Professional Documents
Culture Documents
NÚCLEO DE SAÚDE
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
MESTRADO ACADÊMICO EM PSICOLOGIA
MAHAMOUD BAYDOUN
Porto Velho- RO
2017
MAHAMOUD BAYDOUN
Porto Velho- RO
2017
Dedico esse manuscrito a todas, todos e todxs aquelas,
aqueles e aquelxs que foram alocados ao abjeto.
AGRADECIMENTOS
Pepeu Gomes
BAYDOUN, Mahamoud. “Não sou nem curto afeminados”: Reflexões viadas
sobre a masculinidade hegemônica e a efeminofobia no Grindr. Porto Velho, 2017,
195 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia). Fundação Universidade Federal de
Rondônia, Porto Velho, 2017.
RESUMO
ABSTRACT
Grindr is one of the world’s largest gay location- based apps. Its name was inspired
by the action of a coffee grinder because its main purpose is to promote sociability
among its users, both online and offline. However, homoerotic relations are
influenced by the ideals of hegemonic masculinity and the abjection towards
effeminacy. While men who fit into the dominant model of masculinity are constantly
eroticized, those who are effeminate have become victims of anti-effeminacy, both in
the real and virtual worlds. Therefore, this qualitative research aimed elaborate
reflections about the hegemonic masculinity ideals and anti-effeminate discourses
that pervade the homoerotic relations mediated by Grindr in the urban area of Porto
Velho-Rondônia. The investigation was based from two methodological bodies: a
virtual ethnography and face-to-face interviews with 10 Grindr-users. Effeminophobic
feelings and discourses were evident in the analyzed profile descriptions. The stigma
and stereotypes that are socially inflicted on effeminate gay men seem to be
replicated on Grindr in the form of erotic preferences, which are expressed in profile
descriptions containing apologetic discourses. The interviews shed light on the
internalization of these discourses as well as the ideals of hegemonic masculinity
whose supremacy is not only perpetuated through coercion, but also through
consent. Besides, it was depicted that the demands regarding this model of gender
expression revolve around the same ideal: “Look heterosexual”, even if you’re not!
These exigencies can be concealed by the reiterated idealization of the “ fit, muscled
and hairless” body that is socially conceived as a synonym of fitting into the ideals
of hegemonic masculinity whose propagation is also influenced by intersections like
sexual role, social class, age and race. The interviews made comparisons between
the digital platform and the meat market, which illustrates the marketing logic that
hovers over apps like Grindr. As such, a lot of users present themselves, both
through images and texts, as consumers/products whose most important
characteristic is fitting into the dominant model of masculinity (be a macho). For this
reason, it is necessary to deny attributes that are associated to effeminacy or raises
doubts over the hegemonic masculinity ideals imposed by the heterosexual matrix,
because those can allocate them to abjection and throw them out of the market of
homoerotic relations mediated online. Gay location-based apps like Grindr must be
urged to launch campaigns to fight against anti-effeminacy, especially in middle-sized
cities like Porto Velho where hegemonic masculinity ideals are coercively
propagated.
Key words: Hegemonic masculinity. Effeminophobia. Location-based apps.
Homodesiring relations. Abjection.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
1 APRESENTAÇÃO ................................................................................................... 1
2 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12
6 MÉTODO................................................................................................................ 72
1 APRESENTAÇÃO
Acredito que o título dessa dissertação “‘ Não sou nem curto afeminados’”:
Reflexões viadas sobre a masculinidade hegemônica e a efeminofobia no Grindr”
gere curiosidade na grande maioria dxs prospectivxs leitorxs. Isto não se deve
apenas à utilização de um termo socialmente associado ao chulo como parte do
título. A expressão “viados” provavelmente fará com que alguns/algumas/algxs
arregalem os olhos e exclamem “que absurdo! ” Tais acontecimentos me fariam
muito feliz, pois o uso desse termo visto culturalmente como pejorativo não visa
nada mais nada menos do que criar uma sensação de desconforto e estranhamento
por parte dxs leitorxs antes mesmo do início do manuscrito. Se eu usasse a
expressão queer, alguns/algumas/algxs talvez achariam “bonitinho” ou até “chique”
por ser em inglês, o que não faria jus a toda a luta travada pelos estudos queer
desde seu surgimento nem aos objetivos que direcionaram a investigação que
inspirou a elaboração dessa dissertação.
Não obstante, suponho que a curiosidade maior seria gerada pelos termos
pouco comuns no cotidiano da maioria dos cidadãos brasileiros: efeminofobia e
Grindr. Embora muitxs provavelmente se sentiriam instigadxs a ler o texto porque
utilizam ou já utilizaram o aplicativo Grindr e viram no título, além do nome da
plataforma digital, uma das frases com a qual qualquer sujeito que roda o aplicativo
em seu tablet ou smartphone dentro do território brasileiro já se deparou: “ Não sou
nem curto afeminados”, muitxs outrxs possivelmente se perguntariam: “ Que diabos
é o Grindr?” E, portanto, decidiriam ler o trabalho numa tentativa desesperada de
matar a curiosidade.
Para não enrolar muito ou soar prolixo-algo que domino fazer- o Grindr é um
dos maiores aplicativos baseados na localização voltado a homens homossexuais
ou outros homens que fazem sexo com homens (HSH). Os usuários o baixam em
seus smartphones ou tablets no intuito de triangular parceiros sexuais, eróticos ou
amorosos em potencial com base na proximidade geográfica, utilizando a tecnologia
do Sistema de posicionamento global (GPS).
Meu primeiro contato com o Grindr foi em Janeiro de 2014. Na véspera, fazia
parte de um programa de trabalho voluntário em Lima-Peru. Os/As/xs responsáveis
pelo projeto prometeram um alojamento em casa de família, pois eu havia destacado
na minha ficha de inscrição que gostaria de treinar meu espanhol. Ao contrário do
combinado, fui arremessado sozinho num quarto minúsculo dentro de um prédio
localizado perto da última estação do metropolitano. Longe dos bairros boêmios e do
centro da cidade e sem muito dinheiro para gastar em transporte e baladas, passava
noites solitárias e carentes olhando o teto, até que outro voluntário brasileiro me
recomendou usar o Grindr. Baixei o aplicativo com o intuito de encontrar parceiros
em potencial sem ter que me despencar para a boate GLS, treinar meu espanhol
nas conversas de bate-papo e de quebra, quem sabe eu não encontraria meu tão
sonhado “príncipe encantado”.
convicto que teriam outros usuários que sentiam o mesmo e pensei que algo deveria
ser feito urgentemente para quebrar o silêncio e dar visibilidade a essas questões.
Não posso negar que, de fato, o tema-pivô da investigação “mexe” muito com
meus “conteúdos psíquicos”, e não digo inconscientes, porque o sofrimento é
consciente, e até demais. Tanto o acesso ao aplicativo antes e durante a realização
da pesquisa quanto a escrita desse texto foram intercalados por inúmeras pausas de
resistência, períodos longos de procrastinação e noites mal dormidas pensando em
como a sociedade não é justa com aquelxs que assim como eu põem em xeque os
ideais da masculinidade hegemônica e as normas impostas pela matriz
heterossexual. Acrescenta-se a isso visitas frequentes a minha analista para falar
dos sentimentos negativos que frases, expressões e descrições de perfil como “ Não
sou nem curto afeminados” e “ Fora afeminados” me causavam.
No Ensino Fundamental II, ser estudioso não foi suficiente para me salvar das
retaliações morais e sociais infligidas sobre aquelxs que põe em xeque as normas
impostas pelo patriarcado. “Mahamoud tem um QI acima da média, mas tem que
apertar os parafusos (expressão utilizada no Líbano para se referir a um
menino/homem que precisa ser mais viril)”, disse uma professora de inglês na Oitava
série. “ O que adianta ser estudioso e inteligente se é bannouti desse jeito”, disse um
professor de matemática na Nona série.
consegui que o garoto parasse de tirar sarro de mim, mas também ganhei um
guarda-costas, pois toda vez outrxs tentavam me caçoar, ele se levantava para me
defender. E foi assim com várixs outrxs: me zoavam por ser efeminado, precisavam
de ajuda nos estudos, eu ajudava e elxs paravam. Digamos que foi de uma forma ou
outra: conhecimento em troca de respeito.
Eu juro que tentei fugir de mim mesmo. Inclusive, antes de entrevistar meus
colaboradores durante o andamento da pesquisa, solicitei a um colega do mestrado
que me entrevistasse usando o mesmo roteiro de entrevista, porque queria me
esvaziar de mim e não queria que minha escuta fosse poluída com meus conteúdos
e questionamentos.
Eu guardava meus pensamentos para mim mesmo, até que um dia conheci
um sociólogo através do aplicativo e ao compartilhar meus questionamentos, ele
sugeriu que lesse as publicações de Richard Miskolci. Assim, além do meu
background pessoal, as pesquisas que Miskolci desenvolve acerca das relações
homodesejantes mediadas digitalmente há mais de 10 anos serviram de inspiração
para esse trabalho. A leitura de dois artigos publicados por Miskolci foram essenciais
para o desenvolvimento do projeto que deu origem a essa dissertação: “ Machos e
Brothers: uma etnografia sobre o armário em relações homoeróticas criadas on-line”
(2013) e “ ‘ Discreto e fora do meio’- Notas sobre a visibilidade sexual
contemporânea” (2015). Achei fantástica a ideia de usar expressões, frases e
vocábulos comuns na sociabilidade dos homens que utilizam aplicativos como o
Grindr para intitular as publicações e me senti inspirado a fazer o mesmo com o
8
Escrevo isso porque a leitura desse manuscrito pode gerar a sensação que
estou atacando aqueles que não curtem afeminados e fazem uso de
comentários/descrições de perfis do tipo que me fazia marcar uma sessão extra de
análise, e de alguma forma isso não deixa de ser verdade. Os/as/xs adeptxs da
psicanálise podem pensar que seja recalque, questões edípicas mal resolvidas, ou
1 A expressão “queer” é uma expressão comumente utilizada por falantes da língua inglesa para se
referir àqueles que não se enquadram nas normas impostas de gênero e sexualidade. Embora soe
um termo clássico e romantizado quando se usa em textos em português, “queer” significa “estranho”,
“anormal”, enfim “uma aberração”. A teoria/estudos queer adotam essa nomenclatura como protesto
contra à subalternização reiterada daqueles que põem em xeque o alinhamento (sexo-gênero-
sexualidade) e as lógicas binárias construídas a base de relações de poder (homem-mulher;
heterossexual-homossexual; masculino-feminino, etc.)
9
Considerando o “desejo” tanto uma condição sine qua non para a relação sexual,
erotismo e o amor quanto um elo que une entre os três, sugiro a expressão
“relações homodesejantes” como acima destacado para evitar possíveis
reducionismos.
2 INTRODUÇÃO
Por outro lado, tais comentários revelam uma clara confusão feita por alguns
usuários entre a orientação afetivo-sexual, identidade de gênero e expressão de
gênero, pois categoriza usuários discretos como homens desejáveis e exclui outros
usuários, categorizando-os como mulheres. Trata-se de um status quo tão
hegemônico, potente e metastático que parece penetrar até na essência do desejo,
marca mais singular do sujeito.
Stearns (2010) aponta que os últimos sessenta anos foram perpassados por
vários processos de redefinição por meio dos quais se fortaleceu a concepção das
práticas sexuais como recreação e fonte de prazer em detrimento de uma
sexualidade meramente voltada a fins de procriação. Destaca-se, nesse sentido, que
18
2A primeira versão do CID a ser publicada sem referências à homossexualidade como doença é a
décima versão (1993). Apesar disso, essa versão ainda chama atenção à existência de uma
homossexualidade egodistônica passível de tratamento psicoterápico no intuito de promover a
autoaceitação.
20
das vias mais seguras através dos quais esses homens podem vivenciar a
sexualidade de forma anônima, e isso se evidencia pela eclosão de plataformas
digitais de busca de parceiros do mesmo sexo que hoje em dia tomam a forma de
location-based apps (aplicativos baseados na localização) operados em
smartphones e tablets como o Grindr que é voltado especificamente para homens
que por diferentes motivos buscam se relacionar com outros homens.
foto já transmite uma mensagem sobre o usuário. Pessoas que usam fotos do rosto
tendem a ser assumidas sexualmente ao passo que pessoas que usam fundos
pretos provavelmente preferem manter o anonimato devido a não-assunção dos
próprios desejos homo-orientados ou bi-orientados. Usuários que postam fotos do
dorso sem camisa, ou do corpo na academia tendem a estar mais interessados em
práticas sexuais casuais ou na cultura do fast-foda (ou hook-up). Para Miskolci
(2015, p. 75), “um dos elementos mais evidentes está no design das plataformas e
aplicativos dirigidos a esse público, o qual valoriza a imagem em detrimento da
escrita”.
Tocar a foto de um usuário revela seu perfil (segunda tela), que inclui a foto,
um anúncio breve (headline), traços físicos (altura, peso, idade), o que a pessoa
busca no aplicativo, a distância do usuário e um pequeno texto sobre o “parceiro em
potencial”. A partir desse perfil, o usuário pode começar uma conversa particular na
qual se pode trocar mensagens, compartilhar mais fotos e a localização, conforme
exposto na terceira tela. Conversas em grupo não são possíveis através desse
aplicativo. Nesse sentido, Blackwell et al (2015) destacaram que há três tipos
possíveis de comunicação no Grindr: (1) de um a todos (na descrição do perfil); (2)
de um a um (na conversa particular) e (3) não-comunicação (através do bloqueio).
exibição. O sinal que aparece na parte superior direita da foto é reservado para
bloquear o usuário, excluindo a possibilidade dos usuários acessarem o perfil um do
outro.
Para visualizar mais informações sobre o usuário por trás do perfil cuja foto foi
tocada, basta que toque a foto e passe o dedo para cima, conforme exposto nas
figuras a seguir, obtidas do site oficial do aplicativo que conta com um espaço de
suporte reservado para ensinar prospectivos usuários como utilizar a plataforma
digital em seus smartphones, sejam android ou ios.
aos personagens da indústria pornográfica gay. Nesse sentido, Miskolci (2015, p.69)
apontou; que “ o uso de aplicativos de busca de parceiros, por serem fortemente
centrados na imagem, incentivam e se associam a práticas corporais como a
musculação ou a corporificação de tipos eróticos criados pela indústria
pornográfica”.
Para que seja possível que os usuários, tanto da versão gratuita como o da
XTRA, filtrem suas buscas de acordo com suas preferências sexuais, eróticas ou
românticas, cada usuário possui a opção de preencher sua página de perfil com as
informações necessárias referentes à idade, à altura, ao peso, à etnia, ao porte
físico e à posição sexual, conforme explicitado anteriormente. Além disso, o perfil de
30
cada usuário conta com a possibilidade de fazer upload (carregar) uma foto de perfil,
registrar um nome de exibição e escrever um pequeno paragrafo sobre si, podendo
utilizar até 255 caracteres. Destaca-se ainda que cada usuário pode disponibilizar
links para o acesso a outras plataformas digitais e redes sociais como o instagram, o
twitter e o facebook.
Cabe frisar que informações sobre a saúde sexual podem ser registradas na
página de perfil de cada usuário, com enfoque exclusivo ao status sorológico
referente ao Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). Caso o usuário opte por
revelar as informações acerca do respectivo status sorológico, o aplicativo dispõe de
quatro categorias entre as quais aquele pode escolher: (a) Negativo; (b) Negativo,
usando PrEP; (c) Positivo; (d) Positivo, não detectável. Acrescenta-se que cada
usuário pode registrar a data do último teste realizado. Após pressões de
Organizações Não-Governamentais (ONGs) e ativistas de saúde pública, sexual e
LGBTIQA, muitos aplicativos de busca de relacionamentos baseados na localização,
inclusive o Grindr, passaram a disponibilizar, em diferentes idiomas, um link de
acesso a informações, perguntas e respostas sobre saúde sexual, infecções
sexualmente transmissíveis (ISTs), centros de testagem e profilaxia.
E por fim, cabe destacar que no início de 2017, foi acrescentada ao aplicativo
uma ferramenta intitulada “Caras Novas” que permite com que os usuários, tanto da
versão gratuita como da Xtra, vejam em destaque os novos usuários do aplicativo no
espaço geográfico proximal onde o acessam.
como base para a análise das informações obtidas por meio da etnografia virtual e
das entrevistas individuais.
Nesse sentido, Miskolci (2015) discorreu sobre as razões que levam homens
a adotar o uso de plataformas digitais (por exemplo, o Grindr), a partir de uma
etnografia conduzida com homens paulistanos. O autor ressaltou as dimensões
sociológicas e históricas para refletir sobre o caráter social do desejo que alimenta
essa procura e o novo regime de visibilidade em que esses homens se inserem.
Assim, o autor (2015) questionou: por que a busca por um parceiro online é guiada
pela discrição, masculinidade e pela recusa de qualquer elemento ou lugar que pode
ser evidentemente associado aos desejos homo-orientados?
Os modelos regulatórios apontados por Miskolci (2015) são uma das formas
através das quais alguns homens que buscam por relações homodesejantes
garantem que seus desejos não sejam visíveis, o que significa que suas
experiências sejam permeadas pela segurança. Conforme Miller (2015), essa
“segurança” é o principal fator pelos quais esses homens utilizam aplicativos
baseados na localização em busca de relações homodesejantes. Assim como
Crooks (2013) e Miskolci (2015), Miller (2015) destacou que se tornou
significativamente comum para os homens se que relacionam com homens buscar
outros por meio de redes sociais online por diversos motivos. Conforme Miller (2015,
p. 481), “é evidente que o uso de redes sociais voltadas especificamente aos HSH
33
(homens que fazem sexo com homens) (sic) é motivada por uma multidão de
gratificações buscadas [...]”. Nesse sentido, Miller (2015) explorou as motivações
para o uso desses aplicativos específicos para homens que buscam por relações
homodesejantes e as gratificações associadas a esse tipo de interação mediada
digitalmente. Sendo assim, Miller (2015) conduziu uma pesquisa online com 143
participantes, mostrando que homens que buscam por relações homodesejantes, sui
generis, lançam mão de aplicativos de relacionamentos em dispositivos eletrônicos
em busca de: segurança, controle, facilidade, acessibilidade, mobilidade,
conectividade e versatilidade.
tensão constante entre “desejar” ser percebido positivamente por outros usuários
atraentes do Grindr que estejam próximos geograficamente e queiram se encontrar,
e “evitar” as consequências negativas ou estigma por parte daqueles que se
encontram fora do grupo.
Tziallas (2015), por outro lado, analisou como o uso de aplicativos baseados
na localização voltados a homens que buscam por relações homodesejantes,
incluindo o Grindr, facilitam a propagação de conteúdos auto-pornográficos através
de um processo de erotismo lúdico permeado por troca de nudes e conversas
(chats) de caráter erótico. Sendo assim, Tziallas (2015) argumentou que os
programadores desses aplicativos estão cientes do impacto central que a
pornografia tem historicamente exercido sobre as relações homodesejantes entre
homens e, portanto, construíram os aplicativos, incluindo o Grindr, em forma de
“pornoesferas” que viabilizassem a ubiquidade e onipresença dessa influência. É
imprescindível destacar que o impacto da mídia e indústria pornográfica sobre as
vivências e relacionamentos homodesejantes já foi um tema amplamente abordado
por vários autores (BORGES, 2009; MOWLABOCUS, 2010; GAGNÉ, 2012;
MISKOLCI 2012, 2013, 2015, 2017; CROOKS, 2013). Nesse sentido, Miskolci (2012,
2013) argumentou que ao contrário de casais heterossexuais que sempre contaram
com modelos de relacionamentos heterossexuais propagados pela família, pela
35
mídia, pela indústria cultural e pela sociedade como um todo, homens que buscam
por relações homodesejantes foram por muito tempo privados desses tipos de
modelos e representações, recorrendo, portanto à pornografia cujo conteúdo e
imagens passaram a permear as relações que construíam durante muitos anos.
Jaspal (2016) desenvolveu um estudo para abordar as formas por meio das
quais homens que buscam por relações homodesejantes constroem e gerenciam
sua identidade no Grindr, o que vem ao encontro com as propostas de Miskolci
(2013; 2015) e Blackwell et al (2015). Nesse sentido, Jaspal (2016) realizou
entrevistas com uma amostra de 18 homens que buscam por relações
homodesejantes e fazem uso do Grindr e as analisou por meio da análise
fenomenológica interpretativa, enfatizando a construção e reconstrução das
identidades no Grindr, a sustentação da autoeficácia sexual e o gerenciamento das
identidades nos ambientes online e off-line. O autor concluiu que apesar dos
benefícios sociais e psicológicos aparentes dos aplicativos como o Grindr, as
pressões oriundas das normas coercivas que se replicam no aplicativo assim como o
uso excessivo (vício) do aplicativo podem infligir efeitos deletérios sobre a identidade
dos usuários, intensificar problemas associados à autoestima e, portanto, ameaçar o
bem-estar psíquico e social dos usuários.
respectivas palavras que explica o uso delas como nome central da teoria aqui
abordada?
Por outro lado, o verbo queer era antigamente utilizado no Reino Unido na
expressão idiomática “queer someone’s pitch” que significa estragar o que alguém
está fazendo ou planejando fazer. Ressalta-se, assim, outra conotação negativa do
mesmo termo. Cabe destacar, também, o uso informal da expressão “queer
bashing” que significa atos violentos contra pessoas que buscam por relações
homodesejantes. O Macmillan English Dictionary (2002) aponta, além disso, a
existência do advérbio “queerly” que pode ser traduzido como “estranhamente”.
teoria queer/estudos queer como “teoria viada/estudos viados”. Por que não seria
“teoria estranha”, “ teoria caloteira”, “teoria doente” ou “teoria bizarra”, etc. Dizer que
o motivo da escolha seria o fato que essa dissertação discorre sobre um tema
relacionado a gênero e sexualidade seria um tanto simplista. O critério de escolha é
nada mais nada menos que o grau de estranheza e desconforto que a expressão
causa no imaginário social brasileiro. A expressão “viado” no contexto brasileiro
causa mais estranheza e ofensa aos titulares da masculinidade hegemônica e
defensores da matriz heterossexual que as palavras: doente, caloteiro, estranho,
bizarro. Aliás, todos esses podem ser em algum momento descritos como “ viados”
porque fogem das normas impostas pelo ethos social dominante. A palavra “ viado”
possui um caráter pejorativo tão forte quanto o termo “queer” em contextos anglo-
saxões, senão mais potente e difuso.
Butler (2003), uma das pioneiras dos estudos viados se alimenta da dialética
hegeliana, da psicanálise neolacaniana e do pós-estruturalismo foucaultiano, para
argumentar que os gêneros e as sexualidades são discursivos e não hegemônicos
como socialmente vistos. Assim, as categorias baseadas na matéria biológica pura
como “macho” e “fêmea” passam a ganhar significado a partir da penetração do
sujeito pela linguagem. A mesma lógica ocorre com as relações dicotômicas entre
“homem” e “mulher”, “ masculino” e “feminino”, “branco” e “negro”, “heterossexual” e
“homossexual”, “másculo” e “afeminado”.
3A teoria viada é significativamente influenciada pelos pensamentos de Laurent Berlant, Leo Bursani,
Judith Butler, Lee Edelman, Jack Halberstam, David Halperin, José Esteban Muñoz e Eve Kosofsky
Sedgwick.
42
Cabe frisar que se escreve “lugar” entre aspas porque a palavra nos remete a
algo fixo e imóvel, mas para a teoria viada, nossas identidades não são estáveis ou
estanques. Portanto, estamos sempre no “entre-lugares”, principalmente no que diz
respeito às relações entre identidade de gênero, expressão de gênero e orientação
afetivo-sexual.
originando-se dos estudos feministas desconstrutivistas dos anos 80, dos estudos
culturais norte-americanos e da crítica ao feminismo burguês que eclipsava as
demandas de mulheres negras e pertencentes às camadas sociais mais baixas e
aos estudos gays e lésbicos então vigentes que negligenciavam as intersecções
típicas das nossas sexualidades. Os estudos gays e lésbicos que surgiram no bojo
do ativismo gay norteamericano após os acontecimentos de Stonewall inn em junho
de 1969 pautavam-se contraditoriamente num discurso de igualdade e respeito à
diversidade sexual por um lado, e numa compreensão estanque e linear sobre
gênero e sexualidade. Tendiam, assim, a lutar pela diversidade sexual, porém
cultuando e envaidecendo a imagem do homem homossexual branco
norteamericano de classe média alta que se enquadrava perfeitamente nos padrões
impostos pela matriz heterossexual. Aquelxs que não se encaixavam nesse perfil-
mulheres, drags, homens efeminados, butches (machudas) - continuavam sendo
enviadecidxs, subalternizadxs, tratadxs como corpos estranhxs, apesar da
efervescência de discursos acerca da importância da diversidade sexual e do
respeito ao próximo.
biologia, chegando em alguns casos a negar o uso das expressões binárias (homem
em mulher), como no Manifesto Contrassexual de Preciado (2014) no qual o autor
se refere aos sujeitos simplesmente como “corpos falantes”. Não há nenhuma
pesquisa genética que demonstra que características associadas aos papéis de
gênero sejam determinadas pelo código genético. Quando se trata de gênero e
sexualidade, as identidades não podem ser compreendidas como os fenótipos: cor
de olho, formato da orelha, entre outros. A biologia determina apenas aspectos
anatômicos e fenotípicos da existência do ser humano, que inclusive apenas pode
ser considerado como tal se passar pelo crivo da cultura e se for penetrado pela
linguagem, senão nada o diferenciaria de outros mamíferos.
Nesse sentido, segundo Butler (2003), uma das teóricas viadas mais
eminentes, o gênero, seja qual for, é a repetida estilização do corpo; uma série de
ações repetidas dentro de um quadro amplamente rígido e regulatório que se
congela ao longo do tempo para produzir a aparência de uma substância natural.
Depreende-se, assim, que é o comportamento e a linguagem que produzem o
gênero, e não vice- versa. Como as identidades, papéis e expressões de gênero são
socialmente construídos e perpassados por fatores históricos e culturais, os corpos
falantes passam a ser impelidos a “performatizarem” o comportamento socialmente
associado ao gênero que lhes foi designado ao nascimento que per se foi atribuído
ao corpo do recém-nascido com base na expressão fenotípica do sexo. Destaca-se,
nesse sentido, o conceito de “performatividade de gênero”- uma das principais
contribuições Butlerianas aos estudos viados, e aos estudos de gênero e
sexualidade, sui generis.
Nesse sentido, Louro (1997, 2000, 2016) apontou que as relações humanas
são permeadas por um alinhamento (sexo-gênero-orientação afetivo-sexual). Ou
seja, prevalece a falsa ideia de que quem nasce com pênis, se considera
necessariamente um homem que per si deve ser extremamente másculo/viril e
desejar outra mulher. Partindo desta mesma visão linear e limitada da sexualidade
humana, se um “homem” apresentar desejos homo-orientados, ele tem sua
masculinidade posta em xeque, ao mesmo tempo que se aquele apresentar
comportamentos e atitudes que não se enquadram naquilo que a sociedade associa
normativamente à masculinidade, ele terá sua heterossexualidade presumida posta
em xeque. Devido a esse alinhamento, por exemplo, é comum na sociedade
brasileira, que pessoas usem a expressão “pinto pequeno” para depreciar alguns
homens e questionar a masculinidade deles, pois ter um pênis grande, na atual
sociedade brasileira, é concebido como um símbolo máximo da masculinidade.
4 Nesse caso, intersexo é um termo utilizado para se referir a um grupo de variações congenitais de
anatomia sexual que não se encaixam nas definições binárias tradicionais. Longe das categorias
diagnósticas propostas pelo CID-10 (OMS, 1993) ou DSM-5 (APA, 2013), refere-se aqui à minoria
sexual representada pela letra I na sigla LGBTQIA.
52
masculino, apresentam nenhum tipo de órgão erétil. Assim, durante o ato sexual, a
fêmea penetra o macho e consequentemente seu gynosome infla, absorbendo
nutrientes e sêmen de dentro do macho (inseto com a expressão genotípica
correspondente ao sexo de nascimento feminino). 5
será tratado posteriormente. Por outro lado, ao visualizar a vulva, o (a) médico (a)
exclama: “ É Menina!” Designa-se, então, a esse “sujeito”, o outro gênero que
compõe a díade, ao qual nos referimos aqui por “Female”. Nesse caso, utiliza-se o
termo em inglês também, para diferenciar o feminino como gênero designado
(Female) do feminino como expressão de gênero. Haja vista a “existência
predominante” de dois sexos de nascimento- pênis e vagina- esse processo de
designação de gênero antes do nascimento ocorre de forma binária/dicotômica
(BUTLER, 2003; APA, 2013), conforme ilustrado no esquema a seguir:
ocasionalmente, outra categoria não-binária que não seja nem homem nem mulher,
ou, simplesmente, nenhuma categoria (pessoa agênera). Consiste, portanto, na
forma como alguém se sente, se identifica e se apresenta para si próprio e para os
que o rodeiam, relacionando-se, assim, à percepção de si mesmo como um todo
(BONFIM, 2012).
Como a identidade de gênero independe do sexo biológico, esta não pode ser
compreendida a partir da mesma lógica binária e dual que permeia o processo de
designação de gênero antes do nascimento. Ressalta-se, nesse sentido, que há
uma multiplicidade de possíveis identidades de gênero: as binárias (homem e
mulher) e as não-binárias, cujo número de possibilidades tende ao infinito. Surge,
nesse contexto, terminologias como transgênero, cisgênero, pangênero, bigênero,
demigênero, entre outras, para se referir às múltiplas possibilidades de identidade de
gênero.
nossa sexualidade e o mundo que nos cerca, pressupõe-se erroneamente que todos
os homens que não são titulares da masculinidade hegemônica (comumente
denominados de homens afeminados) apresentem necessariamente desejos homo-
orientados. Destaca-se, nesse sentido, que embora sejam conceitos diferentes, a
expressão de gênero e a orientação afetivo-sexual, são, amiúde, vistas como
sinônimos. Ou seja, crê-se que se uma pessoa é “feminina”, ela deseja
necessariamente um homem/masculino e vice-versa.
Nesse ínterim, nota-se que tal processo aflige homens que apresentam
comportamentos, atitudes, trejeitos, preferências e gostos que não se enquadram no
padrão de expressão de gênero socialmente esperada para os mesmos. Destaca-
se, como exemplo, os “homens afeminados”, que embora se afirmem e se
identifiquem como homens, perdem os privilégios exclusivos dos titulares da
masculinidade hegemônica, e passam por um processo de subalternização e
exclusão semelhante àquele que aflige as mulheres. Tal marginalização ocorre
independentemente da orientação afetivo-sexual desses homens, que são amiúde,
vistos como pessoas que buscam por relações homodesejantes, uma vez que a
presença do efeminamento em um homem questiona a matriz heterossexual.
Nesse sentido, Annes e Redlin (2012) apontaram que ser identificado como
“heterossexual” (normal) a partir da aparente expressão de gênero ocupa o centro
das preocupações de muitos homens que buscam por relações homodesejantes ,
justamente porque se enquadrar totalmente nos padrões de masculinidade
hegemônica e ser “heterossexual” são características desejáveis pelo outro social.
67
devido a dois fatores: (a) o consentimento de muitos homens que buscam por
relações homodesejantes que tentam simultaneamente se enquadrar no modelo
ideal de masculinidade e se relacionar com homens que se encaixam nele; (b) a
depreciação e exclusão constante de homens que possuem um comportamento,
expressão de gênero, porte físico ou estilo de vida que põe em xeque os atributos do
modelo supracitado. Destaca-se, nesse sentido, a aversão contra aqueles cujo
comportamento é caracterizado pelo efeminamento, doravante denominada de
“efeminofobia”- significativamente disseminada entre homens que buscam por
relações homodesejantes, visando, acima de tudo, a manutenção do modelo
hegemônico de masculinidade imposto pelo status quo patriarcal e
heterofalocêntrico.
Tal visão negativa foi corroborada pelo fato que os homens que buscam por
relações homodesejantes são amiúde representados/retratados na cultura popular,
indústria cultural e meios de comunicação de massa como efeminados, alegres,
extrovertidos e “espalhafatosos” criando, portanto, um efeito cômico ou caricaturesco
(SEDGWICK 1991, 1993; ANNES; REDLIN, 2012; CONEJO, 2012).
6 MÉTODO
6.1 OBJETIVOS
6.4 PROCEDIMENTOS
A entrevista é uma das pedras angulares e fontes mais ricas para a obtenção
de dados em pesquisas qualitativas. Apesar da existência de outras formas de
coleta de dados como a observação e a aplicação de questionários, acredita-se que
nenhuma pesquisa é tão completa quanto aquela que faz uso de entrevistas tête-a-
tête com os colaboradores. A entrevista é permeada pelo dito, pela linguagem
pronunciada e, portanto, pela escuta. Longe do estabelecimento de qualquer relação
de poder ou superioridade entre o entrevistador e o entrevistado, o caráter
sincrônico da relação entre o pesquisador que indaga e escuta e o colaborador que
fala e responde, mas também questiona torna a entrevista uma das etapas-pivô de
inúmeras pesquisas qualitativas.
Para facilitar a posterior análise final dos dados, primou-se pela realização
das entrevistas com o uso de gravador mediante o consentimento dos colaboradores
cujo sigilo, privacidade e anonimato foram asseguradas pelos Termos de
Consentimento Livres e Esclarecidos (TCLEs) Nesse sentido, Zago (2003) apontou
que escutar a entrevista e transcrevê-la é um procedimento significativamente
importante para o andamento da pesquisa, pois permite além de tudo um olhar
crítico e reflexivo por parte do “pesquisador”. Citando Szymanski (2002, p. 74):
Lucas 24 Solteiro
Abelardo 26 Solteiro
Francisco 19 Solteiro
Oséias 30 Solteiro
Caio 21 Solteiro
Enrique 37 Casado
Ricardo 24 Solteiro
Théo 26 Solteiro
6.5 ANÁLISE
Além disso, Minayo (2008) apontou que a análise de conteúdo como técnica
de análise de dados traz em seu bojo uma lógica semelhante às metodologias
quantitativas, pois busca a interpretação cifrada do material qualitativo. Não
obstante, a técnica de análise de conteúdo dá ênfase ao conteúdo manifesto ou
latente das comunicações e concede uma relevância às regularidades da fala, sua
análise léxica e à significação. Nesse sentido, Minayo (2008) apontou que
“historicamente a Análise de Conteúdo clássica tem oscilado entre o rigor da
suposta objetividade dos números e a fecundidade da subjetividade” (p. 304).
Além disso, nota-se que tanto a codificação quanto a análise final do material
qualitativo é permeada por uma série de elementos. Nesse sentido, Bogdan e Biklen
(1994) discorrem acerca dos diferentes fatores que influenciam na codificação de
temas para a análise dos dados, ressaltando que as diversas abordagens teóricas
dos investigadores modelam a forma como esses classificam, consideram e
89
analisam os dados.
física e psíquica dos sujeitos que nela participam e do meio no qual se encontram
inseridos. Nesse sentido, primou-se pelo uso de Termos de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLEs) assinados pelo pesquisador-mestrando, pela orientadora e
pelos colaboradores a serem entrevistados.
“macho sarado” é visto como a “picanha”- tipo de carne mais valorizado no mercado
brasileiro- ao passo que o “magro”, o “efeminado”, o “pobre” e os que não se
encaixam nos ideais de masculinidade hegemônica são vistos como os restos de
carne podre a serem descartados.
homens que buscam por relações homodesejantes lançam mão de aplicativos como
o Grindr (MILLER, 2015). Portanto, faz-se atraente pensar simplesmente que a
exposição da falta de interesse por homens efeminados e a preferência por homens
“másculos” seja uma forma de filtrar e delimitar o perfil de pessoas com as quais
certo usuário esteja disposto a falar e conhecer pessoalmente, uma vez que
desperdiçaria muito tempo mantendo contato com outros usuários que não se
enquadram em seu perfil erótico. Isso se evidencia nas descrições de perfis com
frases simples como aquela de “TestosteronaH”, 30 anos: “Estou afinzão de curtir
uma boa transar com outro camarada que não seja afeminado com pegada e que
curta paradas com pura testosterona” (sic.), ou mais explicitamente na descrição de
outro usuário de 21 anos que utiliza como nome de perfil o vocábulo “ Objetivo”: “
Oi+ FT ROSTO (não precisa mandar, só não chama faz fvr) DISPENSO fakes
/coroas/ afeminados/ peludos /gordinhos/ ursos/ fumantes/ chatos. PREFERÊNCIA
novinho/ lisinho/ macho/ discreto/ magrinho/ sarados/ passivo/ ou/ versátil” (sic).
“Ahh eles filtram muito. Isso é feito para afastar as pessoas que...Pois
querendo ou não muitos que se encaixam ali também não gostam de gays
afeminados. Eu vou ver e percebo que ele não gosta de gays afeminados,
96
não gosta de gays espalhafatosos, ele não gosta disso, não gosta daquilo.
Opa eu também não gosto, me identifiquei, vou conversar com ele.” (sic)
(LUCAS, 24 anos).
Entrevistador: Porque você acha que essas pessoas têm esse tipo de
descrições? Emanuel: Sei lá, porque elas já querem afastar, entendeu? As
pessoas, as pessoas que ficaram ali no meio. Afeminados ou vão ser
expulsos por serem gordos. Entrevistador: E porque você acha que elas
querem afastar esse tipo de pessoas? Emanuel: Porque elas não devem
gostar, né? Não querem, eu sei que alguns são porque preferem não fazer,
no caso, fazer sexo porque acham muito escandaloso e tal. (ENTREVISTA
COM EMANUEL, 18 anos).
Em sua descrição, BearbiPVH deixa claro a outros usuários que não tem
interesse em conhecer homens efeminados ou que tenham uma expressão de
gênero ou jeito de se vestir que possam ser socialmente associados aos desejos
homo-orientados (delicados, very fashion). Assim, o usuário exige a mesma
discrição que ele afirma proporcionar uma vez que se subentende da própria
descrição que não deseja assumir seus desejos publicamente, pois seu estilo de
vida pede sigilo. Isso pode ser ressaltado pelo uso destacado da palavra “NADA..”
em caixa alta, pois manter contato, conhecer e se relacionar com outro homem que
seja “efeminado, delicado ou very fashion” pode denunciar a natureza dos seus
desejos sexuais e torna-lo suscetível a retaliações sociais e morais que afligem
aqueles que assumem seus desejos por outros homens ou performatizam uma
expressão de gênero culturalmente vista como sinônimo de ter desejos homo-
orientados. A busca pelo sigilo e discrição por grande parte daqueles que utilizam
aplicativos baseados na localização como o Grindr já foi abordada densamente
pelas pesquisas desenvolvidas por Miskolci (2013, 2015, 2016).
começo” (sic). Por outro lado, ao refletir sobre o uso do aplicativo antes da saída do
armário, um dos colaboradores ressaltou que sempre buscava por homens que se
enquadravam no padrão hegemônico de masculinidade no fito de manter seus
desejos homo-orientados em segredo, como se observa a seguir:
“Às vezes a gente vê, fora do aplicativo, por exemplo, você vê as pessoas
conversando. Elas idealizam, procuram o macho alfa. O homem que é meio
lenhador, barbudão e tal. Macho. Como dizem, fora do meio. Às vezes a
gente vê nas descrições assim ‘sou assim, assim, assim, fora do meio’, sou
macho e não sei o quê e já teve época que eu procurava pessoas assim até
porque eu não queria que descobrissem que eu era gay. Então tipo, eu
preferia alguém que fosse discreto para as pessoas não perceberem, não
levantar suspeita” (sic) (THÉO, 26 anos).
Após ressaltar que não possui interesse erótico por “afeminados”, o usuário
tenta fornecer justificativas para suas preferências, o que se evidencia no que
segue: “ a culpa é do meu P” (sic), (subentende-se “pau”- referência coloquial ao
órgão sexual masculino). Ao se referir ao seu pênis, o usuário possivelmente visava
reafirmar que “não curtir afeminados” é apenas questão de “gosto” erótico, pois não
consegue sentir atração sexual ou ter uma ereção com um “afeminado”, e isso foge
ao seu controle, pois não é uma “máquina de sexo” que funciona de qualquer jeito.
Nota-se que os usuários por trás dos perfis acima destacados expressam a
falta de atração sexual por “afeminados” em suas descrições de perfil, mas tentam
se justificar em seguida afirmando que não possuem “nada contra” homens que
102
Ah, logo no começo eu achava que muito, por questão de sei lá, a pessoa
não gostava, não gostava, né? Ah... Mas a gente vai crescendo, a gente vai
lendo, a gente vai aprendendo e aí você vai vendo que é uma questão
realmente de preconceitos das pessoas, que já é estereotipado. As pessoas
já olham e já sei lá “ah, esse aí vai fazer barraco. Aquele tipo de pessoa que
só gosta de música POP, só gosta de diva POP então eu acho que tem
muito isso de rótulos (THÉO, 26 anos).
No primeiro momento, sabe-se que a AIDS foi assimilada tanto pela ciência
quanto pelo imaginário social como uma “praga” ou “doença gay”, o que se
evidencia no primeiro nome proposto para se referir à síndrome: Gay Related
Immuno-deficiency (GRID). Logo, os homens efeminados não ocupavam mais o
lugar de abjeto somente por causa da expressão de gênero concebida como prova
indestrutível de possuir desejos homo-orientados, mas também porque passaram a
serem vistos como promíscuos, “aidéticos”, não saudáveis, fracos e magros. A
divulgação midiática de imagens de pacientes terminais de AIDS contribuiu para o
fortalecimento da associação da magreza à doença e ao efeminamento, no
imaginário social (MISKOLCI, 2017).
104
Por muito tempo, a pornografia era o único meio através do qual homens que
buscam por relações homodesejantes poderiam encontrar referências “positivas”
sobre si mesmos (MOWLABOCUS, 2010; GAGNÉ, 2012; TZIALLAS, 2015;
MISKOLCI, 2015, 2017). Não obstante, tais referências positivas dificilmente
contemplavam aqueles que se identificam como afeminados ou expressam
masculinidades marginalizadas ou não-hegêmonicas.
Nesse sentido, Butler (1993, 2003) aponta que os corpos carregam discursos
com parte do próprio sangue (PRINS; MEIJER, 2002). Embora ninguém escolha
conscientemente o que deseja ou deixa de desejar, é evidente que os desejos, jeitos
de ser e se expressar são perpassados por imposições e exigências do status quo
heteronormativo, machofascista e efeminofóbico vigente, que é continuamente
alimentado e perpetuado através da linguagem- ferramenta por meio da qual
passamos da condição biológica para a condição cultural (LACAN, 1949/1998;
HARARI, 2006).
Nesse ínterim, Butler (2003) afirma que não há ator por trás do ato, pois a
internalização desses discursos, a associação binária de características e
comportamentos associados aos gêneros designados antes do nascimento e a
coerção reiterada para performatizá-los de acordo com o sexo ocorre de forma
naturalizada, visando a manutenção e fortalecimento da matriz heterossexual que
permeia as relações humanas em diversos aspectos. Cabe frisar, nesse contexto,
que esse processo de internalização é inevitável uma vez que tanto o “eu” quanto os
desejos que o constituem não passam de meros efeitos de linguagem.
“As que mais me chama atenção são bom. geralmente as que chama
atenção são aquelas que não tem as palavras “macho” por que isso é ruim.
Cara macho? “Sou discreto”, “Não gosto de afeminados”. Por que se ele
não gosta de um gay afeminado ele é machista e o cara que “poxa cara eu
sou gay por que eu vou ter preconceito com outro cara que é gay”? (sic)
(voz de indignação do entrevistado) (LUCAS, 24 anos).
por vezes imperceptível, dos mesmos, foi frisada por Théo, 26 anos, como se
observa nos seguintes trechos da entrevista:
“Mas eu acho que é geral, eu acho que a gente segrega muito. Separa e
rotula as coisas e isso é muito interessante porque você pensa que dentro
do meio homossexual ou GLS não vai ter, ah... Preconceito, mas a gente
tem muito preconceito aqui dentro.” (sic)/ “(...) eu acho que é mais essa
questão mesmo de a gente continuar perpetuando esses estereótipos que
foram, que foram definidos por esse tipo de pessoas e a gente acaba
perpetuando isso, não tem jeito, está imerso” (sic) (THÉO, 26 anos).
“(...)a maioria dos gays não quer pessoas afeminadas porque chamam
atenção e não é uma atenção favorável porque querendo ou não se você é
discreto você está ao lado de um afeminado, o afeminado vai chamar a
atenção. Todos vão te julgar como afeminado também porque você está
com ele. Alguns gays não querem isso, até porque alguns gays não têm
amizades com afeminados por causa disso, por causa desse medo que eles
tem de serem encaixados como afeminados, como mulherzinhas, é ego
fraco, ego fraco, mente fraca. Porque se eu tenho na minha cabeça que eu
não sou afeminado, não é um viadinho, não é uma mulherzinha ali na
esquina que vai me fazer tremer a base, não. Então para mim é mente
fraca”(sic.) (FRANCISCO, 19 anos) (Grifos nossos).
também não sou tão mulher” (sic)/ “(...) querendo ou não eu tenho alguns traços
afeminados, eu não posso lutar contra isso que é natural (sic)”.
Cabe frisar, nesse sentido, que o chamado “teste de voz” é uma prática
comum entre usuários do Grindr, sobretudo entre aqueles que buscam por sigilo,
discrição e parceiros que se enquadram nos ideais de masculinidade hegemônica,
conforme já apontado por Miskolci (2016).
“Macho versátil procurando outros machos versáteis ou ativos, não curto novinhos”
(sic). No espaço reservado à descrição de perfil, lia-se: “Inteligente, sarcástico,
educado e carinhoso, porém não pisa no meu calo. Busco homens inteligentes,
maduros e saudáveis, se tem HIV, obesidade e é afeminado, por favor, mantenha
distância, não curto moleques e idosos, sem fotos, sem papo” (sic).
Além de ser uma tentativa de se tornar “mais desejado” aos olhares dos
outros usuários do aplicativo que geralmente buscam por homens que se
enquadram no padrão hegemônico de masculinidade e afastam aqueles que não se
encaixam neste modelo, a autodescrição como “macho” e a negação das
características pessoais associadas socialmente à feminilidade também podem ser
compreendidas sob o viés da internalização dos ideais da masculinidade
hegemônica e o consentimento com os discursos efeminofóbicos que outrora
afligiram o próprio colaborador, como se observa no trecho a seguir:
“É, beijei na boca a primeira vez com vinte anos então, é, eu era gordinho, é
usava óculos, é vozinha fina, então, é, todas essas coisas que eu não curto
eu era (risos). Então é interessante agora que eu estou pensando nisso
porque eu sempre fui excluído na escola por ser gordinho, por ter voz fina,
eu sempre fui taxado de gay, eu passei por muito bullying de diversos tipos,
hoje o que a gente chama de bullying, na época não existia esse termo, eu
fui entre aspas bullyinado digamos (risos), né? Eu era gordo, gay, eu era
extremamente afeminado, vozinha fina, eu batia nos meninos para me
defender, tá, é, fazia esportes, fazia vôlei, handball, então sempre fui, e
fazia teatro, então eu sempre tive à margem do comportamento
heteronormativo. Será que hoje eu estou comprando esse pensamento,
pode ser, não sei, é muito complexo, né?” (sic) (OSWALD, 36 anos).
6A palavra foi omitida por questões éticas. Mas o colaborador se referia à profissão que exercia a
qual é socialmente associada à sensibilidade e feminilidade.
111
voltado para homens que buscam por relações eróticas, sexuais ou amorosas com
outros homens. Isso se evidencia na descrição de perfil apresentada por “Boy”, 26
anos: “Fugindo de afeminado, não curto meninas. Prefiro os discretos com jeito e
postura de Homem” (sic). Outro usuário, que usava como nome de perfil “ Brazilian.
Fotos Por favor (> 18) No afem! Macho com Macho” (sic) e informava ter 78 anos de
idade, apresentava a descrição seguinte de perfil na qual a efeminofobia se ocultava
por trás de um discurso misógino: “ Que me desculpem os afem, mas de mulher o
mundo tá cheio! A” (sic). Um discurso efeminofóbico camuflado por trás da misoginia
também aparece na descrição de perfil de “Mlk Afim”, 25 anos: “ Não respondi= não
curti; DISCRIÇÂO!! Já aviso logo, se vai pedir foto, já pede mandando uma sua; use
o bom senso. Curto homem, não mulherzinha. Se é desse tipo nem puxa assunto,
nada contra, mas não rola” (sic).
“Olha, eu tenho uma facilidade para lidar com esse tipo de coisa, então eu
não me sinto mal, eu me sinto agradecido. Eu me sinto agradecido, porque
quando há o preconceito, quando a gente vai lidar com esse tipo de
preconceito, eu me sinto livre desse tipo de pessoa, então tipo “ah, que bom
que você, que a gente não transou, que ótimo que nós não transamos.
Porque você procura o que? Você procura um hétero. Eu não sou um
hétero.” Foi essa resposta que eu dei.” (grifos nossos) (OSÉIAS, 30 anos).
“Mas é certo que todo homossexual, todos têm distinção que eu conheço
em algum momento tem características que é homossexual. E no meu caso,
a pessoa disse que não transava comigo por algumas características
pequenas de ‘homossexualismo’. Então tipo, pô, se você não transa
comigo, porque você achou que eu fui cumprimentar aquela pessoa minha
amiga e eu dei um jeito de ser homossexual”. Cara, você está procurando
um hétero e não é isso. Eu não vou deixar de viver a minha vida para você
transar comigo. Eu não vou mudar o meu jeito de ser para alguém transar
comigo. Não. Eu não me senti mal por isso, mas eu imagino que há outras
pessoas se incomodam” (sic) (OSÉIAS, 30 anos).
Cabe frisar que essa busca impetuosa por “um cara que passa por hetéro” já
foi apontada por Miskolci (2017) em sua análise sociológica da busca por relações
homodesejantes online. Segundo o autor, “passar-se por hetéro” se demonstra
extremamente central para alguns homens que buscam por relações
homodesejantes tanto “na forma como lidam consigo próprios quanto na busca de
parceiros” (p. 162).
Destaca-se que tal ideal que pervaga muitas das relações homodesejantes
mediadas pelo Grindr não é propagado apenas pela exclusão discursiva dos
homens efeminados e daqueles que põe em xeque as normas ditada pela matriz
heterossexual e pelas exigências intransigentes explicitas referentes ao
enquadramento nas imposições da masculinidade hegemônica, mas também pela
idealização e normatização de um tipo específico de porte físico entre os homens
que buscam por relações homodesejantes: o corpo sarado/musculoso/atlético. Afinal
das contas, a “ditadura do macho” e a “ditadura do corpo musculoso” aparentam ser,
nesse contexto, as duas caras da mesma moeda: discursos coercivos que visam a
manutenção da supremacia do “homem viril heterossexual” sobre as outras formas
enviadecidas de “ser-existir-desejar” que foram social e historicamente alocadas ao
abjeto.
MISKOLCI, 2013, 2015, 2017). Nesse ínterim, ressalta-se que há uma atração
predominante entre homens que buscam por relações homodesejantes por parceiros
que tenham corpos sarados, musculosos e atléticos (LANZIERI; HILDERBRANDT,
2011; MISKOLCI, 2017).
“Cada pessoa tem seu gosto, sua preferência e muitas vezes, muitas
dessas pessoas têm preferência que sejam influenciadas pela mídia,
procurando aquele corpo padrão que é o corpo mais, é, corpo de academia,
é, de pessoas que malham, mais massa muscular e definição. Mas também
existem outras pessoas que é uma, uma classe menor que procuram
pessoas de outros padrões... Sejam pessoas magras, pessoas mais cheias,
pessoas peludas, mas a maioria procura, assim, que eu tive contato,
procurava pessoas com, é... Com o corpo mais definido que chamasse mais
atenção, que despertasse mais tesão nela.” (sic) (CAIO, 21 anos).
119
“Eu acho que é uma questão de costume, que a gente criou uma sociedade
que endeusa pessoas que são definidas. Não que eu diga que são feios ou
alguma coisa do tipo, mas às vezes parece que as pessoas preferem
aquela... Parece que elas preferem aquelas pessoas que lembrem, sei lá,
os atores de filme, por exemplo, que sejam bonitos de corpo e de cara,
definidos e ‘estilo Rambo’,, do tipo, não me, não é o perfil que me agrada,
mas para mim, a maioria se agrada desse tipo.”(sic) (THÉO, 26 anos).
Destaca-se, por outro lado, que o acesso à plataforma digital na zona urbana
de Porto Velho durante a incursão etnográfica possibilitou algumas observações in
loco que corroboram com as contribuições das pesquisas acima destacadas. Ao
passo que as exigências diretas em relação ao “não-efeminamento” e o
enquadramento nos ideais da masculinidade hegemônica (ser macho) se
manifestavam principalmente através dos nomes e descrições de perfil
disponibilizadas pelos próprios usuários do aplicativo e através de estratégias de
“filtração” dos parceiros em potencial com perguntas “grosseiras” em relação à
expressão de gênero e o “teste de voz”, evidencia-se que o culto ao corpo sarado e
musculoso no Grindr se propaga não só através das descrições de perfil, mas
predominantemente por meio do campo visual. Isso se faz possível devido à
disponibilização de fotos de perfil por parte de vários usuários, as quais comumente
priorizam a exposição de barbas, bíceps, tríceps, peitos malhados e barrigas
saradas-atributos que também são concebidos pelo imaginário social como símbolos
do modelo dominante de masculinidade. A cornucópia de fotos de perfil com esse
tipo de conteúdo constatada durante a imersão etnográfica foi corroborada pelo
120
relato do colaborador Lucas, 24 anos que fazia uso do aplicativo em Porto Velho,
como se observa a seguir:
Além de ser uma forma de provar, ou ao menos mostrar aos outros usuários a
conformidade com os ideais de beleza, masculinidade, discrição e “aparência
heterossexual” vigentes entre homens que buscam por relações homodesejantes, o
uso de imagens de atributos físicos socialmente associados às práticas de
musculação e consequentemente aos ideais de masculinidade hegemônica em
plataformas digitais como o Grindr se popularizou devido a uma série de fatores
(MOWLABOCUS, 2010; MISKOLCI, 2017).
“Eu nunca fiz uma academia, nunca malhei, o único esporte que eu
pratiquei na vida e que eu gosto é natação. E quando você vê aquilo
automaticamente você se sente... você se sente... você não se sente bom o
bastante. Você acaba ficando assim ‘Nossa eu tenho eu ficar tão sarado e
gostoso suficiente para que alguém se sinta atraído por mim ou tirar uma
foto assim’” (sic). (LUCAS, 24 anos).
“É, você começa a se questionar "será que alguém vai me querer?" A gente
tem esses momentos de fraqueza, até as personalidades mais fortes tem
esse sentimento de fraqueza em algum momento. Eu mesmo tive, é, teve
uma vez que eu realmente pensei "será que eu sou feio demais? Será que
alguém vai me querer? Será que tem alguém que goste de pessoas do meu
tipo?" Então a gente chega a pensa nisso por causa dessas, é por causa
dessas opções” (sic) (FRANCISCO, 19 anos).
Abelardo: É porque, é mais a coisa visual, então como eles veem as fotos,
o perfil, tudinho, então eles veem, então esse aqui é malhado, esse aqui eu
quero, esse aqui é estranho, esse aqui tem o corpo estranho, então esse
aqui eu não quero, então eles procuram aquela coisa melhor.
Entrevistador: Melhor? Abelardo: Melhor no sentido do padrão do corpo,
do desejo, do desejado (Entrevista com Abelardo, 26 anos).
ressalta: “(...) eu não me preocupo muito com o corpo do outro até porque meu
corpo não é mil maravilhas” (sic).
“Por que eu fiquei assim, não agora no começo, ‘agora eu tenho que estar
padrãozinho para ser atrativo, para ser bom o bastante para alguém’ Aí
depois da primeira semana tentando ser padrãozinho eu fiquei “não... quem
eu quero enganar. Eu gosto de comer besteira, eu não gosto de brincar de
surfista, eu gosto de dormir tarde, eu gosto das minhas coisas, quem gostar
de mim tem que gostar do jeito que eu sou”. E sabe dá mais certo você ser
quem você é do que se esconder por trás de um corpinho sarado” (sic)
(LUCAS, 24 anos).
Ao contrário do Lucas que chegou à conclusão que seria mais fácil aceitar a si
do “jeito que é” após tentativas de mudanças no estilo de vida, alguns usuários
adotam medidas mais drásticas devido às exigências em relação ao corpo, lançando
mão de suprimentos para o crescimento muscular ou até mesmo de anabolizantes,
como se observa no trecho de entrevista a seguir:
padrão aqui. Entrevistador: Você acha que muitos usuários fazem uso do
anabolizante? Enrique: Bastante. Entrevistador: Ou é... De suprimentos?
Enrique: A única coisa que cresce naturalmente é planta. Então uma
pessoa bombada falar para mim que é suprimento, é mentira.
(ENTREVISTA COM ENRIQUE, 37 anos).
Por outro lado, Théo, 26 anos, relatou que tanto ele quanto alguns amigos já
receberam ofensas de outros usuários por não se enquadrarem no padrão corporal
idealizado por homens que buscam por relações homodesejantes, como se observa
a seguir: “ Já falaram que eu tenho o corpo estranho, que eu tinha barriga quebrada,
coisa do tipo, mas isso não me incomodou” (sic). Embora apontasse que não se
incomodou com os comentários que outro usuário tecera a respeito de seu corpo,
Théo mostrou-se bastante irritado com a ofensa que afligiu um de seus amigos no
aplicativo, como se observa no relato a seguir:
“Ah, eu tenho um amigo que ele está um pouco acima do peso. Então, já
teve coisa ofensiva de chamá-lo de gordo ou ah, coisas pejorativas tipo
“rolha de poço” e ele me mostrava isso e aquilo me incomodava bastante,
né? Porque a gente toma a dor dos amigos, não tem jeito, a gente se
compadece dos amigos, então eu queria, eu, eu não tive esse tipo de
preconceito, mas ver isso... Eu achava que não tinha esse tipo de
preconceito, eu achava que a pessoa no aplicativo não curtiu, não curtiu,
beleza, cortava papo. Mas se dar ao trabalho de fazer uma ofensa para uma
pessoa que ela não conhece, que ela não sabe quem é... Então isso eu
achei, sei lá, muito pesado. Muito desnecessário” (sic) (THÉO, 26 anos).
126
Enrique: Eu conheço gente que já saiu do aplicativo por conta disso, por
conta desse tipo de exigências. Entrevistador: Poderia me falar mais sobre
essas pessoas, se você puder? Enrique: Sim. Porque eu perguntei para a
pessoa porque a pessoa gosta muito de sexo e eu falei “mas porque você
não está no aplicativo?”. E a pessoa falou “porque eles exigem um padrão,
um padrão estético, um padrão de idade, então por isso eu saí porque eu
não vou, eu não, eu me senti humilhado dentro do aplicativo (sic)
(ENTREVISTA COM ENRIQUE, 37 anos).
tanto como dominantes quanto como o centro das cenas eróticas e sexuais, ao
passo que a figura do homem efeminado e/ou magro era comumente retratada pela
indústria pornográfica como um ser submisso, “passivo” e alvo do desprezo do ator
macho, “ativo” e dominante. Como já apontado antecipadamente, a pornografia foi
por muitos anos o único meio através do qual homens que buscam por relações
homodesejantes poderiam ter acesso a representações e referências sobre si
mesmos. Por isso, muitos dos ideais propagados pela indústria pornográfica se
manifestam nas preferências eróticas, padrões corporais e modelo dominante de
masculinidade idealizados por homens que buscam por relações homodesejantes
(MOWLABOCUS, 2010; TZIALLIAS; 2015; MISKOLCI, 2015, 2017).
todas as quais são alvos da abjeção e arremessam os usuários fora do campo dos
desejos homo-orientados mediados digitalmente que giram em torno da figura do
homem heteressoxual ou ao menos aquele que “pareça ser” mesmo que não seja.
“A impressão que uma pessoa pode ver de mim, tanto por causa da voz, por
causa da barba, por causa da, da, às vezes da barba dá cara de mal, a
altura. Mas assim, se eu disse que me sinto encaixado nisso eu não me
sinto, entendeu? Às vezes as pessoas tem uma impressão e criam até às
vezes uma... Um certo receio de decepcionar, entendeu? Então tipo, muitas
vezes eu não dou andamento na conversa porque é aquilo, tipo assim,
como só é vendida uma parte minha no aplicativo, a pessoa vem com uma
ideia errada, às vezes, tipo assim, já chega achando que sou o ‘ativão’, o
dominador, não sei o quê, não sei o quê e não necessariamente é assim,
entendeu? Eu já sou um cara mais ‘light’, eu gosto mais de conversa, é,
gosto do sexo, gosto do, do, estou disposto ao que rolar, estou, e aí a
pessoa já vem vendendo uma imagem que às vezes até me decepciona
porque aí... Eu, por exemplo, eu não quero uma pessoa que seja submissa,
que faça tudo pelo outro, sabe? Aquela pessoa que se molda e as pessoas
às vezes vêm se moldando para mim, para conversar comigo e até eu
explicar que ‘focinho de porco não é tomada’, a conversa não flui mais,
entendeu?” (sic) (RICARDO, 24 anos).
No Brasil, por outro lado, é comum a utilização do termo “ativo” para se referir
ao parceiro insertivo concebido como superior ao parceiro receptivo ao qual se
refere como “passivo”. Nesse sentido, o binômio ativo-passivo nos remete à lógica
binária de gênero historicamente perpetuada entre a masculinidade e a feminilidade,
pois ao passo que a “atividade” é vista como característica exclusiva da
masculinidade, a “passividade” é socialmente associada à feminilidade. O relato de
um dos entrevistados acerca do relacionamento com o ex-marido corrobora com a
dinâmica de poder aqui explicitada, conforme se observa a seguir:
134
concebido pelo colaborador como “estranho”, uma vez que esses põem em xeque
as lógicas binárias e o alinhamento (sexo-gênero-sexualidade) impostos pela matriz
heterossexual.
foram renegados ao abjeto- campo também ocupado pelas mulheres, pelos negros e
por todos aqueles considerados viados pelo status quo vigente, pois põem em xeque
as normas impostas pela matriz heterossexual.
Nesse ínterim, Ricardo, 24 anos que fazia uso do Grindr na cidade de Porto
Velho ressaltou: “Eu acho que tem gente, por exemplo, tem gente que é rica e só
fica com gente que aparenta ser rica” (sic). Nota-se, por outro lado, que as
exigências em relação ao pertencimento a uma classe social abastada se observam
mais nitidamente na experiência vivenciada por Francisco enquanto usava o
aplicativo, como se evidencia a seguir:
“Já aconteceu comigo também, uma vez, que uma das fotos do meu perfil
eu estava no ônibus dava para ver as barras aqui atrás e tudo, mas o foco
era eu e teve uma vez que eu puxei assunto com o menino e ele me
discriminou porque eu estava no ônibus. Simplesmente eu fiquei sem
reação, eu comecei a rir por que...Gente, não tem como, cara! É, você não
querer uma pessoa porque ela anda de ônibus” (sic) (FRANCISCO, 19
anos).
Destaca-se que a exclusão e abjeção dos homens que buscam por relações
homodesejantes acima dos 30 se evidencia nitidamente na expressão “gay death”
(morte gay) comumente utilizada por tais homens em países anglo-saxões para se
referir aos “30 anos de um homem que busca por relações homodesejantes”.
Depreende-se, portanto, que no imaginário de muitos desses homens, aqueles que
ultrapassaram a casa dos 30 são concebidos como “mortos”, ou seja, “ inexistentes”
e “invisíveis”. Portanto, são arremessados fora do campo do desejo visto como
“normal” e alocados ao abjeto-mesmo alugar ocupado pelos efeminados,
magros/gordos, passivos e pobres. Esse tipo de exclusão etária nas relações
homodesejantes mediadas online foi também apontado por Abelardo no trecho de
entrevista apresentado a seguir:
Vale ressaltar que, para reconquistar seu lugar no “mercado” das relações
homodesejantes mediadas digitalmente, basta apresentar uma expressão de gênero
conforme aos ideais da masculinidade hegemônica ou um porte físico consoante às
imposições vigentes do corpo “sarado, musculoso e liso”. Isto é porque tais
intersecções ocupam uma posição superior na lista de exigências referentes ao
140
pele ao papel sexual ativo ou tamanho do pênis, como por exemplo: “NegãoAtv” e
“NegoDotado”, pois desta forma se elevam do abjeto ao campo do desejo.
Tanto é que as fotos de perfil elas falam muito isso” (sic). Nota-se, além disso, que o
mesmo colaborador compara a plataforma digital a um famoso aplicativo de entrega
de comida a domicílio, como se evidencia a seguir: “Ás vezes você tá com muito
tesão você quer uma coisa rápida, uma coisa naquela hora e você tem aquele
aplicativo nas mãos. É como se fosse um... é como se fosse aquele Ifood” (sic).
Abelardo, 26 anos, por outro lado destacou: “ Porque ali é uma vitrine que as
pessoas veem. Esse eu quero, esse eu não quero, esse eu quero, esse eu não
quero. Por causa disso, disso e daquilo” (sic). Ressalta-se que a comparação do
aplicativo a uma vitrine e a repetição do “esse eu quero, esse eu não quero”
remetem a uma transação de compra e venda dentro de uma loja, seja real ou
virtual. A associação do aplicativo a uma vitrine também se evidenciou no relato de
Théo, 26 anos, conforme se observa a seguir: “Ah, às vezes eu sinto que o
aplicativo, ele é uma vitrine de açougue e que tem ali um pedaço de carne
pendurado e que a pessoa escolhe qual pedaço de carne agrada mais” (sic). Além
disso, Emanuel, 18 anos, também comparou o aplicativo a uma vitrine enquanto
sugeria melhorias na plataforma digital: “Eu acho que pode melhorar colocando
outras categorias dentro do aplicativo, isso pode melhorar muito, menos vitrine de
loja, menos corpinho sarado, mais galera colocando ‘vamos conversar’, me chama
aqui, vamos nos conhecer e tal” (sic).
“Por exemplo, o bate papo UOL a gente conversava com a pessoa que
tinha um perfil e essa pessoa descrevia, né? O seu perfil “ah eu sou alto, eu
tenho um metro e tanto e aquilo, aquilo, aquilo, aquilo, aquilo...” então a
gente tinha que partir para o esforço de acreditar naquilo que a pessoa
estava dizendo, mas eu sempre levava no caso o MSN né? Aí eu tentava
inserir ao MSN o, o, como é que se diz isso? O nick, né? Na época era o
Nick (risos) e dali ver, conferir, de certa maneira entre aspas o produto, né?
Porque de certa maneira, né? Era um produto digamos assim, a gente
inseria para ver o produto” (sic).
Observa-se, portanto, que para Ricardo, os usuários que buscam por relações
homodesejantes por meio de plataformas digitais como o Grindr se vendem um para
o outro, pois na lógica mercadológica que ali permeia, todos são ao mesmo tempo
“consumidores” e “produtos”, ou seja “consumidores-produtos”. Considerando que o
“ramo homossexual” de plataformas digitais como o Grindr se trata de um “açougue”,
“shopping da carne”, “ifood” ou uma vitrine virtual na qual os usuários tentam “se
vender” um ao outro, sendo ora “consumidores”, ora “corpos-produtos”, surgem
algumas perguntas: Quais são as características mais almejadas pelos
usuários/consumidores-produtos? Quais corpos-produtos ocupam o topo das vendas
e quais são descartados? Como que os usuários/consumidores-produtos se
publicitam para serem vendidos mais, desejados mais? Qual dicas de marketing
seguem?
produtos são desejados, uma vez que “aquilo que vende ou não se vende” e “aquilo
que é desejado ou não”, se influencia por imposições do status quo heteronormativo
vigente que permeia as relações homodesejantes como um todo, e as mediadas
online, pormenorizadamente.
corpo aí? ”. Nota-se que todas essas interrogações giram em torno do ideal: “Pareça
heterossexual, mesmo que não seja” pois, o corpo sarado é visto como sinônimo de
“ser macho” concebido como símbolo máximo da heterossexualidade compulsória.
7“ Quem está fora do padrão normativo, está sujeito a ser julgado. É como se o que está dentro do
padrão normativo é gente e o resto é resto” (sic) (Théo, 26 anos).
8“ Os machos e fortões botam na mente que eles são ‘um’ e os outros são ‘dois’”(sic) (Emanuel, 18
anos).
148
Continuação...
No shopping da carne aqui abordado, o consumidor-produto vendível é
aquele que se apresenta como macho, discreto, fora do meio, sarado, “ativo”, rico,
jovem, branco e “parece heterossexual”, mesmo que não seja, uma vez que ocupa
uma posição privilegiada nas lógicas binárias historicamente perpetuadas que o
elegem não só como a norma/modelo a ser seguido, mas também como a única
possibilidade de ser/existir/desejar/ser desejado como homem. Por outro lado, são
dificilmente vendíveis os consumidores-produtos considerados efeminados,
magros/gordos, “só passivo”, pobres, acima dos 30, negros e que não conseguem
“passar por heterossexuais”, uma vez que são alocados ao abjeto-alugar que une
todos aqueles que ocupam posições subalternas nas hierarquias e relações de
poder socialmente instituídas.
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nessa lógica, quem não se enquadra nos padrões impostos pela matriz
heterossexual é arremessado fora do “mercado” virtual de homo-desejos e passa a
ser visto como um turn-off erótico, o que corrobora com as repercussões do status
quo heteronormativo vigente sobre as preferências homodesejantes apontadas por
Richardson (2009). Vale, nesse sentido, ressaltar novamente que a figura do
“afeminado” tem sido historicamente associada à comicidade e jocosidade, ao passo
que a figura do homem viril é associada pela mídia e indústria à força e erotismo.
Embora se advogue que cada sujeito é livre para desejar o que deseja, faz-se
oportuno destacar que a incursão etnográfica e as entrevistas desenvolvidas no
bojo dessa pesquisa apontam que as relações homodesejantes mediadas pelo
Grindr são permeadas por um ethos que replica as hierarquias e relações de poder
historicamente perpetuadas, enaltece as características/ comportamentos
associados aos ideais da masculinidade hegemônica e aloca aqueles que põe em
xeque os padrões impostos pela matriz heterossexual e pelas lógicas binárias
socialmente instituídas, ao abjeto. Portanto, só “sobrevive” como centro de desejo no
“shopping da carne” ali vigente, aquele que segue e se conforma ao ideal
inalcançável: “ Pareça heterossexual, mesmo que não seja”.
REFERÊNCIAS
ANNES, A; REDLIN, M The careful balance of gender and sexuality: Rural gay men,
the heterosexual matrix, and ‘effeminophobia’. Journal of Homosexuality, v. 59, n.
2, p. 256–288, 2012.
BUTLER, J. Sex and Gender in Simone de Beauvoir’s Second Sex. Yale French
Studies, v. 72. New Haven: Yale University Press, p. 35-41, 1986.
_________. Bodies that Matter: On the Discursive Limits of Sex. New York:
Routledge, 1993.
COLLIER, KL; SANDFORT, TGM, REDDY, V, LANE, T. “This will not enter me”:
painful anal intercourse among black men who have sex with men in south african
townships. Archives of Sexual Behavior, v. 44, p. 317-328, 2015.
CROOKS, R.N. The Rainbow Flag and the Green Carnation: Grindr in The Gay
Village. First Monday, [S.l.], nov. 2013. Disponível em:
<http://firstmonday.org/ojs/index.php/fm/article/view/4958/3790>. Acesso em: 16
Feb. 2016.
DAMON, W; ROSSER, B.R.S. Anodyspareunia in men who have sex with men:
prevalence, predictors, consequences and the development of DSM diagnostic
criteria. Journal of Sex and Marital Therapy, v.31, p. 129-141, 2005.
156
DAVIES, D; NEAL, C. Pink Therapy: A guide for counsellors and therapists working
with lesbian, gay and bissexual clients. Buckingham: Open University Press, 2009.
DAWSON, J. Este livro é Gay- e hétero, e bi, e trans. São Paulo: Editora WMF
Martins Fontes, 2015.
FARIS, M.; SUGIE; M. Fucking with Fucking Online: Advocating for indiscriminate
promiscuity. In: SYCAMORE, M.B. (Org) Why are faggots so afraid of faggots?
Edinburgh, Scotland: AK Press, p. 45-52, 2012.
GRAMSCI, A. Selections from prison notebooks. London, UK: New Left, 1971.
HALPERIN, D.M. Saint Foucault: Towards a Gay Hagiography. New York: Oxford
UP, 1995.
HARARI, R. Por que não há relação sexual? Rio de Janeiro: Companhia de Freud,
2006.
__________. Guyland: The perilous world where boys become men: Understanding
the critical years between 16 and 26. New York, NY: HarperCollins, 2008.
LÉVY, P. (1996). O que é o virtual? 2a edição. São Paulo: Editora 34, 2014.
MILLER, B. They’re the Modern-day Gay Bar": Exploring the Uses and Gratifications
of Social Networks for Men Who Have Sex With Men. Computers in Human
160
__________. San Francisco e a nova economia do desejo. Lua Nova, São Paulo ,
n. 91, p. 269-295, Apr. 2014 . Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
64452014000100010&lng=en&nrm=iso>. Acesso em : 07 Oct. 2015.
__________. Desejos Digitais: Uma análise sociológica da busca por parceiros on-
line. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017.
PLECK, J. H (1974). Men's power with women, other men, and society: A men's
movement analysis. In: KIMMEL, M.S; MESSNER, M.A. Men's lives,. New York:
Macmillan, 1989, p. 21-31.
PRINGLE, R. Masculinities, sport, and power. Journal of Sport & Social Issues, v.
29, p. 256–278, 2005.
PRINS, B; MEIJER, I.C. Como os corpos se tornam matéria: entrevista com Judith
Butler. Rev. Estud. Fem., Florianópolis , v. 10, n. 1, p. 155-167, Jan. 2002 .
Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
026X2002000100009&lng=en&nrm=iso>. access on 10 Dec. 2017.
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-026X2002000100009.
RACE, K. ‘ Party n Play’: Online hook-up devices and the emergence of PNP
practices among gay men. Sexualities, vol. 18, n.3, pp.253-275, 2015. Disponível
em
http://www2.warwick.ac.uk/fac/arts/history/students/modules/sexuality_and_the_body
/bibliography/kane_race_party_and_play_2015.pdf. Acesso em 19 dez. 2015.
RIESENFELD, R. Papá, Mamá, Soy Gay: Una Guía para comprender las
orientaciones y preferencias sexuales de los hijos. D.F., México: Raya en el Agua,
2010.
SALIH, S. Judith Butler e a Teoria Queer. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013.
_____________. How to Bring Your Kids Up Gay: The War on Effeminate Boys, IN:
__________. Tendencies. Durham, NC: Duke University Press, 1991, p. 154-164.
WEINEBERG, G. Society and the healthy homosexual. New York: St. Martin’s
Press, 1972.
1. Natureza da pesquisa:
2. Envolvimento na pesquisa:
3. Sobre a entrevista:
3. Confidencialidade:
4. Garantia de acesso:
5. Garantia de saída:
6. Riscos e desconfortos:
7. Benefícios:
9. Direitos:
Eu,_________________________________________________________________
__, após ter recebido todos os esclarecimentos e ciente dos meus direitos, declaro
estar de concordo em participar desta pesquisa, sabendo que dele poderei desistir a
qualquer momento, sem sofrer qualquer punição ou constrangimento, bem como
autorizo a divulgação e a publicação de toda informação por mim transmitida, exceto
dados pessoais, em publicações e eventos de caráter científico. Desta forma, assino
este termo, juntamente com a pesquisadora, em duas vias de igual teor, ficando uma
via sob meu poder e outra em poder do pesquisador.
Local: ____________________________________________Data:___/___/___
________________________________ ______________________________
__________________________________________
Orientadora
170
________________________________________
Mahamoud Baydoun
Pesquisador Responsável
171
_____________________________ _____________________
APRESENTAÇÃO
Como eu considero muito importante tudo o que for dito na nossa conversa,
gostaria de gravá-la, com sua permissão, mas já adianto que só eu e minha
orientadora teremos acesso ao que foi dito na íntegra, e no meu trabalho final usarei
nomes fictícios. Após a transcrição da entrevista, o arquivo da gravação será
eliminado.
DADOS PESSOAIS
- NOME FICTÍCIO:
- IDADE:
- ESCOLARIDADE:
- PROFISSÃO:
173
- ESTADO CIVIL:
- RELIGIÃO:
CONSIGNAS DISPARADORAS
10) O que mudou na sua vida sexual e amorosa após o uso do app?
13)O que mais te atrai nos outros usuários e o que mais te incomoda?
174