente, sem torcao. . Seja G um grupo nilpotente infinito que é finitamente gerado. Prove que Z(G) contém em elemento de ordem infinita, Seja {I} =G@ CG, c-CG,=4 uma série central de um grupo G tal que todos os seus fatores so grupos ciclicos infinitos e seja uj € G um elemento tal que G:/Gi-1 = (@), 1< in. Prove que todo elemento g € G pode-se escrever de modo tinico na forma g= up onde a1,...dn séo inteiros. Utilize esta representagio para provar que um grupo nilpotente, finita- mente gerado, sem torc&o, é ordenado. . Soja G = (a, | a2 = 1, 2tax =a"), Determine Z(G), G’,T(G) e prove que G é nilpotente de classe 2. Mostre que no é possivel escrever G G = MO) x ae Prove que 0 conjunto de elementos de ordem finita do grupo diedral in- finito Do = (ay|y?=1, 2% =a7') no é um subgrupo. 99 11, Soja F um grupo liveg com dois geradores a eb. Prove que 0 conjunto de elementos {a,a¢,0"",...,a",...} gera um grupo livre. 12. Seja ¥ uma classe de grupos que é fechada para imagens homomorfas. Prove que a classe dos grupos poli-4’ também é fechada para imagens homomorfas. 13. Seja 7 = {p1,-.-,Pn} um conjunto finito de inteiros primos. Um grupo G diz-se x-livre se para todo elemento g € G e todo primo p € 7 temos que g” = 1 implica g = 1. Prove que se o centro de um grupo é a-livre entdo os fatores da série central superior também sao 7-livres. Referéncias 1] Burnside, W., The theory of groups of finite order, 2nd ed., Cam- bridge Univ. Press, Cambridge, 1911. 2] Cayley, A., On the theory of groups as depending on the symbolic equation 6” = 1, Phil. Mag., 7 (1854), 40-47. 3] Chandler, B. e Magnus, W., The History of Combinatorial Group Theory: a case study in the History of Ideas, Springer-Verlag, New York, 1982. 4] Dedekind, R., Uber Gruppen, deren simtliche Teiler Normalteiler | sind., Math. Annalen, 48 (1897), . | 5] Fite, W.B., Groups whose orders are powers of a prime, Trans. : Amer. Math. Soc., 7 (1906), 61-68. i 6} Frobenius, F.G., Uber Endliche Gruppen, Sitzungsberichte d. K. / Press. Akad. d. Wissensch. Berlin, (1895), 81-112. 7| Hall, M. The Theory of Groups, MacMillan, New York, 1959. [8] Hall, P., A contribution to the theory of groups of prime power order, Proc. London Math. Soc.. 36 (1933), 29-95. 9] Hall, P., Finiteness conditions for soluble groups, Proc. London Math. Soc., 4 (1954), 419-436. [10] Hall, P., The Edmonton notes on nilpotent groups, Queen Mary College Mathematical Notes, 1969. r 100 11 12) 13) 14 15, 16 17 18 19) 20] (21 [22] [23] Hirsch, K.A. On infinite soluble groups I, Proc. London Math. Soc., 44 (1938), 53-60. Jordan, ©., Sur le nombre des valeurs des fonctions, Tese, Paris, 1860. Jordan, C., Traité des substitutions et des équations algébriques, Paris, 1870. Miller, G.A., Quarterly J. of Math., 28 (1896), . Miller, G.A., History of the theory of groups to 1900, The Collected works of George Abraham Miller, Vol. 1, No 62, Univ. of Illinois, Urbana, 1935, pp. 427-467. Polcino Milies, ©. e Sehgal, §.K., An Introduction to Group Rings, Kluwer Acad. Publishers, Dordrecht, 2002. Levi, F., Uber die Untergruppen der freien Gruppen, Math. Z., 37 (1933), 90-97. Robinson, D.J.S., A course in the Theory of Groups, Springer- Verlag, New York, 1982. Rotman, J.J., The Theory of Groups: an introduction, Ind ed., Allyn and Bacon, Boston, 1973. Scott, W.R., Group Theory, Prentice-Hall, Englewood Clffs, N.J., 1964. Sylow, L., Théorémes sur les groupes des substitutions, Math. An- nalen, 5 (1872), 584-594. Weber, H., Lehrbuch der Algebra, 2 vols., Vieweg & Sohn, Brauns- chweig II.14, 1894. Wielant, H., Zum Satz von Sylow. Math. Z., 60 (1954), 407-408. Instituto de Matematica e Estatistica USP Rua do Matao, 1010 CEP 05508-090 Sao Paulo Brasil polcino@ime.usp.br

You might also like